Metereologia 24 h

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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

550: O número da discórdia

 
Sinto-me incomodada. 

Em Setembro do ano passado, subiram-nos a renda pelos quartos. Bastante, no meu caso. Foi uma subida de 125 libras. Mas em Janeiro, voltaram a subir. Ao todo, pago 200 libras a mais do que pagava antes. 

Está certo que a renda que pagava - 300 libras, referia-se a uma altura em que a Pandemia afugentou as pessoas quase todas e era difícil para os senhorios arrendar as casas. Muitos tiveram de descer os preços para não perder os inquilinos. Acabei por, na altura, me mudar para uma destas casas - embora também possa dizer que, há três anos, um "boxing room" ou seja, um quarto pequeno com cama de solteiro, custava por volta de 300 a 380 libras. Portanto, estava barato, mas não muito. 

Os meus colegas de casa, por quartos com o dobro e triplo do espaço do meu, pagavam 400 libras. Portanto, sempre existiu uma diferença de 100 libras por quartos. Há dois anos entrou um rapaz que passou a pagar 450. E depois um outro, que passou a pagar 500. A cada entrada, subiam 50 libras. O que é muito normal. 

Mas depois que levantaram a pandemia e "acabou" o Covid, foi o que se sabe: subida de preços por todo o lado. Agora sinto uma enorme dificuldade em poupar dinheiro. Coisa que antes conseguia fazer. Os meses passam e o valor na conta permanece estagnado. Não sobe. 

O problema em relação à renda que pago é que desconfio que todos os outros estão a pagar 550. Pelo menos é esse o valor que me estão a indicar. E isso revolta-me!! Muito. Mas muito mesmo. 

Não é decente, não é justo, não é correto - sobrecarregar tanto um indivíduo com uma subida de quase 100% enquanto a subida para os outros é uma "Migalha". Não é justo! Não é decente. Está a enervar-me. 

Estou a pensar pedir conselho jurídico. Já o tinha feito durante o primeiro aumento, há um ano. Porque lembrava perfeitamente que o contrato que assinamos de arrendamento estipulava que não podia existir um aumento de mais de 20 euros por cada seis meses. E subiram logo 125! E isto porque eu regatei - queriam que pagasse mais. Lembrei-os que devia ser um erro e estavam a confundir o meu quarto com o da M. porque me pediam exatamente o mesmo valor. 

E agora descubro - ou desconfio - que a diferença é apenas de 50 libras?? Umas míseras 50 libras???? 

Como haveria esta gente de sair desta casa, se os preços praticados continuam tão baixos para eles? Que raiva me dá! Eu fui sempre tão atenciosa com as pessoas da agência. Procurando ajudar, sendo prestativa. Cuido da casa como se fosse minha - melhor ainda do que se fosse minha. Porque sendo minha um problemita ou outro se calhar remediava de outra forma ou deixava andar, mas não sendo, tenho mais cuidado. Eles sabem da porcaria que vivi aqui dentro com a M. que, me disseram, querem expulsar daqui. Se isso fosse verdade realmente, tivessem lhe subido a renda como subiram a minha! Tem o quarto maior da casa - o de parede a parede. Devia pagar três vezes mais que eu! Já que o quarto tem três vezes mais tamanho. E depois tem o usufruto das coisas. Eu quase não uso a casa e a M. usa, abusa, danifica, estraga. Não é a única, mas é a que se destaca a olhos vistos. 

Sinto-me enganada e levada por tola. 

Percebem a minha boa índole e dela tiram proveito. 
Decidem que vou pagar mais porque trabalho mais e os calões que não trabalham têm a vida facilitada e pagam menos. 

Esta vida é tão injusta com os bons. 
A sério... 

Quero virar vilã ou que baixe em mim alguém feroz, devoradora, arrasadora. 

É que não me agrada nada nada saber que me subiram a renda de 300 para 500 desde Janeiro deste ano, enquanto os outros tiveram uma subida de 50 libras... 

Só podem estar a gozar!


quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Novidades que tirara(ra)m um PESO dos OMBROS!

 

Depois do sucedido com a M., temi que ela me fosse difamar. Que o faça cá em casa com o rapaz, isso já dou como certo. Mas que o pudesse fazer com o pessoal da agência deixou-me preocupada. Na outra casa o senhorio nem quis me ouvir: tomou como certo as invenções que lhe despejaram em cima. Voltei a lembrar a dor e angústia dessa experiência. Temi que se repetisse. Não poderia suportar sujeitar-me novamente a essa situação. Antes não reagi, agora tinha de tomar uma atitude.

Muito insegura, com medo de ser interpretada como uma pessoa que não funciona bem da cabeça, dirigi-me à agência imobiliária. Fiquei tão indecisa! Não sabia se entrava, se saia... Decidi não entrar, caminhei, hesitei, voltei atrás, decidi entrar... Entrei, não tive coragem de passar pela porta... Não sabia como ia justificar a minha presença ali. 

O que realmente queria saber era se a M. andava a fazer intrigas de mim a eles. Sei que as faz cá em casa, com todos que ainda estiverem dispostos a lhe dar ouvidos. O que, na actualidade, é só o rapaz do andar de cima. Eu mal o vejo. Antes falava muito com ele mas desde que a M. se aproximou, é raro o encontrar. Parece até que este me evita. E isso faz-me sentir mal. 

Quem ela conseguir envenenar contra alguém, ela envenena. Como a minha dose deste tipo de situação foi quase mortal da última experiência, acho que ela tem de servir para me ensinar alguma coisa. A agir. A não ser totalmente passiva, como fui no passado. Por isso é que as mentiras venenosas pegam. Porque eu fiquei silenciada a aguentar o sofrimento da descriminação e gaslighting, sem reacção.

Assim que entrei na agência a senhora veio ter comigo. E me ouviu. Só isso tirou de imediato um peso de cima. Ela veio com duas novidades. Uma ela julgou ser  FANTÁSTICA: o rapaz do andar-de-baixo vai-se embora a 19 de Novembro. 

Eu logo perguntei: E a M?

Resposta: "Estamos a tentar expulsá-la"  (sensação de surpresa agradável).
"Não sabes mas ela não está a pagar a renda. Falamos com ela e justificou que tinha estado de férias. Disse-lhe que mesmo de férias tem de pagar a renda".

Por acaso até adivinhava, aliás, sabia, que ela não estava a pagar a renda. O que não é difícil de concluir quando se sabe que alguém não faz por encontrar trabalho. Faz mais de um ano que apanhei, por acaso, um extrato de transações bancárias deixadas entre papéis velhos e saltou à vista umas prestações fixas de ginásio e telemóvel que apareciam como "em dívida".  Não apareceu nenhuma entrada de salário e não vi sair nenhum pagamento avultado fixo, como o da renda. Depois prestei atenção no dinheiro a entrar e não havia nenhum, sem ser o fundo para estudos onde ela se meteu para ter quem a sustente sem ter de arranjar emprego. Uns 6000 euros. O que me revoltou mais ainda!

Isto faz mais de um ano e muito me surpreende que só agora é que a agência está a "tentar" expulsá-la. Se fosse comigo tenho cá para mim que não demonstrariam tanta paciência. Mas creio que não é o caso para se ser paciente. É o caso de temer que a pessoa lhes dê trabalho, lhes faça frente. A M. é exatamente esse tipo de pessoa. Aquele tipo de pessoa que não vais conseguir expulsar. Que vai recorrer a todo o tipo de truques. Até virar "boazinha" quando lhe convém, só para passar debaixo do "radar" das suspeitas. 

Um peso enorme abandonou os meus ombros quando soube que a agência pretendia expulsá-la. Mas logo ela me disse que: "não era fácil". Eu respondi que só de saber disso já me fazia aguentar mais um pouco. (Porque eu já estava a pensar sair). Ela repetiu "estamos a tentar"

O peso que me saiu dos ombros foi tão grande. Nem dei conta do quão grande ficou só de a ter de volta. Era esmagador! Não estava lá aquando a sua ausência. Mas voltou todo em peso com a sua presença.

Senti-me leve, alegre. Há esperança! E melhor: eles sabem que ela não é "não é boa pessoa" - citando a senhora da agência.
Só depois percebi que ela colocou ênfase em "tentar"

A M. não vai sair daqui. Nunca. 
É demasiado ardilosa e má intencionada para se deixar levar na primeira investida. 

Adorava que fosse esta a minha bênção dos céus por altura do Natal.

Quem vai sair é o rapaz do andar-de-baixo. Para mim pouca diferença faz. A não ser temer que venha mais um para a M. encher de veneno. E outro desarrumado, porque a casa está com mau aspecto e quem aceitar viver nela só pode ser pouco asseado. 

A M. detesta o rapaz de baixo. Há um mês veio cheia de falas mansinhas para mim, contou-me que foi à esquadra queixar-se dele. Mas que eles não podiam fazer nada porque ele não a agrediu. Quis que eu a apoiasse porque, num próximo desentendimento, ela não hesitaria em fazer queixa dele. E eu fiquei a pensar o quanto ela provoca as pessoas e as tortura. Jamais 
podia ficar do lado dela. 
Ela o quer expulsar daqui desde o início. Tentava fazer-me a cabeça contra ele. Mas não conseguiu. Acabei por deixar de lhe falar e ele, como consequência, ficou agressivo e a fazer bullying. Mas passada essa (longa) fase de 6 meses, ele, mesmo cheio de raiva, fazia a vida dele e deixou de interferir na minha. 

Ele sair vai saber-lhe a presente de Natal. Vai ficar no céu. E achar que tudo está bem. Agora só faltava EU sair. Vai tornar-me no seu alvo exclusivo. Quem merece esse gostinho, essa felicidade sou eu! Que ele se vá embora antes dela parte-me o coração. Não me sinto nem um pouquinho feliz. Se não for ela a sair, esta casa não vai conseguir entrar nos eixos. Durante a sua ausência de quase duas semanas, a casa manteve-se direita. Nada de bagunça, nada de sujidade das grandes. O rapaz do andar-de-baixo tem problemas, mas no geral, faz a sua vida sem perturbar. Eu é que mereço ter o gostinho de ver a M. fora daqui. Esse prazer devia ser meu, não dela!

Talvez até arrange um qualquer esquema para cá enfiar o rapaz que enfia no quarto todo o fim-de-semana. Isso se for sempre o mesmo porque, se os esconde, tanto pode ser um como cem. 

Ela gasta dinheiro que não tem a uma velocidade cruzeiro. Mas parece que tem pacto com as forças do mal: cai sempre de pé. Nunca é derrubada.

Quem será que ela está a usar de momento para conseguir dinheiro? Sim, porque as tetas do governo não vão durar para sempre. E, supostamente, esse dinheiro tem de ser devolvido após a pessoa se empregar na área. Coisa que nunca vai acontecer com a M. Até porque me parece que ela já abandonou os estudos faz muuuito tempo. 

Para meu terror, li algures uma notícia com o título: "O que acontece às pessoas que não pagam os empréstimos de estudo?".

Aparentemente nada. A pessoa apenas fica "sem crédito" para se financiar. LOL. A sério UK??? Até parece que esta gente alguma vez vai requerer crédito. Vive é de esquemas para tirar dinheiro, não é gente direita que visa obter propriedade ou bens para pagar para o resto da vida. 

A M. cai sempre de pé. Passa um ANO e ela sobrevive de esquema em esquema. Sem se preocupar em enveredar pela vida honesta de trabalho. Desta vez quero que caia e fique no chão. Mas num fora daqui. Que vá para bem longe e nunca mais apareça.





quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A proposta do senhorio


Suspeitei que o senhorio foi "recrutado" para mostrar o quarto a outras pessoas pré-seleccionadas na véspera de o ter feito. Isto porque, nesse dia pela manhã, ele estava na casa ao lado. E disse que, eventualmente, ia passar para a nossa, para cuidar do jardim.

Esperei, esperei... e nada. Sabia que ele vinha mas sabem quando sentimos que parece que a pessoa está a aguardar que nós saiamos de um lugar para entrar?

Foi essa a sensação com que fiquei. Os dois rapazes também estavam em casa. Ás tantas aproveitaram-se de me verem sair pelas 15.30 e até enviaram um texto ao senhorio - para "programar" a passagem de quarto de modo a que eu nem pudesse escutar por acaso toda a tramóia.

Regressei por volta das 18.30, já estava escuro e na manhã seguinte pude observar que o jardim foi tratado e limpo da folhagem. Portanto, ele apareceu. E demorou-se, porque a limpeza do jardim assim o exigia. O facto dos rapazes estarem em casa, plantados na sala, também me transmitiu uma vibração negativa.

É apenas a minha intuição, mas aponto esse dia e essas horas em que estive ausente como o início da coisa.

Hoje o senhorio apareceu às 18h. Para falar comigo. Temi que fosse algo mau. Ele diz que não e começa a explicar-me o que se trata. Assim que abre a boca, entra a mais-velha, chegada do emprego. A ca*** nem permite que tenha uma conversa isolada com o senhorio! Até a chegar parece que chega oportunamente. Cá para mim não me surpreenderia se o senhorio lhe tivesse escrito uma mensagem a avisar que estava a chegar. Parece que tem sempre de estar um deles por perto, a controlar, a escutar, a vigiar para fazer relatórios ao "grupo".

Sabem o que ele queria? O senhorio, como já expliquei, precisa alargar o meu quarto, pois as dimensões do quarto não correspondem às mínimas exigidas por lei para manter cá um inquilino. Se eu saísse desta casa, até ele fazer as obras, não podia cá meter ninguém. E ele não tem tido tempo para se dedicar a elas pelo que, se eu tivesse saído, ele perderia a renda de todos estes meses. Ou então era forçado a meter logo mãos-à-obra e os restantes italianos seriam forçados a ter de viver numa casa com o WC principal em obras e pessoas a entrar e sair constantemente.

Por um lado, bem que o mereciam!
Se eu tivesse saído...

Mas não saí. O senhorio, esperto, garantiu-me que não ia mandar-me embora. E foi aí que percebi que eu era a pessoa mais vital na casa, embora a mais indesejada também. Porque sem mim, ele perdia renda, mês atrás de mês! Porém, assim que o alargamento for feito - temo que se arquitecte alguma coisa para me remover daqui. Temo até que o novo contrato que ele nos mandou assinar venha a se provar ter sido o primeiro passo nesse sentido. Mas este é outro assunto, que não vou elaborar agora.

A questão que me deixou mesmo com a pulga atrás da orelha, foi ele despedir-se de mim e ir embora, mas ao invés de sair, como eu previa e temi, foi directo à cozinha, onde ficou a cochichar com a mais-velha. 


Quando se fala em voz baixa, não é natural. O natural é falar com voz normal, até mesmo mais elevada. Quando descem o tom, é porque não querem que mais ninguém escute. Após uns 15 minutos, desci à cozinha e nesse instante a conversa terminou e ele pôs-se na alheta. 

Típico. Uma pessoa entra num espaço, a conversa cessa e alguém sai. É um dos sinais mais comuns de que estavam a falar de algo que não querem que escutes. 

A mais velha é uma mestre na dissimulação, manipulação e esquemas ardilosos. Tem aquele ar de criatura equilibrada, centrada, fala baixinho e tranquilamente, sem se alterar, sem ter tons alterados de voz... É mesmo a "cobra". 



Pensem lá nisso: quantas pessoas realmente cruéis e sádicas exibem este traço de carácter? São calmas, falam devagar, baixinho... porque alterarem-se revela emoção! Revela que têm alma e coração. Sensibilidade e apatia. E se não têm esse costume, se lhes é tão raro como ver uma estrela cadente no céu... então é porque essas características lhes são ausentes.



O senhorio vinha propor que eu me mudasse para o quarto que vai vagar, por uns dias, porque ele não queria perder dinheiro de renda. O "novo" inquilino que foi arranjado por os que cá estão, só vai mudar-se no dia 1 de DEZEMBRO. De todos os que eles arranjam, nenhum está disposto a comprometer-se e aparecer na data necessária. Isto só comprova que nem lhes passava pela cabeça mudarem-se. Porque se passasse, tinham dado o notice (aviso de saída) ao atual senhorio e estariam à procura. Como são sovinas, mesmo sovinas, ao contrário de mim, que saí assim que pude sem querer saber se deixo a outra casa paga até o final do mês ou não, estes só se mudam no dia a seguir ao último dia de renda paga na outra casa. 

Ora, o que o senhorio propos, para não perder renda já que o novo-inquilino disse que não ia mudar-se antes do dia 1 de Dezembro e pelos vistos o actual sai dia 23,  foi que eu me mudasse dia 23 para o quarto que vai vagar, pagando a renda desses dias por esse quarto (que é mais caro). E quando o novo inquilino estivesse preparado para apossar-se desse quarto, eu me mudaria de volta para o meu. Nesse espaço de uma semana, ele ia fazer as necessárias obras de expansão, sem as quais não pode alugar o quarto a mais ninguém durante o prazo de um ano.

Ora, pensando bem, eu estaria a ser USADA como tapa-buracos de um indivíduo que ELES combinaram trazer cá para casa!!!
E foi mesmo combinado. 


Cá para mim a proposta do senhorio até já era de conhecimento deles. 
Talvez eu aceitasse... 

Tudo para ele não perder uns 8 dias de renda... 

Agora imaginem se eu tivesse dado de frosques em Maio, quando se deu esta situação, quantas vezes seria necessário multiplicar por 8 para chegar ao valor de renda que por esta altura ele já teria perdido!

Bom, mas "abri" este post para mencionar uma lembrança de um momento que tive o ano passado, faz quase coisa de um ano. Foi depois do Natal, depois de ter limpo e arrumado a casa inteira já que fiquei sozinha aqui durante talvez quase 48h... Comprei flores, muitas, espalhei-as pela sala, e , numa janela, coloquei uns cravos numa jarra verde que havia comprado. Esta aqui:



Quando a mais-velha regressou, como quem não quer a coisa, disse isto a respeito desta jarra:

"Aquela coisa, aquela coisa verde, uma jarra, ou seja lá o que aquilo for..."

Podia ter dito apenas: aquela jarra. Mas como ela é, não foi capaz de resistir ao impulso de mostrar descontentamento pelo objecto. Claro, tinha de desprezar tudo o que vem de mim, a começar pelos meus gostos. Estivesse ali um copo de vidro, uma garrafa em plástico ou uma jarra dourada - um comentário dela nunca deixaria de passar por estes moldes.

Fiz de conta que não percebi o juízo de valor que fez e fiz de conta não perceber que fingiu não saber o que se tratava - sendo tão claramente uma jarra em formato de cacto.

Esta gaja não tem gostos requintados, nem refinados, nem criativos, nem ousados, nem bons, nem maus. Nem sei se os tem, ou se os copia de uma revista de moda clássica contemporânea. Seja o que for que estiver "in" no momento, desde que não seja kitch - deve ser a única coisa que tem o seu aval.

Gosta de ver programas de pessoas criativas, que recuperam casas, reciclam.. contudo, goza-me por eu ser esse tipo de pessoa. Lá porque não tenho o know how ou a capacidade daquilo que ela vê ser feito na TV e me limito ao meu microcosmos, o espírito da coisa é o mesmo. Como se pode apreciar realmente algo, se não se sabe valorizar quem está ao teu lado a fazer o mesmo?? A diferença é que na TV alguém com fala afectada está a restaurar apartamentos, a reciclar móveis etc e eu faço-o em menor escala, com produtos menos nobres, como cartão. É à mesma necessário gosto, prazer, satisfação, imaginação, empenho, determinação... Fez pouco caso de mim quando me viu a fazer um móvel a partir de cartão. Claro que, feito à mão e sem material sem ser um x-ato e um tubo de cola, a perfeição não seria o meu objectivo. Apenas quis algo sólido QB e, principalmente, ter o prazer de criar a partir de pedaços de cartão. Como qualquer pessoa genuinamente criativa, com gosto pela recuperação e reciclagem.

Quando lho mostrei como produto finalmente acabado, ela respirou fundo, hesitou comentar e escolheu fazer apenas este comentário:
"It looks wobbly" (parece que vai abanar/desmanchar-se)


Daquela boca não sai uma única coisa simpática. 


Em caso de curiosidade, aqui está o mencionado "móvel em cartão"


domingo, 30 de dezembro de 2007

DADOR DE ÓRGÃOS

RENNDA



Por volta de 1996 tomei consciência de uma mudança significativa numa Lei que nos diz respeito a todos: a colheita de órgãos humanos. Embora a lei tenha sido alterada em Abril de 1993, duvido que a maioria dos Portugueses saiba que, a menos que se pronuncie ao contrário, após a morte será esquartejado como se faz a um animal no matadouro, a fim de lhe ser retirado o maior número de peças reutilizáveis possíveis.

Não queria ser tão gráfica e estabelecer uma comparação de tão mau gosto. Mas assim é. Já o vi em documentários que passaram pouco na televisão e fiquei espantada e angustiada com a quantidade de utilizações post-mortem que o nosso corpo tem. Desde pele, a cabelo para transplante, a qualquer espécie de músculo, a tendões, à córnea ocular, a membros motores como a maioria já conhece, e claro, a órgãos mais interiores como o coração, os rins, um fígado, os pulmões e não sei mais o quê. Será que deixam alguma coisa?

O que me aflige nisto tudo é que, em vida podem não nos dar valor algum. Um indivíduo pode não receber respeito, ser maltratado e viver desalojado. E é na morte que ele se torna valioso.

Quando era criança e até adolescente, esteve sempre nos meus planos tornar-me dadora. Mas quando soube da lei, os meus sentimentos alteraram-se. Não tive dúvidas: ia buscar o tal papel e tornar-me Não Doadora, nem que fosse para depois desmanchar tudo para que a decisão de o SER pertencer a mim e não a mais ninguém.

Muito bem. E onde se obtém esse documento?
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Uma ida casual ao ministério de Educação facultou-me essa informação: um indivíduo tem de fazer comunicar ao Ministério da Saúde a sua intenção, e para tal “basta” fazer uma inscrição num Centro de Saúde ou extensão RENNDA, solicitando um “impresso-tipo” que deve estar “devidamente preenchido”. A RENNDA (Serviço Nacional de Não Dadores) é “um serviço informatizado, onde se encontram todos os que manifestaram junto do Ministério sua total ou parcial indisponibilidade em doar post mortem, certos órgãos ou tecidos” (fonte wikipedia, link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Transplantação_de_órgãos)

Vou deixar que reflictam no possível significado, a meu ver dúbio, das palavras destacadas em negrito. Por agora vamos “seguir” os passos de quem está interessado em obter este “impresso-tipo”.

O local, conforme reforça este outro link:
Parece simples. Mas claro, não é.

Por centro de saúde conheço o da minha área de residência e aí, onde nem sequer existe um balcão de atendimento geral, ninguém conhece o que é isso de RENNDA e seu respectivo impresso. Noutra ocasião em que me vi num hospital, decidi procurar informações a respeito do procedimento sobre a doação de órgãos humanos após a morte. Perguntei onde ficava a recepção, já que me encontrava nas urgências. Apontaram para fora do hospital, à direita, ao fundo. Caminhei até chegar ao fim da rua, li todas as placas, mas o mais próximo que cheguei de algum lugar foi da casa mortuária.


E assim, mais de uma década se passou e sou ainda, dadora de órgãos á força. Sou por falta de oportunidade, não por falta de conhecimento. Acredito que muitos desconhecem esta lei. E segundo uma notícia da TSF, no ano em que esta lei entrou em vigor, cerca de 20 mil indivíduos fizeram a sua inscrição. Dez anos depois, em 2004, apenas 64. Não 64 mil, mas apenas 64 indivíduos, menos de uma centena. (link: http://www.tsf.pt/online/vida/interior.asp?id_artigo=TSF155488).


Reforço a noção de que poucos portugueses conhecem esta Lei que dita para que fim se destina os seus corpos mortos. Muitos pensam que nem autopsiados são e que o consentimento da família é fulcral para qualquer intervenção invasiva. Enganam-se.
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Tenho um familiar a ir à faca dentro de dias pela primeira vez na sua vida. Naturalmente, está nervoso com o que desconhece. Calhou ter mencionado que somos todos dadores por lei e este não quis acreditar. Insistiu que o consentimento dos familiares tinha de ser escutado para qualquer procedimento, especialmente este, em que “ele não deu permissão”.


Pois então fica já para se saber: desde 1993 a lei Portuguesa dita que qualquer indivíduo residente em Portugal quando morre é um potencial dador (TSF) e cada pessoa a partir do momento em que nasce adquire este estatuto (Portal da Saúde).


Se tem alguma objecção ou desconforto com esta ideia, tem de se registar no RENNDA. Para tal dirige-se a um qualquer centro de saúde apenas com o seu Bilhete de Identidade. O documento não tem qualquer custo. Lhe será entregue o impresso tipo, que tem somente de preencher e que pode entregar nesse mesmo posto de Saúde.


Simples, mas cruze os dedos e faça figas. Para que consiga os seus intuitos com a facilidade descrita.
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É que não só o seu centro de Saúde pode nem saber do que está a falar, como o historial português de tudo o que respeita a serviços simples, mas burocráticos, tem a fama que tem porque a merece. Se tivesse de apostar, diria que as pessoas que contactar, desconhecem o paradeiro desse impressso-tipo e estão mal informadas para prestar informações. O melhor a fazer é se certificar que o documento chega mesmo ao Ministério da Saúde, e faça por confirmar se os dados facultados no papel são os mesmos que constam no sistema informático. Quem a/o atender irá com certeza negar-se a isso ou mostrará indisponibilidade e antipatia por tal lhe ser pedido. Tome a iniciativa de fazer a sua própria cópia do documento e guarde-a. Não é necessário um cartão de Não Dador mas, como os sistemas informáticos e os erros humanos acontecem, peça-o á mesma. E prepare-se para enfrentar possíveis juízos de valor, pois aparecem sempre pessoas ávidas para realizar criticas. Podem não ter tido um único gesto altruísta em vida mas acham que o vão ter na morte, e isso lhes dá o direito de julgar a decisão alheia sobre o direito à identidade.


Já não parece tão simples…


O OUTRO LADO DA QUESTÃO

É claro que, por detrás da questão da obrigatoriedade portuguesa de dadores de órgãos, está PORQUÊ estes fazem falta.


Quando reflectimos que existem pessoas necessitadas, o estar em desacordo com o ser dador não nos faz sentir totalmente bem. Afinal, já estamos mortos. Será que faz diferença? Dizem que não se sente nada. O corpo é um casulo em decomposição. Mais vale aproveitar algumas peças para alguém viver mais alguns anos.


Sobre isto, cada um sabe por si.


Outra razão apontada para esta mudança de lei é o tráfego e o mercado negro de órgãos. E aqui já tenho muitos mais dados a dizer sobre a questão!


Ao que parece, nunca deixou de existir escassez para a quantidade de procura. Ou seja: a quantidade de mortos dadores é muito inferior à quantidade de pessoas necessitadas. Até porque temos outros factores a ajudar para que este prato da balança sofra uma maior inclinação: as pessoas estão mais expostas à poluição, a medicina chegou mais longe e é hoje capaz de mais feitos, pois no passado um doente estaria simplesmente condenado a vir a falecer. As pessoas são também mais sedentárias e abusam dos limites. Quem fuma, quem bebe e quem vive em atmosferas que sabe lhe serem nocivas e continua a ter estes comportamentos de risto até lhes doer.


Lamento que na televisão não passem mais documentários e notícias sobre este tema. Mas vou deixar aqui escrito, tudo o que já ouvi falar a respeito de transplantes, transplantados, colheita de órgãos, tráfego e dadores. Vai surpreender-se! Alguma desta informação fez com que repensasse tudo.


Por onde começar?! Há tanto para se dizer!


Vou começar pelo meu princípio: pelo xenostransplante e pela mecânica.


A necessidade humana de substituir órgãos defeituosos por outros ou outra coisa que os ponha a funcionar, é uma necessidade antiga, sobre a qual muitos estudiosos e cientistas se debruçaram. O primeiro transplante de coração humano foi feito em 1967, antes do homem pisar a lua. Mas mesmo antes muitas outras experiências foram efectuadas. Uma delas foi a possibilidade de órgãos de animais poderem fazer a vez de um órgão humano. A ciência centrou-se no porco, por ser um animal com a fisiologia mais semelhante à do ser humano. Chegou-se a fazer transplantes e a acreditar no sucesso desta técnica. Desconheço agora os pormenores mas existem ou existiram pessoas cujo coração ou outro órgão no seu corpo não era mais o seu, mas o de um animal.


Outro caminho a seguir será o uso de aparelhos mecânicos que consigam reproduzir as funções dos órgãos a morrer. Devo dizer que é neste ponto que sinto um tanto de revolta. Pelo que consegui compreender através da informação a que fui submetida, esta possibilidade é a melhor escolha possível. Não compreendo porquê não existem mais avanços nesta área.
A inserção de aparelhos mecânicos seria uma mais-valia em todos os aspectos da vida humana. Primeiro que tudo, terminava com o tráfego.
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Por todo o mundo mas principalmente nos países muito pobres, são cometidos rituais macabros de pura violação aos direitos humanos. Tudo porque um órgão vale mais que ouro no mercado negro.


Um indivíduo de recursos de um país desenvolvido, se souber que consegue um órgão no mercado negro, aproveita as brechas da legislação, viaja para ser operado num terceiro mundo qualquer e regressa ao seu país, num estado de saúde que não experimentava à muito. Para tal só teve de fechar os olhos à forma como obteve de novo a dádiva da vida. Claro que o desejo é legítimo, mas a forma como muitas vezes se concretiza, é terrível. Prova que quem tem dinheiro compra tudo. Inclusive a vida de meninas que são assassinadas para extracção de órgãos ou de homens e mulheres que acordam com uma misteriosa incisão lateral por lhes ter sido removido um rim enquanto estavam desacordados. Existe também o caso de a extrema pobreza levar uma mulher, por exemplo, na Índia, a vender o seu próprio rim por uma ninharia e depois, sente-se sem energia para continuar a levar a vida dura que sempre levou ou lidar com efeitos secundários que desconhecia poderem existir.
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Na América foi perguntado a um casal a quem o filho recém-nascido acabara por falecer, se autorizava a doação de órgãos. O casal reflectiu e decidiu que gostaria de enterrar o bebé inteiro na terra. Passados dois meses receberam uma conta do hospital. Nessa factura vinha um extracto de quatro páginas, indicando detalhadamente cada intém retirado ao corpo daquela criança. Os pais ficaram horrorizados.


Por tudo isto e mais, não entendo porquê não se investe no uso e estudo de órgãos mecânicos. Serão as questões económicas que ditam estas escolhas?


Um indivíduo transplantado compra também uma despesa vitalícia na farmácia. É grande e dispendiosa a quantidade de fármacos que um indivíduo tem de tomar para levar o seu organismo a aceitar aquele órgão que não lhe pertencia a trabalhar para si. E por maior sucesso que a cirurgia prometa ser, a esperança média de vida é sempre um risco, uma incógnita. Tanto pode ter “comprado” ao tempo mais dois anos, como trinta. E durante esse período a indústria farmacêutica tem um cliente que a ela recorrerá todos os dias. O transplantado é co-dependente de fármacos.


Depois, infelizmente, vêm aqueles que vou chamar de (e desde já peço desculpas se ferir susceptibilidades) “transplantados ingratos”. Trata-se, a título de exemplo, dos indivíduos que não tomam as devidas precauções após o transplante. Como é o caso de um senhor que vi numa peça exibida pela Sic. Este português recebera um transplante duplo de pulmão (irei confirmar se foi mesmo de pulmões). Por causa do transplante, o indivíduo tinha de usar máscara devido ás impurezas no ar. Outra coisa que ele não podia fazer, era dedicar-se ao seu hobbie favorito: criação de pombos. É sabido que os pombos e as suas fezes são do pior que existe para a saúde humana. Mas este indivíduo gosta demais dessa parte da sua vida para prescindir da satisfação que cuidar dos pombos lhe traz. Acontece que não existem tantos pulmões assim, para quem os receber poder arriscar-se a perdê-los. Ao menos assim me parece, que há algo de errado nestes casos.


São muitos os riscos, poucas as garantias, e muitas as incógnitas. Gostaria que esta fosse uma área onde se pisasse solo mais firme e, por isso, estou a torcer para que os interesses mudem e se passe a considerar mesmo a sério, o fim do recurso a órgãos humanos em substituição de outros e se passe a olhar em frente, em direcção á tecnologia. Em laboratório já se consegue muita coisa: fazer pele artificial, cultivar células, moldar uma orelha e criá-la em pele. Porquê não ir mais longe? Afinal, a lua, os planetas e todo o mistério, está dentro de nós.
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Tanto assim é que afloro agora outro assunto mais transcendente sobre a transplantação de órgãos humanos: a transferência.
.Tenho gravado algures um documentário sobre pessoas transplantadas que começaram a ter sonhos, visões e emoções após o transplante. Vieram a descobrir que nos sonhos escutavam o nome do indivíduo cujo órgão possuíam agora. Em sonhos viam-lhe o rosto. Os desejos mudaram para ficarem de acordo com os do falecido dador. Acredite quem quiser. Eu acredito. Há mais mistérios entre a terra e o céu... já se diz.
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Mas não é mistério. É energia. O homem não compreende totalmente a energia. Já Heinstein e outros fizeram as suas tentativas.
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Em Portugal tudo é anónimo. O dador é anónimo, a identidade do receptor também. Sou contra o anonimato. Acho que uma família que sabe que um órgão de um ente querido, por sua vontade, estaria destinado a ajudar a viver uma outra pessoa, tem o direito de saber para onde foi e para quem. Eu quereria saber, embora não queira agora me imaginar a passar por isso. Mas eu ia querer saber se foi para a China, para o Tibete, para o Alentejo, para homem ou para mulher, para menina ou menino, com que idade, com que estilo de vida. Acho bem, acho de direito.
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Termino com o pensamento naqueles que vivem uma realidade que pessoalmente desconheço e espero nunca vir a conhecer. A todos aqueles que neste instante vivem esta situação na primeira pessoa, desejo tudo de bom e mais ainda.