Preparem-se que este vai ser grande. Antes de mais, uma referência ao "Lá em Casa Mando Eu" e a um
post que diz muito do sentimento que vai tomando conta de muita gente hoje em dia.
Sendo assim, vamos a isto.
Desde que formei com o inespugnabile o Ndrangheta em 2005, que mantive sempre a minha coerência e que um dos factores para a constituição do blog seria a minha crítica a Vieira e a tudo o que ele representa. Como é óbvio, nas poucas coisas que ele fez e que a mim me satisfizeram enquanto ele é Presidente do Benfica, não tive pejo em elogiar o trabalho ou a situação em causa.
Mas não me esqueço tão facilmente das coisas. Não me esqueço de como Vieira contribuiu para o declínio do Benfica, ao servir-se de clube satélite do FC Porto, permitindo que jogadores que tinham saído do Benfica, fossem parar às Antas com a maior das facilidades.
Vieira fala sempre do sistema, mas contribuiu para ele. Contribuiu como Presidente do Alverca, contribuiu com um contrato ruinoso de 10 anos com a Olivedesportos, porque precisava de dinheiro, como qualquer Beira-Mar ou Gil Vicente que se preze. Privou com as principais figuras do sistema. Apoiou recentemente a direcção da Liga e depois da Federação que tinham pessoas relacionadas com o processo "Apito Dourado", que visavam prejudicar o Benfica e nada fez. Ele sim, também é cúmplice.
Virão os mais defensores dizer que temos um Estádio novo, um Centro de Estágios e um complexo desportivo de fazer inveja aos nossos rivais. Sim senhor, a única parte nova que temos em relação ao passado é mesmo um Centro de Estágios para a formação de futebol, porque já tínhamos o mesmo parque desportivo. Ficámos com uma dívida maior para poder pagar este novo complexo desportivo, e mesmo assim, os resultados desportivos (aquilo que fazem um clube andar para a frente) não apareceram.
"Foi preciso tempo para recuperar o Benfica!" é a frase mais ouvida. Mas mesmo nesse tempo, conseguiu-se ganhar campeonatos, portanto, nós soubemos ganhar, soubemos fazer ganhar, o que falhou para não se manter o ritmo e a bitola? "O sistema!" é sempre a resposta, acompanhada agora dos árbitros.
Estamos a ficar com maus hábitos. Hábitos que não honram nem dignam a história de glória e vitórias de que foi feito o Benfica. Valores que se perdem com pessoas que não sentem o clube em posições privilegiadas de acesso à informação e à forma de funcionamento do clube. E achamos tudo normal, porque no fim de contas, são profissionais que estão a tomar conta de um clube mais virado para a actividade económica do que para a actividade desportiva.
E é aqui que o futuro sustentado do Benfica encontra o seu "muro". No basquetebol, dois títulos. No andebol, um título, despedimento imediato do treinador e a travessia no deserto nestes últimos 4 anos. No voleibol, dois anos seguidos a ser líder do campeonato e a baquear no último jogo do play-off. No futsal, dois anos sem ver o campeonato, mas com uma UEFA Futsal Cup. No hóquei, nem é preciso falar.
E com o passar dos anos, o argumento de sempre. A salvação do clube, a sua quase extinção e falência, mas no entanto, havia sempre 4 milhões de euros para se gastar num Balboa ou num Makukula para satisfazer caprichos de Presidentes, Treinadores e Dirigentes.
Os hábitos de vitória vão-se esfumando e o critério de exigência do que é o Benfica não existe. As palavras dos mais velhos servem para denegrir. Quando alguém apresenta ideias, o discurso é de que há sempre alguém a trabalhar nisso e depois não se vê o resultado. As previsões dos "roubos" são sempre previsíveis, mas não se actua em conformidade. E com isto, os hábitos vão mudando.
E com os hábitos a mudar, é fácil de ver que o Benfica actual quer tentar vencer como o seu principal rival vence. Mas há aqui uma diferença muito grande. O ADN do Benfica não se coaduna com os valores evocados pelo clube do Freixo. E por isso, o Benfica não pode conseguir saber ganhar como os outros ganham, porque não faz parte do seu ADN, da sua essência. O Benfica ganhava porque era (e é) o maior clube de Portugal. Porque as suas equipas arranjavam força na massa humana que os acompanhava para todo o lado, como ainda hoje faz. E porque tinha na sua estrutura, pessoas que sentiam o clube, que faziam passar a mensagem do que era representar a equipa, da sua história, dos seus valores. Hoje, o Benfica serve essencialmente para trânsito e para o enchimento dos bolsos de uns quantos, que se pavoneiam por estúdios de televisão, pelos camarotes do Estádio e pelos microfones em punho que lhes põem à frente a pedido expresso.
Por isso, a minha espinha não dobra. O meu ADN está cá. Não é como muitos. Que vêem nas críticas o "falar mal" (característica tão portuguesa), que querem mostrar a quem manda (e que muito teimosamente, não ouve) que há outras alternativas, que há outras ideias, que há outros objectivos, bem diferentes com o mesmo sentido de vitória.
Quando o Benfica colocar as pessoas certas no lugar certo, com as suas funções delineadas e com liberdade para actuar, acredito que será imparável em Portugal e que não haverá sistema que o derrube.
E basta também as pessoas perceberem que há ciclos para tudo e que ninguém é eterno. E que um dos valores do Benfica é a humildade, tão em falta nestes últimos tempos e que é um factor precioso para quem quer ver os seus erros e tenta corrigi-los.
Por isso, espanta-me ver uns quantos elementos do Benfica a quererem, eles próprios criar divisão. Impedir o livre arbitrio e liberdade de pensamento para um Benfica melhor. Tentar convencer-nos de que a causa é um efeito já expectável, mas que não conseguimos lidar com ela. E isso incomoda-me, porque esta gente não é do Benfica, mas sim de quem lhe paga. E assim, a espinha dobra...