Em linha com o Projecto GAP
iniciado em 19/20, a Fundação Gulbenkian está a lançar um novo Projecto
destinado a promover o sucesso educativo de alunos pertencentes a comunidades mais
desfavorecidas social e economicamente.
Numa primeira fase serão criados
três Centros de Estudo Gulbenkian no Bairro Padre Cruz, em Lisboa, no Bairro do
Zambujal, na Amadora e no Vale da Amoreira, na Moita.
O objectivo será providenciar
explicações que promovam o sucesso escolar dos alunos que integrarão o projecto,
90 nesta fase, estando os professores-explicadores a ser recrutados para que se “forneçam
explicações de alta qualidade”.
De acordo com o referido na
página da Fundação, o trabalho a desenvolver pelos Centros de Estudo Gulbenkian
envolverá:
Apoio escolar personalizado - Tutoria
em Português, Matemática e Inglês, assegurada por professores e explicadores
qualificados.
Ligação escola–família–comunidade
- Criação de pontes entre os diferentes contextos de vida das crianças,
promovendo interacções positivas e a detecção precoce de comportamentos de
risco.
Mentoria - Acompanhamento por
jovens e adultos de referência – incluindo Bolseiros Gulbenkian – que ajudam a
desenvolver competências pró-sociais.
Actividades culturais e de
descoberta - Programas extracurriculares que ampliam horizontes, como visitas
de estudo, experiências culturais e actividades fora do bairro
Lembrei-me de José Afonso, “seja
bem-vindo quem vier por bem”, e registo e saúdo todas as iniciativas que possam
contribuir para minimizar ou erradicar problemas ou dificuldades, mas já me
falta convicção no impacto do modelo frequentemente seguido.
Para cada constrangimento ou
dificuldade percebida nas e pelas escolas e com regularidade, aparece vindo de
fora ou gerido de fora, um Plano, um Projecto, um Programa, uma Iniciativa, as
combinações são múltiplas, destinado a essa problemática.
Durante as últimas décadas, perco
a conta a planos, projectos, programas, experiências inovadoras que chegaram às
escolas para combater o insucesso ou, pela positiva, promover o sucesso,
promover a leitura e escrita, promover a matemática, promover a educação
científica, promover a educação inclusiva, erradicar ou minimizar o bullying, a
relação entre escola e pais e encarregados de educação, promover a expressão
artística e a criatividade, promover comportamentos saudáveis, a cidadania, o
ambiente, actividades desportivas, literacia financeira e outras, promover a
inovação e as novas tecnologias, para não falar de iniciativas mais
"alternativas", por assim dizer, e que têm poderes mágicos, parece. A
lista enunciada é apenas exemplificativa.
Com demasiada frequência muitos
destes projectos vêm de fora das escolas, as origens são variadas, não chegam a
envolver a gente das escolas, esmagada pelo trabalho, burocracia e outros
constrangimentos como, por exemplo, assegurar da melhor forma possível o
dia-a-dia do trabalho educativo que tem de ser realizado.
Também com demasiada frequência
muitos destes projectos morrem de “morta matada” ou de “morte morrida”, não são
avaliados de forma robusta e dão umas fotografias ou vídeos que compõem o
portfólio dos organizadores e proporcionam uma experiência que se deseja
positiva aos intervenientes no tempo que durou, mas sem impacto significativo na comunidade.
Todavia, preciso de afirmar que
muitos destes Planos, Projectos, Inovações, etc. dão origem a trabalhos
notáveis que, também com frequência, não têm a divulgação e reconhecimento que
todos os envolvidos mereceriam.
Também demasiadas vezes estas
iniciativas consomem recursos com baixo retorno e ao serviço de múltiplas
agendas.
Ponto.
Tenho para mim, que não podendo a
escola responder a todas as questões que afectam quem nelas passa o dia
poderia, ainda assim, fazer mais se os investimentos feitos no mundo à volta da
escola e que lhe vem bater à porta com propostas fossem canalizados para as
escolas. Sim, não esqueço a questão crítica da formação de professores, mas
também ela surge por incompetência das políticas públicas de educação que os
responsáveis teimam em branquear
Com real autonomia, com mais
recursos e com modelos organizativos mais adequados as escolas poderiam fazer
certamente mais e melhor que quem vem de fora numa passagem transitória, mais
ou menos longa, mas transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de
escrutínio, regulação e avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares,
auxiliares informados e formados podem ter um papel importante em diferentes
domínios.
Directores de turma com mais
tempo para os alunos e menos burocracia poderiam desenvolver trabalho útil em
múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem.
Psicólogos e outros técnicos em
número mais adequado, o que se verifica é inaceitável, poderiam acompanhar,
promover e desenvolver múltiplas acções de apoio a alunos, professores,
técnicos e pais.
Mediadores que promovessem
iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a
experiência mostra-o, um investimento com retorno.
São apenas alguns exemplos de
respostas com resultados potenciais com um custo que talvez não seja superior
aos custos de tantos Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras
destinadas a múltiplas matérias e com custos associados de “produção” que já me
têm embaraçado, mas a verdade é que as agendas e o marketing têm custos.
Na verdade, a “Projectite”,
sobretudo vinda de fora, é uma opção com pouco potencial apesar, insisto, das
boas experiências que felizmente também existem e que também desejo que
sejam os Centros de Estudo Gulbenkian.