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quarta-feira, 10 de junho de 2009

Carol Ann Duffy

Namorada



Não uma rosa vermelha ou um coração de cetim.

Ofereço-te uma cebola.
É uma lua embrulhada em papel castanho.
Promete luz
tal como o cuidadoso desnudamento do amor.

Aqui.
Vai cegar-te com lágrimas
tal como um amante.
Vai fazer do teu reflexo
uma fotografia tremida de dor.

Tento ser verdadeira.

Não uma carta engraçada ou uma quantidade de beijos.

Ofereço-te uma cebola.
Os seus beijos violentos permanecerão nos teus lábios,
possessivos e fiéis
como nós somos,
enquanto continuarmos a ser.

Aceita-a.
Se o desejares
os seus anéis de platina servem de alianças.

Letais.
O seu cheiro vai agarrar-se aos teus dedos,
agarrar-se à tua faca.



(versão minha; original reproduzido em Selected poems, Peguin, Londres, 2006, p. 11).

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Carol Ann Duffy

Educação para o ócio



Hoje vou matar alguma coisa. Qualquer coisa.
Estou farto de ser ignorado e hoje vou
representar o papel de Deus. É um dia vulgar,
uma mistura de cinzento e tédio arrebatador pelas ruas.

Esmago uma mosca contra a janela com o polegar.
Fizémo-lo na escola. Shakespeare. Foi noutra
língua e agora a mosca mudou-se para outra língua.
Expiro talento no vidro para escrever o meu nome.

Sou um génio. Poderia ser o que quisesse, com metade
da sorte. Mas hoje vou mudar o mundo.
O mundo de qualquer coisa. O gato evita-me. O gato
sabe que eu sou um génio, e escondeu-se.

Deito pela sanita os peixes dourados. Puxo o autoclismo.
Vejo como isto é bom. O periquito está aterrorizado.
De quinze em quinze dias, faço três quilómetros até à cidade
por causa de uma assinatura. Eles não gostam do meu autógrafo.

Não há nada para matar. Telefono para a rádio
e digo ao homem que está a falar com uma super-estrela.
Ele desliga. Pego na nossa faca do pão e saio.
O piso resplandece de súbito. Toco no teu braço.



(versão minha; o original pode ser lido aqui).

domingo, 28 de setembro de 2008

Carol Ann Duffy

Palavras, extensa noite



Algures do outro lado desta extensa noite
e da distância entre nós, estou a pensar em ti.
O meu espaço despede-se lentamente do espaço.

Isto é agradável. Ou devo riscar isto e dizer
que é triste? Numa certa linha do tempo canto
uma impossível canção de desejo que não podes escutar.

Lá lala lá. Entendes? Fecho os meus olhos e imagino
as montanhas negras que teria que atravessar
para te alcançar. Porque te amo e isto

é como é ou como é em palavras.



(versão minha; original reproduzido em Poems on the Underground, organização e selecção de Gerard Benson, Judith Chernaik e Cicely Herbert, Weidenfeld & Nicolson, London, 10ª edição reimpressa em 2007, p. 141.)