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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

2011


Mario Bava

Passou-me completamente ao lado, este ano de cinema. Porque quis que passasse, se calhar, não sei.. Num 2011 ideal, o Rivette estreava um filme, o Resnais, o Kiarostami, o De Palma e o James Gray, idem. Num mais ideal ainda, o Jerry Lewis realizava e escrevia uma comédia com o Jim Carrey como actor.. Não vi os novos do Cronenberg, do Skolimowski, do Wiseman, do van Sant.. enfim, os Panahis, os Wakamatsus, o Canijo. Vi o primeiro plano do Melancholia e jurei não continuar, vou ver se faço disso a minha resolução de ano novo. Não sei porquê, não achei grande piada ao Hellman, mas vou revê-lo..

A descoberta do ano é o terror italiano, a sessão de cinema é a do Xavier na Guarda, o torrent do ano é o Noises Off do Bogdanovich e o megaupload do ano, o Profondo Rosso. Os dvds do ano (não os lançamentos, mas os que vi) são a caixa do Dr. Mabuse e o Rally Round the Flag, Boys!, do McCarey (edição portuguesa, cinco euros, Cinemascope imaculado). E o vídeo de YouTube do ano. Entre o que vi, o que não vi e o que não quis ver, ficam (estreados este ano em Portugal):

1. Tóquio (a curta do Carax (!!!!) e a do Bong (!) )
Hereafter
O Estranho Caso de Angélica

2. Habemus Papam
The Ward
Winter's Bone

3. Tree of Life (pelas cenas nos anos 50; fosse o filme todo só aquilo e, sim, tínhamos o 2001 de 2011, se calhar muito mais)

Mas vejam antes estes balanços aqui: 1 2 3 4 5 6 7 8 9

*adenda: o concerto do ano é o dos Acid Mother Temple & the Melting Paraiso U.F.O. no Hard Club: Puta que pariu!

sábado, 11 de junho de 2011

2ª série dos Planos (XIII)


I / II / III / IV / V / VI / VII / VIII / IX / X / XI / XII

Uma vez por semana (mais coisa menos coisa), convido bloggers a escolher um plano e a falar, também, sobre ele. A décima terceira convidada é a Sabrina Marques, do CZARADOX e do VIDEODROMA, que escolheu o plano de abertura de Werckmeister harmóniák, de Béla Tarr.



"Ao gentil convite do João para esta rubrica, respondi com uma escolha pessoalmente difícil : o primeiro momento do filme “Werckmeister Harmonies” do húngaro Béla Tarr, (de quem tão ansiosamente se aguarda o mais recente “Cavalo de Turim”). Este é um longo plano de sequência, com cerca de nove minutos de duração, exemplificativo do melhor estilo do realizador, e o primeiro dos 39 cadentes planos de sequência que decompõem, em languidez, o movimento desta obra. A dificuldade iniciou-se na consciência do quanto se ousa ao tentar articular sobre uma sequência já de si tão eloquente e, arriscaria até, universal, para lá do idioma que utiliza.

Mas, se a tarefa é, à partida, a selecção de um só plano, que se busque a visibilidade de um dos mais altos graus em que esta possibilidade se cumpre. E onde, num estilo que saboreia até hoje o elemento da novidade, a linguagem se distende, para assim saber dar tanto. Em absoluto, diria até que é de tal modo expressivamente sucedida a audácia que antecipa o plano, que este poderia valer como uma curta-metragem em si mesmo. Mas, num contexto de preâmbulo, serve sublimamente o propósito de posicionar a natureza do herói Valuska perante os seus pares, resumindo a validade de toda a distinta conduta que dele se seguirá. Rumo à beleza.

“Tu és o Sol. O Sol não se move, é isto que ele faz. A terra está aqui a começar. E agora, teremos uma explicação que gente simples como nós também pode compreender, sobre a imortalidade.”

As primeiras palavras de Valuska, o solicitado coreógrafo, legendam o seu estímulo ordenador. Numa dança improvisada, reconquista-se energia à latência embriagada dos que ali se encontram. A repetição força em acertar-se no ritmo de cada corpo. A continuidade silenciosa de cada um, é o gesto que se repete à procura da conciliação com um simulacro de posicionamento cósmico. A direcção é do khaos ao kosmos. E não há como reavivar a etimologia grega desta palavra, para encontrar por definição a “harmonia” que imediatamente nos remete para o título. Mas é na riqueza da pluralidade, com que o título respectivamente se legenda como “As Harmonias de Werckmeister”, que se antevê o derradeiro elogio que brota desta obra. O enredo centrado na concepção de novas escalas rítmicas, pelo velho maestro Werckmeister - para espanto e admiração do seu incondicional Valuska, íntimo confidente - é o primeiro argumento do tratamento de divinização do indivíduo em Tarr.

A grande prova superada, do homem pelo homem, dignificada pelo esforço desta inovadora organização harmónica, ergue-se no incógnito pelas mãos do génio semi-eremita, para logo se destruir pelo abalo das circunstâncias práticas com que o exterior invade a casa e a obra. Reflecte-se a imensurabilidade da proeza não cumprida, para sempre guardada entre os avanços e recuos dos registos anónimos, no imparável rol da história. Há ressonâncias desta qualidade recatada da grandeza, no empenho do jovem rapaz que, sem artifício, aqui faz rodopiar e colidir os corpos pouco desenlaçados da embriaguez, segundo um baile espontâneo que progressivamente se ordena. De repente, a contribuição de todos os presentes procura em uníssono um longínquo patamar essencial. De pés enrolados em órbitas imaginárias, livremente dançam questões de altitude épica. Dançam os astros ou, crêem, como os astros, numa feérica elegia de recapitulação primordial.

Em simultâneo, este palco funciona como um novo espaço temporal, assumido fora da regra por improviso. Há que recordar como é o dono do bar quem dá inicio à cena, lembrando aos presentes de que já são dez horas, tempo previsto para a hora de fecho. Mas é também ele quem, espectador, consente que todo o episódio decorra, até que se decida a colocar-lhe termo. Duram uma viagem pelo cosmos, os tais nove minutos que alinham o universo na sua enunciada “imortalidade”, desenhando entre a luz artificial e as escassas sombras, o espaço daquele bar simples, num belo contraste de preto e branco. Mas a poesia em que Valuska vai sabendo narrar os desenlaces do seu drama cósmico, excede as fronteiras deste cromatismo. Ilustrativamente nos transporta para ricas descrições, situadas entre a “radiância” e o “brilho”, a “luz” e o “calor”.

Sugere-se o debate entre a fragilidade singular de cada ser humano, e a grandeza de uma evolução cósmica com contornos totalizantes, infinitos, na desproporcionada medida do seu movimento relativo, face às limitações com que a perenidade humana se organiza. E, indubitavelmente, uma pequena vingança da criatividade humana acontece ali, na simulação acelerada de um processo de deslocação astral que, em razão proporcional, demoraria anos a cumprir-se na realidade.

A maior vitória deste combate é a música, conclui-se, ou a capacidade de ordenação rítmica em geral. O memorável tema original da autoria do compositor Mihály Vig, surge pela primeira vez para sublinhar o movimento compassado desta coreografia interrompida, ressurgindo ao longo de todo o filme para pontuar o suceder das várias sequências.

Há um outro movimento, mais íntimo, que acompanha as alternâncias do posicionamento do corpo face ao seu redor. Desenrola-se entre a mais secreta conjugação iniciada em “eu”, e a sua dissolução motivada pelo comum, pela absorção no todo, pela identificação em “nós” - neste caso particular, o pronunciado colectivo das “gentes simples”, dissolutamente entregues a esgares difusos de uma expressão de grupo. Uma expressão ritual, purificada e tenuamente solene que, pela convergência dos presentes, propõe um indefinível e tácito acordo sobre a beleza. O inesperado resultado funciona como um todo harmónico, que é da celebração de uma mesma génese cósmica. Que é da apropriação consentida das vontades de cada corpo. Que é da inquietação filosófica desmembrada pela dança. Que é da vivência colectivizada de uma inserção espácio-temporal. Que é do diálogo físico dos dados dos sentidos, a servir de matéria-prima à eterna narrativa. Que é, ao espelho de todos os seres, do drama da mortalidade.

E, neste contexto de grande percurso causal, à escala dos singelos passos da minha descoberta, não me apetece deitar as culpas ao acaso, pelo facto de ter interrompido a redacção deste texto particular, com a oportunidade de ver “The Tree of Life”, de Terrence Malick, a mais recente das obras-primas. Assim, ainda que a proposta me convocasse umas linhas sobre um só plano, parece ser do meu dever trafegar um pouco além, e remetê-lo, pelo elogio, para a irmandade consequente deste seu semelhante contemporâneo.

Com menor severidade no tom, “The Tree of Life”, parece reconhecer-se no núcleo desse incessante duvidar acerca da possibilidades de encontrar a ordem, a harmonia e a beleza, nas profundezas de um estado esmagador de desintegração e de caos. Mas, no remate de um optimismo luminoso, e pelo convergente contributo de um maravilhamento nascido da composição melódica, há uma resoluta persistência da graça que, relativamente a “Werckmeister Harmonies”, auspiciosamente coloca “The Tree of Life”, no imediato passo seguinte." (Sabrina Marques)

O próximo convidado é o João Lameira.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Os 10 Melhores dos anos 00


Não sabendo bem quando acaba ou quando começa a década (parece que começa em 2001 e acaba em 2010), também eu vou escolher os 10 filmes desta década - os que, para mim, foram os melhores e mais importantes. Aqui estão eles:

"Gosford Park" (2001)

É o 2º melhor filme de Robert Altman (o primeiro é "McCabe and Mrs. Miller" - o anti-western, um dos filmes mais fabulosos dos 70), homenagem à literatura policial inglesa dos anos 30 e 40 e, por si só, testamento vivo do que Altman acreditava ser o Cinema: os grandes elencos sem personagem ou personagens principais (com a complexidade que isso implica) e os diálogos "decorativos" (falar por falar e não para explicar a acção ou a história) - o mais próximo possível da vida. Não é por acaso que, durante as duas horas do filme, Altman "tece" um estudo social e político da Inglaterra dos anos 30. Contemplativo e sedutor como nenhum outro em 2001.

"The 25th Hour" (2002)

É um filme político (e, no fim, muito mais que isso), o primeiro a reflectir (e de que maneira) as feridas sociais, sentimentais e políticas do 11 de Setembro e, claro, é poderosíssimo, fenomenal. É o melhor filme de Spike Lee e é, também, de uma raiva e de um descontentamento desmedidos - o fim do sonho americano...

"O Quinto Império" (2004)

Retrato de D. Sebastião enquanto mito e, portanto, completamente actual ou uma análise intemporal da portugalidade. É onde Pessoa, Paredes e Régio convivem e uma emenda ao fracasso (ainda que glorioso) de "Non, ou a Vã Glória de Mandar" e que (re)avivou todos os nossos fantasmas históricos: Portugal ainda espera que Sebastião regresse numa manhã de nevoeiro...

"Cigarette Burns" (2005)

Pode não ser o melhor, mas não houve filme que me marcasse tanto esta década como o "Cigarette Burns" do Carpenter (da mesma maneira mas em grau diferente só o "Basterds" do Tarantino ou o "Ou git votre sourire enfoui" do Costa), por toda aquela paixão vincada, mesmo demente, pelo Cinema (os cinéfilos - essa raça em extinção) e a atmosfera apocalíptica que atravessa todo o filme - aqui é o apocalipse cinematográfico. E, claro, a rebeldia e a anarquia "carpenterianas", ou como um telefilme para a Showtime se transforma numa verdadeira carta de amor à Película e ao Cinema.

"Il Caimano" (2006)

É sobre Berlusconi, porque é sobre a Itália dos últimos 30 anos e, como diz Teresa (a jovem cineasta) no filme, a Itália dos últimos 30 anos é Berlusconi.
Moretti, o maior cineasta italiano em actividade, constrói uma análise ao Cinema italiano dos últimos 30 anos, do qual faz parte, filmando uma família (e um país) em crise. E faz tudo isto sem cair na condescendência ou no panfletismo. É Cinema político, sim, mas é tão mais que isso...

"The Tracey Fragments" (2006)

"The Tracey Fragments", de Bruce MacDonald, é o melhor filme com Ellen Page (a maior revelação feminina da década). Cinema digital e sobre os nossos dias, conta a história de uma adolescente à procura do irmão desaparecido, por fragmentos, fragmentos de narrativa. O ecrã também está fragmentado (e nunca vi splitscreen melhor que este - também ainda não vi o Histoires du Cinema do Godard) e os sentimentos da personagem, os medos e a própria auto-estima, ainda mais. Diz-nos que, nos tempos que correm, não conhecemos uma pessoa senão por pedaços de convivência, porque vivemos, cada vez mais, isolados uns dos outros.

"Ne touchez pas la hache" (2007)

Filme de época e adaptação de "La Duchesse de Langeais" de Honoré de Balzac, "Ne Touchez Pas la hache" de Jacques Rivette é austero, quase impenetrável, uma sátira tremenda aos costumes do séc. XIX e um conto romântico mútuo-destrutivo ("quanto mais me bates...) e de uma esperteza ("wit") inabalável. É de uma noção de ritmo e de timing cinematográfico extraordinários (colar planos, pensá-los a cada um como força viva, palpável, mesmo) e o melhor Rivette desta década (tinha, por isso, que estar aqui).

"A Londoni férfi" (2007)

Primeiro contacto com o Cinema de Béla Tarr (e único, ainda) e uma experiência única, verdade seja dita. O Tarkovski, o Antonioni e o Minnelli já têm companhia, são eles os principais destruidores daquela ilusão "baziniana" de que o plano-sequência é um plano realista.
A história é facílima de contar, mas o fácil e o simples acabam aí. O que é "A Londoni férfi"? - film noir? ficção científica? - filme de uma importância e de uma profundidade imensa, que tenta apurar (sem conseguir porque não é possível) o que é o ser humano?...

"Cztery noce z Anna" (2008)

Skolimowski não fazia um filme há dezasseis anos, Paulo Branco "resgatou-o" e, assim, nasceu Quatro noites com Anna, um dos filmes mais (dolorosamente e delirantemente) obsessivos dos últimos 30 anos ("Vertigo" dos pobres). É uma história de amor no negativo onde o ódio e o amor, o repulsivo e o sedutor, a inocência e a experiência e o mórbido e a beleza convivem. Das melhores coisas que me foram dadas a descobrir nos últimos tempos....

"Gran Torino" (2008)

Por fim, Clint Eastwood e o seu "Gran Torino". Porque não se pode compreender a América como um misto de republicanos e democratas, bidimensional, nem as pessoas como unidimensionais (e Eastwood sabe-o), eis um filme que só é simples em termos formais (alcançar essa simplicidade é que é o cabo dos trabalhos - só mesmo para alguns), uma "coça" moral como nenhuma outra em 2008.

*E custou-me muito, muito mesmo, não ter conseguido arranjar espaço para o "Spider" do Cronenberg....

Menções Honrosas: "Spider" (Cronenberg) / "Oû Gît votre sourire enfoui" (Costa) / "A.I." (Spielberg) "O Quarto do Filho" (Moretti) / "Vou para casa" (Oliveira) /"A Arca Russa" (Sokurov) / "Mulholland Drive" (Lynch) / "Femme Fatale" (Palma) / "Punch Drunk Love" (Anderson) / "Signs" (Shyamalan) / "Finding Nemo" (Santon) / "Elephant" (Sant) / "Dogville" (Trier) / "Before Sunrise" (Linklater) / "Kill Bill" (Tarantino) / "Far From Heaven" (Haynes) / "Eternal Sunshine of the spotless mind" (Gondry) / "Noite Escura" (Canijo) / "A History of Violence" (Cronenberg) / "The New World" (Malick) / "The Black Dahlia" (Palma) / "Inland Empire" (Lynch) / "98 Octanas" (Lopes) / "Livro Negro" (Verhoeven) / "Miami Vice" (Mann) / "Little Children" (Field) / "Belle Toujours" (Oliveira) / "I`m not There" (Haynes) / "Paranoid Park" (Sant) / "There Will be blood" (Anderson) / "This is England" (Meadows) / "Juventude em Marcha" (Costa) / "Vals im Bashir" (Folman) / "Lat den ratte komma in" (Alfredson) / "Che" (Soderbergh) / "Inglourious Basterds" (Tarantino)