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sábado, 11 de fevereiro de 2012

sábado, 2 de outubro de 2010

:: NOFX ::

O Declínio
- Por Marco Souza -

"Nightmare! Recording this fuck was a total nightmare. Writing it was a total nightmare. I'm glad we did it but I wouldn't do it again. We went back to the studio 3 different times and added stuff and remixed and remastered 4 times. It ain't no rock opera like The Song Remains the Same or nothing. We got the idea from Subhumans, not Rush. Why an 18 minute song? Just to do something different. We've done enough short songs, time for a long one. Anyway, my advice, never try this song at home."

Muito antes de Green Day lançar seu opera-punk-rock, em American Idiot, que ganhou notoriedade através de clipes emos na MTV, o NOFX esbofeteou minha orelha com The Decline. O EP praticamente passou despercebido pela maioria (o que é de se esperar de um EP). Consistia em apenas um hardcore épico de 18 minutos. A banda negou qualquer conceito opera-rock; para eles a ideia era exercitar a criatividade. E por falar em criatividade, a banda estava no seu auge, já que esse EP apareceu em 1999, logo depois do ótimo So Long And Thanks For All The Shoes.

"The Decline", a música, parece um retalho de canções dispersas, tanto no som como nas letras. Porém neste último quesito ela não se sai tão bem: apesar de bons trechos, o todo se apresenta disforme. Eles atiram de forma caótica contra política, sociedade (em particular a norte-americana) e religião através de versos dispersos cheios de ironia, forte marca da banda. Já no som a coisa flui de outra forma, com variações bem casadas que dão a impressão de estarmos escutando um álbum com diferentes músicas.

A partir daí, NOFX envelheceu e perdeu a força. Mas mesmo hoje, após as letras com viés punk saírem de moda, eles continuam firmes na ideologia. Nessa onda de conformismo colorido é interessante resgatarmos músicas que possuem alguma atitude, para afastarmos o bundamolismo do rock.

He's got his, and I've got mine
Meet The Decline

DOWNLOAD: 39 MB

sábado, 30 de janeiro de 2010

:: Perucas Afegãs? ::


:: AFGHAN WHIGS ::
"1965"

"Evolving from a garage punk band in the vein of the Replacements, Dinosaur Jr, and Mudhoney to a literate, pretentious, soul-inflected post-punk quartet, the Afghan Whigs were one of the most critically acclaimed alternative bands of the early '90s. Although the band never broke into the mainstream, they developed a dedicated cult following, primarily because of lead singer/songwriter Greg Dulli's tortured, angst-ridden tales of broken relationships and self-loathing. The Afghan Whigs were one of the few alternative bands around in the late '90s to acknowledge R&B, attempting to create a fusion of soul and post-punk." -- ALL MUSIC GUIDE

Unindo o sinistro som de Seattle com o sabor sexy do soul sessentista, o Afghan Whigs criou neste 1965 (seu magnum opus) um dos álbuns mais luxuriantes a surgir na 2a metade dos anos 90. Ainda subestimado e menos cultuado do que merecia, 1965 é como uma atormentada viagem noctívaga, uma one-night-stand bêbada repleta de delícias e de traumas, meio Irreversível e meio Boogie Nights. É um disco tão libidinoso que daria pra dizer que inaugura um novo sub-estilo: o grunge pornô.


Apesar de ser uma legítima e barulhenta banda de rock'n'roll noventista, que integrou o cast da Sub Pop no ápice do selo, lançando o petardo Congregation (91) em meio à efervescência grunge, os Whigs eram também uma banda amante da soul music. Volta e meia faziam a gracinha de gravar um hit das Supremes ou tocar um clássico da Motown num show --- claro que em volume ensurdecedor. Greg Dulli, o vocalista e principal compositor, queria cantar como Al Green, Sam Cooke, Otis Redding ou Jimi Hendrix, mas ao mesmo tempo não temia assumir a gravidade dum Lanegan ou a fúria dum Cobain.

Já era 1998 quando saiu 1965 e a poeira do grunge já começava a baixar. Como o astronauta da capa do disco, o Afghan Whigs parece com um quarteto de soulmen que foi posto num foguete, aos fim dos anos 60, que ficou em órbita por quase trinta anos, só ouvindo LPs antigos de rhythm & blues e filmes da blaxpotation, e quando retorna do espaço pra Terra cai direto no era do trip-hop e do pós-grunge. Eles tentam soar tão sombrios quanto o Portishead e barulhentos feito o Soundgarden, ao mesmo tempo que mantêm viva toda a sacanagem libertina tão bem simbolizada pelo slogan sexual de Marvin Gaye, "let's get it on" (que ressurge no álbum berrado como se fosse um refrão de rock and roll).

Greg Dulli, em algumas das maiores performances vocais de sua carreira (e do rock dos 90), canta em 1965 mais ou menos como se estivesse sufocando no interior de um escafandro, ao mesmo tempo que anseia por tocar nas inacessíveis borboletas que vê esvoaçarem lá fora, do outro lado do vidro. Ou então como se estivesse usando, e em doses imoderadas, os mesmos psicotrópicos que o Tricky (um nêgo que, a julgar por seus inebriantes discos solo, não pegava leve...).

O climão que emana de 1965 nos dá a sensação de estarmos acompanhando um midnight cowboy, um perdido navegante noturno, que ainda que procure no hedonismo e numa transa fácil a anestesia para suas angústias, sempre prossegue com a mente transtornada e assombrada. E sempre desperta, na ressaca do dia-seguinte, ainda com seu coração sanguessuga e vampiresco intacto ("this vampire only wants a little love", canta Dulli).

A sensação é de que este é um disco de canções de amor e tesão escritas por um bêbado melancólico, amante do soul e da poesia, que está largado na sarjeta com suas memórias e seus fantasmas, suas polaróides e seu uísque. Como se fosse full-time aquele personagem de Tom Waits que diz "I hope that I don't fall in love with you / Cause falling in love only makes me blue".

(Não à toa, após o fim dos Whigs, Greg uniu forças com Mark Lanegan, ex-Screaming Trees e Queens Of The Stone Age, criando o muito bem batizado Gêmeos da Sarjeta - The Gutter Twins.)

Em "Neglekted", diz o eu-lírico, frente à mulher tentadora e irresistível que lhe sugere que façam algo "pouco higiênico": "You can fuck my body, baby / But please don't fuck my mind". Pois para ele é como se a transa dos corpos não deixasse jamais de deixar suas cicatrizes na mente após a passagem das delícias. Ainda que estas não sejam poucas (e talvez justamente por serem tão intensas!).

Não encontro adjetivo melhor para descrever o solo de sax que finaliza a catártica "John the Baptist" a não ser "orgástico" - e parece ser na direção deste alvo que os Afghan Whigs apontam suas armas. Tanto que os backing vocals femininos, que adornam lindamente canções como "Somethin' Hot", podem até ser chamados pelos desavisados de "gospel", mas são na verdade bem pouco católicos, simulando gemidos e gritos de prazer (e dor) que fariam qualquer freirinha ruborizar...

This music is a hell of a mindfuck!

Cena de balada em "A Última Noite", de Spike Lee

Pra mim, desde 11:11, o debut do Come (a melhor banda-grunge-que-ninguém-conhece), não se realizava no rock independente americano uma obra tão atormentada e intensa, tão azul-escura e com cheiro de madrugada. E ouso dizer que na música dos anos 90 este 1965 encontra poucos rivais à altura - talvez Cure For Pain do Morphine, ou algo do Massive Attack - na batalha pelo troféu de "Álbum Mais Sexy da Década".

É apertar o 'play' e embarcar numa noitada de arromba - e de ressaca.


Para degustá-lo, dê um pulo nos comments!