Mostrando postagens com marcador Oratória. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Oratória. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Curso de Oratória não garante promoção ou ascenção na carreira profissional





"Retórica é uma forma de manipulacão comparada à culinária , agradar o   paladar sem a preocupação do prato ser saudável" (Platão)


Não tenho nada contra os profissionais habitués prolíficos das plataformas virtuais que oferecem os seus cursos de Oratória, Retórica ou mesmo de Persuasão. Torço até para que sejam bem sucedidos nessa empreitada, entretanto, a maioria deles se utiliza de perfumaria retórica perversa, como por exemplo, os famosos sofismas para fisgar alunos e seguidores incautos. Insistem em premissas falsas que afirmam que somente possuindo uma boa oratória um funcionário terá chance de ser promovido ou evoluirá em sua carreira profissional. Nada mais falso e bem distante da realidade corporativa! Ou se preferir, de como funciona a carreira de um funcionário numa empresa privada.  Vejamos:

Em março de 2024 escrevi um artigo “Falar bem ou ter boa oratória é “combustível” para alavancar carreira?”, após assistir um podcast com duas especialistas em oratória que fizeram essa afirmação infeliz. Não tenho dúvida alguma que essas profissionais dominam essa área com maestria, porém estão anos luz de distância das políticas culturais e planos de promoções de Recursos Humanos de uma empresa e isso faz toda a diferença.

É óbvio que falar bem, se comunicar com clareza e até mesmo com alguma beleza e encanto é algo restrito aos profissionais que têm as palavras como matéria prima de suas profissões. Podemos citar aqui, Relações Públicas, Jornalistas, Assessores de Comunicação, Advogados, Secretárias Executivas, Professores; gerentes e supervisores de setores específicos. Não citarei os políticos simplesmente porque político não é profissão, conforme citado no manual "De Disciplina Scholarium", do filósofo romano Boécio , "quem tem mente medíocre vai ser político". Alias, é bom lembrar que político se comunica bem simplesmente pelo estoque de sofismas que ele coleciona. Sofismas = mentiras embaladas numa linguagem emocional que impressionará o receptor da mensagem recebida.

Um argumento falacioso que é utilizado por esses especialistas da retórica é que não basta o funcionário ser bom se ele não consegue transmitir via comunicação que ele é bom, porque não basta ser bom, tem que parecer ser bom. E ainda citam um exemplo que uma funcionária expert em sua área, uma das mais eficientes na empresa que não conseguia promoção simplesmente porque ela não tinha uma boa comunicação. Ora, não há algo errado nesse tipo de argumentação? Vejamos:

Se a funcionária era tão eficiente assim é porque ela já era reconhecida como eficiente, logo ela não precisaria comunicar nada.  Possuir uma boa comunicação não é requisito necessário para promoção, possivelmente se essa funcionária era tão eficiente assim e não conseguia promoção, provavelmente diversos outros fatores poderiam ser os óbices para a sua promoção, tais como motivos técnicos operacionais, o domínio de outros idiomas, disponibilidade para viagens, etc. Além disso, há que se indagar: seria essa funcionária tão eficiente assim? Talvez na percepção dela sim, porém na avaliação de seus gestores não.

A maioria dos empregadores não gosta de empregados falastrões que falam pelos cotovelos, se o cargo não exige isso. São justamente esses que falam muito, vivem dando palpites que pouco ou nada fazem na hora em que são chamados para a responsabilidade. Até pode ser que algum desses seja promovido só porque fala bem e possua uma boa oratória. Só que se a sua função não requer uma comunicação rebuscada a farra pode durar pouco tempo. Empresa gosta de funcionário produtivo na execução de tarefas que fale pouco, seja apto nas tomadas de decisões e sobretudo tenha impecável conduta ética alinhada com os valores da empresa. E aqui vai uma dica importante: numa entrevista de emprego se o candidato ao for indagado pelo entrevistador a citar uma virtude sua, se ele disser, falo menos e ajo mais, provavelmente já estará contratado.

Naturalmente que os profissionais de Oratória fazem um bom trabalho com profissionais liberais ao corrigir e neutralizar vícios e cacoetes de linguagem, tais como o famoso “né?” no final das frases, longas pausas seguidas de “éeééee”, “hummmmm”; evitar gírias de modismos idiotas; concordância verbal, gestual incorreto, postura inadequada, volume e tom de voz, o uso correto da indumentária e sobretudo, dominar o idioma português através de muita leitura para enriquecer o repertório de palavras para que elas sejam utilizadas nas ocasiões em que são necessariamente exigidas.

Por fim, como disse o mestre e filósofo Sócrates, a Retórica é apenas uma habilidade técnica e prática e não diz respeito ao caráter e a virtude de cada pessoa. Nenhum funcionário deixará de ser promovido por não possuir uma boa oratória, salvo os casos em que os cargos assim exigem. Isto porque a produtividade e sobretudo uma impecável conduta ética profissional alinhadas à cultura da empresa falam muito mais alto no planejamento de promoções de funcionários do que qualquer bla bla bla e malabarismos retóricos.


segunda-feira, 18 de março de 2024

Falar bem ou ter boa oratória é “combustível” para alavancar carreira?


"Fazemos bem aquilo que gostamos de fazer" (Napoleon Hill)

Dia desses tive a oportunidade de assistir um curioso podcast no qual duas especialistas em oratória, uma delas advogada e a outra fonoaudióloga discorriam sobre as habilidades de se falar bem. Até aí nada contra, no entanto num certo momento da conversa o tema enveredou para o setor de gestão de pessoas e uma das especialistas disse peremptoriamente que "a oratória é o combustível para alavancar carreira". Oi? A outra especialista por sua vez disse que se o candidato tiver uma boa oratória na entrevista de seleção é possível saber tudo sobre as suas habilidades. Será? Bom, não é bem assim. Aos fatos:

É importante aqui que antes saibamos a diferença entre Oratória e Retórica. Oratória é a habilidade de comunicar com clareza, elegância e confiança todo o discurso que foi construído pela retórica; já a Retórica é a construção de bons argumentos levando-se em conta os aspectos racionais e emocionais. Parece simples, porém na prática nem todos conseguem obter feedback positivo na sua maneira de se comunicar por desconhecer as regras linguísticas de se comunicar bem.

Retornando às afirmações das duas especialistas, considero bastante preocupantes afirmações deste teor, isto porque na prática não é assim que acontece. Com toda certeza se uma das duas fosse profissional de RH não colocaria as questões da maneira como foram colocadas. Parece-me que nenhuma delas tem a mínima noção da dinâmica ou de como funciona um processo de recrutamento e seleção.

Quando uma vaga é aberta, o responsável pelo setor de recrutamento e seleção recebe um formulário enviado pelo gestor do departamento no qual a vaga foi aberta, cujo formulário constará todo o perfil que o candidato deverá possuir para o preenchimento da vaga. Já recebi formulário (e não foi uma vez só!) que constava que uma das caraterísticas que o candidato deveria ter é que fosse introvertido e falasse pouco. Se fosse muito comunicativo, nem pensar! Pois é.

Obviamente que a exigência para que o candidato tenha habilidade em se expressar e se comunicar muito bem está restrita a alguns cargos, sobretudo os de gerência, gestão ou supervisão cujas funções no dia a dia requerem que estejam em contato com clientes, fornecedores e subordinados. Podemos citar também assessores de comunicação, secretárias, relações públicas, vendedores e naturalmente outros cargos cuja expertise na função seja justamente a habilidade de se comunicar bem.

Outra questão que uma das duas levantou foi que qualquer pessoa pode desenvolver habilidades em oratória. Depende. Existe uma característica do ser humano denominada vocação e que não pode ser descartada. Pessoas com tendência a ter uma voz potente do tipo locutor de rádio ajuda bastante. As chances de essas pessoas escolherem uma profissão que requer uma boa comunicação são muito mais sólidas do que aquelas sem vocação que gastaram rios de dinheiro em cursos de oratória sendo que elas poderiam empregar esse investimento em outras habilidades inerentes às suas vocações. Napoleon Hill sempre discorria sobre a importância da vocação em seus livros.

É bom lembrar aqui que bons resultados apresentados na execução de tarefas, bem como, o fator produtividade são muito mais importantes do que ter uma boa oratória. E de novo, dependendo do cargo, entre um funcionário que se comunica bem, porém é ineficiente em apresentar resultados e outro que não se comunica bem, mas apresenta resultados satisfatórios as chances de promoção e decolar na carreira estão muito mais próximas deste último. Funcionários falastrões nem sempre são bem vistos, depende muito da cultura da empresa.

Além disso, pessoas que possuem um raciocínio lógico aguçado ou tiveram algum contato com a disciplina denominada Lógica (ramo da Filosofia que distingue o pensamento correto do incorreto através de premissas), conseguem muito mais êxito quando se comunicam do que aquelas que se prendem apenas em ser bons oradores.

Isto posto, de nada adianta ter voz de trovão ou de locutor de rádio, de nada adianta investir dinheiro em cursos oportunistas que prometem que a pessoa sairá do curso falando como o filósofo Marco Túlio Cícero ou Demóstenes. Isso não é combustível suficiente (suficiente!!) para alavancar carreira de maneira alguma. Dominar a língua pátria, falar o português correto, saber e dominar as regras da Lógica, do raciocínio correto, daí sim, mais de meio caminho estará percorrido para se fazer compreender e ser compreendido, seja na vida pessoal, social ou profissional. O resto é lábia para vender curso oportunista engana trouxas, é puro bla bla bla sofístico que não resiste a três minutos de raciocínio lógico, é combustível batizado que deixará a pessoa a pé e no meio do caminho.


Truques e dicas são termos usados por amadores, técnicas são termos profissionais

Quem ainda não se deparou com vídeos ou artigos cujos títulos diziam: “truques para que seu computador não trave ‘mais” ou “dicas para fazer...