Metereologia 24 h

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domingo, 26 de janeiro de 2020

Footpath Rage


Footpath Rage quer dizer "Raiva no Passeio".

Este é um tema que já quis abordar. Diz respeito ao equivalente do Road Rage (Fúria na Estrada) que descreve um comportamento de certos automobilistas que estão sempre zangados e a mandar vir, mostrando adoptar uma condução agressiva.

Eu sou peão. Peão profissional!
E como tal, tenho já uma certa tarimba. 
Aqui no UK não se diz sidewalk (isso é americano!), diz-se Footpath... então sofro, desde que cá cheguei, de footpath rage.




Enerva-me. Imediatamente. Posso estar super feliz mas basta uma coisinha relacionada com certos comportamentos tanto de outros peões, como de automobilistas, para me azedar o dia. 

Quando estive em Portugal até fiquei a sentir-me MARAVILHADA, porque todas as pessoas no metro posicionavam-se corretamente. E todas estão tão apressadas quanto eu! Mas não perdem a classe, a educação, a etiqueta. E, principalmente, não exibem a arrogância como se fosse um troféu. Sei que podem questionar-se mas, enquanto em Lisboa, todas as pessoas que encontrei no metro, sem excepção, pediram desculpa pelo mais ligeiro encontrão. Todas corriam para as escadas rolantes mas posicionando-se para ceder passagem a quem as quisesse subir... e pedindo desculpa quando não eram rápidas o suficiente! Foi uma lufada de ar fresco e familiar que acolhi com deleite.  
Ver a multidão com estes comportamentos quase que dá vontade de chorar, pela surpresa da falta diária que exemplos destes nos fazem. Nem tinha percepção do quanto em Lisboa as pessoas são bem educadas! 

Nesta parcóvia a algumas horas de Londres... Já vos conto!!

O Reino Unido abriu o seu primeiro supermercado somente depois da 2º GG
(12-01-1948) E vejam nesta imagem, já de início... nenhuma regra de circulação e comportamento!

SUPERMERCADO
Empurrava um carrinho, tenho pessoas paradas à direita a ver coisas numas prateleiras, então vou para o meio, já que quatro passos à esquerda, um casal acabou de se agachar até ao chão para espreitar algo na prateleira mais rasa. Uma mulher sem sacos, sem carrinho, bem vestida, com o cabelo solto e louro platinado, faz a curva e entra no mesmo corredor, atrás do casal agachado. Ao invés de ficar PARADA nesse lugar para me ceder passagem, pois já estou no meio do corredor com o carrinho em frente da barriga, desvia-se do casal, metendo-se à minha frente e pára. Fica ali parada, como se não tivesse acabado de se transformar num empecilho e eu tivesse de lhe ser grata. Há direita tenho pessoas, à esquerda tenho pessoas, ao meio, a bloquear-me a passagem, pôs-se ela. Demasiado "chique" para se desviar.  

Também fico parada. Uns segundos, a tentar perceber como sair dali... porque as pessoas aqui no Reino Unido não funcionam com regras de etiqueta que nós, portugueses, seguimos por instinto! Como por exemplo... não nos tornarmos um empecilho para a circulação dentro dos supermercados ou centros comerciais.

Só consegui sair do súbito cult-de-sac (a expressão usada aqui no UK para "beco sem saída", curiosamente, nada inglesa) quando um deles se moveu. Os da direita. Só então pude manobrar o carro para a direita para me desviar da tipa.

E a reacção dela quando a ultrapasso? 
Com um ar de desdém, como se tivesse razão de queixa, diz:
-"You are welcome!"  (Não tem de quê!)

Ainda queria que lhe agradecesse por se fazer de empecilho e forçar-me a ter de empurrar o carrinho aos zig-zags. 

É o tipo de comportamento estúpido que mexe com a minha tranquilidade interior!

Vocês talvez não saibam, mas aqui no UK os ingleses têm muito o hábito de insultar as pessoas de RUDES. E fazem-no, principalmente, com estas atitudes de desdém, dando a entender que a outra pessoa lhe deve um agradecimento ou pedido de desculpa. Para mim, exibir este tipo de atitude é o a própria definição de uma pessoa RUDE. Mas na cabecinha deles... acham que os outros é que são escumalha e eles estão correctíssimos.

Esta tipa pertencia, sem dúvida, a este grupo de gente.

Respondi-lhe logo: "Queria o quê? Que passasse por cima das pessoas agachadas no chão?".

Ela fingiu não ouvir, com aquele ar superior que os ingleses gostam de meter e provavelmente a desprezar-me pelo meu fraco inglês que, naquele momento, não saiu da melhor maneira. É que me enerva esta arrogância e petulância que a maioria exibe com vaidade e altivez. 

Mostram-se cheios de soberba, mas comportam-se em lugares públicos como se nunca tivessem sido apresentados a regras básicas de boa etiqueta. É que as ignoram totalmente. Nunca foram ensinados. Não tiveram aulas de boas-maneiras! E a culpa deve remeter para o tal Rei que rompeu com a Igreja Católica... porque em países onde o catalocismo durou mais tempo, regras de etiqueta e boa educação foram passadas de geração para geração. Dar prioridade aos mais velhos, ceder passagem à pessoa certa, não caminhar atrapalhando o caminho de outros, seguir numa direcção a direito e desocupar a outra para quem vem na direcção oposta...

Eles não se comportam assim. Não aqui onde moro, vos garanto. Vá lá, sabem conduzir carros e cumprir essas regras, porque o código de estrada está escrito. Como não há nada escrito a ensinar como se comportarem em supermercados, passeios, etc, têm comportamentos que lhes deixa expostos à sua ignorância, como se fossem selvagens que nunca foram apresentados à civilização moderna. 

O post já vai longo, por isso este assunto vai ser por partes. `
Ainda tenho de falar (claro), do que é ser peão no passeio. Ui! Aqui é ainda melhor!!!

Bom Domingo.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

FELIZ ANO NOVO!

Foi desta maneira que me cumprimentaram ontem, dia 2, quando regressei ao trabalho. Estranhei esse cumprimento, porque já não era dia 1 e a tarde estava a terminar.

Mas aparentemente deve ser costume dizer-se isto quando se vê a pessoa pela primeira vez, ainda que já não seja primeiro de Janeiro.


Este ano fiquei surpresa com este momento. Como de costume, não celebro nada. Era para estar a trabalhar, pelo que nem me ocorreu pensar no dia que era nem na importância que tem para certas pessoas. Esqueci que havia fogo de artifício, pessoas a celebrar... 


Foram os colegas da casa que o fizeram sobressair. Um convidou-me para juntar-me a ele e uns amigos que cá vinham para jantar. Quando chegou perto da hora, este teve de ir dormir por ir trabalhar cedo e o outro desejou-me um feliz ano, com um abraço e dois beijos no rosto.




O contraste com o que aconteceu no ano anterior veio à lembrança. Sinto NORMALIDADE a regressar ao quotidiano - embora não queira falar disso para não atrair outro tipo de energias. Gosto dos dois colegas mais recentes que cá entraram, embora ainda tenha receios. 

Só cá estiveram esses, os outros estavam fora. E sem a mais-velha, esta casa tem uma excelente energia. Falando na dita, chegou hoje. Ao contrário do que aconteceu comigo quando regressei das férias de Natal, aparentemente chegou para uma casa vazia. Ninguém cá estava para a acolher. Que foi o oposto do que veio a acontecer comigo. Quando cheguei, surpreendeu-me o calor humano que encontrei. Falaram comigo. Um agradeceu-me de imediato o presente que lhe deixei debaixo da árvore. Estavam dois amigos de um deles cá em casa, que já havia conhecido, todos conversámos entre si tendo como tema em comum umas obras que o senhorio precisou fazer na casa neste período de ausências. Estava tão receosa por temer a hostilidade e frieza habitual e acabou por ser um regresso para uma casa harmoniosa. Também um grande contraste com o ano passado

Na bagagem trouxe, mais uma vez, um bolo-de-rei. Contrastando com o que aconteceu no ano anterior, este foi elogiado, apreciado e «devorado». Não chegou ao novo-ano! Comeram-no com gosto e com gosto voltaram a comer no dia seguinte. Não foi como no ano anterior, em que o bolo-rei ficou intacto, nenhum dos italianos quis prová-lo, tive de o congelar. 

2020 parece vir a ser melhor.
Eu mereço!

Busquem a vossa felicidade e sejam felizes! Feliz 2020!!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Cordialidade e mistérios


Uma rapariga que ainda não vi está neste momento a dormir no quarto lá em baixo.

Como é que ela veio cá parar?


Há uns dias, a que dorme naquele quarto ouviu-me ir à cozinha pela manhã e apressou-se a aparecer. Digo isto porque nunca a vejo. É muito raro. Durante três dias o rapaz não estava sintonizado com os horários dela e ela ficou-se pelo quarto. Até pensei que não estava em casa, até perceber que de facto os barulhos que escutava eram os dela a ir à casa de banho.  Fosse de manhã, tarde ou já de noite, ela não apareceu. Nem para mim, nem para os outros. Aí, um belo dia, o rapaz ficou por casa e ela refloresceu ao convívio social. De repente é como se ela "existisse". Escuto-lhe a voz, as conversas, os risos. E depois EU É QUE SOU a flor de estufa!



O problema aqui é que eles se dão relativamente bem. Mas não comigo. Comigo é.. estranho. Não puxam conversa. São incapazes de trocar umas cordiais palavras. Não por iniciativa própria. Sou sempre eu que o faço. Ando a fazer o teste e a ficar calada... a aguardar que sejam eles. Que nada! Quando são eles a faze-lo QUEREM ALGO DE MIM. Sempre, sem excepção. Até decepciona. A "predictabilidade" é total. Se falam comigo... algo se passa. 


E foi o que a rapariga veio a confirmar. "Olha, já disse a todos mais vale dizer também a ti: Uma amiga vem cá passar uma semana. Ela chega dia 27". 


Não é uma pergunta: "posso convidar uma amiga para cá passar uns dias?" Nunca se conversou a respeito de trazer pessoas de fora. O máximo que aconteceu, foi a rapariga que tinha namorado tê-lo cá a dormir algumas vezes. Para meu espanto, percebi que isso não agradou OS RESTANTES. Quer dizer: logo eles, que estão sempre a colocar estranhos dentro de casa, sem dizerem cavaco. O rapaz traz miúdas para ter sexo que dormem cá e saem no dia seguinte bem cedo... para nunca mais voltarem. Estas coisas casuais para eles, tudo bem. Mas uma relação... incomoda-lhes. Foi o que menos me incomodou a mim. Faz sentido. É namorado! O que para mim incomoda mais é este entra-e-sai não sei bem quem-é, não me foram apresentados, não sei o nome - tipo de gente. Como se isto fosse um albergue. 

O namorado da que saiu até foi menos abusivo no usufruto do espaço do que muitos "amigos" que já vi passarem pela casa. 


Ontem de manhã - aliás, já não tão de manhã, quando desci para ir cozinhar, eram quase 11h, apanhei a rapariga do quarto de baixo a sair, a puxar o trolley e de uniforme. Ia trabalhar. Acenei-lhe e sorri para ela, mas ela não fez caso. Dirigiu antes a palavra ao rapaz, que estava na sala, para se despedir. Ele pergunta-lhe quando ela regressa e ela responde: "Prima" - eles são italianos, falam na língua deles. Mas o que é prima? Que eu saiba, é dia 1... 

Só sei que ELA OMITIU A PARTE de trazer uma "amiga" para dentro de casa, sem ela própria cá estar. Afinal "não vai dividir o quarto" com ela. Vai emprestá-lo! O que é muuuuito diferente. 

Mas e que tal CONTAREM ÀS OUTRAS PESSOAS que cá moram? Seria agradável, não?

O que consegui saber ONTEM, foi por iniciativa minha e sempre de forma curta e apressada. Até parece que conversar lhe custa, car...ho. Dar qualquer informação... é proibido. Dali só saem coisas pela metade. Nada é claro, nada é espontâneo. E tudo é calculado. 


O rapaz é o epicentro da casa. Não me espanta que não queira ter outro rapaz a cá viver. É ele, rodeado de mulheres. Essas ele sabe controlar. Sabe seduzir, sabe usar o seu charme para conseguir os seus intentos. E principalmente, deve saber que mulheres com mulheres por vezes não são muito simpáticas. Ele é a típica pessoa que fica EM CIMA DO MURO. 

Ontem, quando desci para cozinhar, o rapaz estava, como de costume, na sala. Mas logo se levantou e saiu. Ai sim? Saíste porque eu cheguei? Optimo. Obrigado por me disponibilizares a sala (fazia mais de 20 dias que não a via vazia). Aproveitei e fui buscar as minhas traquitanas. Instalei-as ali enquanto ao mesmo tempo tratava do almoço. 


Fico com a sala para mim. 

Mal tinha começado a preparar o almoço oiço baterem à porta. Vou ver o que se trata. Quando já a estou a abrir, o rapaz está a descer as escadas. É o correio. Pego na encomenda e entrego-a a ele, que já está ali ao meu lado. Pergunto-lhe, sem tempo para olhar: "É para ti?". 


Pergunto-lhe algo, ao que ele deixa escapar:
- Pensei que era uma amiga.
Fez-se um click, ao que pergunto: 
- Quando é mesmo que a nova rapariga chega?

- Hoje.
- Hoje?! Mas... a P... não foi embora?
- Foi.


Mesmo que me ocorre-se fazer outra pergunta, ele já estava no topo das escadas e a fechar a porta do quarto. Foi este o curto instante do seu tempo que se dignou a disponibilizar para clarificar a situação da casa. 

Não estava apreensiva até a luz desta nova informação. 
Então a amiga não ia cá estar para a receber? Quem era esta pessoa? Ia aparecer dali a minutos ou dali a horas? Como é que ia entrar na casa? 


Passava já das 17h quando tive oportunidade de esclarecer estas dúvidas. Ia a subir quando ele vinha a descer. Mais uma vez, é aquele espaço encurralado que proporciona uma troca de palavras. Pelo menos até a pessoa que desce ou sobe terminar o percurso. (Não é triste e patético??)

Ele descia os degraus tendo trocado a roupa de estar por casa por roupas para sair e eu, no fundo das escadas, perguntei, por preocupação genuína:
"A nova rapariga tem as chaves da casa para entrar? .... Tem a chave do quarto?"

Ele, como sempre, hesita em dar resposta, que será sempre vaga e imprecisa. Por isso é que demora segundos a sair.

- Ela chega mais tarde.  O que não responde à minha questão.

 - Ou vai bater à porta?"- acrescento, preocupada e na dúvida.

- Eu estou em contacto com ela.

Mais uma forma vaga de responder. Já com os pés fora dos degraus, o seu corpo estava agora a preparar-se para virar para entrar na sala.

Mas é tua amiga também? Conheces-a?
-Sim.

E já está na sala.

Pronto. Foi este diálogo apressado que ele se dignou a me facultar. é que nem para, é de passagem mesmo. Parar para trocar cordialidades, só quando quer ALGUMA COISA de mim. Ou quando se quer mostrar de optimo colega de casa.


O fato dele a conhecer deixou-me menos apreensiva. Nao estava a sentir-me assim, até perceber que uma estranha vinha morar para esta casa durante sete dias sem que a sua amiga que a convidou estivesse presente.


Não me surpreende que ele a conheça. Eles são como uma máfia. E sendo italianos, a palavra aqui serve como uma luva. Qualquer conversa é mais em privado, a partilha de informações que diz respeito a todos, fica restrita, etc. Mas tudo, quase tudo, tem a "cabeça" no rapaz. O Rei do nada fazer ou dizer. Uma qualidade vantajosa nos tempos que correm. É a típica pessoa que se vai dando bem. Não tem grandes dissabores (desde que nao lhe peçam para trabalhar arduamente), vai avançando por entre os pingos da chuva... e ninguém lhe quer mal, mesmo quando acabou por ser responsável por alguma contrariedade. 


Eu só não compreendo como é que eles não são capazes de se comportarem como a maioria dos comum dos mortais, e simplesmente dizerem, numa conversa só, o que se passa: "Olha, uma amiga vem para cá uma semana, eu não vou cá estar, mas fulano x também a conhece e vai abrir-lhe a porta, ou emprestar chaves... " . Normal, não?

Esperava algo do tipo: "Portuguesinha, amanhã vou fazer aqui um almoço e convidar uns amigos. É só para te avisar". Ou então quando uma pessoa entra dentro da casa que está a pagar para viver e se depara com um rosto estranho, que a reacção fosse as apresentações: "Olá, esta é a fulana X, uma amiga".

O não ser convidada para participar em festas, almoços, jantares isso não dói tanto quanto a inexistência destas atitudes. Para mim, fazem parte da educação que recebi em pequena. Foi o que sempre vi todos fazerem uns com os outros. Esta nova realidade ainda me apanha desprevenida. 



terça-feira, 13 de novembro de 2018

Hostilidade



Deixei um rabisco colorido a um canto no quadro a giz da cozinha. Tem lá estado há semanas. Escrevem-se mensagens, apagam-se, mas o rabisco colorido fica lá. Não faz mal a ninguém, não incomoda. Certo?

Pois hoje passei pelo quadro e vi que alguém riscou o rabisco não com um traço, mas com vários riscos. Talvez com fúria. Talvez não. A questão é: porquê? Porquê haveria alguém de se dar ao trabalho de pegar no pau de giz, transferir pó para os dedos, para riscar um inocente padrão colorido?

No meu íntimo sei que é um sinal de hostilidade. 


A jarra que encontrei no chão quando cheguei de férias - a única peça que me pertence que coloquei na sala, continuou no chão por uma semana. Quis entender se alguém a ia colocar de volta em cima da lareira. Não existiu aparente razão para ser removida. Não colocaram nada no seu lugar. Pareceu-me apenas que tinha sido retirada por malícia. Como se ao removê-la o proprietário pudesse ser afectado. 

Ao limpar a sala, tornei a colocar a jarra no sítio. Uma semana depois uma colega recebeu um cartão postal e decidiu colocá-lo bem ao lado da jarra. Na manhã seguinte remove a jarra para um canto, para colocar o postal no centro. A jarra ficou numa das bermas. Daqui a nada volta para o chão, estou a imaginar. Em sete dias, ela colocou mais três cartões. E estão todos ainda ali, em cima da prateleira, onde os deixou. Porque não existe malícia de parte de terceiros em removê-los do lugar. Penso que cartões de aniversário são artigos pessoais que se querem guardar a nível pessoal, pelo que têm um interesse para uma pessoa só. Não é como se fossem votos de feliz natal, que é algo que, mesmo personalizado, pode ser deixado exposto antes e durante a quadra natalícia. Por norma, numa casa partilhada, é o tipo de coisa que ocupa um lugar comum por pouco tempo, depois deve ser retirada e guardada com carinho. Até mesmo para não se estragar ou desaparecer. 

Mas isso é a minha forma de pensar. Se calhar estou errada. Tendo em conta o historial da casa - as porcarias deixadas por toda a sala por meses, se calhar os cartões de aniversário vão ficar ali até o ano seguinte.

O que eu percebi é que sentiu necessidade de os exibir. Como se para mostrar aos restantes que tem pessoas que a acarinham e gostam de si. Ela contou-me que tem muitos amigos por onde passou, grandes amigos. Vive cá há 12 anos, tem família a viver por perto, pelo que acreditei. E acredito. Contudo, perguntei-lhe se fazia anos quando trouxe do emprego um ramo de flores. Respondeu-me que o aniversário era no dia seguinte. Prontifiquei-me a meter umas velas num bolo que havia comprado e cantar os parabéns, já que também lhe havia perguntado se gostava de festejar os anos. Respondeu que sim, gostava, mas quando quis saber o que pretendia fazer, respondeu "nada". O que me surpreendeu. Então gosta de celebrar, tem tantos amigos, e não faz nada?!? Diz-me que não gosta de ter a casa vazia e liga a televisão para escutar vozes, por não gostar do silêncio, da falta de pessoas. Cada vez que alguém quer fazer uma festa aqui, ela parece-me muito satisfeita. Por estas razões, mais o ter tantos amigos e ser fim-de-semana, estranhei. Ela trabalha apenas durante a semana, tem o sábado e domingo livres. E era o seu aniversário. Podia ir visitar quem quisesse. Podia ir passear, sair, divertir-se. Esteve um sábado espetacular, com sol. Contudo, não o fez. Ficou o dia, a tarde e a noite na sala, sentada no sofá, com a televisão acesa em contínua programação e o telemóvel na mão. Que é o que sempre faz.

Que raio de aniversário escolheu ter! Para quem disse gostar de o celebrar, quero salientar.


Há coisas que não batem certo. Até neste simples facto constatei que, se os italianos estivessem cá naquele dia, o «seu» aniversário tinha sido diferente. Tinha tido festa e convidados. Mas como não estavam, ela não sai da rotina. Disse-me que não queria o bolo que lhe ofereci, que era mau ter um bolo que tinha decoração de halloween... Ora, eu não sabia que ela fazia anos, comprei aquele bolo para partilhar com quem mais o quisesse. Teria improvisado uma deliciosa celebração com gosto e sinceridade. Eramos só nós as duas na casa naquela ocasião, por mim fazia-se algo. Mas ela mostrou-se pouco receptiva e então recuei. Não ia impor a minha presença, se não parece ser essa a sua vontade. Dei-lhe espaço, para gozar o dia como desejasse. E desejou ficar a manhã, tarde e noite a ver televisão na sala. Quase lhe perguntei porquê não ia ao cinema, ou sugeri ir com ela almoçar fora, pelo menos, seria diferente. Mas não me intrometi. Como disse, deixei-a estar. Porém, para quem gostava de celebrar aniversários, teve um muito solitário.

O ramo de flores que os colegas de emprego lhe ofereceram, veio enfiado num saco com água. Assim as recebeu, assim as deixou na beira da mesa da sala de jantar, encostadas à parede. Nada de abrir e tirar as flores do plástico, nada de as compor e escolher um local para embelezar. Estão a murchar, a água nunca foi trocada, as flores parecem ter sido esquecidas naquele canto, onde nem se dá por elas, onde são desperdiçadas. Podia muito bem tê-las composto numa jarra e as colocado no centro da mesinha redonda, ao lado da poltrona, perto da porta que dá para o jardim. Ficariam tão bem! Dá um ar de cuidado, de atenção, até mesmo de apreço para com as flores recebidas Mas não. Ali as deixou, ali ficaram, ali vão ficar até as meter no lixo.

É esquisito. Ou há algo mais nisto, ou é o «sangue italiano» que é muito particular e os faz inclinarem-se mais para o convívio com outros italianos. Afinal, durante a 2ª GG, identificaram-se com os valores narcisistas e separatistas de Hitler. Se calhar não é à toa que gozam de uma reputação excessivamente nacionalista e conta-se que olham com maus olhos quem entrar no seu país e não saber falar a língua. Sei por facto, que olham com repulsa para as pizzas pré-fabricadas. Mesmo que a massa tenha sido feita fresca na loja, para eles, aquilo não é pizza e é sacrilégio levar uma à boca. Pizzas de verdade têm de ser feitas de raiz, com ingredientes específicos italianos de origem italiana e sem variações. Ananás na pizza? Nem fales disso, se queres manter uma relaçao com um deles.



 São todos muito "educados", com os "bons dias" e "olás". Mas é só isso. É frio e distante. Em todas as outras coisas que servem de sinais de aceitação, falham. Já dei exemplos: nunca convidarem para jantar, fazerem festas e trazerem pessoas cá para casa sem estenderem, pelo menos uma vez, um convite a ti ou sequer te comunicarem que vão receber pessoas. Recusarem todas as vezes que lhes ofereci comida ou disponibilizei mantimentos, não mostrarem interesse em ter uma conversa com algum conhecimento pessoal, etc, etc. 

São esses os "sinais" indicadores de que uma pessoa quer estar contigo e está aberta a te conhecer. Por exemplo, a "mais nova" faz isso. Ou melhor, fazemos. Posso ter uma conversa com ela, já trocamos informações pessoais. Aquela cuja presença eu mais temia por a saber amiga de outra na casa ao lado, onde mora a vizinha histérica, acabou por ser a mais normal. É amigável. As coisas fluem naturalmente, as reacções são naturais. Os italianos... não sei se é o "lote" que me calhou, mas... não mostram interesse em ti. Dizem os "bons dias" e pronto. Ficam-se por aí. E unem-se de uma maneira que não é bonita de ver. Uma das italianas nunca limpou a casa. Nem sequer uma vez. Seria de esperar que os próprios amigos a chamassem à atenção e reclamassem. Mas não. Ser italiano nesta casa parece ser um cartão de impunidade, como aquele "livre da prisão" do jogo monopólio.

No Domingo, sem nada dizerem como habitual, a mais velha recebeu na casa a ex-colega, a jovem mal-educada que cá viveu com o namorado. De quem eles não gostavam muito mas, como era o «escolhido» da compatriota, acabou aceite. Mas sempre com «pé atrás». Tanto que quando os dois sairam daqui para irem viver juntos, a mais "velha" vaticinou que a mal-educada ia arrepender-se, que ele ia "fazê-la sofrer". "Tem mais chances de ser o contrário" - pensei.

Dei conta de alguém entrar na sala por volta das 11 da manhã. Mas não fui logo espreitar quem era, não faz o meu género. Dei espaço, tempo, privacidade. Só não contava é que traçassem de imediato uma barreira. Porque o hábito de fecharem a porta da sala regressou assim que a outra se enfiou cá dentro. Até à meia-noite, mantiveram-se na sala, de porta fechada. Quando finalmente desci para me servir de algo na cozinha, cumprimentei-as (foi então que vi quem era) mas não puxei conversa, porque assim que me ouviram aproximar, pararam de conversar. Ficou um silêncio estranho, trocavam olhares mudos, como se a minha presença as incomodasse. Até podiam estar a falar de assuntos particulares, íntimos, desabafos. Tudo bem. Mas cá está: é a atitude como um todo.

Uma pessoa normal - a meu ver - quando é interrompida no meio de uma conversa privada, é capaz de cumprimetar outra, meter conversa de "chacha" e depois sabe que pode retornar ao assunto sério. Não podem esperar estar a dividir uma casa com terceiros e ocupar a sala por 13 horas, sem serem  interrompidas. Não é bonito. Deviam, segundo as minhas normas de boa educação, dizer: "Olha, portuguesinha, fulana X vem cá. Ou está cá em baixo. Vem dizer um olá. Vamos beber um chá, queres um também?".

Coisas assim. Normais.
Vocês não acham que isto é que é um comportamento normal? Educado, ao menos?

Eu tenho um palmo de testa... se percebo que querem ficar sozinhas na sala, não ia ficar ali a empatar. Quem empata são elas, que tomam o espaço para si, fechando a porta, já de si uma forma de fechar a entrada a terceiros. E quando te vêm chegar ficam a olhar para ti como se tivesses interrompido algo e a desejar que vás embora. Depois aparece o desenho no quadro a giz rabiscado...

É desnecessário.

Não existe convívio orgânico, paciência. Não vou morrer por isso, não vou embora daqui nem vou alterar o que tenho de bom. Vou continuar a dizer os bons dias e a perguntar como foram as suas férias (ninguém quis saber das minhas). Porque esse interesse é genuíno em mim. Não pretendo perder o que não está mal para ser perdido. Posso nao lhe dar o uso que esperava, mas não vai secar. Ao contrário: vou mostrar outra forma de reagir a uma situação e talvez esse exemplo seja seguido, talvez não, e prefiram ir rabiscar mais desenhos deixados por mim no quadro.

Porque vão estar rabiscos no quadro, sempre que me der vontade. Não vejo mal algum nisso.

Mas é factual e tem de se aprender a viver com as cartas que nos são dadas.
Podiam ser outras, podiam ser melhores mas também podiam ser bem piores.

Por mais que alguém nos diga que foram criados a convidar outros para partilharem as refeições à mesa, tem de se acreditar é no que se vê, não no que se ouve. Talvez tenham sido educados assim, esqueceram foi de estender o convite a não-italianos. Já os portugueses, foram criados a: " ♪ e se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente  ".

Esse alguém não tem de ser português.

" ♪ fica bem essa franqueza, fica bem. E o povo nunca a desmente ♪  ".
"♫   a alegria da pobreza, está na grande riqueza, de dar e ficar CONTENTE ♪  ".

Palavras tão certas.


sábado, 5 de dezembro de 2015

Sabiam que os veículos partilham a estrada com os peões?

Hoje tive momentos em que pensei que a minha sorte ia mudar para pior.

Preparava-me para atravessar a passadeira, parada, com os pés já na primeira ou segunda lista da zebra - aquela em que preciso de estar para ficar visível para os automobilistas, pois se não for assim os automóveis estacionados tapam a visibilidade de quem espera no passeio. Um carro aproxima-se a uns 15metros. Tem espaço e tempo suficiente para me avistar, ali, parada, à espera de atravessar em segurança. Mas prefere ignorar-me, ou então acha que as regras do código não se aplicam a ele, ele é superior a elas, sei lá. O que sei é que o condutor passou a correr e fingiu que não me viu já com os pezinhos na zebra. 

Achei rude. Mas pronto, faz parte da filosofia e carácter de alguns. Lá vou eu à minha vidinha, que naquele instante era procurar em várias lojas por presentes de Natal.



Momentos depois tenho de atravessar outra estrada. Mais uma vez, vou à passadeira. Era de noite, não estava parada a aguardar mas a atravessá-la, três passos atrás de uma senhora, cujo carro à minha esquerda tinha interrompido a marcha para lhe ceder passagem. Mas o veículo ao lado deste, que também deixou a senhora à minha frente passar, decide carregar fundo no acelerador e atravessar. 

«Não». Será que este comportamento é já um reflexo da dita "IRA FESTIVA"? «Começa cedo» - pensei eu, a recordar o impacto do primeiro trauma das compras natalícias, há 15 anos.


Essa temível e desagradável suspeita de que as pessoas durante as suas compras e deslocações de natal, já estão, ao dia 5 de Dezembro, a ser rudes, antipáticas e agressivas. 

O receio fez-me temer o que viria a encontrar dali para a frente... 



Entrei depois num hipermercado. Apinhado de gente, com filas intermináveis nas caixas. Vai que a senhora atrás de mim avança um passo e empurra-me ligeiramente. Sabem o que ela fez a seguir?

Pediu desculpa, porque não tinha de estar tão perto. 
Respondi que não fazia mal, trocamos algumas simpatias, cada qual a tentar perceber qual das duas filas ia avançar mais rápido e nos separámos. A senhora à minha frente, por ter escutado a outra dizer que eu levava poucos artigos e era de lamentar que o hipermercado não tivesse uma caixa exclusiva para tal, convidou-me a passar à frente. Agradeci, mas dispensei. Ela insistiu fez questão e eu avancei.

Paguei a conta e segui meu rumo. A próxima travessia pela estrada decorreu tranquilamente.

Isto para mostrar dois opostos. A rudeza versus a cordialidade. Encontrei primeiro a primeira, mas felizmente terminei o dia com a segunda.

Afinal, a IRA NATALÍCIA ainda não se apoderou daquelas pessoas que aguardavam pacientemente a sua vez na fila do hipermercado. Mas afetou os automobilistas, possivelmente. Ou então, a interpretação possível é ainda pior: neste requisito, HOMENS versus MULHERES são diferentes.

BFS!