Metereologia 24 h

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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Ainda sobre as touradas...vamos ao circo?


Assusta-me a sociedade que clama ser esclarecida e justa, quando apenas segue o «politicamente correcto» .

O mal que daí advém pode ter consequências tão perniciosas que para mim só encontram equivalência "naquela" doença: Tal como um cancro, aparece como coisa boa, mal se nota, cresce vertiginosamente em questão de dias e quando se vai a ver, pimba! Já fez todo o mal que podia causar, de forma devastadora e impiedosa.

Reflicto nisto. No porquê e fundamento das acções humanas. Porquê são as touradas agora alvo de calorosas críticas, chocantes contra-manifestações envolvendo sangue e alvo de um discurso na sua maioria, repelente, vil, odioso?

É desta forma que o Ser Humano gosta de colocar o seu ponto de vista?
Quando me oponho a algo, é assim que hajo? Destilando ódio e incompreenssão, escudando-me no facto de achar que tenho razão e faço parte de uma maioria? A coragem em ir contra uma ideia, uma instituição, uma prática, é maior se não fores minoria?

Choca-me a linguagem de um certo tipo de "oposição". Como posso identificar-me com alguém que, naquilo que clama ser a defesa de um animal, deseja a morte aos seus semelhantes?

Uma coisa é respeitar a vida no seu todo e pedir para que um espetáculo como a tourada, que envolve um animal a ser espetado, remova a parte do seu sofrimento. Outra é exibir comportamentos de ódio, clamar palavras de morte. 

Isto de alguém achar-se "dono da verdade absoluta" escudado que se sente por estar naquele lado da sociedade "politicamente correcta", sentido que faz parte de uma maioria e sentindo-se protegido e apoiado, pode ser socialmente extremamente pernicioso. 


Choca-me ver publicações no facebook a mostrarem um touro a pular as bancadas, a subir os degraus e misturar-se com a multidão e ler "BEM FEITO! SÓ TÊM O QUE MERECEM!", "FEZ-SE JUSTIÇA DIVINA".

Mas isto é coisa que se diga?? Pessoas em pânico a quererem fugir com medo de serem magoadas por um animal com quilos de peso e uma enorme força e estes "seres humanos" inundados de uma bondade tão grande que se preocupam e lutam para salvar qualquer animal de um qualquer sofrimento não hesitam - é que não hesitam - em abrir a boca para desejar a morte, sofrimento ou mutilação de uma multidão de pessoas. Onde se podem encontrar crianças, adolescentes, velhinhos, adultos, jovens... até o pai deles. Não querem saber. O politicamente correcto que não reflecte, que não procura entender as razões e os motivos para algo, que não escuta o outro lado e não abre um diálogo para se fazer entender e ser entendido, porém impõe, ASSUSTA-ME.

E são cada vez mais, os ignóbeis.

Não as considero nobres defensores de coisa alguma, se para defender uma causa, desejam, celebram ou se satisfazem com a desgraça ou morte de pessoas.


Na tourada não há "maus" nem "bonzinhos". Existe uma prática muito semelhante a qualquer outra desportiva, mas envolvendo um animal. Não é caça à raposa - onde cães são usados para matarem as ditas, não é tiro aos patos... é tourada. Tourada é talvez uma das poucas actividades envolvendo Homem e Animal em que o Homem realmente se coloca em risco. Tiro aos patos só coloca os patos em maus lençóis. O homem só tem de ser paciente e ficar deitadinho... não é para todos. Caça à raposa? A mestria está na capacidade do homem em saber aguentar-se bem em cima de um cavalo por horas e horas sem se acidentar e na forma como treinou o seu cão. Tudo isto para no final do dia ver se consegue atingir o seu objectivo. Quem é que vai vencer? O caçador ou a sua astuta presa? Estas actividades têm a sua razão de ser, não acho que deviam ser proibidas. Apenas controladas, para que sejam executadas de forma a não prejudicar a população animal nem permitir abusos da parte do Homem/caçador. 

Na tourada, é tudo o que descrevi acima com a diferença do animal poder retaliar. É talvez a única prática de que me recorde em que existe essa possibilidade. Aos patos e às raposas nem sequer é dada essa chance. Eles só tentam fugir. Na tourada, o objectivo é o confronto com o animal. O homem, confiante na sua vitória, na sua perícia adquirida pelo treino. Mas sempre sem ter a certeza diante da besta...

A tourada é só uma outra forma das muitas que o ser humano inventou  durante a sua existência milenar para se desafiar, para se testar, para proporcionar espetáculo, para exibir as suas adquiridas capacidades de mestria em determinadas áreas. 

Os "maus" que encontro em tudo o que é exemplo que possa me lembrar, são as pessoas que se acham as donas da verdade absoluta e se tornam fechadas e intolerantes. Continuamos a ser os piores animais à face da Terra. Agora "civilizados" e muito longe das necessidades primárias de caçar para comer, de matar para se manter vivo, agarramos-nos ao "desporto" do SOCIALMENTE CORRECTO. Desporto esse, muitas vezes executado sem sair da cama ou do sofá.

Se um dia tudo regredir às necessidades ancestrais, e desaparecer a eletricidade, que é o que nos permite ter tudo do que dependemos, estas pessoas vão ser as primeiras a se tornarem umas selvagens. A matar para comer, querendo lá saber do sofrimento e do sangue... 

Não me identifico com aqueles que acham que não fazem nada de errado ao desejarem a morte de uma pessoa só por essa pessoa ter escolhido como actividade a profissão de toureiro. Não me identifico com palavras de intolerância extrema, de CONTENTAMENTO pela morte do semelhante. Posso não sentir simpatia por tais práticas mas se existem, porquê existem? Desde quando? Para que servem? Faz mal existirem? Devem ser eliminadas? Podem ou devem ser alteradas?

Existem uma série de questões que trazem ao de cima a vontade de um diálogo e de um debate. Torno-me mais tolerante se conseguir resistir à tentação de me juntar à "manada" do socialmente correcto, que vê o mundo apenas com duas cores: o preto e o branco. 


*Nota:
Procurando ilustrações da caça à raposa, desporto popularizado como britânico, descobri que a prática foi PROIBIDA em terras de sua Majestade em 2005. Muito antes disso, já era proibida na Escócia. Em Portugal é permitida. A viver no Reino Unido, sinto muito mais na pele os efeitos perniciosos do "socialmente correto" e sei que fica-se mais vulnerável como cidadão a práticas de injustiça e abuso. Vai-se lá entender! Mas é verdade. Aqui na terra que votou no Brexit por motivos pouco políticos, não há instituição pública ou privada onde não sejas invadido com cartazes a "avisar" que não se toleram comportamentos "abusivos" com o staff, e que é esperado de ti um comportamento exemplar. WTF?? Estão a tratar a população como crianças acéfalas?? É insultuoso, mas eles não se dão conta o quanto. Já passaram da barreira da compreensão. Estes "recados" em tom de ameaça (dizem que chamam a polícia caso não te comportes) estão mais para o comunismo do que para a democracia. A verdadeira LIBERDADE está na possibilidade de DECISÃO. De opção e de BOM SENSO de parte a parte. Proibir, deve-se proibir medidas extremas e definitivas que podem, a longo termo, provarem-se erradas - como a pena de morte, a posse de arma de fogo sem medidas de controle eficazes (EUA) ou o uso da bomba atómica. Para o resto sou cada vez mais defensora da LIBERDADE DE ESCOLHA. É esta e o bom senso que constituem a verdadeira democracia. 

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Hostilidade



Deixei um rabisco colorido a um canto no quadro a giz da cozinha. Tem lá estado há semanas. Escrevem-se mensagens, apagam-se, mas o rabisco colorido fica lá. Não faz mal a ninguém, não incomoda. Certo?

Pois hoje passei pelo quadro e vi que alguém riscou o rabisco não com um traço, mas com vários riscos. Talvez com fúria. Talvez não. A questão é: porquê? Porquê haveria alguém de se dar ao trabalho de pegar no pau de giz, transferir pó para os dedos, para riscar um inocente padrão colorido?

No meu íntimo sei que é um sinal de hostilidade. 


A jarra que encontrei no chão quando cheguei de férias - a única peça que me pertence que coloquei na sala, continuou no chão por uma semana. Quis entender se alguém a ia colocar de volta em cima da lareira. Não existiu aparente razão para ser removida. Não colocaram nada no seu lugar. Pareceu-me apenas que tinha sido retirada por malícia. Como se ao removê-la o proprietário pudesse ser afectado. 

Ao limpar a sala, tornei a colocar a jarra no sítio. Uma semana depois uma colega recebeu um cartão postal e decidiu colocá-lo bem ao lado da jarra. Na manhã seguinte remove a jarra para um canto, para colocar o postal no centro. A jarra ficou numa das bermas. Daqui a nada volta para o chão, estou a imaginar. Em sete dias, ela colocou mais três cartões. E estão todos ainda ali, em cima da prateleira, onde os deixou. Porque não existe malícia de parte de terceiros em removê-los do lugar. Penso que cartões de aniversário são artigos pessoais que se querem guardar a nível pessoal, pelo que têm um interesse para uma pessoa só. Não é como se fossem votos de feliz natal, que é algo que, mesmo personalizado, pode ser deixado exposto antes e durante a quadra natalícia. Por norma, numa casa partilhada, é o tipo de coisa que ocupa um lugar comum por pouco tempo, depois deve ser retirada e guardada com carinho. Até mesmo para não se estragar ou desaparecer. 

Mas isso é a minha forma de pensar. Se calhar estou errada. Tendo em conta o historial da casa - as porcarias deixadas por toda a sala por meses, se calhar os cartões de aniversário vão ficar ali até o ano seguinte.

O que eu percebi é que sentiu necessidade de os exibir. Como se para mostrar aos restantes que tem pessoas que a acarinham e gostam de si. Ela contou-me que tem muitos amigos por onde passou, grandes amigos. Vive cá há 12 anos, tem família a viver por perto, pelo que acreditei. E acredito. Contudo, perguntei-lhe se fazia anos quando trouxe do emprego um ramo de flores. Respondeu-me que o aniversário era no dia seguinte. Prontifiquei-me a meter umas velas num bolo que havia comprado e cantar os parabéns, já que também lhe havia perguntado se gostava de festejar os anos. Respondeu que sim, gostava, mas quando quis saber o que pretendia fazer, respondeu "nada". O que me surpreendeu. Então gosta de celebrar, tem tantos amigos, e não faz nada?!? Diz-me que não gosta de ter a casa vazia e liga a televisão para escutar vozes, por não gostar do silêncio, da falta de pessoas. Cada vez que alguém quer fazer uma festa aqui, ela parece-me muito satisfeita. Por estas razões, mais o ter tantos amigos e ser fim-de-semana, estranhei. Ela trabalha apenas durante a semana, tem o sábado e domingo livres. E era o seu aniversário. Podia ir visitar quem quisesse. Podia ir passear, sair, divertir-se. Esteve um sábado espetacular, com sol. Contudo, não o fez. Ficou o dia, a tarde e a noite na sala, sentada no sofá, com a televisão acesa em contínua programação e o telemóvel na mão. Que é o que sempre faz.

Que raio de aniversário escolheu ter! Para quem disse gostar de o celebrar, quero salientar.


Há coisas que não batem certo. Até neste simples facto constatei que, se os italianos estivessem cá naquele dia, o «seu» aniversário tinha sido diferente. Tinha tido festa e convidados. Mas como não estavam, ela não sai da rotina. Disse-me que não queria o bolo que lhe ofereci, que era mau ter um bolo que tinha decoração de halloween... Ora, eu não sabia que ela fazia anos, comprei aquele bolo para partilhar com quem mais o quisesse. Teria improvisado uma deliciosa celebração com gosto e sinceridade. Eramos só nós as duas na casa naquela ocasião, por mim fazia-se algo. Mas ela mostrou-se pouco receptiva e então recuei. Não ia impor a minha presença, se não parece ser essa a sua vontade. Dei-lhe espaço, para gozar o dia como desejasse. E desejou ficar a manhã, tarde e noite a ver televisão na sala. Quase lhe perguntei porquê não ia ao cinema, ou sugeri ir com ela almoçar fora, pelo menos, seria diferente. Mas não me intrometi. Como disse, deixei-a estar. Porém, para quem gostava de celebrar aniversários, teve um muito solitário.

O ramo de flores que os colegas de emprego lhe ofereceram, veio enfiado num saco com água. Assim as recebeu, assim as deixou na beira da mesa da sala de jantar, encostadas à parede. Nada de abrir e tirar as flores do plástico, nada de as compor e escolher um local para embelezar. Estão a murchar, a água nunca foi trocada, as flores parecem ter sido esquecidas naquele canto, onde nem se dá por elas, onde são desperdiçadas. Podia muito bem tê-las composto numa jarra e as colocado no centro da mesinha redonda, ao lado da poltrona, perto da porta que dá para o jardim. Ficariam tão bem! Dá um ar de cuidado, de atenção, até mesmo de apreço para com as flores recebidas Mas não. Ali as deixou, ali ficaram, ali vão ficar até as meter no lixo.

É esquisito. Ou há algo mais nisto, ou é o «sangue italiano» que é muito particular e os faz inclinarem-se mais para o convívio com outros italianos. Afinal, durante a 2ª GG, identificaram-se com os valores narcisistas e separatistas de Hitler. Se calhar não é à toa que gozam de uma reputação excessivamente nacionalista e conta-se que olham com maus olhos quem entrar no seu país e não saber falar a língua. Sei por facto, que olham com repulsa para as pizzas pré-fabricadas. Mesmo que a massa tenha sido feita fresca na loja, para eles, aquilo não é pizza e é sacrilégio levar uma à boca. Pizzas de verdade têm de ser feitas de raiz, com ingredientes específicos italianos de origem italiana e sem variações. Ananás na pizza? Nem fales disso, se queres manter uma relaçao com um deles.



 São todos muito "educados", com os "bons dias" e "olás". Mas é só isso. É frio e distante. Em todas as outras coisas que servem de sinais de aceitação, falham. Já dei exemplos: nunca convidarem para jantar, fazerem festas e trazerem pessoas cá para casa sem estenderem, pelo menos uma vez, um convite a ti ou sequer te comunicarem que vão receber pessoas. Recusarem todas as vezes que lhes ofereci comida ou disponibilizei mantimentos, não mostrarem interesse em ter uma conversa com algum conhecimento pessoal, etc, etc. 

São esses os "sinais" indicadores de que uma pessoa quer estar contigo e está aberta a te conhecer. Por exemplo, a "mais nova" faz isso. Ou melhor, fazemos. Posso ter uma conversa com ela, já trocamos informações pessoais. Aquela cuja presença eu mais temia por a saber amiga de outra na casa ao lado, onde mora a vizinha histérica, acabou por ser a mais normal. É amigável. As coisas fluem naturalmente, as reacções são naturais. Os italianos... não sei se é o "lote" que me calhou, mas... não mostram interesse em ti. Dizem os "bons dias" e pronto. Ficam-se por aí. E unem-se de uma maneira que não é bonita de ver. Uma das italianas nunca limpou a casa. Nem sequer uma vez. Seria de esperar que os próprios amigos a chamassem à atenção e reclamassem. Mas não. Ser italiano nesta casa parece ser um cartão de impunidade, como aquele "livre da prisão" do jogo monopólio.

No Domingo, sem nada dizerem como habitual, a mais velha recebeu na casa a ex-colega, a jovem mal-educada que cá viveu com o namorado. De quem eles não gostavam muito mas, como era o «escolhido» da compatriota, acabou aceite. Mas sempre com «pé atrás». Tanto que quando os dois sairam daqui para irem viver juntos, a mais "velha" vaticinou que a mal-educada ia arrepender-se, que ele ia "fazê-la sofrer". "Tem mais chances de ser o contrário" - pensei.

Dei conta de alguém entrar na sala por volta das 11 da manhã. Mas não fui logo espreitar quem era, não faz o meu género. Dei espaço, tempo, privacidade. Só não contava é que traçassem de imediato uma barreira. Porque o hábito de fecharem a porta da sala regressou assim que a outra se enfiou cá dentro. Até à meia-noite, mantiveram-se na sala, de porta fechada. Quando finalmente desci para me servir de algo na cozinha, cumprimentei-as (foi então que vi quem era) mas não puxei conversa, porque assim que me ouviram aproximar, pararam de conversar. Ficou um silêncio estranho, trocavam olhares mudos, como se a minha presença as incomodasse. Até podiam estar a falar de assuntos particulares, íntimos, desabafos. Tudo bem. Mas cá está: é a atitude como um todo.

Uma pessoa normal - a meu ver - quando é interrompida no meio de uma conversa privada, é capaz de cumprimetar outra, meter conversa de "chacha" e depois sabe que pode retornar ao assunto sério. Não podem esperar estar a dividir uma casa com terceiros e ocupar a sala por 13 horas, sem serem  interrompidas. Não é bonito. Deviam, segundo as minhas normas de boa educação, dizer: "Olha, portuguesinha, fulana X vem cá. Ou está cá em baixo. Vem dizer um olá. Vamos beber um chá, queres um também?".

Coisas assim. Normais.
Vocês não acham que isto é que é um comportamento normal? Educado, ao menos?

Eu tenho um palmo de testa... se percebo que querem ficar sozinhas na sala, não ia ficar ali a empatar. Quem empata são elas, que tomam o espaço para si, fechando a porta, já de si uma forma de fechar a entrada a terceiros. E quando te vêm chegar ficam a olhar para ti como se tivesses interrompido algo e a desejar que vás embora. Depois aparece o desenho no quadro a giz rabiscado...

É desnecessário.

Não existe convívio orgânico, paciência. Não vou morrer por isso, não vou embora daqui nem vou alterar o que tenho de bom. Vou continuar a dizer os bons dias e a perguntar como foram as suas férias (ninguém quis saber das minhas). Porque esse interesse é genuíno em mim. Não pretendo perder o que não está mal para ser perdido. Posso nao lhe dar o uso que esperava, mas não vai secar. Ao contrário: vou mostrar outra forma de reagir a uma situação e talvez esse exemplo seja seguido, talvez não, e prefiram ir rabiscar mais desenhos deixados por mim no quadro.

Porque vão estar rabiscos no quadro, sempre que me der vontade. Não vejo mal algum nisso.

Mas é factual e tem de se aprender a viver com as cartas que nos são dadas.
Podiam ser outras, podiam ser melhores mas também podiam ser bem piores.

Por mais que alguém nos diga que foram criados a convidar outros para partilharem as refeições à mesa, tem de se acreditar é no que se vê, não no que se ouve. Talvez tenham sido educados assim, esqueceram foi de estender o convite a não-italianos. Já os portugueses, foram criados a: " ♪ e se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente  ".

Esse alguém não tem de ser português.

" ♪ fica bem essa franqueza, fica bem. E o povo nunca a desmente ♪  ".
"♫   a alegria da pobreza, está na grande riqueza, de dar e ficar CONTENTE ♪  ".

Palavras tão certas.


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Barriga cheia!



Que bem que me soube ir a um museu. Juro que só saí de lá quando me senti cheia! Já sentia falta de um pouco de história, cultura, beleza, arte... entrei vazia, saí cheia, como quem está com fome e através de alimentos, enche o estômago. 

Não planeei, simplesmente passei perto e entrei. 

E por isso pude ver objectos, quadros, gravuras bem de perto. Algumas sem cordas de separação, sem caixas em vidro, sem um "fosso" a separar a pessoa do objecto de arte. Detalhe que muito me agradou. É assim que devia ser sempre. Respeito e confiança. Eu vou ali ver, não roubar. E quase todas as obras estavam ao alcance da mão. Podia tocá-las, chegar bem perto e ver bem, pegar, tirar do lugar... facilmente. Mas não é isso que é suposto fazermos e acreditem, gosto assim. Gosto que se assuma que as pessoas respeitam as obras e se insista em disponibilizar cultura da forma como ela é suposta ser. Ter tudo enfiado em caixas com alarmes, protecções, fechaduras... Irra! Só se o objecto em causa necessitar por motivos de integridade. Não por poder ser roubado, porque isso altera o usufruto que se retira da arte. A experiência, o resultado, a emoção... fica mais frio e institucional. Afinal, quem quer roubar, rouba de qualquer maneira. Não foi há relativamente pouco tempo que "desapareceu" do Museu da República uns objectos extremamente valiosos*/**? Já visitei esse museu - que adorei, mas cujos elementos estavam todos mais que fechados e protegidos em redomas e estantes em vidro, com alarmes e fechaduras. Até os quadros, erguidos a uns três ou cinco metros de altura, bem no alto das cabeças, bem "indisponíveis". Poderiam ser vistos mais de perto no nível acima, mas ainda assim, somente ao de longe. Nenhum detalhe podia ser observado por a distância não o permitir. Não se usufrui da mesma maneira de arte quando assim é. 


Este onde fui é diferente. Quadros ao nível da vista, na parede, podendo ser tocados. Confesso que, por um lado, senti alguma apreensão por algumas obras ali expostas. Mas somente por desconhecer se a sua integridade estava em risco por estarem expostos numa sala de temperatura controlável por meios tradicionais (janelas fechadas ou abertas), onde a respiração e a humidade eram factores variáveis e o uso de flash fotográfico assim como o contacto com o ar pudesse alterar as tintas das obras. 

Mas estar perto de originais é... outra coisa. Penso que eram todos originais, e não réplicas como tanta vez se usa, sem que o público saiba que o artista criador jamais chegou perto daquele objecto. Proporcionou-me o tipo de experiência que pretendia ter. Tomara que esta raridade não desapareça. Até em museus de pequenos lugares do interior de Portugal, já se vê tudo enfiado em redomas de vidro e sistemas de segurança. Prefiro entrar num palácio - por si só um museu ao vivo, e apreciar a "decoração", o mobiliário, os quadros, o soalho, os baluartes e lustres... como uma casa, um palacete habitável. 

E foi essa a experiência que tive. Pude estar perto de quadros e tocar neles se não soubesse que fui ali ver - não tocar. Mas estavam ali e podiam ser tocados. A maior "ousadia" foi pousar o telemóvel para ajustar uma parte que se estava a soltar no tampo em mármore de uma cómoda do século XVIII... que em tudo se parecia com um móvel belo mas comum de se ver em casas e apartamentos até os anos 90, antes dos IKEA invadirem o mercado de consumo e todo o mobiliário antigo que as pessoas possuíam com história (e carácter) virasse obsoleto. 

Pude chegar perto e tocar, ao de leve e muito respeitosamente, no piano onde alegadamente em 1890 foi composta a música «A Portuguesa», hoje conhecida como o Hino de Portugal. 


Uma tampa transparente em plástico, para proteger as frágeis teclas, era a protecção que o piano exibia. Discreta e que em nada influenciava a peça em si. Pelo contrário: realçava-a. Ao invés de se ter um piano com tampo fechado, ele parecia resplandecer e fazer imaginar as músicas ali tocadas, as partituras ali escritas e guardadas.  Pareceu-me que a protecção plástica nas teclas podia ser facilmente removida, sem alarmes. E porque haveria de existir alarmes? Nem deviamos esperar tal coisa. Isso seria partir do pressuposto que as pessoas são todas uns vândalos ao invés de entrarem ali com o propósito de encontrar história, cultura, arte e, tal como me aconteceu, encherem a alma.



*Foi em 2016 que se deram uns furtos suspeitos - que levou à apreensão do director do Museu. Claro, quem rouba assim só pode ter conhecimento interno da matéria. Não é um Zé qualquer que o faz... E isto leva-me a outro tipo de conclusão: É o ladrão que protege o seu espólio. Um museu com peças "trancadas" a sete chaves e indisponíveis à vista aproximada é gerido ou é propriedade de... gatuno. Um museu aberto, com peças à vista e do toque, é mantido por um filantropo, com autêntico amor pela arte. ** Afinal já vão DOIS roubos no museu da PR.... o segundo foi em Julho deste ano. Desapareceu uma medalha em ouro. Coisa que era só chegar perto e pegar, tenho a certeza... lol. 

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A diferença entre se ser RICO ou POBRE




Não é ciência nenhuma...

Mas apeteceu-me partilhar por a minha infância ter sido o oposto. 
Alguns sabem o quanto estas palavras bonitas «picam» a alma por, indubitavelmente, trazerem à lembrança outra realidade. 

Ontem uma pessoa perguntou-me porquê me vejo numa luz «derrotista». E sem entrar em especificações, tentei explicar o quanto um certo «negativismo» nas raízes de muitas famílias portuguesas contribui para esse colectivo. 


Por isso relembro: pobre não é aquele que cresce sem bens materiais ou com pouca comida.
Pobreza é outra coisa. É quando vem do espírito.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Sou racista


O título que escolhi é o termo simplório e redutor para uma característica que no fundo espelha cultura. Nada tem a ver com racismo. Mas como hoje em dia coloca-se logo esse rótulo fácil e reconhecível cada vez que se mencionam etnias, deixei ficar assim, como ironia e para que talvez se entenda de vez as diferenças. 

No emprego atendo pessoas de todo o tipo e originárias de todos os países. E por isso posso dizer que sim, é verdade, pessoas de certas etnias exibem comportamentos comuns. Isso tem mais a ver com a cultura social, a educação do povo - do que com a raça. Mas é típico da raça, porque essa raça teve aquela cultura - não por uma cor de pele específica. 

Cheguei a esta conclusão sobre pessoas de etnia negra: levam uma eternidade a decidir o que pretendem!!

Hoje foi o dia...

Mas nem podem imaginar... Tem dias é que é um atrás do outro...
Alguns colegas já sabem disso e tentam «esquivar-se» ao atendimento de pessoas que vão «empatar» o serviço. Já eu, sempre tenho esperança que será desta... E depois não é.

Vou dar exemplos: 
1- Estão umas pessoas no bar, à espera de atendimento, com ar impaciente, perscrutando com o olhar quem está disponível para os atender. «Cheios de pressa» - como sempre. 

Vou direta a um indivíduo que já ali está e que claramente fica agradado quando percebe que é a sua vez de ser atendido. Pergunto-lhe o que quer e este, que até ali estava cheio de pressa e a primeira coisa que quer saber é quanto tempo vai demorar a comida a chegar à mesa, fica a olhar para o menu... indeciso se quer isto ou aquilo, ou talvez aquele outro... Não consegue decidir-se sobre o que vai beber... Decide que quer sumo, mas não sabe qual... digo-lhe os sabores disponíveis não consegue decidir.... e quando decide, depois muda de ideias. Irra! 

Enquanto o atendi, os meus colegas atenderam cada um três clientes.

Nós temos que ser rápidos no atendimento - dizem que o ideal é passar 2 minutos com cada cliente - e estes de que falo consomem 10. Dez minutos que me fazem perder com as suas demoradas indecisões - muitas vezes por procurarem os preços mais baixos possíveis, do que nos gostos e vontades. Contudo, estão cheios de pressa. Cheios de pressa até chegar a sua vez. Aí demoram 10 minutos a decidir o que querem. Assim que se resolvem, a pressa volta-lhes. 

E exemplo disso foi umas senhoras que atendi logo cedo - quando o bar está por minha conta. Como é comum, entram muitos clientes ao mesmo tempo e todos vão ao bar ao mesmo tempo. Todos querem comer e beber... Os primeiros a chegar foram dois rapazes, que queriam duas refeições e dois cafés. Foram rápidos a pedir. Mas tive de os mandar aguardar pelas bebidas, pois é mais rápido tomar os pedidos primeiro e lidar com as bebidas depois. A seguir aos rapazes surgiram três senhoras, também elas a querer comer e beber cafés lattes e cappucinos. Mais uma vez, informei-as que aguardassem um pouco que lhes ia dar as bebidas na zona do bar específica para esse fim. Logo atrás deste trio surgem duas senhoras, de etnia negra e ainda um jovem casal, que só queria bebidas.

Despacho as bebidas dos rapazes em três segundos, começo a fazer as bebidas do trio de senhoras e já estou a terminar de fazer a do duo, quando uma delas aproxima-se do bar e diz em voz alta, para aquela que acabou de chegar ali para apanhar a bebida (a mais demorada de se fazer, pois leva chantilly e marshmellows): "a tua refeição está a esfriar" , "se a bebida demorar tens a comida fria". 

Tive quase para lhe responder que a comida tinha acabado de ser deixada na mesa graças a mim, que as atendi rápido ao invés de as fazer esperar como manda o protocolo e que o prato não ia esfriar num segundo. 

Outro exemplo:  

2- Grupos. Famílias. Entram, sentem-se e dois vêm ao bar pedir. Até nisto são lerdos, porque primeiro vêm direito ao bar cheio de pressa para serem atendidos, depois uns vão sentar-se enquanto uns tantos ficam pelo bar só para «reservar» e não perder a vez no atendimento. Mas assim que este começa, não sabem o que querem. E ficam à espera que a pessoa que ainda não está no bar chegue para pedir. Surge um certo vai e vem, até que, finalmente, estão ambos no bar para se entenderem entrei si e fazer o pedido. Para começar, seja em grupo ou individual, é muito comum nunca quererem o prato servido tal e qual como está no menu. Sempre pretendem mudar alguma coisa. 

Tudo bem... até gosto de personalizar as refeições, mas a forma típica como estas pessoas o fazem é exasperante. Para começar, tenho de lhes explicar em que consiste cada prato dos dois principais. São exatamente iguais, só mudam as porpoções (e o preço). Mas este fato tem de ser explicado ao menos três vezes, até que o cliente exiba sinais que entendeu. É então que estão preparados para comunicar o que escolhem comer. E nisto demoram uma eternidade. Depois, falam ao mesmo tempo. Ainda por cima, um diz ao outro o que o outro quer, é corrigido, depois auto-corrige-se... Quero batatas... - diz uma. Ao que a outra responde: Não queres nada! Tu não gostas de batatas. Não lhe dê batatas - diz-me. Ao que a outra responde: Não quero batatas. Sim, quero batatas. Ao que eu tenho de perguntar, para ter a certeza: Então, quer a batata?

E ao ouvir a confirmação de que a amiga quer uma batata, a outra decide que também quer: também quero uma batata -decide.

Quando lhes faço uma pergunta específica: querem o quê ao invés disso? Estão tão entrelaçados nas indecisões se querem ou não querem uma batata, que nem me respondem. Continuam a fazer o pedido na ordem confusa e misturada que lhes surge na cabeça e eu tenho de fazer uma nota mental para voltar a fazer a pergunta, se não, depois já sei que vão dizer que não a fiz e devia ter feito e lá vêm reclamar que não receberam a refeição tal como a haviam solicitado. ´

Depois de tudo decidido - nesta odisseia demorada e tão pormenorizada - depois de tudo feito e quando finalmente chega a altura de fazer o pagamento - é quando repito o pedido para ter mais uma vez a certeza que tudo está como o cliente pretende. E é aqui que decidem mudar as coisas novamente. 

-"Neste prato quero os ovos bem feitos. De um lado e no outro. E quero o bacon muito seco". E depois a outra decide que também quer o seu ovo frito de um lado e do outro e o bacon muito seco. E lá vou eu ter de escrever tudo isto no pedido. Quando não esperam pelo final para o especificar e fazem-no antes, não é por isso mais rápido o atendimento. Isto porque é também comum «metralharem» essa informação sem pausa para respirar, esquecendo que a pessoa que os está a ouvir precisa de clareza e uns instantes para anotar.

Quem trabalha nisto acaba por desenvolver uma memória de registo rápido mas, ainda assim, é digno de estudo cultural, estas formas tão específicas de se comunicar nesta particular circunstância. Dá para entender a cultura, o social, a forma como se pensa e se comporta em sítios onde nunca fomos. 

Cada povo tem um comportamento distinto. Os orientais, por exemplo, tendem a ser poupados, mas a forma como colocam o pedido é educada, quase tímida, sorridente, mesmo quando surge alguma indecisão, esta não demora o que demora a indecisão de uma pessoa originária e educada no continente africano. E quase sempre, sempre, pedem água quente como bebida. 

Olhem, isto dava um scketch e tanto!
E pronto. Por ter percebido isto e falar nisto, «sou racista».



características do cliente africano:

* apressam-se a chegar ao bar só para serem os primeiros a ser atendidos
* não sabem o que querem  
* queixam-se sempre dos preços
* estão sempre com pressa
* perdem a pressa quando começam a pedir
* procuram sempre os preços mais baixos
* demoram a decidir
* gostam de mudar o menu e pedir itens separadamente para ver se comem por menos
* assim que decidem ainda podem mudar de ideias 
* Quando nas mesas ainda podem voltar a pedir mais alguma coisa
* Se sentirem que as suas vontades foram devidamente atendidas, ficam felizes e mostram simpatia
* Se sentirem que algo não foi adequado demonstram uma espécie de frieza
* Geralmente são boa gente - apenas exasperadamente indecisos


características do cliente asiático:
* aguardam pacientemente pela sua vez de ser atendidos, colocando-se em fila indiana
* têm uma abordagem quase tímida 
* Podem ter dúvidas sobre o que querem mas os próprios apressam-se a decidir 
* quase nunca bebem bebidas alcoólicas 
* procuram geralmente os preços mais baixos
* quase sempre pedem água quente
* quase sempre ficam-se por uma refeição apenas - sem bebida ou qualquer outro elemento
* são sorridentes 
* demoram uma eternidade a consumir uma refeição - alguns quase uma hora
* podem dar prioridade aos gadjets como o telemóvel e deixar a comida esfriar na mesa, não demonstram sinais de pressa no seu consumo


características do cliente indiano:

* preferem as comidas com muitas especiarias (dah!)
* costumam pedir em quantidade
* gostam de espalhar os pratos pela mesa, numa de partilhar por todos os presentes
* não gostam que os pratos sejam removidos depois de pararem de comer
* quase nunca bebem bebidas alcóolicas 
* deixam sempre restos de comida em cada prato, nunca finalizam nenhum


característica do cliente italiano:
* espera que quem o atenda fale italiano
* procuram o preço mais baixo
* pode ser o cliente mais rude de todos
* mas também os há muito simpáticos
* claramente existem duas itálias - uma de pessoas simpáticas que resultam em clientes simpáticos, outra de pessoas execráveis, que criam clientes mal educados e de imediato implicantes (deve depender das zonas)
* a maioria paga com cartão - menos as pessoas execráveis


característica do cliente francês:
* não sabe falar inglês e sente-se constragido com o fato
* é simpático e parece contente e aliviado quando termina o pedido 
* a maioria paga com cartão 

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Considerações soltas (4) - A petulância e a ignorância

Eu sei que não sou muito inteligente.
Eu sei que não sou muito culta.
Eu sei que sou pouco experiente.
Eu sei que não tenho um domínio exemplar da língua portuguesa.

Mas fico atónita cada vez que pessoas bem melhores que eu  em todos esses «departamentos» conseguem surpreender-me com a sua ignorância.

Seria de supor que a ignorância é incompatível com o domínio destas áreas, mas não é.
Contudo, o pior não é a ignorância. É a petulância. 

De facto estamos sempre a aprender nesta vida. 
E talvez tenha de começar a tentar convencer-me que, mesmo diante de tudo o que não sei, de tudo o que não vivi, de tudo o que não domino na perfeição, algo faz-me ser capaz de dominar outras áreas que até os «génios» não alcançam.


Não é a primeira vez que me deparo (ou melhor: deparo-me, sei como é mas como sempre fui um pouco à brasileira, prefiro deixar assim, por uma questão de fidelidade)  com este fenómeno. 

Gosto de aprender. Gosto de ler os escritos de pessoas que decerto são mais inteligentes que eu, ou mesmo não sendo, têm algo a dizer, ou simplesmente apreciam produzir textos cheios de referências culturais, estabelecendo paralelos e fazendo ironias. Eu entendo o sentido. Sou pouco inteligente mas nem sempre ao ponto de não captar a mensagem. Simplesmente às vezes, ela não me faz rir ou não me entusiasma. Acho previsível, banal, sei lá... não acho todas as intelecto-análises brilhantes. Por vezes ofereço outra interpretação. O que não quer dizer que não entenda o sentido que lhe quiseram dar. Apenas vi outro. Vejo dois!

E, para minha surpresa, por vezes essa pessoa «intelectualmente superior» não tem capacidade nem para entender uma segunda interpretação, nem para tolerar a contribuição desse inocente gesto. Faz uma leitura totalmente errada, o que é surpreendente. E a reacção por vezes não é matura, no sentido «explique-se». Opta por uma "descida do salto" com uma falta de nível que faria corar um simplório qualquer. 

E nunca existiu agressão alguma, por vezes, ao contrário. Até foi uma contribuição inteligente. Mas a pessoa não alcança. Ou não aceita, simplesmente, uma opinião franca e inocente, que não seja antecedida dos habituais rapapés para "amparar" a crítica que se segue...

Humildade. 
Por muito inteligente que uma pessoa seja, o seu nível de humildade é que faz a diferença.  

sexta-feira, 22 de abril de 2016

O comentário que despoletou reflexões


Uma mãe de quatro filhos, o mais velho com cinco anos, foi presa sentenciada a vida perpétua atrás das grades, por ter sido considerada responsável pelo falecimento de uma quinta criança, de quatro anos, que estava a querer adoptar. 

O menino, filho biológico de drogados, já havia andado por outros lares no sistema de adopção "experimente e se não estiver satisfeito, devolva" que os americanos têm. Por isso exibia comportamentos típicos de crianças sem raízes e afetos. Fazia birras, por vezes era agressivo - o natural. Mas esta criança também apresentava um atraso no crescimento, nas capacidades cognitivas e no comportamento. Não sei até que ponto o facto de ter sido concebido e desenvolvido exposto a substâncias ilícitas duras veio a influenciar mas ele também exibia um comportamento estranho: Tudo o que via, metia à boca e comia. 

Menina com PICA come carpete

Na América a sigla para esta desordem é PICA. Muitas pessoas sofrem deste mal, umas comem vidro, lâmpadas, pedras, papel higiénico, areia, paus, cabelos... a lista é infindável. Julgo que são comportamentos ligados à ansiedade mas ainda se está por saber se terá também algum factor biológico, como a falta de algum nutriente.

Ora, esta família precisava estar sempre a supervisionar a criança, pois além de qualquer coisa lhe servir para enfiar pela boca, não se saciava nunca. Nunca parava de comer. Comia até vomitar, se acaso lhe deixassem. Ficava tão cheio que tinha de vomitar por não ter mais espaço para armazenar coisas. Mas a compulsividade de ingeri-las não cessava com o estômago cheio.

Casos reportados da desordem PICA pelo mundo
(a página foi bloqueada pelo anti-virus acusada de piching
pelo que não sei a origem destes dados
)

Numa ocasião esta mãe necessitou de uma recuperação e decidiu, por segurança, instalar uma câmara de vigilância no quarto do filho adoptivo para poder tomar melhor conta dele e certificar-se que não ficaria em risco. Acho normal. Afinal, existem os baby-monitors, que transmitem audio, ela só fez um upgrade, de resto já muito usado nas creches para que os pais no emprego possam ver os seus filhos.

Um dia ela distrai-se diz que por uns segundos e reparou que a criança estava diferente. Desconfiou que ela tinha vindo da dispensa mas não viu nada de mais. Rapidamente a criança começou a dizer que sentia frio e vomitou. Normal. Crianças têm estes sintomas. Mas o quadro rapidamente piorou e no espaço de horas levaram-na ao hospital. Onde veio a falecer. As análises ao sangue determinaram que os níveis de sódio (sal) estavam elevadíssimos. 

Pedaço de pedra retirado do estômago de paciente com PICA
Ela e o marido foram imediatamente proibidos de ver a criança e tornaram-se suspeitos de morte intencional. O resultado da investigação já contei: a mãe foi presa por suspeita de ter causado a morte - se não por oferecer fonte de sódio à criança, por não ter de imediato chamado uma ambulância. Mas a questão é: porque haveria ela de chamar o 112 por sintomas tão comuns que não indicam perigo de vida? É que nem os médicos perceberam o que estava mal. Tanto foi que lhe administraram uma solução de sódio! Exatamente o veneno que o estava a matar.

Adiante que esta história vai mais longe. Enquanto estava a ser julgada ela soube estar grávida, deu à luz uma menina. O seu sexto filho - como veio a dizer. E depois continuou presa. Para toda a vida. 


Sete anos se passaram e novos factos vieram "a lume". O pediatra que acompanhava o menino disse ter contado uma versão diferente à acusação e à defesa, mas estes não o chamaram a depor. O mesmo aconteceu para um especialista em morte e envenenamento por sódio. Este veio depois a afirmar que dificilmente o resultado seria outro, pois é tão raro alguém envenenar-se com sódio que nem os médicos esperam um quadro desses. E por muitos procedimentos que pudessem fazer, o resultado com certeza seria a morte.


Eu achei esta parte assustadora! Não sabia que o sal mata - mas mata mesmo! Andam por aí assassinos a comprar arsénico e outros venenos para o sal - uma coisa que existe em todas as dispensas e todas as cozinhas, ser tão eficiente!!

Assusta, não é?
Mas a realidade é que a criança, que sofria de PICA, muito provavelmente ingeriu uma quantidade exagerada de sal e condenou-se. A mãe foi considerada culpada, mas provas que são boas - provas de negligência, de que foi ela a dar o sal, que fingiu não ver, que não chamou uma ambulância porque o queria morto - tudo isto que foi alegado e que foi suficiente para a condenar, não foi comprovado.

Foi um caso muito mal defendido. E uma mulher com probabilidades de ser inocente e tantos filhos para criar, foi condenada a uma vida atrás das grades. Marido e filhos condenados juntos.


Sete anos depois, com estes novos depoimentos, o Estado do Texas anulou a condenação e ela foi posta em liberdade. Pode abraçar pela primeira vez a bebé que deu à luz, agora com sete anos. E o filho que na altura tinha cinco, pode, aos 12, voltar a sentir o abraço da mãe. Fora os do meio... Uma história deveras triste. E mais triste ainda foi saber que a acusação não ia desistir da acusação de homicídio e pretendia levar o caso novamente a tribunal!!

Mas por mais espantoso e revoltante que esta história possa parecer, pior foi ler os comentários deixados no vídeo deste programa. O primeiro foi o que despoletou uma série de reflexões em mim.

Dizia mais ou menos assim: "Assassinou o filho adoptivo e é posta em liberdade.... Apelo à rebelião.... Eu, cidadão refugiado". 

O indivíduo que colocou este comentário auto proclama-se "Cidadão «Vingador» contra a Tirania" - é este o seu nome. O link para o seu «cantinho virtual» youtubiano pode ser visto aqui nesta imagem, onde ele se descreve.

Tem alguns vídeos de segundos postados, não os fui ver, mas prestei atenção aos títulos e descrições. Temas como ateísmo, racismo, "os brancos são pessoas geneticamente defeituosas" e outros títulos. 


Numa primeira impressão fiquei a pensar: Este indivíduo será mesmo um refugiado? Depois pensei: Deve ser alguém a fazer-se passar por refugiado para meter mais lenha na fogueira e atear ódios para com os refugiados.

Seja com qual a verdade, muitos outros comentários que se seguiam partilhavam uma cartilha semelhante. Ela era culpada, ela era assassina, aquilo eram lágrimas de crocodilo, sonsa cristã, jamais devia ser solta, etc.

Se consumir sal, prefira o marinho
Fiquei em choque. Embora de facto a 100% ninguém possa afirmar que esta mulher não deu sal para a criança comer, é altamente improvável tê-lo feito. Acho de um terrorismo tremendo, após todos os factos, após se confirmar que a criança sofria de PICA, de se ver como esta mulher era cuidadosa, como eles viviam, a tolerância que tinham, a vontade de criar uma família grande... a falta que ela fazia àquelas crianças privadas de mãe, um pai privado de esposa... Que tantos preferissem metê-la de volta na cadeia a deixá-la ser livre! 

Entre tantos assassinos, violadores, pedofilos em série, tantas pessoas que são indiscutivelmente um risco para a sociedade, para qualquer indivíduo, é esta mãe o tipo de ameaça que querem colocar para sempre na prisão? 


E isto trouxe também à memória o recente caso do tribunal Norueguês dar razão a um assassino em série, responsável pela morte a sangue frio de 77 jovens encurralados numa ilha, no seu direito de manter contacto com os seus simpatizantes, ó sei lá o quê! Direito? Será que não estamos a esticar a corda no que respeita a direitos para indivíduos que cometem actos tão hediondos?? E é uma mãe de cinco que querem colocar na cadeia??

Quase que retira a fé na natureza humana!

Mas depois li mais comentários, até em maioria, e estes restauraram a minha fé na humanidade. Existem sempre alguns estúpidos, mas entre esses aparecem pessoas sensatas. Mais abaixo uma mulher, toda vestida com trajes islâmicos, defende que o Estado devia indemnizar a família e deixá-los viver em paz. Nada daquele espezinhar da mulher, nada de atirar «pedras», como me pareceu ser o caso do primeiro comentário, o do «refugiado». Mas que serviu para me colocar a pensar "o que pensaria um refugiado? O que faria um refugiado?".

Compulsão para ingestão de terra

Outros comentários sensatos surgiram. "Eu também fui adoptada por um tempo e vi muitas crianças a agir assim, é normal"; "Um primo meu tem PICA e ele come mesmo tudo, não é possível estar sempre a vigiar, e meus tios só o têm a ele como filho", "O sistema judicial americano no seu exemplo mais avassalador de condenar a todo o custo não importando a informação que venha ao de cima"; "Nem devia ter passado um único dia na prisão, a justiça americana é uma piada!".

Sim, a fé na humanidade está restaurada. A fé na justiça é que fica um pouco abalada...



segunda-feira, 8 de abril de 2013

É mesmo à TUGA!!


Não sei como é com vocês que me lêm (sim, vocês os dois eheh), mas eu sou uma pessoa paciente. E quando marco um encontro com alguém à hora tal, tento ser pontual. Quando chego ao local e a pessoa ainda não chegou, tolero bem os primeiros 5 minutos. Daí adiante começo a ficar nervosa. Ao fim de 10 minutos já acho que a pessoa pode não aparecer. E finalmente, no 15º minuto, 900 segundos portanto, vou embora, com a certeza que a pessoa não aparece.

Agora vem a parte chata. Que é a parte em que a pessoa que não foi pontual, falhou avisar que não ia comparecer ou que se ia atrasar, fica chateada e indignadíssima. Já me aconteceu em alturas distintas da vida: enquanto estudante e mais recentemente. A pessoa que se atrasa vem sempre com a história dos 20 minutos. Fica indignada porque chegou ao local de encontro e já não encontrou ninguém e mais indignada porque, segundo ela, o correcto é esperar 20 minutos.

Ora, pergunto eu: o correcto não seria, chegar a horas?
Quem são estas pessoas para estipular os minutos a seu belo prazer? Uma pessoa aguarda o tempo que conseguir aguardar. De todas as vezes em que consegui estender a minha paciência por "blocos" de 5 minutos, conseguindo aguardar alguém por 30 minutos, essas pessoas NUNCA apareceram. Porquê então perder tempo? A hora é divida em quartos por algum motivo! Fica muito mal a uma pessoa que não cumpriu a sua parte da palavra vir criticar a outra. É mesmo a tuga! A pontualidade é coisa para 20 minutos de espera...

Da última vez que falhei à hora marcada, falhei por segundos. Era eu a descer as escadas e a pessoa a descer outras na direcção oposta. Foi o tempo de receber um SMS e abrir o telemóvel para espreitar. Antes que pudesse retornar, a pessoa foi embora. Não aguardou sequer 5 minutos. E o que fiz eu? Expliquei a situação e dei-me como "culpada", porque de facto tinha chegado atrasada. 

Ora imagine-se se fosse começar a mandar vir com a pessoa porque não soube aguardar mais que 5 minutos até se por na alheta! Que raio de pessoa me tornaria? Já apanhei GRANDES SECAS com pessoas que não aparecem e avisam à última da hora por email. Está certo que a tecnologia é portátil hoje em dia e está por todo o lado, mas ainda não para todos. Acho bem mais inadmissível essa presunção de que as pessoas podem ser avisadas em cima da hora, quando muitas vezes a própria deslocação implica uma perda de tempo considerável.

Devo dizer que da primeira vez que aguardei 15 minutos por uma pessoa e ela não apareceu, quase fui linchada. A pesar de me ter jurado que não se atrasaria e de saber isso, a pessoa fingiu-se tão indignada por não me ver à sua espera feita tola que foi forçada a entender que também fez a viagem em vão e por malícia teve a triste ideia de armar uma grande confusão e levar outras pessoas a tomar o seu lado, para que todas em conjunto pudessem vir criticar a minha atitude. (manguito a introduzir aqui, sff). Ela diz que apareceu passados 20 minutos e era obrigação aguardar. Diz ela que chegou, mas o tempo que levei no retorno dava para ver se alguém se aproximasse. Pelo que também mentiu no tempo que levou (se é que levou) a chegar ao local combinado. Ora nos transportes, tentem lá apanhar o comboio das 7.00h às 7.20h... Para chegar nos empregos 20 minutos atrasados. Não descontam no ordenado nem será despedido/a. O patrão tem a obrigação de esperar, não é?

Mas isto tudo que escrevo tem como finalidade um «pequeno inquérito» ao leitor (sim, vocês os dois). Digam lá: tem alguma lógica esta história dos 20? Isso ficou implantado em alguma declaração verbal social que me tenha escapado? Digam de vossa sincera justiça, vá lá!

sábado, 3 de novembro de 2012

Integração numa CULTURA


Recentemente entrei dentro de uma superfície comercial "chinesa" e, ao precisar de auxílio para adquirir um produto, procurei um empregado entre os corredores. Encontrei dois, um jovem rapaz com quem já tinha falado e uma jovem rapariga. Expliquei-lhes então a situação:

-"Boa tarde. Preciso de ajuda com um artigo (disse o nome), só encontro um e queria saber se por acaso têm mais em armazém".

O rapaz não me responde, vira-se para trás e grita por alguém na sua língua. E depois, mais nada. Nem um gesto, nem uma palavra. O outro também não aparece para se dar a conhecer ou indicar o cliente para o seguir. Não me é dada qualquer resposta. Nem sequer gestual. Simplesmente deixam-me ali.

O que vale é que não fiquei estancada à espera. Dirigi-me novamente para a zona do artigo. Se lá estivesse alguém para prestar ajuda, muito bem. Se não estivesse, virava as costas e saía pela porta. 

O empregado, outro miúdo jovem, também não se dirigiu a mim, cliente, para prestar auxílio. Mais uma vez, aproximei-me, dei a «boa tarde», indiquei o artigo, expliquei a situação. Directa e sucinta. O rapaz não diz nada. Não dá resposta, nem sequer gestual. Nem "ai" nem "ui" - como se costuma por cá dizer. O que entre nós é vulgarmente considerado um sinal de falta de boa educação. Os portugueses podem sentir algum incómodo pela frieza e falta de atenção mas somos um povo tão aberto que aceitamos as diferenças, mesmo quando estas «arranham» a base do que é para nós a nossa educação cultural. Mas tratando-se de outra cultura, relevamos...  

Pergunto a este empregado se posso abrir a embalagem para espreitar o artigo, pois haviam colocado um enorme cartaz de cartolina manuscrito com canetas de várias cores onde se «ameaçava» que quem abrisse as embalagens teria de pagar o artigo e era estritamente necessário pedir ao funcionário para as abrir. (os chineses também não entendem a diferença entre uma comunicação e uma intimidação, deve ser algo do regime comunista) Pois pedi... e não obtive qualquer resposta. Nem um som. O rapaz nem se digna a estabelecer contacto visual. Parece que estou a falar para um MONO.

Abri a embalagem. 

O rapaz aproxima-se e põe nas minhas mãos um artigo, mas não o pretendido. Agradeço (gesto de cordialidade que é como se caísse em ouvidos ocos) e explico que já tinha encontrado um par daqueles, pretendia era outro. Ele lá remexe em tudo sem nada dizer e volta a esticar um artigo na minha direcção, desta vez o correto. Agradeço-lhe. E como havia retirado alguns das prateleiras e sou das que arrumam de volta e no sítio certo, perguntei-lhe se não se importava de os arrumar. Não me responde mas entendo que é o que vai fazer, pois já o outro rapaz, ao me ver a retirar os artigos, pegou nestes e tive de lhe pedir para os deixar ficar, pois encontrava-me a escolher. 
Antes de me afastar de vez, volto a agradecer. 

E agora pergunto eu: estes JOVENS, provavelmente já nascidos cá ou pelo menos cá criados, não deviam já integrar-se melhor nos costumes locais? Parecem entender o português bastante bem, mas não emitem uma palavra. Nem sequer fazem um esforço! E isso é que é algo incomodativo. O povo português é conhecido pela afabilidade com que recebe e pela entrega em se adaptar a outros países, outras culturas e outros costumes. Já cá recebemos vagas migratórias de todo o género de povos: africanos de Cabo Verde, de Angola, Brasileiros, mais recentemente pessoas oriundas da Europa de Leste... e em nenhum destes encontro uma maior falta de atenção para com o povo acolhedor, no sentido de absorverem os costumes, a cultura, os tratos sociais. 

Se for o povo português a emigrar, fazemos um esforço por nos adaptar. A primeira coisa que fazemos, custe o que custar, é tentar aprender a língua. Começamos logo a tentar comunicar oralmente, assim como comunicamos bastante gestualmente. Somos um povo que se adapta, e mesmo que muito   afastados pela cultura de origem, existe sempre uma pre-disposição para a adaptação. Pode até ser má,  mas pelo menos fazemos esse esforço. Se emigrarmos para França, aprendemos a falar francês. Para qualquer outra parte do mundo, falamos inglês. Se formos a Espanha, falamos espanhol. Se formos para Itália, falamos italiano, e por aí fora...

Até dentro do nosso país, gostamos de aprender outras línguas! Portanto, custa-me um pouco entender a mentalidade de uma cultura que, pelos vistos, parece tão mais fechada, tão mais incapaz por ESCOLHA própria de se «mesclar» na cultura que a acolhe. 


Nas escolas aprende-se logo em criança, o MODELO BÁSICO DE COMUNICAÇÃO entre os humanos: o Emissor, a Mensagem e o Receptor. Não sei se os chineses que encontramos na maioria dos estabelecimentos comerciais auto-sustentados entendem esse conceito. Ao fim de anos de permanência neste país que os acolhe, parece que foi ontem que chegaram, tal é a aparente indiferença para com os costumes que cá encontram. E é por esta razão que estes «comerciantes» me fazem lembrar uma praga de gafanhotos: chegam, usam, tomam o que gostam, desgastam, destroem, não deixam nada de bom em troca.   

Lá se vai o mito do imaginário tradicional, que transmite a ideia de que todos os orientais são muito bem educados e cordiais, com as suas vénias e "ais"...