Metereologia 24 h

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quinta-feira, 2 de abril de 2020

Hostilidade através do quadro - II


Mencionei no final deste mais recente post que podia vir a falar da hostilidade através do quadro. Pois para quem não sabe, leia aqui. Isso foi o início da coisa. De lá para cá, nada mudou.

Resumidamente, pois quero dar pouca importância a estas mesquinhices tacanhas, apenas estou a mencioná-las para ficarem registadas. Na cozinha está um quadro de ardósia com giz. E eu sempre gostei de rabiscar. Vi aquilo, sempre vazio, e rabisquei. Desenhos, na sua maioria. O primeiro foi o de um cone de gelado. Só porque me apeteceu desenhar. Foi imediatamente transformado em algo diferente, com teor sexual. Mas não levei a mal. Só que, daí adiante, tudo o que fiz, era imediatamente removido e substituido por outra coisa qualquer. E ontem de noite, diante do gigante arco-iris do "fica bem", que arranjaram só para poderem justificar apagarem o desenho que lá estava feito por mim, aproveitei um cantinho minúsculo de espaço rabiscado em italiano imperceptível, e desejei "Feliz Páscoa", desenhando mais umas flores. 

Pois agora quando percebi, tudo o que ali estava desenhado por mim, flores, um pássaro, corações e a mensagem de Feliz Páscoa, foi tudo apagado, carregaram no arco-iris, voltaram a escrever sei-lá-o-quê em italiano e em inglês o seguinte: Alguém tem algum problema com o meu arco-iris? Se sim, pode usar o meu giz para o dizer. Eu sublinhei a palavra "problema", desenhei uma seta e no pouco espaço disponível escrevi: "E flores?".

Mas não vou dar importância. Já conheço a merda que cá vive. Mascarada de coisa boa, mas merda. Nenhuma pessoa realmente decente mostraria estas atitudes. Estas, a de apagar todas as gravações na box, etc. Só gente má formada é que faz isso. 

O quadro virou também um espaço disputado, que tem de ficar sobre o domínio italiano.
Se a caca do pássaro for mesmo para me dar sorte, o jackpot é ter esta gente toda fora daqui.

E isso seria também um milagre. Porque gente desta nunca quer largar o osso. Só se acharem que encontraram coisa melhor. Agora que se achem com mais direitos, que se comportem com nepotismo, hostilidade, xenofobismo... só mostra o tipo de tutano de que são realmente feitos. 

Acho que está na altura de voltar a espalhar um pouco do meu remédio para ver se ficam "mais doces"...

Em plena quarentena, e a armarem conflictos.
É que não basta terem implicado com tudo o que deixei no quadro. 
Gosto de rabiscar flores. Coisas inocentes, sem quaisquer indirectas, desenhos, na sua maioria. Quando deixo mensagens, são de apoio, encorajamento e coisas assim bonitas. E eles apagam tudo, ou transformam tudo. Deixei o "Stay at home" (fiquem em casa) adicionado ao estúpido gigantesco arco-iris, feito somente para me impedirem de usar o quadro. Não tardou e acrescentaram a esta simples mensagem, que está por todo o lado, que tem tudo a ver com o momento e o estúpido arco-iris, o seguinte: "se puderes". Noutro dia, não satisfeitos, ainda acrescentaram a isso "eu não posso".

Tardei a ver, porque estava sempre a trabalhar. Quando vi achei que era tão estúpido! Foi só uma mensagem de apoio e concelho, relacionada com o momento de quarentena que atravessamos. Não precisava de resposta. Não era eu que estava a escrevê-la para eles! E estes panhonhas que ficam por casa acham que têm de dar como resposta "não posso". Quem não pode sou eu. Que tenho de ir trabalhar. Mas como concluí no post onde anteriormente mencionei os problemas domésticos, o Covid-19 ou o Corona parecem muito menos ameaçadores que esta italienada.

Mal posso esperar para regressar ao trabalho! Ele me mantem sã. Que pena que não poderam ficar de quarentena lá no país deles. Aí é que não podiam sair mesmo. Foi mesmo uma lástima. Tivesse isso acontecido agora e, estando eles lá para as férias da Páscoa, não se teria perdido nada. Pelo contrário. Seriam só ganhos. 

Eles podem entrar no seu país. Não estão proibidos. Mas precisam de autorização da freguesia de residência para lá ficarem. Se não a receberem, ficam em quarentena em Roma, ou assim. Com a boa vida e a liberdade que têm cá, alguma vez esta gente ia para lá? Claro que não! Da boca para fora dizem que sim. Mas seriam incapazes dos sacrifícios. 

O desenho que eu fiz no quadro por último, foi o de um comboio, e da fumaça da chaminé saia uma nuvem. Nessa nuvem era o espaço para escrever mensagens. Nos cantos, rabisquei flores. No topo, duas rosas. E logo abaixo, linhas coloridas onde desenhei notas de música. Estava muito bonito, porque era doce, inocente, positivo. Pois a mais-gorda um dia decidiu apagar tudo, menos o comboio, para não ser muito óbvia nos seus intentos. E o que era tão urgente que precisava do espaço? Deixou escrito, em italiano: "mudei o filtro da água".

Ahah! 

Quando fui a Portugal, no regresso, tinham sido colocados ali dois papéis a tapar o meu desenho. Ficou à mostra somente a mensagem em italiano. Não faz sequer sentido meter ali uma folha A4 e outra menor. Era de uma carta com quase um ano!! Um pretexto pouco credível só para tapar da vista um desenho deixado por mim. A mensagem sim, não fazia sentido e era desnecessária. Só o facto dela a deixar escrita em italiano, já diz tudo. Os receptores são os italianos. Eu não interessava nada. É assim como uma ofensa, manda a indirecta de que tu "não contas". Quando vi a mensagem, ela estava por perto e eu li em voz alta. Ela nada disse. 

Não lhe apaguei a mensagem, nem passadas semanas quando obviamente não fazia falta alguma. Depois foi ela que apagou tudo e fez um gigante arco-iris. Ao qual eu acrescentei flores nos cantinhos. Ela apagou-as e escreveu uma mensagem em italiano. Eu acabei por re-desenhá-las e mais tarde, escrevi também a mesma mensagem, em português e em inglês!

Nada disseram. Nem reagiram de imediato. Um dia fui trabalhar, e no outro já estava ali outro arco-iris, a preencher o quadro todo, cheio de mensagens em italiano. Claro. Não podiam permitir um conteúdo não nepotista. Ao fazerem isto, destruiram a rosa seca que eu tinha aplicado no canto do quadro. Já lá estava há um ano. Quase imperceptível. Dei com as pétalas no chão. Só ficou o "pau", grudado na bolinha de "plasticina" que usamos para segurar coisas às paredes. 

Bom e é isto.


domingo, 2 de fevereiro de 2020


Uma nova mensagem surgiu no quadro de ardósia, na cozinha. Fui eu que a coloquei, para eliminar mais uma pila ali desenhada. Acho de mau gosto ires à casa de alguém e fazeres isto. Mas enfim, deve ser o que estes italianos entendem por boas-maneiras e requintada educação que tanto a mais-gorda apregoa. 

Aproveitei o regresso de um colega que estava de férias e acrescentei "bem vindo" ao desenho da flor (simbolizando a paz a impor-se à guerra). Não pretendia que aquele desenho ficasse ali mais que um dia. Não fosse o colega estranhar e achar que lhe dou demasiada importância. Foi só um gesto cortês, ao qual sou muito dada, mas que aqui tive de me conter de os demonstrar, porque qualquer coisa que faça é propositadamente lida com malícia. 

(Sim, porque um "fuck you" não tem malícia alguma. O problema está no desenhar flores e pássaros). 

No seu lugar desenhei um comboio e deixei um dizer. Nunca fui de pensar no que vou ali deixar. É algo espontâneo, que faço por me apetecer. Não tem significado algum. Apenas é um prazer. Mas por vezes percebo que o espontâneo pode resultar em algo impressionantemente inteligente. E a interacção que as pessoas decidem ter com ele, diz muito sobre elas. A mais-gorda, incomoda-se com tudo. Vai que usou o «amigo» para apagar o quadro e agredir-me com o pénis desenhado. Mas este tipo de coisa só a diverte a ela, a mim, não aquece nem arrefece. É demasiado simplório, previsível e baixo. 

Desta feita, o dizer foi " a vida está cheia de comboios a passar". E escrevi-a de forma a que a leitura fosse da esquerda para a direita, mas com as palavras encavalitadas. Vai que a interacção que a mais-gorda escolhe ter com o desenho não me surpreende em nada: Decide corrigir a gramática! Ahaha. Típico. No seu entender, viu uma gralha. Então, da sua forma dissimulada, desenhou ao de leve uma seta, re-organizando a ordem das palavras. E ficou toda contente, achando que me mostrou como sou ignorante. Ela não consegue resistir ao impulso de apontar o dedo a uma coisa mal feita aqui pela tuga. Outra pessoa não ligaria nenhuma, acharia piada, ou faria um comentário humorístico. Normal. Ela não... ela é super dissimulada. 


quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Pilas


Não consigo encontrar o post onde faço referência ao desenho natalício deixado no quadro a giz na cozinha. Mas contei aqui que aproveitei a quadra e a viagem para o país-natal para desejar por escrito as boas-festas e comunicar que deixei um presente debaixo da árvore de Natal.

Regressei assim ao meu hábito de desenhar e escrever no quadro. Hábito que interrompi pela malícia com que aquele veículo passou a ser usado. Eram só mensagens a "apontar" dedos à sujidade na casa e rabiscos ofensivos. Tudo cheio de segundas intenções, mas com um alvo único: eu.

Depois, alguém dos "deles" decidiu impor ali um desenho de um pássaro, ao qual depois foi adicionado uma cock (pila) e este foi o único desenho que ganhou de imediato um estatuto de "intocável". Ninguém o apagava, ao contrário de todos os anteriores. Percebi que desejavam imortalizá-lo. Na altura, perguntei quem tinha sido o autor. Até perguntei ao próprio. Que me respondeu: "Hum... não sei". (o habitual!).

Sabia, claro. Todos sabiam. Era como um "segredo" (mais um) para ficar só entre eles. Mas adivinhei que tinha sido o rapaz-rei-da-casa, pela forma como o desenho era "intocável". A rapariga que foi embora no verão adicionou mensagens de adeus em italiano em volta do sacrossanto pássaro fálico, que entretanto também ganhou um outro orifício sexual. O tempo passava mas ousar eliminar o pássaro, isso não faziam. Nem para colocarem daquelas mensagens "o fogão está todo sujo! É favor limpar depois de usar" - que tanto gostavam de escrever.

E assim o quadro ficou por... três, cinco meses??!

Já novos inquilinos cá viviam há meses, e ainda os rabiscos da outra-que-foi-embora em Junho e do rei-da-casa que foi em Novembro, permaneciam no quadro, preservadas como relíquias sacrossantas pela mais-gorda

Não fazia sentido e era até pernicioso para o ambiente na casa, essa reverência venenosa a pessoas que compactuaram com ela na sua malícia. Estava na altura de cortar essa influência. Sairam, acabou.  

Quando o rei-da-casa foi viver para outro lado, o desenho ficou ainda mais revenerado. Ao perceber que aquela ave com pila gigante jamais ia desaparecer dali como espécie de veneração ao gajo, dei-lhe algum tempo mas, chegando a altura do natal, aproveitei a quadra festiva para retomar o meu hábito/direito de desenhar e eliminar de vez aquele absurdo. E foi assim que, munida da autoridade da quadra, com o auxílio de ir viajar, passei uma esponja naquilo, tentando assim por um fim a um "reinado do mal", ali representado pela veneração absurda a um desenho feito durante um período em que o quadro a giz só andava a ser usado para fins maliciosos - que foi o uso que lhe impuseram. 

Fiz um novo desenho, inspirado num robin (ave com peito laranja associada ao Natal e que, desde que cá cheguei, é «minha amiga» e me visita quando estou no jardim) e escrevi um belo dizer de boas-festas junto com a mensagem sobre os presentes para todos debaixo da árvore. Mas o bom mesmo, foi recuperar o «direito» de desenhar e usar o quadro, como fazia no início e como é certo acontecer.

A mais-velha quando desceu à cozinha nessa manhã e viu o quadro... imagino que até perdeu o apetite. Porque saiu de imediato porta fora, 15 a 30 minutos mais cedo que o habitual. Aquilo deve ter-lhe caído de forma muito indigesta!

Nesse mesmo dia em que viajei, ela apagou todas as gravações que programei na nova box da sala. 


No ano novo a mensagem no quadro foi alterada para: "feliz ano novo", mas manteve-se o desenho. (que era intemporal, dava para qualquer altura). A meio de Janeiro, um gajo que a mais-gorda consegue induzir a cá vir jantar ocasionalmente (é assim que ela "pesca" pessoas, usando jantares "italianos" como isco) "violentou" esse desenho, rabiscando um outro pássaro a relembrar o "do morto" e também com direito a uma gigante pila.

Calhei passar por ali nessa altura e então perguntei quem tinha adicionado o "foguetão". O rapaz, que estava sentado a jantar, explicou que foi ele, em "homenagem" ao pássaro desenhado pelo "rei-da-casa". Foi a primeira vez que alguém deu-me a conhecer o autor do desenho, julgando que eu tinha conhecimento. E lá estava a veneração a querer vir à tona novamente...

É que também fizeram-lhe uma éfigie com almofadas, tecido e balões. Esta figura, a quem deram o nome do gajo, dizendo que era para ele ainda estar na casa, ficou duas semanas no sofá da sala. Cada vez que uma corrente de ar mais forte, ou alguém tocava naquilo, lá se ia a cabeça, ou os braços... Uma patetice. Epá o gajo não morreu! Só mudou de país.

No dia seguinte, como tinha falado com o autor do novo "pássaro" sobre a inclinação sexual dos desenhos alheios mas que eu era mais dada a flores e afins, apaguei a pila e no seu lugar fiz quatro florzinhas. Achei bonito. E foi totalmente inofensivo. Não lhe apaguei o pássaro. Que ali ficasse... não me fazia espécie. 

Ontem, a mais-velha chega a casa, vê-me na cozinha e ao sentir o cheiro a ovo estrelado apressa-se a vergar a coluna para chegar à janela para a abrir só que... pimba! Encontrou-a já aberta. Fez uma cara...

(sempre com a mania que só o cheiro dos cozinhados dos outros é que é insustentável, caramba!)

Terminei rapidamente de comer, deixei tudo lavado e limpo e subi ao quarto, acabando por adormecer. Mas o meu sono foi interrompido várias vezes. Primeiro pelo bater na porta de uma "visita". Pela voz e por exclusões de partes, sabia que só podia ser o tal rapaz que a mais-velha mete cá dentro. Julgo que é a única pessoa que ela tem ou consegue manipular, já que todos os outros vinham por intermédio do rei-da-casa. Daí ela sentir tanto a sua falta. Sem ele, acabou-se aquele rol de italienada, que a deixava tão feliz e arrogante. Por ela mesma, mesmo com todos os dotes de falsidade de que é munida e versátil, não me parece que consiga encher a casa todos os dias de "compadres". Para uma pessoa que vive há 15 anos no UK, não parece ter um amigo próximo, nem ninguém que frequente a sua casa amiúde. E se tiver, nenhum tem nacionalidade que não seja italiana. Até hoje só a ouvi elogiar pessoas italianas. A todos os outros coloca defeitos.

Faço por voltar ao sono e consigo, sendo despertada mais umas quatro vezes ao longo do sono pelo barulho de três vozes: a deles os dois mais a da rapariga do andar-de-baixo. Os italianos a convidarem-se a eles mesmos para jantar e nunca incluindo a tuga. O normal.

Foi uma luta para conseguir continuar a dormir mas o cansaço de um intenso dia de trabalho físico ajudou. A cada interrupção, consegui regressar ao sono. Escutei o tipo ir embora e adormeci. Só acordei eram 4 da manhã. E como percebi que dificilmente ia conseguir voltar a adormecer, tendo de me levantar dali a duas horas, optei por não insistir e despertar de vez. Ia aproveitar esse tempo para relaxar.

Desci à cozinha para comer algo e é quando vejo o quadro. Tinha sido totalmente apagado. O desenho tão bonito, os dizeres. No seu lugar, um escrito "Eu voltei!" e o desenho de uma pila, como assinatura.

Não é que me tenha incomodado, mas não gostei. Sei muito bem o real sentido daquilo. Insistem em tornar aquele espaço num veículo de ódio e ataque à "tuga". Não quero e não vou aceitar. Muito menos que a mais-velha use outros para atingir esse fim. Sim, porque era ela que queria apagar aquele quadro mais que ninguém! Ela queria... mas precisava de encontrar uma forma de ficar com as mãos "limpas". E assim, com uma palavrinha aqui e ali... manipula os outros para fazerem as suas maldades. Convida o tipo, sabendo que vai conseguir suscitar uma reacção dele assim que o orientar para a ausência da "pila" no «seu» desenho.  

Imaginem se fossem vocês. Entravam como convidado na casa de alguém. Achavam correcto apagar um desenho feito por uma pessoa a viver nessa casa, e colocar no seu lugar uma picha? Não tens intimidade, não conheces a pessoa e és VISITA na casa DELA. 

Deixas-lhe um "fuck you" simbólico.

Sim, porque é esse o significado do gesto e do desenho de uma pila... é um "fuck you". 
Um fuck you deixado à pessoa que lá tinha o desenho em primeiro lugar.

Eu sou mais, mas muuuito mais, "peace and love". Portanto, FLORES.

Devia ter nascido nos EUA na década de 50 ahahah!
Lá pelos anos 60, 70, aquilo é que foi diversão. E não era só pelo amor-livre. Que isso... mantem-se nos dias de hoje, mas de uma forma que deixa a desejar. Refiro-me ao idealismo, à aceitação do «preto, do branco, do azul, das bolinhas», às mentes abertas para tudo o que pudesse ser sugerido.

Actualmente vivemos num mundo cada vez mais "liberal", conectado pela tecnologia, mas as pessoas mantêm-se retrógradas e presas a atitudes e comportamentos básicos.

 🌼🌼
 peace and love

portuguesinha

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Hostilidade



Deixei um rabisco colorido a um canto no quadro a giz da cozinha. Tem lá estado há semanas. Escrevem-se mensagens, apagam-se, mas o rabisco colorido fica lá. Não faz mal a ninguém, não incomoda. Certo?

Pois hoje passei pelo quadro e vi que alguém riscou o rabisco não com um traço, mas com vários riscos. Talvez com fúria. Talvez não. A questão é: porquê? Porquê haveria alguém de se dar ao trabalho de pegar no pau de giz, transferir pó para os dedos, para riscar um inocente padrão colorido?

No meu íntimo sei que é um sinal de hostilidade. 


A jarra que encontrei no chão quando cheguei de férias - a única peça que me pertence que coloquei na sala, continuou no chão por uma semana. Quis entender se alguém a ia colocar de volta em cima da lareira. Não existiu aparente razão para ser removida. Não colocaram nada no seu lugar. Pareceu-me apenas que tinha sido retirada por malícia. Como se ao removê-la o proprietário pudesse ser afectado. 

Ao limpar a sala, tornei a colocar a jarra no sítio. Uma semana depois uma colega recebeu um cartão postal e decidiu colocá-lo bem ao lado da jarra. Na manhã seguinte remove a jarra para um canto, para colocar o postal no centro. A jarra ficou numa das bermas. Daqui a nada volta para o chão, estou a imaginar. Em sete dias, ela colocou mais três cartões. E estão todos ainda ali, em cima da prateleira, onde os deixou. Porque não existe malícia de parte de terceiros em removê-los do lugar. Penso que cartões de aniversário são artigos pessoais que se querem guardar a nível pessoal, pelo que têm um interesse para uma pessoa só. Não é como se fossem votos de feliz natal, que é algo que, mesmo personalizado, pode ser deixado exposto antes e durante a quadra natalícia. Por norma, numa casa partilhada, é o tipo de coisa que ocupa um lugar comum por pouco tempo, depois deve ser retirada e guardada com carinho. Até mesmo para não se estragar ou desaparecer. 

Mas isso é a minha forma de pensar. Se calhar estou errada. Tendo em conta o historial da casa - as porcarias deixadas por toda a sala por meses, se calhar os cartões de aniversário vão ficar ali até o ano seguinte.

O que eu percebi é que sentiu necessidade de os exibir. Como se para mostrar aos restantes que tem pessoas que a acarinham e gostam de si. Ela contou-me que tem muitos amigos por onde passou, grandes amigos. Vive cá há 12 anos, tem família a viver por perto, pelo que acreditei. E acredito. Contudo, perguntei-lhe se fazia anos quando trouxe do emprego um ramo de flores. Respondeu-me que o aniversário era no dia seguinte. Prontifiquei-me a meter umas velas num bolo que havia comprado e cantar os parabéns, já que também lhe havia perguntado se gostava de festejar os anos. Respondeu que sim, gostava, mas quando quis saber o que pretendia fazer, respondeu "nada". O que me surpreendeu. Então gosta de celebrar, tem tantos amigos, e não faz nada?!? Diz-me que não gosta de ter a casa vazia e liga a televisão para escutar vozes, por não gostar do silêncio, da falta de pessoas. Cada vez que alguém quer fazer uma festa aqui, ela parece-me muito satisfeita. Por estas razões, mais o ter tantos amigos e ser fim-de-semana, estranhei. Ela trabalha apenas durante a semana, tem o sábado e domingo livres. E era o seu aniversário. Podia ir visitar quem quisesse. Podia ir passear, sair, divertir-se. Esteve um sábado espetacular, com sol. Contudo, não o fez. Ficou o dia, a tarde e a noite na sala, sentada no sofá, com a televisão acesa em contínua programação e o telemóvel na mão. Que é o que sempre faz.

Que raio de aniversário escolheu ter! Para quem disse gostar de o celebrar, quero salientar.


Há coisas que não batem certo. Até neste simples facto constatei que, se os italianos estivessem cá naquele dia, o «seu» aniversário tinha sido diferente. Tinha tido festa e convidados. Mas como não estavam, ela não sai da rotina. Disse-me que não queria o bolo que lhe ofereci, que era mau ter um bolo que tinha decoração de halloween... Ora, eu não sabia que ela fazia anos, comprei aquele bolo para partilhar com quem mais o quisesse. Teria improvisado uma deliciosa celebração com gosto e sinceridade. Eramos só nós as duas na casa naquela ocasião, por mim fazia-se algo. Mas ela mostrou-se pouco receptiva e então recuei. Não ia impor a minha presença, se não parece ser essa a sua vontade. Dei-lhe espaço, para gozar o dia como desejasse. E desejou ficar a manhã, tarde e noite a ver televisão na sala. Quase lhe perguntei porquê não ia ao cinema, ou sugeri ir com ela almoçar fora, pelo menos, seria diferente. Mas não me intrometi. Como disse, deixei-a estar. Porém, para quem gostava de celebrar aniversários, teve um muito solitário.

O ramo de flores que os colegas de emprego lhe ofereceram, veio enfiado num saco com água. Assim as recebeu, assim as deixou na beira da mesa da sala de jantar, encostadas à parede. Nada de abrir e tirar as flores do plástico, nada de as compor e escolher um local para embelezar. Estão a murchar, a água nunca foi trocada, as flores parecem ter sido esquecidas naquele canto, onde nem se dá por elas, onde são desperdiçadas. Podia muito bem tê-las composto numa jarra e as colocado no centro da mesinha redonda, ao lado da poltrona, perto da porta que dá para o jardim. Ficariam tão bem! Dá um ar de cuidado, de atenção, até mesmo de apreço para com as flores recebidas Mas não. Ali as deixou, ali ficaram, ali vão ficar até as meter no lixo.

É esquisito. Ou há algo mais nisto, ou é o «sangue italiano» que é muito particular e os faz inclinarem-se mais para o convívio com outros italianos. Afinal, durante a 2ª GG, identificaram-se com os valores narcisistas e separatistas de Hitler. Se calhar não é à toa que gozam de uma reputação excessivamente nacionalista e conta-se que olham com maus olhos quem entrar no seu país e não saber falar a língua. Sei por facto, que olham com repulsa para as pizzas pré-fabricadas. Mesmo que a massa tenha sido feita fresca na loja, para eles, aquilo não é pizza e é sacrilégio levar uma à boca. Pizzas de verdade têm de ser feitas de raiz, com ingredientes específicos italianos de origem italiana e sem variações. Ananás na pizza? Nem fales disso, se queres manter uma relaçao com um deles.



 São todos muito "educados", com os "bons dias" e "olás". Mas é só isso. É frio e distante. Em todas as outras coisas que servem de sinais de aceitação, falham. Já dei exemplos: nunca convidarem para jantar, fazerem festas e trazerem pessoas cá para casa sem estenderem, pelo menos uma vez, um convite a ti ou sequer te comunicarem que vão receber pessoas. Recusarem todas as vezes que lhes ofereci comida ou disponibilizei mantimentos, não mostrarem interesse em ter uma conversa com algum conhecimento pessoal, etc, etc. 

São esses os "sinais" indicadores de que uma pessoa quer estar contigo e está aberta a te conhecer. Por exemplo, a "mais nova" faz isso. Ou melhor, fazemos. Posso ter uma conversa com ela, já trocamos informações pessoais. Aquela cuja presença eu mais temia por a saber amiga de outra na casa ao lado, onde mora a vizinha histérica, acabou por ser a mais normal. É amigável. As coisas fluem naturalmente, as reacções são naturais. Os italianos... não sei se é o "lote" que me calhou, mas... não mostram interesse em ti. Dizem os "bons dias" e pronto. Ficam-se por aí. E unem-se de uma maneira que não é bonita de ver. Uma das italianas nunca limpou a casa. Nem sequer uma vez. Seria de esperar que os próprios amigos a chamassem à atenção e reclamassem. Mas não. Ser italiano nesta casa parece ser um cartão de impunidade, como aquele "livre da prisão" do jogo monopólio.

No Domingo, sem nada dizerem como habitual, a mais velha recebeu na casa a ex-colega, a jovem mal-educada que cá viveu com o namorado. De quem eles não gostavam muito mas, como era o «escolhido» da compatriota, acabou aceite. Mas sempre com «pé atrás». Tanto que quando os dois sairam daqui para irem viver juntos, a mais "velha" vaticinou que a mal-educada ia arrepender-se, que ele ia "fazê-la sofrer". "Tem mais chances de ser o contrário" - pensei.

Dei conta de alguém entrar na sala por volta das 11 da manhã. Mas não fui logo espreitar quem era, não faz o meu género. Dei espaço, tempo, privacidade. Só não contava é que traçassem de imediato uma barreira. Porque o hábito de fecharem a porta da sala regressou assim que a outra se enfiou cá dentro. Até à meia-noite, mantiveram-se na sala, de porta fechada. Quando finalmente desci para me servir de algo na cozinha, cumprimentei-as (foi então que vi quem era) mas não puxei conversa, porque assim que me ouviram aproximar, pararam de conversar. Ficou um silêncio estranho, trocavam olhares mudos, como se a minha presença as incomodasse. Até podiam estar a falar de assuntos particulares, íntimos, desabafos. Tudo bem. Mas cá está: é a atitude como um todo.

Uma pessoa normal - a meu ver - quando é interrompida no meio de uma conversa privada, é capaz de cumprimetar outra, meter conversa de "chacha" e depois sabe que pode retornar ao assunto sério. Não podem esperar estar a dividir uma casa com terceiros e ocupar a sala por 13 horas, sem serem  interrompidas. Não é bonito. Deviam, segundo as minhas normas de boa educação, dizer: "Olha, portuguesinha, fulana X vem cá. Ou está cá em baixo. Vem dizer um olá. Vamos beber um chá, queres um também?".

Coisas assim. Normais.
Vocês não acham que isto é que é um comportamento normal? Educado, ao menos?

Eu tenho um palmo de testa... se percebo que querem ficar sozinhas na sala, não ia ficar ali a empatar. Quem empata são elas, que tomam o espaço para si, fechando a porta, já de si uma forma de fechar a entrada a terceiros. E quando te vêm chegar ficam a olhar para ti como se tivesses interrompido algo e a desejar que vás embora. Depois aparece o desenho no quadro a giz rabiscado...

É desnecessário.

Não existe convívio orgânico, paciência. Não vou morrer por isso, não vou embora daqui nem vou alterar o que tenho de bom. Vou continuar a dizer os bons dias e a perguntar como foram as suas férias (ninguém quis saber das minhas). Porque esse interesse é genuíno em mim. Não pretendo perder o que não está mal para ser perdido. Posso nao lhe dar o uso que esperava, mas não vai secar. Ao contrário: vou mostrar outra forma de reagir a uma situação e talvez esse exemplo seja seguido, talvez não, e prefiram ir rabiscar mais desenhos deixados por mim no quadro.

Porque vão estar rabiscos no quadro, sempre que me der vontade. Não vejo mal algum nisso.

Mas é factual e tem de se aprender a viver com as cartas que nos são dadas.
Podiam ser outras, podiam ser melhores mas também podiam ser bem piores.

Por mais que alguém nos diga que foram criados a convidar outros para partilharem as refeições à mesa, tem de se acreditar é no que se vê, não no que se ouve. Talvez tenham sido educados assim, esqueceram foi de estender o convite a não-italianos. Já os portugueses, foram criados a: " ♪ e se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente  ".

Esse alguém não tem de ser português.

" ♪ fica bem essa franqueza, fica bem. E o povo nunca a desmente ♪  ".
"♫   a alegria da pobreza, está na grande riqueza, de dar e ficar CONTENTE ♪  ".

Palavras tão certas.