Metereologia 24 h

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sábado, 24 de agosto de 2024

Japão e sua cultura mental

 

Não conheço o Japão mas é uma cultura que gostaria de presenciar no local desde que me conheço como gente, aos 11 anos de idade. 


Estava a ver no National Geographic um programa que conheço para lá de duas décadas: Mayday e Seconds to Disaster. Dois dos episódios desta semana foram sobre acidentes 
no Japão. Um de aviação e outro ferroviário. 

Dá para perceber que o Japão tem muita coisa para ser admirada. Até louvada. Mas o preço que as pessoas têm de pagar por isso também pode ser elevado. Uma exigência e cobrança constante, uma pressão que acompanha cada indivíduo a cada instante que respira, onde a sociedade e as empresas esperam perfeição exímia sempre, sem tolerância para erros por menores que sejam e imprevisibilidades. 

Não admira que no Japão a taxa de suicídio é muito elevada. Esta parte da sua cultura em que a perfeição tem de ser exibida, ou a pessoa perde o seu valor e mérito está muito enraizada. O kamikaze ou o Harakiri - provavelmente as palavras mais populares entre o reduzido conhecimento linguístico de um ocidental prova isso mesmo: o suicídio faz parte desse lado japonês de encarar a falha nas responsabilidades e mostrar ter honra. 

Não deixa de ser triste que, naqueles sentimentos de solidão, confusão, tristeza, negatividade, depressão... que todos nós temos, lá, no país do "sol vermelho" entre o sentir e o reagir ao extremo de por termo à própria vida, por vezes só se passem uns breves minutos. Ainda mais lamentável quando são as CRIANÇAS a população onde os actos de suicídio tem vindo a aumentar. Crianças em idade escolar, já a sentir os horrores da pressão, ainda a aprender a assimilar o que as rodeia e a lidar com as hormonas... é o grupo etário que mais precisa de orientação para descobrir como bem lidar com as contrariedades.

Dá vontade de ir lá dizer: escutem: todos nós passamos pelo mesmo. A vida é assim. Aguenta. Aguenta... que passa. Vais voltar a sorrir. Vais ver

Mas vamos aos acidentes:  

Fotografia real do avião acidentado aquando avistado em terra tendo problemas

O primeiro acidente remota ao ano 1985. No dia 12 de agosto o voo 123 da Japan Airlines (JAL) saiu de Toquio rumo a Osaka e ficou uns aterrorizantes 32 minutos no ar, em dificuldades. Sem os sistemas hidraulicos a responder, os pilotos fizeram um trabalho exemplar para manter a aeronave e os passageiros vivos, após duas explosões se fazerem sentir, 32 minutos antes. Mas nenhuma das suas técnicas e perícias pode evitar o acidente. O boing 747 foi perdendo altitude e chocou de frente contra uma montanha. 520 fatalidades. SURPREENDENTEMENTE, existiram QUATRO sobreviventes.


Aqui abro a minha boca e deixo cair o queixo de espanto. Jamais, em momento algum, poderia acreditar que alguém pudesse remotamente sobreviver àquilo. Devem ter sido projectadas do avião porque... quem ia dentro... nada era reconhecível. A nave ficou em montinhos de estilhaços. Que alguém tenha sobrevivido é... impossível. Milagroso. 

Tando o "Mayday" como o "segundos fatais" documentaram este acidente. Cada qual fornece um dado extra que foi omitido pelo outro, por isso vale a pena ver ambos. Para meu espanto, descobri no segundo que, após o acidente, existiam mais sobreviventes. Mas o tempo que levou os socorristas a chegar ao local foi-lhes fatal. Se não tivesse existido uma hipótese de terem chegado mais depressa ao local do ocorrido - tinha-se de aceitar esse destino. Mas a realidade é que um helicóptero americano ia para descer na zona dos destroços e nesse instante recebeu ordens para regressar à base. Até hoje ninguém assumiu ter dado essa ordem mas, a realidade é que autoridades japonesas proibiram o helicoptero "estrangeiro" de aterrar. E com isso, perdeu-se a oportunidade de salvar mais vidas. Alguns passageiros faleceram depois da embate, após muitas horas até chegar socorro.

Outra coisa que descobri no "segundos fatais" é que o gerente de manutenção cometeu suicídio. Não foi o único e suspeito terem existido mais em decorrência da tragédia. Procurando confirmar a veracidade dos fatos, uma pesquisa online revelou que em 1987 um dos três investigadores que deu o avião como seguro para voar após uma reparação na cauda feita em 1978 - que acabou sendo a causa do acidente - também se suicidou após regressar de um dos interrogatórios de averiguação de responsabilidades. Susumu Tajima tinha 57 então anos. Estando envolvido na reparação bem amadora feita no avião - diria que talvez tivesse responsabilidade sim. Embora eu ache o suicídio extremo, colocando-me na posição de alguém responsável por tantas fatalidades, ficaria muito abalada e me sentindo culpada. Mas teria de aceitar - me esforçar para isso. E tentar tirar algo de positivo de uma tragédia irreparável. 

O voo 123 da JAL foi acidente com o maior número de vítimas na história de acidentes envolvendo apenas uma aeronave. 

Foi também muito precioso para a segurança aeroportuária. Deste acidente implementaram-se medidas de segurança para que acidentes como este jamais se tornasse a repetir. 

Faz muito tempo que concluí que, coisas horríveis acontecem neste mundo, para que possamos aprender com elas. Se não fosse pelo mal, não existia o bem. Pode parecer indesejável mas, tudo tem dois lados e o equilíbrio só se alcança assim. Sem o mal, as pessoas esquecem rápido. Esquecem como ser cordiais, como deixar de olhar para o próprio umbigo, como deixar de ser tão ambiciosas para proveito próprio e aprendem a se melhorar como indivíduos. Nem todos reagimos igual nem ao mesmo tempo mas sim. Somos todos "fabricados" da mesma forma e, ainda que muito aceleradamente ou lentamente, o comodismo, o conforto, a boa vida faz-nos mais egoístas e menos generosos. Tem sido a maldade no mundo, a tragédia, que mais facilmente nos une. 

Não me vou extender tanto no segundo caso mas o acidente com um comboio teve causa nessa cultura "tradicional" japonesa. O condutor, um jovem de 23 anos, já tinha sido repreendido por uma falha. A companhia tinha (e ainda tem) um programa de "reabilitação" onde, quem comete uma falha, é imediatamente enviado. São dias ou meses de pura tortura psicológica. Ofensas e humilhações. Mas a companhia chama isso de "re-educação". Um dos funcionários que prestou depoimento, na faixa dos 40, contou que, por ter chegado 2 minutos atrasado a uma reunião, foi enviado para ser "reabilitado". Disse que quase desistiu, sofreu forte tortura psicológica. Entre algumas outras coisas, além de gritos e ordens, era forçado a escrever relatórios por horas, relatórios de "arrependimento" e a executar tarefas menores, como limpar cocó de pombo dos carris, com uma escova de mão. 

O condutor do comboio, jovem, que já tinha sido repreendido, durante a condução tinha já cometido um erro: passou um sinal vermelho. Cheio de medo da consequência, ele ficou nervoso e, em excesso de velocidade, parou abruptamente numa estação, tendo parado com 4 carruagens à frente. Certamente seria severamente punido por isso. Acabou por recuar o comboio para que as carruagens da frente pudessem liberar os passageiros e com isso perdeu quase dois minutos do seu horário. Para compensar, acelerou. No país onde és severamente punido por chegar 60 segundos com atraso - e onde todas as ligações têm apenas segundos de tempo para ser executadas - causando prejuízos avultados - a pontualidade torna-se um fardo pesado demais. Assustador e de temer - se implicar castigos psicológicos e físicos. 

Ele acelerou e, numa curva, acidentou-se. As primeiras quatro carruagens descarrilaram. A da frente enfiou-se numa garagem de um edifício, a segunda ficou esmagada em forma de "L" contra os alicerces, a terceira ficou revirada e a quarta saiu dos carris. 

Tudo isto porque... o Japão é um local especial. Diferente. Que tem tanta coisa admirável mas que esconde, por detrás de toda a sua eficácia, uma cultura ditadora de exigência extrema à qual o suicídio pode facilmente ser a opção tomada - e aceite pela população em geral. 


quarta-feira, 15 de junho de 2022

Fiz algo que não sou de fazer

 
Fiz algo que não sou de fazer. Arrependo-me e não me arrependo ao mesmo tempo


Estava na praia quando duas mulheres sentam-se por perto. Escuto a conversa das duas. Uma a dizer que não quer perder a sua massa muscular e que falou com a nutricionista e a outra a criticá-la sem parar:

-"Massa muscular! É gordura! Não fazes exercício. Tens de fazer exercício! Tens de pesar 60 quilos. Pesas 75. Só queres saber de estar ligada à tomada. Só queres é comer. A comida que escondes. Porque é que não dás uma caminhada? Depois quando tiveres um AVC vais para o hospital público e quando ficares imobilizada vais para aquelas instituições que acolhem pessoas. Depois dos 30 é ainda pior!"

Escutei aquilo porque a senhora falava bem alto. A rapariga - que fiquei então a saber que era uma jovem na casa dos 20, teve de escutar coisas horríveis. Coisas que não ajudam ninguém. 

Depois ouvi silêncio. E percebi que só a rapariga restou sentada na areia. A fungar do nariz e a passar o dedo debaixo do olho, tapado pelos óculos de sol. A engolir a seco e a olhar para o mar. Consegui sentir a sua tristeza a emanar até mim. 

Não ia para me meter. Mas acabei, passado um tempo, por me levantar e ir ter com ela. Disse-lhe que escutei a conversa e que cada pessoa tem o seu tipo de corpo. Não temos todos de ser magros. A magreza nem é melhor - disse. Contei que perdi peso o ano passado e fiquei horrível, parecia uma caveira. Ainda acrescentei que a minha irmã fez exercício a vida toda por ser instrutora de fitness. É mais forte do que eu, está bem mas não é magra. Não existe melhor exemplo. Desejei-lhe boa sorte. Pedi-lhe desculpas, mas achei que, por vezes, as palavras de um estranho podem ajudar. 

Ela disse pouco. Desabafou de forma aliviada estar a escutar aquilo a vida toda. E que tem de fazer algo porque tem um problema de saúde. 

Tudo bem que com esse problema de saúde - que vou supor ter a ver com o coração para a pessoa que estava com ela lhe dizer que vai ter um AVC (olhem a simpatia!!) implica melhor cuidados. Mas falar assim com uma pessoa não é construtivo. Quando será que as pessoas vão aprender a falar com as outras?

Se gostam e querem ajudar - NÃO É ESTE O CAMINHO.

Causar stress, ansiedade e tristeza - só faz a pessoa com problemas sentir-me PIOR. Deixar de acreditar em si, ver o futuro sombrio. Ela estava a chorar. Não estava a sorrir. Palavras derrotistas de crítica negativa constante, que nem uma metralhadora podem até contribuir para o suicídio. Ou outras loucuras. 

Meus pais também só sabem falar desta maneira. Cada vez que eles, ou outros, fosse qual fosse o tema, falam assim, eu acabava por ir à despensa. O conforto vinha da COMIDA. 

Quando fui viver para FORA, longe do criticismo negativo, pude ser eu mesma. Não tinha vontade de comer a toda a hora, principalmente depois de escutar palavras duras, injustas. 

Perdi volume em gordura, porque não havia ninguém à minha volta a insultar-me e a deixar-me triste. 

A rapariga pareceu-me bem. Fisicamente, achei-a linda. Nem era gorda. Talvez com um pouco de curvas - tal como eu também as tenho. Mas gorda, obesa, nem pensar! 

Porque será que não aceitam esta forma de corpo? O que tem de errado? É que não dá para mudar. A menos que se seja obscenamente rico para se andar em cirurgias plásticas destrutivas, que tiram osso, chupam gordura, colocam implantes. E para quê? Para ficar permanentemente a projectar uma imagem de que algo não está bem?

Duvido muito que a rapariga alguma vez chegue a pesar 60 quilos. É um absurdo que coloquem essas metas tão definidas. Cada caso é um caso e esse cálculo não passa de uma média criada numa tabela, que está em vigor hoje, mas amanhã pode mudar. Desde a adolescência que não peso 60 quilos. Duvido que volte a pesar, a menos que fique doente. Noutro dia, achando que rondava os 65, pesei-me no consultório médico e estava com 72 ou 75. Muito peso na balança, mas não me sinto gorda. Está certo, as calças que usei o ano passado por esta altura não apertam mais na cintura e isso por uns três dedos. Tenho barriga. E depois? Que mal há nisso??

Estou bem. Sinto-me bem. Tenho 1m60, peso 75 quilos. Fiz exames e os resultados foram todos bons. O bom colesterol compensa o mal colesterol. Fiz um despiste a um AVC - estou bem. Tenho um emprego fisicamente exigente e consigo executá-lo. Caminho horas e horas. Subo e desço rampas, escadarias. Fui para a praia as 7 da manhã e saí ao meio-dia. Passei horas a caminhar e outras duas a vergar a coluna a apanhar mais uma centena de conchas. (Oh Jesus! Será que estou a desenvolver outra mania? Tanta concha...). Dobrei-me centenas de vezes para apanhar cada conchinha que trouxe, e outras tantas para descartar outras. Dobrei-me novamente para lavar a areia de cada uma delas na ondulação do mar. Isso é PURO EXERCÍCIO.

Se tivesse de me baixar tantas vezes para apanhar algo no chão no trabalho, teria me custado imenso. Mas conchinhas coloridas, meio na areia meio na água... foi diversão. Exercício sem se dar por ele.

E porquê digo que me arrependi do que fiz?
Porque fui falar com a rapariga sem saber o que ia lhe dizer. Então acho que não falei como deve de ser. Se calhar só pareci uma intrometida. Faltou explicar ou acrescentar coisas. Quando lhe disse que minha irmã é parecida a ela - não quis que ficasse sem esperanças sobre o exercício físico. Acho minha irmã optima mas nunca será esguia - porque não é o tipo de corpo que ela tem. Contudo, ela não é esguia, mas também não é gorda. Ela não tem barriga - eu é que tenho. Ela é simplesmente mais larga e volumosa. Mais peito, mais anca. Mas não mais gordura. Nunca poderá ser colocada na "categoria" das magras porque não tem esse tipo. Cada pessoa tem um tipo e ainda bem! Porque a beleza está na variedade. 

Estavamos na praia, um lugar cheio de corpos de todos os feitios, e aquela senhora estava a exigir a uma jovem que fosse uma vara de palito. Ignorando a saúde que emanava dela, adivinhando-lhe um AVC por não fazer exercício. Também falhei por omitir que pessoas MAGRAS que fazem regularmente exercício TAMBÉM têm AVCs. Geralmente fatais. Mesmo com todos os cuidados com a alimentação, com o corpo. 

Esqueci também de dizer que, se ela tem problemas de coração, conheço outras mulheres que o têm e tudo o que lhes foi dito que talvez fosse difícil ou pudesse acontecer - não aconteceu. Inclusive serem mães e darem à luz. Mãe de gémeos! Mãe mais que uma vez - tudo mulheres a quem, na JUVENTUDE ou infância lhes foi dito por médicos que a maternidade seria improvável ou fatal. 

Nunca foi o meu caso. Nunca me disseram que não podia ter filhos por sofrer do coração ou outra patologia não relacionada com a fertilidade. No entanto não os tenho! Foram aquelas jovens mulheres com sopro no coração e sobreviventes de cancro - a quem foi dito que não os teriam que os tiveram. PRESUMIRAM que comigo não haveriam problemas. Afinal não sofro dessas patalogias. No entanto, não os tive. Elas os tiveram. PRESUMIRAM que comigo tudo correria de feição - por ser a mais bela, a mais formosa. Mas foram as outras, mais rechonchudinhas, menos bonitas de rosto - que estão casadas e com filhos. Minha irmã, larga e volumosa - é casada. Nada a ver... Nada a ver. 

Isto para dizer que a vida... ninguém sabe o que vai ser. 

Nem os médicos. É mais IMPORTANTE receber daqueles que nos cercam as palavras certas para nos deixar felizes, afecto, APOIO, do que ser infeliz a escutar aquela enxurrada de tragédias e calamidades - sempre atribuídas à postura da pessoa visada.  

Se a mulher que estava com esta jovem quisesse que ela cometesse suicídio - disse as palavras certas

Agora, se pretendia ajudar... não sabe como isso se faz. Tem de aprender. Porque não é SÓ A PESSOA que PRECISA de ajuda que tem de mudar. Os outros também.



terça-feira, 23 de junho de 2020

A dádida do suicídio

Parece que o actor Pedro Lima suicidou-se. E porque? As razoes so ele as sabe.  E talvez aqueles que lhe eram muito proximos.

Os media ja avancam com um motivo: problemas economicos. A reducao de um salario de 6000 euros mensais para metade. E ainda outro:  o receio de nao ver o seu contracto renovado.

Indiretamente dizem que e uma consequencia das mudancas sociais e economicas impostas pelo Covid.

Esta realidade nao o atingiu somente a ele,  mas toda a populacao mundial. Muitos outros tambem com familias grandes e ate a ganhar menos que 6000 ao mes.

Aquilo que devia te-lo feito resistir ao acto de cometer suicidio talvez tenha sido o que o afundou. Nao se sabe ao certo. Homens e mulheres pensam de forma diferente, por vezes. Os homens tendem a sentir que fracassam e sao imprestaveis se nao cumprirem com o papel de provedor economico.

Cinco filhos. Presumo que quem chega a esse número hoje em dia, o faz por escolha. Pelo menos alguma.

Cada um dos filhos devia ter sido uma razão para se agarrar à vida.  Devia ter-se lembrado do nascimento de cada um deles e como dai a diante se tornou aquele de quem aquela nova vida ia depender, por muito e muito tempo. A responsabilidade de os sustentar, que a mais ninguem cabe senao aos pais, devia ser a força motora para adiar o suicidio hoje e esperar pelo amanha. Por mais sombrio que se aviste o futuro imediato, por mais desesperante que seja o hoje, existe um amanhã.

E eu digo isto tendo estado tanta vez, nao digo a contemplar fazer o mesmo mas... a concluir que nao existe proposito algum e nada vale a pena. Estive assim há pouco tempo. Fui até o mar, para ver se ajudava a relativizar... naquele dia nada ajudou. Nem o oceano.

Mas o travesseiro me daria o dia de amanhã. E sabem que mais? Depois da tormenta(s) existe uma calmaria. É ai que se deve tomar folego e encontrar formas de nos fortalecer porque mais tormentas virão. É a propria definicao da vida.

E nao, esta nao e como nos filmes.

Mas sabem o que é preciso dizer sobre o suicídio? É preciso falar sobre a dádiva que um suicida deixa para a familia e amigos.

A Dávida que um suicida deixa para um filho é o receio deste vir a fazer o mesmo.


Se antes um filho nao pensava nesta eventualidade, vai passar a pensar. Vai passar a dominar o pensamento com frequencia. Começa-se a temer o futuro, a temer a vida adulta e os desafios pela frente. Será que os vao aguentar ou vao ser fracos e optar pela mesma accao do pai?

Esta eventualidade passa a ser uma sombra... uma espada em cima da cabeça.

Digamos que é uma forte mensagem, o ultimo gesto em vida de um pai. Um filho dificilmente fica a pensar: "oh, o ultimo acto do meu pai foi pedir a outras pessoas que cuidassem de mim. Ele gostava mesmo muito de mim e dos meus irmãos".

Nao. Os filhos, principalmente se forem crianças, vão é ficar a pensar que o pai não gostava deles o suficiente e escolheu abandoná-los.

A restante família vai ter um trabalhão para remover esta ultima impressão e para fazer os filhos acreditarem no muito amor do pai por eles.

O ultimo acto do pai nao foi a mensagem, foi o mergulho para a morte. Incutindo a outros a responsabilidade de serem estes a olhar pelo bem estar dos seus proprios filhos. Qual a probabilidade destes interpretarem o sucedido da primeira forma escrita em cima?

No meu entender, vao sentir que o pai os abandonou. Nao gostava deles o suficiente para com eles ficar.

O que estes vão receber de legado? O pai nao vai estar presente para os ver casar, para os abraçar, para dar umas palavras de conforto.  Nunca mais. Eliminou-se para sempre das suas vidas, torturando-os ainda por cima, com a sua presenca apenas numa novela na TV.

Vai ser preciso acompanhamento psicologico para os cinco filhos, a companheira, a ex esposa, a avó de 91 anos!!


Os amigos tambem vao ficar a pensar "o que é que eu podia ter feito para o resultado nao ser este?". Vao recriminar-se por um telefonema nao dado, por um convite para uma conversa que foi andiado...

O legado  de um suicida é sofrimento para os que o amavam.

Porquê ele o fez, ninguém sabe. Talvez nao se prenda com nada do que foi avançado. Talvez tenha sido um desgosto amoroso, tao avassalador e vergonhoso que o fez nao ver outra saida.

Talvez nunca tenha desejado o rumo que a sua vida tomou e por isso não foi forte o suficiente para lutar pelas suas escolhas: nunca teve seguro delas.

Os mais dados a teorias de conspiração ate podem avancar que se tratou de homicídio, qualquer um pode ter acedido ao telemovel do actor, enviado as mensagens e te-lo arremeçado de um lugar que todos sabiam que o ator gostava de frequentar cedinho pela manhã. Um plot muito novelesco.

O facto é que ele não está mais vivo e tudo indica que foi por decisao propria. Doença psicológica com um súbito pico? Sim, é possível.

Até sou da opinião de que a pessoa tem direito de fazer isso com a sua vida (eutanasia, por exemplo). Mas quando se tem outros, filhos pequenos em particular, que direito de o fazer te assiste?  Já nao es so tu. Um pedaco de ti gerou mais vidas. A tua vida ja nao é  só tua para ser tirada. Ela pertence também aos filhos. Eu não tenho filhos, é um dos motivos que, por vezes,  me deprime. Este futuro solitário, sem abracos ou beijos. Sem a palavra "mãe" ou "avó" alguma vez me virem a ser pronuciadas.

Cada qual tem uma cruz pesada para carregar. E se nas dão, é porque querem que a carreguemos. Ao menos espero que haja uma aprendizagem em cada solavanco que fui recebendo. Juro: estive bem perto do fim da corda há poucas semanas.

E não me julgo imune de cometer este acto. Sei que ninguém é melhor que ninguém.

Em pequena, num momento de tristeza profunda e sensação de que nada vai dar certo, percebi que algo conspira para nos derrubar. Isso me fez tomar uma posição: "nunca iam conseguir" fazer com que tirasse a minha propria vida. Acontecesse o que acontecesse, isso tornou-se a única coisa que nunca ia fazer, mais que não fosse por teimosia.

Por pior que as coisas ficassem, essa vitória não ia dar ao tinhoso.

Acho até que é por isso que tanta vez sou posta em prova. Há semanas, como sabem, estive bastante deprimida.  (senti-me arrasada com as mentiras criadas para me tirarem da casa, as difamações absurdas, a falsidade dos que me rodeiam e a vontade do senhorio em alinhar no esquema. É muita decepção, que eu não fiz por merecer. Isto,  aliado ao desgosto amoroso cujo amor ainda pulsava forte angustiando-me de desejo, o cancelamento do turno de trabalho que me fez relembrar a probabilidade elevada de deixar de receber turnos, o fracasso na busca de um novo lugar para morar, a solidão, a necessidade de uma palavra amiga (obrigada pelas vossas)). 


Pensei em fazer o meu testamento. Não foi a primeira vez.  Mas desta última, levei o impeto mesmo a serio. Encontrei um site a explicar o processo.

Ainda é algo que acho que convém fazer, por uma questão prática. Pelo que percebi quando a minha avó faleceu, a tua ultima vontade pode muito bem não ser levada em conta. Por isso deixar instrucoes do que fazer em caso de morte, parece-me sensato. Só isso. Afinal, porquê pensamos que só os ricos, com propriedades, é que tem de fazer testamento?

Se o ator tivesse seguro de vida, e temesse realmente nao ter dinheiro para viver, e achasse que todos iam lucrar financeiramente com a sua morte... mas nao conheco nenhum seguro de vida que englobe um suicidio. Ou se calhar até os há. Desconheço.

Também me passa pela cabeça a minha tia... que há três anos, por diferença de dias, perdeu o filho e dois netos no famoso incêndio em Pedrógão grande.

Como pode alguém suicidar-se quando outros perdem a vida de uma forma tão sem sentido e violenta?

Eles não pediram para morrer. Não foi uma escolha. Podiam e deviam cá estar hoje. A envelhecer, a fazer aniversários.

Pedro Lima deixou um aniversário semelhante aquele que os meus tios e restante família têm de atravessar: o aniversario da tragedia.

sábado, 21 de setembro de 2019

História trágica revela pensamento masculino


Escutei uma história da boca do próprio que a viveu. Sem querer entrar em pormenores, um homem contou-me que teve uma namorada que o traiu com o ex e ficou grávida pela altura dessa indiscrição. Por isso não sabiam quem era o pai. Ele cortou relações, não perdoa, porque deixa de poder confiar. Ela, que era veterinária, grávida, talvez com remorsos e arrependimento, certamente a sofrer e a ser julgada socialmente pela sua indiscrição, "decidiu" tomar tranquilizante para cavalo.

Quem já viu filmes suficientes sabe, até pela expressão, que é fatal.

Ele só soube que fim ela tomou anos depois. Imaginem só como os homens reagem. Corte radical. Desligou-se tão profundamente, que nem pensou que podia ser ele o pai. Não se interessou por essa parte. Ela fez o que fez, terminou! O que ia ser da vida dela já não lhe interessava. Mudou-se para longe e nunca mais ela ia saber dele.

De um instante para o outro esta mulher passou da pessoa mais amada por ela para um ser indiferente que não lhe dizia nada. Isso é brutal. Deve ter-lhe custado imenso, porque, para todos os efeitos, a culpa foi dela.

A dor foi tanta, que suicidou-se.

Fiquei com pena dela, e mais ainda quando ele contou que se veio a saber através da autópsia, que ela estava grávida de trigémios e os filhos eram dele.

Eu vi a vida desta mulher caso ela tivesse sobrevivido ao desgosto amoroso. Vi-a feliz, de vida recomposta com outro alguém, com três maravilhosas crianças criadas, que lhe davam muito orgulho.

Um coração partido e um amor que não perdoa e recusa-se a dialogar causa uma dor tremenda! Dá mesmo vontade de terminar com tudo. Mas há distância, parece uma atitude tão sem sentido, desnecessária, impulsiva.

Foi ele que perdeu. Perdeu a paternidade de três filhos com uma mulher que um dia amou. Mas não se lembrou ou não sentiu isso. Ela o traiu, logo, deixou de existir à face da terra.

Ela sentiu-se tão desesperada, que se matou.

Os homens conseguem demonstrar grande falta de empatia e frieza com as pessoas que dizem amar.
Sim traiu. E depois? Não sabe crescer a partir dessa experiência?
Ao longo da história sabe-se que o Homem tem uma tendência enorme para ser ele o traidor. E elas, para o perdoar. O contrário é algo assim tão inconcebível?

Ela é que decidiu matar-se, ela é que fez aquilo a ela mesma - disse-me. Não foi ele que a fez agir assim.

Não mesmo?
As nossas acções têm consequências na vida das outras pessoas. O nosso julgamento não deve ser baseado apenas na nossa indignação. O outro lado tem de ser escutado.

Lamentei. Três crianças podia ter sido uma bênção. Foram todos para a cova.
E este homem continuou a sua vida. Aparentemente a sobreviver a todo o tipo de abalo: morte de esposa, de namorada, noiva que desfaz compromisso à beira do altar...

E nunca teve filhos.
Acho que essa parte não é coincidência.
É Deus a querer fazer com que perceba que haviam duas coisas distintas na sua situação no passado e falhou com uma delas.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Yes


Queria sentar-me no topo então coloquei o pé em cima do degrau e tomei impulso. Fiquei com o rabo elevado e a cabeça para baixo. De imediato o meu olhar parou na única palavra ali grafitada: "Yes".

Devido à posição em que me encontrava, deduzi a razão que levou alguém a escrever ali a palavra. É que se está no alto a olhar para um precipício. O olhar só vê esse precipício. Ora, o que uma pessoa a olhar para um precipício pode temer ou pensar? 




Teme cair ou pensa em se atirar. E daí achar que aquele singelo "Yes" não tinha nado de inofensivo. Foi colocado estrategicamente para alimentar ideias suicidas. 


Mas uma vez sentada, esse pensamento desapareceu e a paisagem tomou conta. Foi no miradouro de Santa Luzia, em Lisboa, talvez também conhecido por Miradouro das Portas do Sol, devido à proximidade de um e outro. 




E vocês, o que acham que pode significar o yes?

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Say it to my face - Diz-mo na cara!


Lembram-se de um post que fiz sobre o suicídio? A ideia que nele quis passar é que ninguém está inocente de responsabilidade. É ao mesmo tempo um acto de coragem e de cobardia, cuja derradeira responsabilidade cabe ao autor, mas cuja causa também pode e deve ser dividida por todos os que cruzaram vidas com ele.


Volto a este tema depois de ver uma série de casos impressionantes de injustiça, todos com situações trágicas e mesmo fatais. 
Preocupa-me muito para onde a sociedade está a evoluir. O que vejo preocupa-me. Ao invés de estarmos a caminhar para entendimentos e ausência de equívocos, parece que os alimentamos. 


O BOATO

Este é o tema que hoje quero abordar.
Fui apresentada às consequências dele muito cedo. Ainda era criança quando espalharam mentiras terríveis a meu respeito. Como eu soube? Não soube, Durante muito tempo só senti. As pessoas mudaram a atitude delas comigo. Eu chegava perto para conversar, para brincar, e elas afastavam-se. Outras vezes olhavam-me e começavam aos segredinhos. A minha vida nunca mais foi a mesma. Acabei por me retrair um pouco. Vim a saber do que se tratava um ano e pouco mais tarde, quando um grupo de crianças fez-me uma "espera" para me encher de insultos e ameaças. Nunca fui covarde, ainda hoje não sei bem o que isso é. Pelo que fiquei ali a tentar esclarecer a situação porque nem estava a entender de onde vinha tudo aquilo. Já havia notado animosidade, má vontade, implicação. Mas não existindo razões para isso, relevei e achei que era mau feitio. Nessa espera onde estava tão em desvantagem numérica, triunfei. Quem não tem o que temer não treme de medo. Ouvi muitos absurdos, escutei ofensas e palavrões que até desconhecia. Até que uma revelou que estavam ali para acertar contas comigo por eu as ter denunciado de terem feito batota num teste. E queriam vingar-se. "Quem disse tal coisa?" - perguntei. "Não vamos dizer porque ele (já sabia o género) pediu para não dizermos porque tem medo que lhe batas". "Eu?! Isso é mentira!" "Não é não, que ele nos disse que já lhe bateste!" "Então se é verdade, ele que o diga na minha cara, quero ver se tem coragem!". Não teve. Meteu a cauda ainda mais entre as pernas e fugiu. 

Depois a turma de «linchamento» dispersou e foi então que comecei a escutar o motivo... Parece que eu tinha o que hoje se chama de stalker. Um rapaz obcecado que, não conseguindo os seus intentos de obter a minha atenção total e absoluta, decorreu à difamação do carácter e alienação de oportunidades de relacionamentos de amizade. 
Foi um caso destes que vi agora, entre adultos, mas adaptado aos tempos modernos. Dou «graças a deus» por ao menos a minha experiência ocorrer tão cedo que ainda não existiam estas modernidades da internet para facilitar a vida a estas pessoas que, pelos vistos, já nascem doentes ou começam a manifestar a doença em jovem idade. 

No caso que vi, a vítima era um homem adulto, trabalhador, com dois filhos, separado e noivo de uma jovem. Estava a ser difamado num site na internet. O que ele sentiu foi as pessoas a ficarem estranhas com ele, começou a perder clientes até que foi demitido. Demitido depois de uma catástrofe pessoal: a noiva foi assassinada. Os boatos insinuavam que ele podia ter alguma coisa a ver com a morte dela. (que maldade!!). Contaram que era drogado, que já havia estado em várias clínicas de reabilitação, que era um tarado sexual. Isto não se faz! Ainda que alguma coisa menos grave fosse verdade, não é necessariamente motivo para descriminação. Mas as pessoas engolirem estas tretas sobre um indivíduo local que conhecem há anos e do qual não têm razão de queixa é que me desilude tremendamente. Vá que existem casos assim, de indivíduos aparentemente bons que se descobrem perigosos. Mas geralmente esses são exageradamente amados por muitos e silenciosamente mal vistos por poucos. O que condeno é que não tenha existido uma alminha que se dignificasse a revelar ao senhor o que se estava a passar. Ele só veio a descobrir por ter sido destratado pela família da noiva durante o funeral.

Acabou por ter de se mudar para outra cidade, com os filhos. Ficou provado que o assassinato foi cometido pelo ex-marido, provavelmente irritado por a ex estar a construir a vida ao lado de outra pessoa. Portanto, este homem estava a viver uma tragédia pessoal tremenda e a ser bombardeado por todos os lados. E não sabia porquê! Ninguém lhe contou nada. A ele, que nunca fez mal a ninguém. Quem lhe desejava tanto mal? Mas a internet deixa pegadas...E num momento em que estava deprimido a contemplar o suicídio, acabou por encontrar um homem das leis disposto a lutar por justiça. Sozinho, este justiceiro solitário que fala na cara das pessoas lá descobriu os sites, investigou, conseguiu um IP e localizou o difamador: uma mulher cujo nome nem dizia nada à vítima! A psicopata (porque era) não se demoveu. Ela tinha razão. Tudo mentira, mas ela é que estava certa. Inventou que ele roçou nela e era um pervertido. Mas cá para mim ela estava obcecada por um homem que nunca lhe olhou duas vezes. E o resto é doença mental e muita, muita malícia e cobardia.


Infelizmente ao longo da vida senti mais vezes este tipo de atitudes de exclusão e mudança de comportamento que este homem à beira do suicídio também sentiu. A última vez foi à coisa de dois anos. Senti pessoas a olhar de lado, a poupar nas palavras, a mudar a atitude, até mesmo quem não me conhecia de todo a fugir e a mandar indirectas. Isto aconteceu depois de me ver alvo de uma animosidade sem fundamento num grupo no facebook. O que fiz? Na primeira oportunidade perguntei o que se passava. "Ah, nada, nada. Foi um engano, já percebi". Pois. Mas engano ou não, eu não percebi nada, o mal estava feito e perpetuado. Até hoje não sei a razão de alguns desses comportamentos que pontualmente ocorreram. E tem alturas em que a imaginação corre solta. Tem dias em que a lembrança atormenta, corrói. A intuição diz muita coisa mas não prova nada. Fica o tormento, a tortura de não saber. 

As pessoas que espalham vis mentiras são criminosas e reles como indivíduos, mas aquelas que vão atrás e escolhem acreditar não são melhores. Defendo que devia existir uma lei que responsabilizasse estas pessoas que agem discriminadamente com base em boatos. Mas têm o quê? Doze anos??

Era essa a idade que tinha no caso que relatei e ainda assim existiram pessoas, poucas mas boas, que vieram ter comigo para me transmitir apoio e contar da obsessão daquele indivíduo. "Parecia doente", "Não se calava", "Só sabia dizer que se ia vingar de ti". Mas hoje? Hoje ninguém diz nada na cara da outra pessoa. A não ser para insultar, claro. De preferência em matilha, tal como na «espera»... Ninguém a avisa, a alerta para uma situação injusta. Calam-se. Em conivência silenciosa. Já não se procura o esclarecimento e, principalmente, ninguém se rectifica. No meu caso, um ano depois, uma delas teve coragem e, inesperadamente, pediu-me desculpa, disse-me que há muito que vinha a desejar fazê-lo, que se arrependeu e percebeu que não devia ter feito o que fez. Não acreditava em nada. Até hoje interpreto isso como uma atitude digna e necessária.

Se amanhã cometer suicídio, quem garante a estas pessoas que uma parcela do que me levou a fazê-lo não reside nestas suas atitudes? É aqui que quero chegar


Impune ninguém está. Por isso peço a quem me lê que não compactue com intentos maliciosos como os boatos... Não descrimine ninguém. Não vire a cara. Por mais que simpatize com a pessoa que lhe conta os «podres», desconfie sempre, dê o benefício da dúvida. Confronte o acusado, ele merece estar a par do que lhe está a ser feito. Todas as pessoas merecem ser escutadas antes de descriminadas por atos de fundamento distorcido, descontextualizado ou que estão longe de ter cometido ou de vir a cometer. Telefone ou entre em contacto com alguém a quem deixou passar essa oportunidade. É para isso que estamos nesta vida!

E já agora. atenção ao espalhar de boatos cibernéticos via partilha de informação e likes. Quase tudo é falso e tem um propósito malicioso.


Character Assassination = Crime

quarta-feira, 23 de março de 2016

O suicídio

Quando era pequena li numa capa de revista a opinião de uma pessoa sobre o tema do suicídio.

Aquela frase pôs-me a pensar. Seria verdade? Ou seria mentira?
Sabia que ainda me faltava mais vida, e maturidade para compreender a fundo a questão mas isso não me coibiu de reflectir no assunto e procurar encontrar uma resposta. Pelo que até então tinha vivido, fiquei revoltada por alguém poder reduzir o que deveria ser um acto de desespero sofrido, numa acção de cobardia. Imaginei que quem o cometesse devesse precisar de muita determinação ou estar profundamente deprimido. Porque pensar, todos pensamos. Acho que não há quem não pense. Mas daí a fazê-lo? Onde fica a fronteira? 

Não acreditei que as pessoas fossem fracas. Não quis acreditar. Nem cobardes. Talvez até fosse precisa muita coragem. Achei que estariam a sofrer e esse intenso desespero as conduzia a uma decisão que, noutras circunstâncias, não tomariam.



Por outro lado, conseguia entender porquê alguém veja no acto uma atitude de cobardia. Afinal, estavam a desistir da vida. Desistiram de lutar, de contrariar os males que os assolavam. Os mesmos que assombram tantas outras pessoas que não desistem. 

Mas nem todos estão rodeados do mesmo tipo de ambiente, do mesmo tipo de pessoas - que poderá influenciar a decisão. Fiquei num impasse. Embora inclinasse mais para a defesa dos «fracos», como aliás, sempre faço.



Ainda hoje não sei bem o que pensar sobre este melindroso tema. Pessoalmente nunca conheci ninguém que tivesse cometido este ato. Conheço quem mate e quem se vá matando ao longo da vida... De outras formas, continuando a respirar, a comer, a acordar...  Mas não quem tenha a cobardia de o fazer fisicamente.

De suicidas só escutei histórias. Ora mais próximas, ora mais distantes. Um homem que perdeu um filho, um desconhecido que se atirou na linha do comboio, alguém que saltou pela janela ou de uma ponte. 


Contudo, a pesar da dúvida, duas coisas parecem-me claras. A primeira e a mais importante é que a responsabilidade é de TODOS e ao mesmo tempo, do indivíduo. E quando digo todos, digo mesmo todos... eu, tu, quem nunca o conheceu e quem lá na primeira-classe o chamou de gordo caixa de óculos ou quem apenas ontem esbarrou na rua com a pessoa e mandou-o olhar por onde anda,"ó palerma". Nós todos, como sociedade, temos uma parcela de responsabilidade. Porque bastaria um gesto, uma palavra, uma casualidade, e o desfecho podia ter sido outro. 

Ao mesmo tempo e no final de contas, não se pode carregar essa culpa sozinho. No derradeiro caso, a escolha foi do indivíduo. A decisão só ele a poderia tomar. 

Há coisas opostas que são possíveis ao mesmo tempo. Esta é uma delas. A responsabilidade é de todos e de ninguém. 


Mas aflige-me, por exemplo, a insensibilidade diante de uma notícia de um ato suicida. A primeira vez que isso me incomodou foi há uns 15 anos, quando uma figura conhecida optou por esse ato. Estava numa empresa onde apareceram umas pessoas que diziam tê-lo conhecido. E para meu espanto, começaram a dizer que ele era «esquisito» e «não se perdia grande coisa». Transformaram o assunto em comédia e até fizeram umas piadas. Não dei a transparecer o meu horror mas aquelas pessoas achei-as insensíveis e más.


Depois no ano seguinte ou quase, uma colega contou-me que tinha existido um suicida na linha de comboio e tratou o caso assim:


E por isto digo que somos todos coletivamente responsáveis. A indiferença ou o descaso contribui para tal. Acho que se não se tiver nada a dizer sobre o assunto, então que não se diga parvoíces. A pesar de tudo, sempre é uma vida. E a vida de desconhecidos não devia valer menos que a nossa. 

Concluí que jamais ia cometer esse ato. Porquê? Porque revoltei-me com a maldade em si. Parece que há quem torça pelas tragédias e as vai alimentando. Só para depois poder dizer: "eu conheci fulano! Que horror! Quem diria?" e depois levantarem mil razões que acham ter servido de motivo. "Oh, estava desempregado. Oh, estava doente! Oh, não batia bem da cabeça!".

Mas sabem uma coisa? Jamais podemos dizer «desta água não beberei». A vida é longa, sofrida e reserva dissabores - isso é garantido. Não há nada que nos distinga dos que cometeram suicídio. Qualquer um de nós pode ver-se numa situação ou num momento em que tal lhe passa pela cabeça e tem o impulso. Vindo este a ser infeliz/feliz e concretizar-se. Mas também pode dar-se uma hesitação e o acto não se concretizar.

Ainda bem que este não é um país de cidadãos extremamente armados ou muitos encontrariam uma via rápida num momento de aflição.

Já escrevi demais.
O que pensam deste assunto? Já reflectiram nele?
Viveram de perto esta realidade?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Mergulho do 21º


A morte de uma menina de 5 anos de origem chinesa, vítima de uma queda de um 21º andar enquanto estava em casa sem qualquer supervisão traz novamente à baila o tema dos comportamentos parentais em diferentes culturas. 

A última vez que um assunto destes foi fortemente debatido ocorreu quando Maddie e seus ainda mais jovens irmãos foram deixados sós num hotel enquanto os pais foram jantar fora. Mesmo tendo a possibilidade de contratar os serviços de uma ama/babysitter, que o hotel providenciava, os pais, habituados, fecharam a porta deixando-os sozinhos. TRÊS crianças, entregues a elas mesmas, por algumas horas. Horas essas que se verificaram catastróficas. Maddie desapareceu e ninguém viu ou sabe o que lhe aconteceu até hoje. Excepto quem lhe fez mal.


Em 2014, outra catástrofe: uma menina de 13 anos, portuguesa, morre num incêndio em casa, mas não antes de retirar todos os seus 7 irmãos lá de dentro. Os pais haviam-nos deixados sozinhos e saído de casa durante a madrugada, oficialmente para "comprar tabaco". Mas como eram alcoólatras e toxicodependentes, o mais provável é que tivessem ido arranjar meios para sustentar os vícios. Chegou-se a pensar no que terá levado a menina a regressar às chamas após ter retirado todos os seus irmãos. A hipótese de suicídio foi fortemente falada. 

O problema destas notícias é que a Comunicação Social sabe comunicar as catástrofes, levantar mil cenários hipotéticos mas esquece-se de relatar as conclusões. Pelo que se as há, até hoje não se lembraram de as divulgar. Pelo menos não encontrei nenhuma notícia que indicasse o que causou o incêndio, o que aconteceu a esses pais criminalmente e o que explicaria a atitude da menina de voltar a entrar na casa para se enroscar no cobertor e deitar-se na cama. 

Segundo a lei portuguesa, ocorre a situação passível de crime a quem "colocar em perigo a vida de outra pessoa expondo-a em lugar que a sujeite a uma situação de que ela, só por si, não possa defender-se; ou abandonando-a sem defesa, em razão de idade, deficiência física ou doença, sempre que ao agente coubesse o dever de a guardar, vigiar ou assistir;" .


E foi exatamente isto que aconteceu, no caso de Maddie, da menina chinesa e da menina de 13 anos que retirou os irmãos de um incêndio. Foram deixados sozinhos. Se isso é natural na China e no UK, por cá é totalmente anormal. Ao que tudo indica, os pais de Maddie e os pais da menina Chinesa (que devem estar a sofrer horrores) eram pessoas abastadas, pelo menos. Se não mesmo bem formadas, estudadas. Ninguém mora no 21º andar de um dos prédios mais caros de Lisboa sem ter um forte poder económico. Pelo que não foi por falta de recursos - como aconteceu no caso fatídico português, que não lhes foi possível escolher manter sobre supervisão de um adulto uma criança menor de seis anos de idade.   

Em qualquer dos casos uma pessoa às tantas interroga-se: Terá sido acidente por negligência ou terá sido intencional?
Fica sempre a dúvida.


quinta-feira, 11 de março de 2010

Bullying na escola - morte no rio

O suicídio do menino de 12 anos no rio Tua devido ao bulling sofrido na escola tem muito que se lhe diga. Leando, que era o seu nome, devia ser o rosto icónico deste "cancro" nojento que se espalha por todo o lado na sociedade. O bulling que o vitimou, existe por toda a parte. E não são só as crianças que o sofrem ou o fazem. Infelismente, se alguém disesse a Leandro que, ao crescer, ao abandonar a escola e ao se tornar adulto, as coisas iam ser diferentes, estaria a mentir. O menino não aguentou. Não viu motivos para continuar a viver assim. Num impulso que é compreensível de entender dadas as circunstâncias, foi directo ao rio e escolheu a horrível morte por afogamento.


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Que não passe em vão. Que obrigue à reflexão, há mudança de comportamentos. Todos aqueles - crianças e adultos, que maltratam terceiros, deviam sentir que contribuiram para este desfexo. Quem se relacciona com os outros usando palavras que funcionam como punhais, e gestos "inocentes" que, na realidade são agressões, deve sentir-se muito mal com a morte deste menino. Porque, se estivessem lá, se fossem os colegas de escola de Leandro, seriam aqueles que o agrediram, não seria diferente. Portanto, VERGONHA! Vergonha a todos que praticam bulling! Criaturas infelizes, de mau carácter, que não têm a nobreza e a pureza de alma daqueles que, como Leandro, não tinham em si para ripostar.

Triste sociedade que, de tantas mudanças em prol da liberdade e respeito pelas diferenças, tornou-se permissiva. Jovens e crianças sem uma boa horientação educacional e adultos responsáveis e em posições de responsabilidade, que viram a cabeça para o lado, sem entender que crime é crime, não importa se é ou não cada vez mais comum...
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Esses colegas de escola de Leandro deviam ser chamados à atenção e carregar o caixão do menino até à campa, ainda que simbólicamente, ainda que não se encontre o seu corpo, para nunca mais esquecerem que as nossas acções têm consequências.