cronologia dos autores

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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

VIAGENS NA MINHA TERRA (1846): o desgosto burguês e a pureza do povo

«Assim o povo, que tem sempre melhor gosto e mais puro do que essa escuma descorada que anda ao de cima das populações, e que se chama a si mesma por excelência a Sociedade, os seus passeios favoritos são a Madre de Deus e o Beato e Xabregas e Marvila e as hortas de Chelas. A um lado, a imensa majestade do Tejo em sua maior extensão e poder, que ali mais parece um pequeno mar mediterrâneo; do outro, a frescura das hortas e a sombra das árvores, palácios, mosteiros, sítios consagrados todos a recordações grandes ou queridas. Que outra saída tem Lisboa que se compare em beleza com esta? Tirado Belém, nenhuma. E ainda assim, Belém é mais árido.»

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra (1846)

Desgosto por desagrado e por estética também. O povo é são, a burguesia (e quem a apoiar) é escumalha. O povo não está degradado, a burguesia (e quem a apoiar) é degradada por natureza: veja-se o sentido de harmonia desse mesmo povo, sobre quem as excelências cavalgam ou pisam.

É bonito? É... É falso? É pelo menos forçado; mas em estética tudo se permite.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

3 fragmentos de A BOCA DA ESFINGE (1924), de Eduardo Frias e Ferreira de Castro

1. «Ele falava lentamente, tristemente, como se falasse de mortos muitos queridos.» A repetição do advérbio de modo, muito comum em Ferreira de Castro neste primeiro período da sua vida literária, persistindo ocasionalmente depois.

2. «Berenice continuava silenciosa: -- quase abstracta: -- os olhos pousados sobre o largo cais: -- esse cais que o sol crepuscular ia empalidecendo: -- e onde uma multidão invejosa ou saudosa dos que partiam, aguardava que o vapor levantasse ferro.» A luz, sempre a luz; e uma alusão aos que ficam no cais, vendo os outros partir, com desenvolvimentos em Emigrantes, quatro anos mais tarde.

3. «E como a corroborar as últimas palavras da mulher, um criado passou pelo convés agitando uma grande campainha: -- miniatura de sino dobrando tristeza: -- avisando aos estranhos que estavam a bordo, que deviam abandonar o navio, porque este ia partir.» Uma extraordinária comparação da campainha do criado no convés, avisando as pessoas para se separarem -- os que vão e os que ficam (por quanto tempo?...) -- com um dobre a finados.




(do capítulo I da 1.ª parte; Lisboa, Livrarias Aillaud e Bertrand, pp. 17-23)

domingo, 12 de janeiro de 2020

Camilo Castelo Branco, AMOR DE PERDIÇÃO (1862)

«Antes de entrar na avoenga liteira de seu marido, perguntou, com a mais refalsada seriedade, se não haveria risco de ir dentro daquela antiguidade. »

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Coelho Neto, A CAPITAL FEDERAL (1893)

«Para estar de acordo com o horário dos trens devíamos chegar às oito horas e alguns minutos à estação, e estou certo de que assim teria acontecido se não fosse o folgado e paciente atraso de duas horas e meia, que tivemos de aturar dentro dos compridos wagons de primeira classe, nada inferiores ao cárcere duro. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Machado de Assis, DOM CASMURRO (1904)

«Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu.» 

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Eça de Queirós, A CIDADE E AS SERRAS (póst., 1901)

«Na estrada de Orléans, numa noite agreste, o eixo da berlinda em que jornadeavam partiu, e o nédio senhor, a delicada senhora da casa da Avelã, o menino, marcharam três horas na chuva e na lama do exílio até uma aldeia, onde, depois de baterem como mendigos a portas mudas, dormiram nos bancos de uma taberna.» 

domingo, 2 de dezembro de 2018

Ferreira de Castro, A TEMPESTADE (1940)


«Um vaporzito, com graciosidade de gaivota e calentura de forno, largou de ao pé da Kars-en-Nil e, apitando aqui e ali, que o tráfego fluvial era grande em frente da cidade, começou a subir o rio sagrado.» do «Pórtico»