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quinta-feira, 21 de março de 2013

Chegou a prima, a prima Vera!


Árvore de frutos

Cheiras a cajú da minha infância
E tens a cor de barro vermelho molhado
De antigamente;
Há sabor a manga a escorrer-te na boca
E dureza de maboque a soltar-te nos seios,

Misturo-te com a terra vermelha
E com as noites
De histórias antigas
Ouvidas há muito.

No teu corpo
Sons antigos dos batuques à minha porta,
Com que me provocas,
Enchem-me o cérebro de fogo incontido.

Amor és sonho feito carne
Do meu bairro antigo do musseque!


sábado, 4 de fevereiro de 2012

4 de Fevereiro: evocação

Ainda que Angola, actualmente, sofra um desvio no curso da História, hoje celebra-se uma das datas mais importantes da sua existência enquanto país independente: o início da luta armada pela obtenção dessa mesma independência.
Recordo-a com um poema de um dos seus mais ilustres poetas, Mário António. Em que se aborda um dos vários grandes factores económicos do país, o turismo.
Outro poema, “Poema da Farra”, na voz de Ruy Mingas, pode ser ouvido aqui.


Turismo


Jovens muílas dançam
Batem que batem as palmas.
Em breves cantos lançam
Até nós, suas almas.


Vibram ingenuamente
Missangas nos pés delas.
Para trás, para frente:
São todas ágeis, belas.


Brilham nas suas tranças
Ataches de latão.
Belas, negras esperanças
Quem vai dizer que não?


Jovens muílas dançam
estendendo as palmas.
Nelas, turistas lançam
tostões às suas almas.



terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Quando "os homens ficaram mais sós"


Um dos mais carismáticos leaders africanos, como Nkrumah, Mandela, Neto ou Cabral, ficará na História como um símbolo da luta contra o colonialismo, da Liberdade e da assunção da dignidade dos povos. “Coisa” que as “democracias” ocidentais não toleram nunca.
Faz hoje 52 anos que foi vilmente assassinado, na sequência de um golpe de estado que derrubou o governo  do pais recém-independente que há poucas semanas chefiava.
Recordar Patrice Lumumba é lutar pelos seus ideais. Que estão, ainda, por cumprir. É condenar o colonialismo, o racismo e qualquer outra forma de injustiça. É desejar que África deixe de ser um continente adiado.

“Nenhuma brutalidade, maltrato ou tortura me dobrou, porque prefiro morrer com a cabeça erguida, com a fé inquebrantável e uma profunda confiança no meu país, a viver submetido e pisando princípios sagrados. Um dia a história julgar-nos-á, mas não será a história segundo Bruxelas, Paris, Washington ou a ONU, mas a dos países emancipados do colonialismo e seus fantoches”, escreveu ele numa carta à sua mulher, pouco antes de morrer.


Em memória de Patrice Lumumba

Quando partiste,
pela noite fora os tambores
não cessaram de chorar.

No mais fundo da floresta
o leão calou seu rugido
os arbustos perderam seu verde
e no corpo em mágoa da terra africana
fizeram-se as lágrimas um afluente do congo.

Em cada som de África
veio o eco de um pranto…

e enquanto tambores choravam
teu corpo em ácido se diluía
na morte mais sem rasto.

Era a vingança que chegava
pelo braço de Tshombé:
a vingança da Union Minière
de olho no cobre do Congo
de olho no urânio do Congo.

Era a vingança que chegava
na vileza de Munongo:
a vingança dos trusts acuados
dos sequiosos abutres da finança
de olho no cadáver do Congo.

Quando partiste,
pela noite fora os tambores
não cessaram de chorar.

E em cada som de África
veio um eco chorando Lumumba
chorou o pássaro e chorou a fera
chorou a nuvem e chorou o vento
chorou a seiva nos imbondeiros
o fruto acalentado que não vingou.

Porque quando partiste
os homens ficaram mais sós.


Jofre Rocha (Janeiro, 1967)

domingo, 15 de janeiro de 2012

Luther King nasceu há 83 anos





King, Martin Luther


(in memoriam)


Tua voz desliza como um pássaro aberto na lâmina do dia
ilha que se levanta e voa a partir do sol
lamento gritado da floresta por sua gazela perdida
choro grande do vento nas montanhas
ao nascimento de um escravo mais na história do vale


Tua voz vem de dentro da cidade
de todas as ruas de todos os bairros e leitos da cidade onde houver um calor de pernas
contar o silêncio das horas guardadas a soco no sarilho dos ventres
com um jazz-man a assobiar na escuridão dos pares
a memória ácida dos chicotes
nos porões do mundo

David Mestre (poeta angolano)





quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Viagem em torno de ti

Amo o cais e as estações
porque delas se parte.
Amo partir
e todos os dias regresso a ti
e te procuro na hora lenta
dos passos perdidos
nesse cais
em que te deixei,
sonho tatuado
a bordo de um navio encalhado
no peito de um marinheiro
que jamais partiu.


Manuel dos Santos Lima

sábado, 19 de novembro de 2011

No "Penedo da Saudade", em Coimbra





Aqui, neste Penedo da Saudade,
eu vim embalsamar o coração,
porque, já morta a fé, morta a ilusão,
envolve-se de luto a realidade.


E, dentro do meu corpo feito grade,
minh'alma presa escuta a oração
do poeta da eterna solidão,
na voz deste silêncio que me invade.


Meu coração, repousa em terra santa,
em cada flor, em cada pedra, em cada
recanto onde a poesia nos encanta...


E sepulta contigo o teu segredo.
Já foste carne e sangue; agora és nada,
agora és a saudade dum penedo...


Geraldo Bessa Victor (poeta angolano)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

De versões poéticas

Este poema, inicialmente atribuído a Bertolt Brecht, terá sido escrito por um pastor luterano chamado Niemoller. Mas nestas coisas de poesia há sempre outras versões, outros poetas que glosam o mesmo tema, como, por exemplo, o famoso "Descalça vai para a fonte", do grande Luís Vaz glosado por Francisco Rodrigues Lobo.
Isto para dizer que o Senhor Silva tem uma versão deste poema que se segue. Se o quiserem ler basta clicar aqui, onde Samuel nos faz o favor de divulgar.


Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo,
Em seguida levaram alguns operários,
mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário,
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista,
logo a seguir chegou a vez 
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

No 36º aniversário da independência de Angola


O Pensador
A mais famosa e uma das mais belas estatuetas angolanas. De origem chokwe (povo do leste do país), é uma referência e um símbolo da cultura angolana. Representa um idoso, homem ou mulher, que personifica a sabedoria e o conhecimento da vida.
Esculpida geralmente em madeira, é agora uma popular peça de artesanato. Como o Zé Povinho em Portugal ou John Bull na Inglaterra.
Sobre ela aqui fica um poema de Henrique Abranches:


ao artista desconhecido, autor da 
mais conhecida escultura angolana



Ela está sentada, 
a Mãe-Pensador.
Está cuidadosamente sentada
entre a vida e a morte
para lá de toda a gente.
Ela está sentada, 
a Mãe-Genitor,
sobre o seu andor.
Mas não como a Senhora dos ausentes.
Nem como a virgem dos doentes,
Nem como a Nossa Senhora das Dores.
Ela não tem nada
a Mãe-Pensador.
Não tem morte
nem vida
nem Sul
nem Norte
nem cima 
nem baixo,
nem cor...
nem dó.

A Mãe-Pensador é nós,
na nossa mente.
Ela é nossa longa consciência.
Ea não tem senão um velho pó
como palavras justas em roda duma oval.
Ela não tem senão a força
e toda a ciência
da sua oval talhada
num pedaço de ideia universal.

Sem contrair nenhum nervo,
sem pronunciar uma palavra
sem alargar o nó do seu dorso
ela é cereal na nossa lavra,
ela é uma luz no nosso acervo.
Ela é nós, sem qualquer esforço.

Mãe-Pensador serena e nua
entre a morte eterna
e a vida imoral
tiradas um pouco a toda a gente
como um tributo à flor habitual
que fica entre o Sol e a Lua
eternamente...

Ela está enrodilhada
em volta do seu nó
dentro do qual desfila em parada
toda a nossa miséria militante,
como num outro gueto, onde vive um povo
sem Galileia nem Jericó
entre a paz e a guerra
entre Cassinga e Soweto,
nervoso e hesitante,
mas não só.

Ela está sentada num tronco de pau-preto
num taco de pau-terra
com profundas ra´zes na nossa mente.
E é como o fluxo sincrético
que vem pelo tempo fora
repensando o Povo
ao longo de um milénio,
mestiçando de novo
a consciência de agora,
irredutivelmente.

Ela está sentada no seu génio hieráctico
sentada no seu modo diacrónico,
a porta do seu túmulo transparente.
ela geme imperceptivelmente
o seu gemido rouco e desarmónico
que soa em nós por dentro e por fora
num cântico diatónico.

Ela não tem sombra
a Mãe-Pensador.
Ela não tem bafo
nem sangue nem suor.
Ela é sombra
ela é o bafo
ela é o amor...

A Mãe-Pensador não está de pé.
Cotovelos assentando nos joelhos
olhos serrados em grão de café,
está sentada meticulosamente
escutando tudo
olhando toda a gente,
básica e serena como ela é,
vendo tudo detalhadamente.

Mãe-Pensador
mudamente ambigua...
Tua cabeça pensa adormecida
o Ser e Não ser da nossa vida,
e murmura num gemido ritual
o som de tão perigosa vizinhança,
dessa misteriosa condição contígua
da derrota que precede a vitória da esperança.
E o som gemido, rouco e atonal
como a fórmula básica dum singular perito,
sonoriza a rigorosa oval
onde se debate o nó do conflito
que germina uma formosa ideia.
E as equações da morte e da Vida
vão do princípio ao fim do infinito
abraçadas entre as trevas e a luz
tecendo a nossa teia.

O teu cérebro antiquíssimo regista
essa unidade vagarosa, imemorial
que se cria pela História a perder de vista
e nela serpenteia.

A voz murmurada do cântico expontâneo
que exala da terra e se reproduz
pelas chanas arrasadas do Mussende
como prece pagã que repercute
no céu da catedral dum velho crâneo,
ressoa ainda uma cantata em ut,
rodopia ainda uma dança em redondo,
que foram missa negra em ditirambo
na belicosa véspera de Kalendende,
na aurora sangrenta de Angoleme Akitambo
no raiar da vitória do Kifangondo.

ela olha e vê
do seu toco de pau-tempo
a marcha saturnal de tanta gente
corrompendo a esperança,
activando os medos,
gargalhando as suas risadas soturnas
palavreando os seus discursos loucos.

Os olhos apagados como estrelas diurnas,
ela olha e vê pelos seus longos dedos,
ela olha e vê paulatinamente
toda aquela gente
a morrer aos poucos.

Com seu sorriso de estrela reservada
a Mãe-Pensador olha e vê,
os nomes que sobraram na história da coragem,
que não morrem aos poucos, nem tão pouco
doutra maneira mais sofisticada.

Ela olha e vê do cimo do seu toco
seus antigos companheiros de viagem:
o Príncipe Ilunga - que recusou a guerra - 
e a formosíssima Princesa Lweji,
amarem-se na paz e no calor da terra
de uma outra Chana de Lwameji
onde as begónias se cruzam com os fetos
mestiçando a flora.

Ela olha e vê
pelo tempo fora,
o cortejo de filhos e de netos
dos filhos dos netos dos bisnetos,
habitarem cada campo e cada canto
desta pátria que foi mundo novo.

E a Mãe-Pensador
como quem cisma,
sorri então todo o seu espanto
e goza de olhos postos em si mesma
a formidável linhagem, do seu Povo.



sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Requiem para um homem de paz

tangencialmente assim
na ambivalência das distâncias

o silêncio dos mortos
odes rasgadas no fundo
do mais fundo tempo
nos jardins das cruzes
plantadas sobre silêncio

e há-de vir em coro
cantado tocado e chorado
rompendo por sobre nuvens
de fumos e álcoois vaporosos
e há-de ser ouvido

o silêncio dos mortos
vindos da latitude longe
e o rasgar silvante
de ponta em aço e fogo
há-de ser entendido

só então se atingirá
luther king morto pela paz
das armas disparadas
silêncio da carne apodrecendo
mas de voz perpetuada

e os outros também dirão
da história de corpos anónimos
- tangencialmente assim
na ambivalência das distâncias
gente mártir da liberdade

o silêncio dos mortos
cantados tocados dançados
ritmos de protesto
tintos de sangue derramado
nas pontas das baionetas

e no ínterim dos carros patrulhando
por entre os tanques enfileirados
e gases e fogos ateados
o silêncio dos mortos
como aleluia de paz

até nas noites das buates
no remanso dos teatros
em tudo que será festa
o silêncio dos mortos
no aço em fogo da metralha.

Ruy Burity da Silva (poeta angolano)

sábado, 17 de setembro de 2011

Agostinho Neto, por Mário Viegas

Apesar de tudo, não é mau de todo ter duas pátrias. Portanto, aí estão dois valorosos compatriotas meus. Um a ler um poema de outro.
Um muito obrigado aos dois. Só porque nos fazem sentir grandes.


Não me peças sorrisos

Não me exijas glórias
que ainda transpiro
os ais
dos feridos nas batalhas

Não me exijas glórias
que eu sou o soldado desconhecido
da Humanidade

As honras cabem aos generais

A minha glória
é tudo o que padeço
e que sofri
os meus sorrisos
tudo o que chorei

Nem sorrisos nem glória

Apenas um rosto duro
de quem constrói a estrada
por que há-de caminhar
pedra após pedra
em terrreno difícil

Um rosto triste
pelo tanto esforço perdido
- o esforço dos tenazes que se cansam
à tarde
depois do trabalho

Uma cabeça sem louros
porque não me encontro por ora
no catálogo das glórias humanas

Não me descobri na vida
e selvas desbravadas
escondem os caminhos
por que hei-de passar

Mas hei-de encontrá-los
e segui-los
seja qual for o preço

Então
num novo catálogo
mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira

E terei para ti
os sorrisos que me pedes.

                                                   (1949)




Hoje, aniversário do nascimento de António Agostinho Neto, comemora-se, em Angola, o Dia do Herói Nacional.

sábado, 23 de julho de 2011

É PRECISO AGIR

Primeiro levaram os comunistas
Mas não me importei com isso
Eu não era comunista

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os sindicalistas
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou sindicalista

Depois agarraram uns sacerdotes
Mas como não sou religioso
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.


Bertolt Brecht

domingo, 3 de julho de 2011

Na morte de Yashin

Morreu Yashin,
o aranha-negra,
e suas defesas tentaculares,
aquele mágico uniforme escuro,
jamais o veremos.
O guardião-mor das balizas do mundo
o que irá proteger agora, lá no céu
(o lugar
de todos os artistas),
com o seu peito imenso
e suas garras de aço
(como um urso pachorrento)?

João Melo (poeta angolano)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

José Fontinhas

Sentimos a falta do Álvaro, como Saramago escreve no texto que linquei no post anterior.
Entretanto, o meu amigo Agostinho, numa resposta no seu blogue, movida com aquela paciência que lhe admiro, talvez por ser dela desprovido, cita outro português grande, cuja falta também sentimos. Não o nego.
Mas há ainda um outro, que nos deixou faz hoje também 6 anos, do qual a falta é também dolorosa.
Ele cantava assim:

Frente a frente

Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.


Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!

domingo, 5 de junho de 2011

Eis-me navegador

Eis-me navegador. Um sonho abarco.
A vida é mar, a vida é toda um mar.
E quem tem alma e sabe o que é sonhar
- há-de lançar às águas o seu barco.


Heróis – Fernão, Colombo, Gama, Zarco!
mistério, assombro, - a vaga, a noite, o luar,
o espaço, o vento, a chuva, a nuvem, o ar…
- adonde a calma, o rumo, o porto, o marco? –


Mas uma força interna me estimula
para que eu vença a onda e o vendaval.
Tanto mais quando o vento brame, ulula


e o mar ameaça abrir o hiante seio
eu tenho a fé e o sonho de Cabral
em busca do Brasil do meu anseio!

Geraldo Bessa Victor  (poeta angolano)

domingo, 1 de maio de 2011

Se fizermos de Maio a nossa lança, teremos...

O Futuro

Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente.


Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente.


Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.


O que é preciso é termos confiança
se fizermos de Maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai


 Ary dos santos

quarta-feira, 23 de março de 2011

O pai

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.


Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.


Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.


Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.


Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.


O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.


Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...


E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.

Pablo Neruda

terça-feira, 1 de março de 2011

Metapoema

DESTEMPERO

Um poema cru
poema sem tempero
poema cruel
reflexo da vida
vida crua
destemperada
vida cruel
cruel como o poema
sem tempero consumido
de vidas consumidas.




Este poema foi escrito logo depois do poeta ter lido o "Confissão", de Alda Lara.
Mas, segundo alguns critérios, não é bem um metapoema. É o próprio autor, Jorge Willian, que levanta a questão que só pode ser debatida por especialistas. Que se pronunciem, pois seria uma discussão fascinante.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Até se revoltarem os escravos

Até se revoltarem os escravos.
Até se revoltarem as comportas.
Até sismos divinos, roncos cavos
Da terra inquieta sob as pedras mortas
Sacudirem a nossa quietação.
Até que luas doidas sobre o mar
Sejam sinal da Alucinação.
Até se extinguir a gentileza
Que mais que nos liberta, nos corrompe.
Até sermos capazes de amar,
Até sermos capazes de morrer.


Mário António (poeta angolano)