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sexta-feira, 27 de abril de 2012

ser, parecer



"Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida

Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos."

Mia Couto

domingo, 22 de abril de 2012

lembrança alada


"Em alguma vida fui ave.

Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante.

E sinto em meus pés
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.

Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo de brancura.

Vivo a golpes
com coração de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra."

Mia Couto

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011



quinta-feira, 29 de setembro de 2011

cores de parto



"O que eu vi,
à nascença, foi o céu.

No rasgão da retina,
a desatada luz: o meu segundo oceano.

Aprendi a ser cego
antes de, em linha e cor,
o mundo se revelar.

O que depois vi,
ainda sem saber que via,
foram as mãos.

Parteiros gestos
me ensinaram quanto,
das mãos,
a vida inteira vamos nascendo.

As mãos foram,
assim, o meu segundo ventre.

Luz e mãos
moldaram a impossível fronteira
entre oceano e ventre.

Luz e mãos
me consolaram
da incurável solidão de ter nascido."

Mia Couto

domingo, 28 de agosto de 2011

flores



"Ninguém
oferece flores.

A flor,
em sua fugaz existência,
já é oferenda.

TALVEZ, ALGUÉM,
DE AMOR,
SE OFEREÇA EM FLOR.

Mas só a semente
oferece flores."

Mia Couto

segunda-feira, 8 de agosto de 2011



"A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença:
é preciso entrar e sair dela,
afastar os que nos querem consolar,
aceitar pêsames por uma porção da alma
que nem chegou a falecer."

Mia Couto

sexta-feira, 22 de julho de 2011



" E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer".

Mia Couto

terça-feira, 17 de maio de 2011



O menino que escrevia versos

" De que vale ter voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei? "

Mia Couto - O Fio das Missangas


" A vida é demasiado preciosa
para ser esbanjada
num mundo desENCANTADO."

Mia Couto

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Meia culpa, meia própria culpa


" A missanga, todas a vêem.
Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as missangas.
Também assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo."

(…) Nunca quis. Nem muito, nem parte. Nunca fui eu, nem dona, nem senhora. Sempre fiquei entre o meio e a metade. Nunca passei de meios caminhos, meios desejos, meia saudade. Daí o meu nome: Maria Metade.

Fosse eu invocada por voz de macho. Fosse eu retirada da ausência por desejo de alguém. Me tivesse calhado, ao menos, um homem completo, pessoa acabada. Mas não, me coube a metade de um homem. Se diz, de língua girada: o meu cara-metade. Pois aquele, nem meu, nem cara. E se metade fosse, não seria só a cara, mas todo ele, um semimacho. Para ambos sermos casal, necessitaríamos, enfim, de sermos quatro.

A meu esposo chamavam de Seis. Desde nascença ele nunca ascendeu a pessoa. Em vez de nome lhe puseram um número. O algarismo dizia toda a sua vida: despegava às seis, retornava às seis. Seis irmãos, todos falecidos. Seis empregos, todos perdidos.

E acrescento um segredo: seis amantes, todas actuais. Das poucas vezes que me falou, nunca paramim olhou. Estou ainda por sentir seus olhos pousarem em mim. Nem quando lhe pedi, em momento de amor: que me desaguasse uma atenção. Ao que retorquiu:

- Tenho mais onde gastar meu tempo.

Engravidei, certa vez. Mas foi semiprenhez. Desconcebi, em meio tempo, meio sonho, meia esperança.
O que eu era: um gasto, um extravio de coisa nenhuma. Depois do aborto, reduzida a ninguém, meu sofrer foi ainda maior. Sendo metade, sofria pelo dobro…”

Meia culpa, meia própria culpa in:
Mia Couto. O fio das missangas.
fonte: blog companhia de aprendizagem

domingo, 10 de abril de 2011



"Não é de amor que careço.
Sofro apenas
da memória de ter sido amado.

O que mais me dói,
porém,
é a condenação
de um verbo sem futuro.

AMAR."

Mia Couto

conselho do avô



" Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
DESPE-O.
Quanto mais nu,
mais ele encontrará
o único agasalho possível
-um outro coração."

Mia Couto

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Milagre...



Viemos da água, somos água, e só seremos terra, pó, quando secarmos. Cabe-nos não nos deixarmos minguar, secar, antes que o fio do tempo nos dite a morte. Compete-nos abrir as comportas da água interior, soltar o sangue, o sonho, libertar o coração:

"Milagre é o rio não findar mais.

Milagre é o coração começar sempre no peito de outra vida".

Mia Couto

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

só o amor



"As estrelas são os olhos de quem morreu de amor.
Ficam nos contemplando de cima, a mostrar que
só o amor concede eternidades."

Mia Couto
imagem - deviantart

sexta-feira, 2 de julho de 2010

jogo brincriável



Tudo é um JOGO BRINCRIÁVEL [...]
"a vida descostura,
o homem passa a linha,
a corrigir os panos do tempo."

quarta-feira, 2 de junho de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

para ti

sábado, 5 de dezembro de 2009