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terça-feira, março 02, 2010

meia-noite todo o dia

Não voltarei a ser jovem


Que a vida é a sério
só mais tarde o começamos a entender
— como todos os jovens, eu vim
para levar a vida em frente.

Queria deixar marca
e sair entre aplausos
— envelhecer, morrer, eram somente
as dimensões do teatro.

Mas passou o tempo
e a desagradável verdade assoma:
envelhecer, morrer,
são o único argumento da peça.


Jaime Gil de Biedma



"roubado" ao manuel a. domingos

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

terça-feira, janeiro 19, 2010

haiti


reader's digest
do vouyerismo depois da tragédia -o melhor que já li sobre o haiti, nos posts de luís januário, eduardo pitta e francisco josé viegas:



Várias catástrofes se abateram sobre a República dos escravos pretos: o terramoto, a ajuda internacional e os jornalistas. Um neurocirurgião americano corre à frente de uma câmara, à procura de uma vítima. Sempre em grande plano realiza um simulacro de exame médico, debita um diagnóstico e pede à enfermeira:- Antibióticos e uma gaze. Uma equipa de socorro brasileira, ao serviço da Globo, detecta uma mulher soterrada. Os jornalistas quase bloqueiam o acesso à vítima. Uma delas estende para o buraco, no solo, um microfone. Um médico, neurocirurgião, e uma jornalista. Aqui está a aliança soturna com que se entretém o mundo, a ajuda fraterna, a lágrima no sofá. A República dos escravos pretos, que cortou todas as árvores, onde julgaram ter nascido a doença ominosa do século XX, teve agora o golpe de misericórdia, pela mão das forças do subsolo ou de um deus que já ninguém reclama. Não há, nas redacções das televisões nem nas Associações médicas, quem recorde que não exibir o sofrimento alheio é o princípio de toda a compaixão.

luís januário, n'a natureza do mal



Tenho-me abstido de escrever sobre a tragédia do Haiti por uma razão muito simples: a escala do horror não se compadece com lugares-comuns ou piedosas declarações de intenção. Isto dito, um breve comentário ao voyeurismo universal.

Ao fim de cinco dias, nenhuma televisão mostrou ainda qualquer iniciativa de ajuda concreta às populações afectadas. Estou a falar de seis canais portugueses (todos, excepto a TVI24) e outros tantos estrangeiros. Só se vê propaganda, tão inócua como a imagem ao alto.

Os jornalistas fazem despachos a partir do aeroporto, vingando a honra perdida de um famoso jornalista, hoje em parte incerta, que fez directos da Guerra do Golfo (1991) a mais de mil quilómetros de distância. E o que aí vem promete ser mais indigente.

No dia 13, falava-se em meio milhão de mortos. Mas a OMS declara que o seu número andará entre 40 e 50 mil.

Um futebolista obscuro dá uma conferência de imprensa para manifestar estados de alma. Não consta que tenham entrevistado putas do Intendente para comentarem a situação das colegas oxalés (i.e., caribenhas).

Uma portuguesa no local: «Estava a trabalhar na minha tese de mestrado quando a terra tremeu.» Só não disse se a tese é sobre os Tonton Macoutes.

O avião da Força Aérea regressa ao Montijo ao fim de poucas horas. Dando de barato a leviandade dos procedimentos, para quê a visita (com direito a cobertura televisiva) do ministro da Administração Interna, depois do acto falhado? Para acentuar ainda mais o ridículo?

Os Estados Unidos têm milhares de homens no terreno. Mas a alimentação e a água são distribuídos a conta gotas porque... não estão garantidas condições mínimas de segurança!

Obama convida Bush, o tal, para angariar fundos para o Haiti. Bush, talvez esquecido do Katrina, faz um speech nos jardins da Casa Branca.

Excitada, a RTP anuncia uma reportagem da TV Globo. A reportagem é uma jornalista brasileira a realçar a valentia de um soldado brasileiro de cócoras no chão. Esgotado o plano do rapaz, a reportagem acaba. Afinal, o Brasil não é menos que os outros: defende o seu prime time.

Passaram cinco dias. Pode ser distração minha, mas ainda não vi hospitais de campanha, acampamentos para desalojados, nem equipas de limpeza dos destroços. Coisas de somenos, naturalmente.





eduardo pitta, da literatura



As televisões — graças, sobretudo, ao aumento da percentagem de meninas e meninos ignorantes nas suas secções de «internacional» — gostam de «tragédias humanitárias». Raramente estão lá, nos aeroportos sujos, nas ruas malcheirosas, nas casas em ruínas, entre os feridos e os esfomeados. No Ruanda, onde estive uma semana na década de oitenta, vi repórteres a telefonar para as redacções a protestar pelas condições do hotel (Carlos Fino, valha a verdade, também se queixava de que havia bombardeamentos à hora a que os jornalistas procuravam um pouco de tranquilidade no hotel, ao fim da tarde); e vi jornalistas, como eu, que regressavam de Ramallah a meio da tarde para não perderem a melhor hora do buffet no hotel. A vida é assim. Felizmente, andei sempre com fotógrafos corajosos e gostava de falar disso. Um dia, no México, depois de passarmos uns dias entre Chiapas e a Guatemala, dois jornalistas (um do NYT e outro do Miami Herald) invejaram as fotos do João Francisco Vilhena; regressávamos de umas trapalhadas na Sierra Madre del Sur, com tiroteios aqui e ali, barreiras militares, paragens no alto das montanhas — estávamos em trabalho freelance para a Visão. O João, que tinha passado pela pior experiência da vida de um repórter, que é estar durante cinco minutos com o cano de uma metralhadora apontada à cabeça, a meio da noite, no meio do Cañon del Sumidero (enquanto eu oferecia volumes de Marlboro em troca), nem pestanejou quando os periodistas y reporteros que estavam no Café del Teatro de San Cristóbal de Las Casas (com um orçamento que lhes permitia pagar guias que os levavam a visitar aldeias turísticas chamulas, que depois eles transformavam em cenário de guerra civil entre exército e zapatistas) se preparavam para nos oferecer uns milhares de dólares pelo material. «Vão-se foder», foi o que ele lhes disse. Nunca agradeci suficientemente ao João este gesto (ele hoje trabalha no Sol). Coisa parecida aconteceu quando o Pedro Loureiro (então para a Grande Reportagem) e eu regressávamos de dois dias em plena guerra civil na fronteira de Gaza com o Egipto e Israel. Tínhamos sido evacuados de Termit/Raffah para o Egipto a meio da noite, no meio de explosões e de tiroteio (no meio da coisa ficámos sem um dos coletes à prova de bala, já agora). Uma estupidez corajosa, andar por ali. Quando, um dia depois de termos sido resgatados no meio das dunas, chegámos a Jerusalém, eu subi ao quarto para tomar banho e escrever; o Pedro ficou um bocado mais no bar. Ouvi os berros do Pedro e ele explicou-me que um filho da puta (a expressão é dele) de uma revista francesa lhe queria dar 2 mil euros pelo material, mas que nós não o podíamos publicar. Uma semana depois, o filho da puta publicou uma reportagem como se lá estivesse, ensanguentada e cheia de números fornecidos pela ONU — quando mal saiu da esplanada do hotel, onde lia o Haaretz e um tradutor lhe passava as citações dos outros jornais. Como conhecíamos bem o fotógrafo que vendeu as fotografias, sabemos do que falávamos.

A ideia de que se morre bastante no meio das tragédias é ampliada pelo negócio das ONG que recebem à cabeça — e antecipadamente — pelos refugiados que albergam em acampamentos. Três mil, dezoito mil, um milhão. Nada pára a vontade de aumentar a eficácia da própria tragédia. Os efeitos colaterais são fantásticos. O problema é que a morte tem poucos adjectivos. Basta falarem com alguém que tenha feito a cobertura de casos assim — Martin Adler, que escreveu durante muito tempo para a Grande Reportagem, antes de ser assassinado a tiro e pelas costas, na Somália, durante uma manifestação convocada pelos Tribunais Islâmicos, era o mais crítico dos guionistas da tragédia.

A pornografia televisiva em redor do Haiti vai no mesmo sentido. Eduardo Pitta fala do assunto — e bem. De um milhão, o número de vítimas passa a meio milhão; de meio milhão está agora em 50 mil, mas há quem avance 200 mil. Mas ajuda-ajuda-ajuda, vê-se pouco. Imagens repetidas até à exaustão e sem critério (com a excepção da TVI24, como escreve o Eduardo), retratinhos da net e das webcam, testemunhos que repetem a tragédia até ao infinito, números escutados na esquina do hotel. Um dia, um repórter foi apanhado num banco de jardim de uma cidade do Médio Oriente a fazer um despacho telefónico para a sua rádio, falando dos mísseis Scud que iriam cair nessa tarde. Uns amigos que passavam, entre o divertido e o enojado, ainda o convidaram para jantar num restaurante de gente corajosa que tinha um belo humus com kaftedes, e beber um whisky (quando o vejo, lembro-me de quando fazia reportagens de campo, nos estádios, como se o mundo tivesse desabado). A indústria da tragédia é uma das misérias do jornalismo.


francisco josé viegas, n'a origem das espécies





(destaques meus)

sábado, janeiro 02, 2010

infelizmente, o luís tem razão



Para modernizar a agenda eleitoral, Sócrates, o pior dos farsantes, prometeu o fim da discriminação heterosexual no casamento e convidou um intelectual para o espectáculo. Há sempre um intelectual pronto para morder o isco. Um intelectual ou um operário, no tempo em que havia classe operária. Dizia-se então que não tinham consciência de classe ou que a tinham em excesso, consoante o prisma. Os intelectuais aderiram. Era a sua janela de oportunidade. Como se o engenheiro do Fundão pudesse abrir janelas que não dessem para os pátios do costume: a esperteza, o negócio, a trapalhada, a conciliação sem princípios. Os gays prestaram-se à jogada do mestre beirão. Como as Isildas do costume e as sotainas de naftalina vieram a correr, houve almas distraídas que pensaram estar ali uma batalha ideológica, daquelas que une a esquerda, A Esquerda, esse guarda-chuva virtual que serve de abrigo a tanto malandro. Uma das revelações do ano foi ver a Unidade Simplex, com gente de bem a fazer a campanha do malandro e a perder a tramontana, como sucede nas acções prosélitas. Agora está tudo claro: os gays são iguais, mas diferentes. Para menos. Podem casar mas é-lhes vedada a adopção. Vão lá fazer as porcarias para longe das crianças. Fica assim consagrada a suspeição infamante de serem perigosos para o desenvolvimento da infância. É proibido votar outra coisa que não esta, decretou o chefe. Como se o esclarecimento se fizesse cedendo à ignorância e a justiça pactuasse com a discriminação. História triste. Uma lição para quem se mete com os capatazes da construção civil.

post d'a natureza do mal (bolds meus).

quarta-feira, dezembro 30, 2009

a família tradicional



A família tradicional foi destruída quando as mulheres começaram a desenvolver actividades profissionais fora do lar doce lar. Mais tarde foi abatida pela introdução e generalização dos métodos contraceptivos hodiernos e pela emancipação sexual das mulheres, essas porcas, novamente. Pela mesma altura, também foi morta pela televisão, que impôs um fim inglório aos serões de profunda comunhão que todas as famílias tradicionais partilhavam em torno da telefonia. Não consta que a telefonia tenha acabado com a família tradicional, mas não me espantaria que o tivesse tentado. Mas a tortura não acabou aqui: aproveitando-se da televisão, chegaram os videojogos, que mataram a família tradicional, depois de a brutalizarem durante várias horas, com requintes de sadismo e sem que ninguém lhe acudisse. E não tardou muito até que a internet, aproximando os distantes e desconhecidos às custas do afastamento dos próximos e conhecidos, exterminasse, também ela, a família tradicional.

Embora não haja provas definitivas, decorrem indagações que hão-de acabar por atribuir à descrimininalização do desmancho a responsabilidade por um novo assassinato da família tradicional. Da mesma família tradicional que se prepara agora para ser morta pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo, independentemente da sua orientação sexual. Independentemente da sua orientação sexual já podiam e amiúde o faziam, mas o papel passado é o que, aparentemente, o torna fatal para a família tradicional. E não tardará muito até que a eventual permissão da adopção, também ela de papel passado, de criancinhas indefesas por parte destes novíssimos e inauditos casais que se estão a preparar para matar a família tradicional, mate, mais uma vez, a família tradicional. Pode ser que um dia alguém se lembre de fazer o serviço recorrendo aos únicos meios de comprovada eficácia para tratar destes casos: uma carabina semi-automática, um jerricã de querosene e uma caixa de fósforos. Talvez que nesse dia nos vejamos, finalmente, livres daquilo.


Eduardo, no Àgrafo

domingo, dezembro 20, 2009

domingo, novembro 29, 2009

sábado, novembro 28, 2009

foi deus

Abrão, um tipo fixe por quem Deus tinha uma especial predilecção, casou com Sarai, que era sua meia irmã, uma união que foi abençoada por Deus.

Como Canaã era uma terra de muita fome, Abrão pegou na esposa e foi tentar a sua sorte (na altura chamava-se peregrinar)para o Egipto, onde começou a sua colossal fortuna. No Egipto reinava um faraó uma beca otário, que, por ser infiel, merecia no mínimo que se lhe fizessem a folha.

Então, lembrou-se Abrão de dizer à esposa:
- Tive uma ideia: tu, aos 75, és de uma beleza irresistível. Se o faraó sabe que és casada comigo mata-me! O que vais fazer é dizer ao faraó que és só minha irmã, atiras-te a ele, fazes-lhe aquele bobó (ainda hoje conhecido como bobó à faraó, o melhor de todos) e pedes-lhe em troca ovelhas, vacas, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos que dizes que é para o teu irmão.

E o faraó, que era gerontófilo, deixou-se enredar na história e, em troca de faraónicos bobós, assim enriqueceu Abrão.

O grande Abrão provou assim, neste mero episódio, ser incestuoso, proxeneta, oportunista, impostor, manipulador, mentiroso, desonesto e amoral. Abrão foi também o percursor de pelo menos três das mais importantes religiões da actualidade: o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo.




a não perder: esta e outras hilariantes interpretações dos cânones bíblicos, num blog perto de si.

quinta-feira, novembro 12, 2009

o silêncio dos livros


é um blog que acompanho regularmente através do google reader e que consta dos meus links algures ali na coluna da direita. tem sempre imagens muito bonitas, todas elas relacionadas com a leitura. hoje não resisto a colocá-lo aqui em destaque, por me ter dado a conhecer as ilustrações de franco matticchio e jillian tamaki.



franco matticchio

jillian tamaki



se ainda não conhecem o blog do miguel, é favor seguirem o link imediatamente. garanto que não se vão arrepender.



segunda-feira, novembro 09, 2009

despair and demotivation






estas e outras maravilhas em www.despair.com

imperdível!

ah, e o blog do desespero - http://blog.despair.com/ - vai direitinho para os favoritos.

via
antónio quintas facebook

sexta-feira, setembro 04, 2009

sexta-feira, maio 01, 2009

:)

sábado, abril 25, 2009

recordar abril


mais fotos, vídeos, entrevistas, comentários

no site do parlamento global (via twitter)

35 fotos de abril


seleccionadas por alfredo cunha, no site do jn (via twitter)

otelo


entrevista na rtpn a otelo, para ouvir aqui

salgueiro maia


clips de vídeo de excertos de entrevista a salgueiro maia, no centro de documentação 25 abril / universidade de Coimbra.

(via twitter)

sexta-feira, abril 24, 2009

35 anos


recordar o 25 de Abril de 1974, minuto a minuto, aqui (mais informações neste blog)