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A todos os níveis, em todas as diferentes realidades sociais, políticas e económicas, central ou municipal, a diferença entre o discurso e a realidade, entre a teoria e a prática, entre o expectável e o alcançável é tão grande, que mais uma vez se comprova que em Cabo Verde aquilo a que tão facilmente se chama de "sociedade civil" é tão real como o petróleo anunciado de tempos em tempos como uma possibilidade séria para o súbito enriquecimento do arquipélago. A lógica é uma e só uma: fala pela minha cartilha e terás uma recompensa diretamente proporcional ao teu entusiasmo e capacidade de defender a causa. Seja ela qual for, sê convincente e o que é teu, está guardado. E assim continuamos, neste sono profundo, de quando em quando perturbado por anúncios de execuções sumárias em plena via pública, na verdade, coisa pouca se comparada com o oásis que todos os dias nos procuram impingir.




Esta tarde, no Jornal das 5 da Rádio Morabeza, a deputada nacional do PAICV, Filomena Martins, proferiu declaração em que justifica a alta taxa de desemprego em São Vicente com o aumento da natalidade, explicando que "o número de nascimentos é superior à capacidade da economia gerar empregos."

Sinceramente, esta é a primeira vez que vejo um facto ligado ao outro assim de uma forma tão umbilical (o termo aqui encaixa como uma luva, diga-se de passagem), e muito embora demografia e economia até sejam ciências se não irmãs, pelo menos primas, não deixei de ficar espantado com tão original teoria.

Duas coisas podiam acontecer desde já: em primeiro lugar, ocupar o imenso espaço vazio e desaproveitado do tão prometido e falado parque industrial de S. Vicente e colocar no muito curto prazo lá a funcionar várias unidades fabris para o fabrico de preservativos - camizinhas, em linga di terra - em que metade da produção fosse para exportação e a outra metade para distribuição gratuita pela população. Matavam-se dois coelhos numa cajadada só, por um lado fomentando o emprego com os milhares de postos de trabalho criados com a indústria de camisinhas, projetando a marca Mad in Cabo Verde, quiçá de Soncent, por todo o mundo (imaginam um eslovaco ou um canadense, cada um dos respectivos países, a meter a mão no bolso para a urgente camisinha e verificarem que aquilo foi fabricado em Cabo Verde? Nem Cesária conseguiu ir tão longe como embaixadora do país!). Por outro lado, como é lógica imediata, a utilização massiva de camisinhas por parte da população, principalmente a mais jovem, permitiria uma diminuição abrupta da natalidade. Uma medida, duas consequências imediatas: mais emprego, menos natalidade. Genial, não?

O segundo acontecimento é ainda mais óbvio: a deputada deve ser tida em conta, pelo menos ao nível das nomeações, para o próximo Prémio Nobel da Economia. É o mínimo! 




Segundo Jornal A Semana "O Tribunal do Tarrafal de Santiago condenou Ismael dos Anjos Correia a três anos de prisão efectiva por abuso sexual de uma criança de cinco anos. O homem ainda deve pagar 250 contos de indemnização aos pais da menor." 

 Se o Código Penal crioulo aplica estas penas ridículas para crime tão hediondo, não é com campanhas de sensibilização que combatemos este flagelo nacional. Como dizemos em "Teorema do Silêncio", há que quebrar o silêncio e penalizar, de forma séria e responsável quem abusa sexualmente das nossas crianças. Como está, é uma vergonha!




Após a escuta de alguns dos debates pré-eleitorais promovidos pela Rádio de Cabo Verde, facilmente se chega a uma espécie de cartilha eleitoral que encaixa na perfeição, seja qual for o município em questão. Não seria mau, perante os slogans que se perfilam, que alguma instituição ligada e/ou com o apoio do Instituto do Emprego e Formação Profissional, promovesse uma formação intensiva de criatividade e marketing eleitoral que isto vai ser, pela amostra, um vira o disco e toca o mesmo. 

Candidato do partido no poder que se recandidata a um novo mandato: "queremos continuar com a obra feita que, graças a uma acção concertada com o Governo no âmbito da agenda para o desenvolvimento, estamos certos conduzirá o município a um novo patamar."

Candidato do partido da oposição que se recandidata a um novo mandato: "queremos continuar com a obra feita que só não é maior porque o Governo não tem cumprido com as suas obrigações perante o nosso município."

Candidato do partido no poder que tenta conquistar a câmara ao candidato da oposição que se recandidata: "o município está parado devido à incompetência da actual equipa camarária e estamos certos que connosco, com uma acção concertada com o Governo no âmbito da agenda para o desenvolvimento, entraremos no caminho certo."

Candidato do partido da oposição que tenta conquistar a câmara ao candidato do partido no poder que se recandidata: "o município está parado devido à incompetência da actual equipa camarária e do Governo e estamos certos que connosco tudo será diferente."

E assim vamos navegando nas doces águas da democracia cabo-verdiana. 





"Estar desempregado 
não pode ser um sinal negativo"

Pedro Passos Coelho - Primeiro Ministro de Portugal


Quem diz uma coisa estas pode estar à frente de um Governo? Mas estamos todos loucos?




A propósito de alguns artigos mais inflamados publicados recentemente na nossa comunicação social cada vez tenho menos dúvidas que o fomento e alimentação do bairrismo em Cabo Verde é o caminho mais curto para o renascimento de mortos-vivos que mais não fazem do que atiçar uma parte contra o todo com o simples intuito de alguém se lembrar que afinal eles ainda estão por aí. 

Um erro crasso. Vale apenas pelo debate que provoca.

"Da compreensão da dinâmica das ilhas na forja do caboverdiano, avançada pelo novo modelo, chega-se a conclusão que, para o bem de Cabo Verde, é preciso aumentar os canais de comunicação, desenvolver plataformas comuns de acção e explorar sinergias possíveis entre elas. O maior crime que se pode cometer contra cada uma delas e contra Cabo Verde é governar ou administrar as ilhas como se de mundos à parte se tratassem."

Humberto Cardoso (texto completo, aqui), sugerido por Abraão Vicente






Acabou de ser noticiado que a empresa líder do sector dos combustíveis em Cabo Verde anunciou um lucro em 2011 num valor próximo dos 800 mil contos, 16% acima dos ganhos obtidos no ano anterior. 

É agradável ver como as empresas nacionais conseguem dar a volta por cima da crise, apesar dos aumentos sucessivos dos preços dos bens de primeira necessidade (incluindo os próprios combustíveis, com duas subidas nos últimos dois meses).

Claro que uma coisa não tem nada a ver com a outra.




Quando escrevi esta semana um post sobre o Projecto Amelie alguém me lembrou de algo que estaria acontecendo na cidade da Praia, um pouco diferente mas com o mesmo espírito. Centrado no Facebook e criado por Catarina Fernandes Cardoso, o movimento Troca Kuaze Tudo pretende que as pessoas façam isso mesmo: trocas. As mais variadas. O "kuase" fica ao critério de cada um!

Eis as simples regras do movimento (o termo "movimento" é da minha responsabilidade):

"O Troca Kuase Tudo é um grupo destinado à troca de coisas, tempo, serviços e competências, destinado a qualquer pessoa que se encontre na área da Cidade da Praia - Cabo Verde. 

Regras de funcionamento:

1- As trocas serão sempre feitas sem recorrer a dinheiro.
2- A troca terá de ser justa - bens ou serviços devem ser trocados pelo equivalente para que nenhuma das partes se sinta lesada
3- Quando a troca se efectivar é importante dar feed-back acerca da mesma aqui no grupo para que se saiba que a pessoa é confiável e o produto/serviço foi disponibilizado nas melhores condições."


Parece que não, mas encontram-se situações muito curiosas. Por exemplo, um membro anuncia: "troco levar crianças à praia aos Domingos por móveis antigos." Um outro, com a maior naturalidade, anuncia que a troco de um empréstimo de uma bicicleta duas vezes por semana, "troco por lavar o carro... ou cuidar (passear) de cães."

Genial. Quem estiver na Praia e quiser aderir, a página no Facebook é aqui.




Dois aumentos nos preços da electricidade em menos de dois meses. Já se está a ver à custa de quem é que o buraco financeiro da Electra vai ser coberto. Isto não só deixou de ser justificável como está próximo de se tornar pornográfico.




O mundo anda deprimido, já o sabemos. Só ouvimos falar de crise, do stress, de violência. A humanidade caminha no fio da navalha e um pequeno mal entendido pode gerar uma discussão que acabe em tragédia. Por essas e por outras, achei esta ideia uma pequena (grande) delícia .


Inspirado por movimentos espontâneos como o “Zé Frank Chill Out Song”, os “Abraços Grátis” ou os “Improve Everything” – que já percorreram várias cidades realizando missões surpresa em espaços públicos - o designer português Martim Dornellas decidiu fazer estes pequenos gestos na cidade de Lisboa, de acordo com uma auto-proposta para mudar o mundo e criou o Projecto Amélie. “Basicamente, estas acções destinam-se a mudar o dia-a-dia de algumas (mas basta uma) pessoas. Proporcionar-lhes um pequeno aconchego no caminho para o trabalho ou conversa quando chegam a casa”, revela o autor.

"Pequenas acções que tenham como objectivo mudar o mundo, ou os pequenos mundos em que vivemos. Acções desinteressadas, que façam alguém sorrir, sentir-se melhor, emocionar-se, etc. Qualquer coisa que mude o dia a dia de algumas (mas basta uma) pessoas." Esta a proposta de Martim, à qual muitos habitantes de Lisboa tem dado respostas criativas e divertidas. Em sinais de trânsito, nos postes da rua, nas cabines telefónicas, nas portas dos WC's públicos, qualquer lugar é bom para um gesto ou uma frase que possa, pela surpresa, provocar um sorriso nalgum desconhecido. 

Não seria interessante, fazer isto na Praia ou no Mindelo?


Leia mais: aqui
Sítio oficial do Projecto Amélie: aqui







Ontem morreu um jovem da Ribeira Bote esfaqueado por um elemento de um gang de uma outra zona. O choque habitual. Os gritos e sofrimento dos familiares e amigos. Algo que, infelizmente, vem sendo rotineiro na nossa cidade. Mas o inusitado aconteceu depois: mais elementos do gang que provocou o crime atacaram o cemitério à pedrada durante o próprio funeral. As pessoas correram e fugiram. O jovem morto só pode ser enterrado horas depois. 

Bem, se já chegamos na época em que os cemitérios são invadidos e transformados em campos de batalha quando se enterra mais uma vítima da violência urbana, então é porque descemos mais um pouco neste poço sem fundo a que alguns gostam de chamar desenvolvimento.

Como o meu amigo que relatou o acontecimento escreveu: "se alguém souber onde S. Vicente se perdeu, que me diga porque eu vou por aí. E digam-me, porque tenho pressa!"


Imagem: pintura "Canibais Preparando a sua Vítima", de Goya




Aleluia. Até que enfim que alguém se lembra que os responsáveis municipais podem dar um fim a este inferno na terra. No Mindelo, já é quase impossível andar na rua sem ser incomodado por estes carros a anunciar festas, paródias, concertos, mettings partidários ou produtos de mercearia. Alô, alô, torre de control, alô, alô, Câmara Municipal de S. Vicente. Por todos os anjinhos, sigam este exemplo! Tem a suprema vantagem de a Praia e o Mindelo serem duas câmaras com a mesma cor política e portanto, nem o partidarismo agudo de que padece a nossa sociedade poderá ser justificação para continuar com esta inércia, relativamewnte a este assunto. 

Aplausos. Desta vez, ruidosos!



Esta nova subida dos preços dos combustíveis é de bradar aos céus. Porque isto já se sabe como funciona: logo de seguida vem os aumentos da luz, água, telecomunicações e bens de primeira necessidade. E como é que vamos viver com o que se ganha em Cabo Verde?

Comparando o preço gasolina com o ordenado mínimo nacional, temos os seguintes exemplos:

Itália:  201$70 / 750 Euros
Grécia: 201$50 / 876 Euros
Suécia: 200$80 / não tem (deve-se ganhar muito mal...)
Holanda: 196$90 / 1.446 Euros
Portugal: 195$00 / 485 Euros

Cabo Verde 192$80 / uma empregada doméstica, ajudante das lojas dos chineses, empregado de mesa de um restaurante ou recepcionista de algum hotel ou residencial pode ganhar entre 45 a 130 Euros / mês. Para estes últimos valores, já são considerados muito bem pagos. Não existe ordenado mínimo nacional.

Polónia: 154$40 / 359 Euros
Andorra: 145$55 / 929 Euros
Bulgária: 144$40 / 148 Euros
Roménia: 142$20 / 161 Euros

Ou seja, resumindo, Cabo Verde tem um preço de gasolina ao nível de uma Holanda, por exemplo e nos ordenados está bem abaixo de uma Roménia, um dos países mais miseráveis da Europa.  Somos mesmo um país de contrastes.




Um amigo meu, autor de um dos blogues mais criativos que conheço (Não Compreendo as Mulheres) esteve uns dias de férias em Cabo Verde, tendo passado pelo Mindelo e por Santo Antão. Qual não é o meu espanto, quando ele publica esta fotografia referente a um novo complexo habitacional ou turístico ou lá o que é, tirada há poucos dias na ilhas das montanhas. 

Será que só eu é que acha estranho, bizarro (para não dizer outra coisa) que num país como Cabo Verde se aceite que uma obra destas tenha um nome como este? Ou estou confuso e Moussulini não foi um dos mais sanguinários e fascistas dirigentes da Europa do Século XX? Como é que as autoridades cabo-verdianas aceitam uma coisa destas, alguém me explica? Ah!, está escrito de forma diferente, claro! Só pode ser por isso. Porque só quem está de muita má fé é que não vê que Mussolini e Mousulini não tem nada a ver uma coisa com a outra.

Ele há cada uma...




Sempre ouvi dizer que o Carnaval representava a maior festa pagã do Mundo. Segundo rezam (salvo seja) as enciclopédias "pré-Cristãos medievais e Carnavais modernos tem um papel temático importante. Eles celebram a morte do inverno e a celebração do renascimento da natureza, ultimamente reunimos o individual ao espiritual e aos códigos sociais da cultura. Ritos antigos de fertilidade, com eles< sacrifícios aos deuses, exemplificam esse encontro, assim como fazem os jogos penitenciais Cristãos. Por outro lado, o carnaval permite paródias, e separação temporária de constrangimentos sociais e religiosos. Por exemplo, escravos são iguais aos seus mestres durante a Saturnália Romana; a festa medieval dos idiotas inclui uma missa blasfemiosa; e durante o carnaval fantasias sexuais e tabus sociais são, algumas vezes, temporariamente suspensos.”

Por outro lado, sempre fui acostumado a que amigos e conhecidos mais religiosos me viessem dizer que durante estes dias loucos estariam "em retiro", aproveitando que a cidade era invadida pelo êxtase para, em conjunto com outros companheiros e fugindo da confusão, irem para longe da cidade, aproveitando para uma reflexão que de alguma forma os alimentasse espiritualmente.

Não deixa de ser por isso curioso que o Carnaval do Mindelo tenha tido nesta edição de 2012 um grupo ligado à Paróquia de Nossa Senhora da Luz a desfilar, com música, carro alegórico, alas, coreografias e tudo o que é preciso para não envergonhar uma passagem pelo circuito habitualmente ocupado pelos foliões. Com túnicas, bíblias na mão, personagens representando personagens caras à historiografia cristã, um modesto trilho eléctrico, cerca de uma centena de crentes fizeram-se ao carnaval e desfilaram pelas mesmas ruas do Mindelo. 

Longe, pois, vão os tempos de retiros. Numa ilha onde grande percentagem da população assume-se como católica praticante e que tem no Carnaval a sua maior festa popular, é caso para dizer que já não era sem tempo que os nossos católicos se juntassem à festa, pela positiva tentando simplesmente passar a sua mensagem. Tempos modernos ou como diz o outro, se não podes vencê-los, junta-te a eles!



Cara: "A sociedade cabo-verdiana é uma sociedade muito violenta" (declarações do PM, José Maria Neves)

Coroa: "O povo cabo-verdiano sempre foi um povo normal e de brandos costumes." (declarações de Carlos Veiga, líder da oposição)


Comentário Cafeano: neste delicado assunto, como são todos os que pretendem lidar com os nossos próprios defeitos, aplica-se aquele ditado que nos diz que em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão. No fundo, tudo isto depende do contexto e do prisma de análise. O que acontece por cá com o discurso político é que tudo o que é dito e feito por uns é tornado negativo pelos outros e elogiado por quem afina pelo mesmo diapasão. Porque se uns podem dizer que a afirmação do Primeiro-Ministro é, no mínimo, irresponsável e um sacudir a água do capote, outros poderão realçar a coragem política de assumir publicamente a existência de um problema, primeiro e essencial passo para o tentar resolver.

Se na minha experiência pessoal não tenho nada a apontar em relação ao carácter supostamente agressivo do cabo-verdiano já que em duas décadas de vivência a minha integridade física nunca foi ameaçada, por outro lado, não posso enfiar a cabeça na areia e negar a evidência que me bate à porta todos os dias, com violência não só física mas também, e muito acentuada, psicológica. Tenho procurado reflectir sobre esse carácter dual e ambíguo da sociedade, principalmente aqui no Mindelo, e também neste caso os sentimentos são contraditórios: por um lado, quando confrontados com as notícias que nos chegam do mundo, podemos respirar de alívio por estarmos a viver num lugar que cultiva a paz, mas por outro vem-me à memória demasiadas vezes um ditado argentino que nos diz que a um lugar pequeno corresponde invariavelmente um inferno grande.

Parece-me haver aqui, como vem sendo hábito, uma manifestação de claro oportunismo político, de parte a parte. As responsabilidades devem ser assumidas por todos os agentes políticos actuantes, caso contrário correm o risco de ninguém os levar a sério (para muitos já será tarde demais).

Registo aqui, finalmente, um comentário publicado por um leitor do Notícias do Norte (assina como José Pedro) que me parece ser uma interessante leitura da problemática da violência no arquipélago, tema que, como se vê, merece da parte dos nossos historiadores, sociólogos e psicólogos, uma aposta séria numa investigação académica que nos traga alguma luz, cientificamente sustentada, e não apenas regida por interesses político-partidários.

"JMN é um político da primeira linha, é primeiro-ministro deste país, e sabe mais que ninguém que na política há verdades que nunca devem ser ditas, sobretudo quando são de âmbito sociológicas. Foi uma fuga para frente que, vindo de quem vem, é imperdoável. Se foi para justificar a onda de violência que se regista neste momento por todo o país, então é muito pior. Isso não pode se tolerado por parte do principal governante. Dele se espera a promessa e actos de combate energético deste mal social. É que a violência não pode ser um bem cultural preservável, mas sim algo que deve ser combatido, se necessário com violência.

Posto isto e para nós que nada temos em termos de responsabilidades políticas, eleitores, votos, etc., temos que ser sérios e dizer, já agora que o tema veio a baila, que não há sociedades de formação escravocrata, sobretudo recente como a nossa, que não seja de carácter violenta. Talvez por milénios não perderá os seus traços de violência. Em todas as ilhas, mormente as de economia predominantemente agrícola, sempre predominou a violência, com nuances na sua forma dependendo de região para região ou mesmo de local para local. Os detentores de posse de terra sempre foram muitos violentos em relação aos deserdados, cometendo sobre eles constantes e cruéis crimes de sangue. Nos anos das carestias, como foi ainda na década de quarenta, a violência sobre os indigentes deixaram marcas indeléveis nas gentes pobres de Santo Antão, Santiago, S.Nicolau etc, em que pessoas foram enforcadas, carbonizadas, etc., por apenas se supor que roubaram um pé de mandioca ou umas bananas verdes. 

Falei até aqui de violência de sangue, pois a violência psicológica continua sendo Pão Nosso de cada Dia. Falar-nos de “brandos costumes” do povo cabo-verdiano impõe-nos perguntar o que é isso de brando costume. Sejamos sérios nas análises, ainda que doam a nós próprios. Ou então, melhor, calemos."

Está aberto o debate.





Por razões óbvias não entro na histeria colectiva de festejar os 70 anos de um ex-jogador de futebol, por muito importante que ele tenha sido. Mas não deixo de registar as declarações que o designado Pantera Negra fez, contando um episódio que revela, em primeira mão, como no que ao futebol diz respeito, vivemos num mundo podre, hipócrita, onde o que mais se vê é uma descarada tentativa de lavagem cerebral que tenta, a todo o custo, colocar as coisas tal quais elas eram no tempo da ditadura salazarista.

A 5 de janeiro de 1977, Eusébio defrontou o Benfica pela primeira e única vez na carreira, ao serviço do Beira-Mar. O Pantera Negra recorda esse dia em entrevista à RTP, que passa esta quarta-feira, às 21 horas. E confessa que não fez tudo o que estava ao seu alcance. Muito longe disso. "Já tinha avisado o treinador do Beira-Mar, o Manuel de Oliveira, que não ia rematar à baliza. 15 minutos antes do jogo fui ao balneário do Benfica e avisei para que não se preocupassem, pois não ia marcar golos".

E assim foi. "Não rematei, não marquei faltas nem grandes penalidades... andava lá no campo só a passar a bola aos outros. E nesse ano o Beira-Mar ganhou ao Sporting e o Benfica foi campeão", recorda. Com orgulho, o Pantera Negra revela como era a tal verdade desportiva no tempo em que a sua equipa papava todos os campeonatos em Portugal. Mais grave ainda é um país inteiro se curvar perante esta figura que defende o valor da batota desportiva com a mesma naturalidade com que bebemos uma cerveja no bar da esquina. A imagem, obviamente, é só mais uma provocação.

Como se costuma dizer, pela boca morre o peixe.

Está tudo dito.

(fonte: aqui)





A notícia hoje vinda a público de que, para a organização Repórteres Sem Fronteiras, os primeiros 10 países do mundo em termos da liberdade de imprensa são (por esta nova ordem): Noruega, Finlândia, Estónia, Holanda, Áustria, Islândia, Luxemburgo, Suíça, Cabo Verde e Canadá, é digna de orgulhar o país. Como habitualmente nestas situações, e talvez como espelho dessa mesma liberdade de imprensa, este dado foi recebido com mais entusiasmo por uns e menos por outros.

Jorge Badiú, no seu blogue (que aprecio particularmente) dá-nos o outro lado desta moeda quando escreve que continua "sem perceber os critérios e as motivações dos repórteres sem fronteiras em teimar na classificação rasteira de uma realidade que mal conhecem. Um País que nem faz jornalismo de investigação por medo de represálias; um país dividido, em constante contra-informação onde se manipulam os dados; um país com falta de massa crítica… E mais: com muita sujeira que ninguém quer pôr as mãos."

Ele tem alguma razão no que diz, mas sou daqueles que pensa que melhoramos bastante nos últimos tempos. A pequenez do arquipélago, onde todos se conhecem, relacionam ou são mesmo familiares próximos, transforma a tarefa do jornalismo de investigação bem complicada, porque muito mais exposta. Certas fontes são facilmente identificáveis e poucos sentem confiança de relevar certos podres com medo de represálias (e não falo apenas de represálias políticas, mas daquelas que implicam perigo de vida).

Por outro lado, também podemos pensar que se não houvesse uma liberdade de imprensa efectiva em Cabo Verde, dificilmente os órgãos de comunicação social, principalmente na imprensa escrita e na Internet, publicariam tantos disparates e se dariam no luxo de, impunemente, fazer tantos ataques pessoais às mais altas figuras do Estado, da situação e da oposição, não poucas vezes caluniosas, maldosas e com interesses políticos claros que em nada tem a ver com jornalismo.




Uma reclusa condenada por pertencer a uma rede de tráfico de droga, consegue montar um esquema em que sai da cadeia a seu belo prazer, faz compras nas botiques mais chiques da cidade e ainda tem tempo para ir à Universidade prestar provas numa licenciatura, mostrando o quando a moda e a educação nunca deixaram de ser preocupações primeiras, apesar das agruras da vida...

Um político que era candidato à Presidência da Câmara, tendo sido eleito vereador, que renunciou para poder ser candidato à Presidência da República, que renunciou para poder ser candidato à Assembleia Nacional, que renunciou para poder ser candidato à Presidência da Câmara, tendo sido eleito vereador pela segunda vez, que renunciou para ser candidato a deputado, anunciou que será candidato à Presidência da Câmara, sendo provável que seja eleito vereador e que renuncie para se candidatar a novo mandato de deputado na Assembleia Nacional e mantenha o ciclo até que a morte nos separe...

O aeroporto da capital do país é, sem aviso de recepção, re-baptizado, com o nome de um importante estadista sul-africano, sem que este tenha alguma vez pisado o território nacional ou tido alguma ligação directa ou indirecta com o arquipélago, fora ter-se dado o caso de este ter sido dos poucos países que autorizou a utilização do seu espaço aéreo por parte de aviões desse país, numa altura em que o agora homenageado se encontrava preso devido ao repugnante sistema de apartheid então vigente...

Ficamos a saber também que, afinal, somos um país umbilicalmente ligado ao movimento maçónico, não fosse assim seria difícil explicar que os mais famosos símbolos maçons - o triângulo, prumo, esquadro e compasso - estivessem presentes nas armas da república aprovadas no início da década de noventa, cujo autor, pelo que consta, se terá inspirado nas armas dos Estados Unidos da América. Esta não é a única ligação ao país mais poderoso do mundo, não fosse dar-se o caso de a ilha da Boavista festejar o seu dia em pleno 4 de Julho e o seu habitante gostar de dizer: nôs e americano é ke ta mandá...

Definitivamente, Kusturica, haveria de adorar conhecer e filmar em Cabo Verde...





Recebi este texto por mail em duas versões: uma referente a Portugal, de um amigo de Lisboa, e outra para Cabo Verde, devidamente adaptado. Podemos não concordar com todos os pontos, mas na sua maioria, fazem todo o sentido.


Acorda Cabo Verde

Em três dias, a maioria das pessoas neste país lerá esta mensagem. Esta é uma ideia que realmente deve ser considerada e reflectida por todos os cidadãos.

Alteração da Constituição de Cabo Verde para 2012 para poder atender o seguinte, que é da mais elementar justiça:

1. O Deputado será pago apenas durante o seu mandato e não terá reforma proveniente exclusivamente do seu mandato.

2. O Deputado vai contribuir para a Previdência Social de maneira igual aos restantes cidadãos. Todos os deputados (Passado, Presente e Futuro) passarão para o actual sistema de Previdência Social imediatamente. O Deputado irá participar nos benefícios do regime da Previdência Social exactamente como todos os outros cidadãos. Não haverá privilégios exclusivos.

3. O Deputado deve descontar para a sua reforma, como todos os cabo-verdianos e da mesma maneira.

4. O Deputado deixará de votar o seu próprio aumento salarial.

5. O Deputado vai participar no mesmo sistema de assistência na saúde, no país, como todos os outros cidadãos cabo-verdianos.

6. O Deputado também deve estar sujeito às mesmas leis que o resto dos cabo-verdianos.

7. Servir no Parlamento cabo-verdiano é uma honra e não uma carreira. Os Deputados devem cumprir os seus mandatos (não mais de 2 mandatos), e então irem para casa e procurar outro emprego.

8. O Deputado não deve ser eleito apenas para usufruir mordomias enquanto tal.

9. Os mandatos são para representar e defender os interesses dos eleitores e não apenas, para garantir um tacho e uma boa reforma.

O tempo para esta alteração à Constituição é AGORA. Forcemos os nossos políticos a fazerem uma revisão constitucional. Assim é como se pode CORRIGIR ESTE ABUSO INSUPORTÁVEL DA ASSEMBLEIA NACIONAL. Se concorda com o exposto, ENTÃO VÁ PARA A FRENTE. Se não, PODE DESCARTÁ-LO.


Montagem fotográfica de Dariusz Klimczak