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Por achar que é de interesse geral, aqui fica a mensagem enviada por Vasco Martins, a qual subscrevo na íntegra e por isso publico aqui no Café Margoso. Na imagem, coloco dois dos maiores embaixadores da Morna, que admiro muito, Celina Pereira e Bana.

O Dia Nacional da Morna: 3 de Dezembro

Vasco Martins, compositor, músico e musicólogo, propõe que seja instaurado o Dia Nacional da Morna, que seria no dia 3 de Dezembro, dia que o genial compositor de mornas B.Léza nasceu no Mindelo em 1905.

B.Léza compôs das mornas mais originais de Cabo-Verde. Cada uma das suas pelo menos cinquenta Mornas, é um diamante lapidado, uma obra – prima de beleza melódica. Foi o primeiro compositor a sistematizar os famosos ‘meio-tons’ (acordes de passagem), como também os acordes modulativos, e os seus textos ‘mornisticos’ são uma inspirada referência poética.

As mornas ‘Talvez’, Eclipse’, ‘Resposta de segredo cu mar’, ‘Isolada’, ‘Miss Perfumado, ‘ Mar azul’, ‘Noite di Mindelo’, ‘Terra Longe’, ‘Lua nha testemunha’, para citar algumas, constituem um tesouro eterno não só nacional mas também internacional, como já foi evidenciado em muitas partes do mundo.

As suas mornas foram cantadas pelos grandes intérpretes vocais e instrumentais. Podemos citar Bana, Cesária Évora, Titina, Marino Silva, Ildo Lobo, Humbertona, Bau e tantos outros.

Na verdade as mornas de B.Léza , sobretudo as citadas atrás, constituem para qualquer intérprete vocal a sua ascendência à mestria, à perfeição do ‘cantar a Morna’.

B.Léza  inspirou gerações de compositores e intérpretes da Morna e continua a inspirar.

A Morna, no seu sistema de forma musical que requer um criador, um compositor, parte primeiro do princípio da criação, para depois se expandir pelos outros sectores importantes: os intérpretes, o público, os produtores, os investigadores, como não podia deixar de ser em todas as situações interdependentes.

É interessante apontar que existe atualmente o Dia Nacional do Choro no Brasil (ou popularmente chamado ‘Chorinho’), mas que estranhamente foi instaurado primeiramente um Dia do Choro em França e no Japão por melómanos do Choro desses países.

Vasco Martins sugere que talvez não devêssemos cometer o equívoco do Brasil. Que sejamos nós, cabo-verdianos, a instaurar o Dia Nacional da Morna e termos a honra de ‘convidar’ o luminoso compositor B.Léza para ser o símbolo do Dia Nacional da Morna, tendo como data o seu aparecimento neste universo, numa das ilhas deste Arquipélago magicamente ‘mornista’.


Agradecemos o vosso interesse.
Os nossos cumprimentos.

‘Alauda razae divulgação’
(‘Alauda razae divulgação’ dedica-se à divulgação e promoção da obra de Vasco Martins em todos os domínios que a sua obra abrange)



Bernardo Sasseti
(1970 - 2012)

A morte anda tão estúpida. Tão cruel! Morreu mais um músico brilhante, outro apaixonado por Cabo Verde. Morreu a trabalhar. Captando imagens para quem sabe reinventar outros sons magníficos. Tocou várias vezes no chão das ilhas. O que se passa, mundo, o que se passa?



(Versão de Petit Pays, magistralmente interpretado por Bernardo Sasseti)






Swagato
Músico e instrumentista
(1949 - 2012)


Músico, de origem alemã, cabo-verdiano por opção. Deixou-nos por vontade própria. Tristeza.




Uma das grandes vantagens de andar neste mundo da arte, além daquelas mais óbvias como não ter fins de semana ou feriados e chegar todos os dias tarde e a más horas depois de mais um ensaio, é que acabamos por conhecer e ficar amigos de pessoas muito interessantes. Duas dessas pessoas são, a cantora e compositora Mayra Andrade (com quem espero trabalhar um dia) e o escritor Manuel Jorge Marmelo (que escreve aqui). O segundo nutre uma admiração inequívoca pela primeira e tem-no declarado publicamente em alguns dos seus escritos sendo que uma das suas crónicas publicadas no jornal A Nação foi-lhe totalmente dedicada.

Pois bem, tenho uma boa notícia para o meu amigo: a Mayra Andrade, na sua última entrevista dada precisamente no mesmo jornal que publicou a declaração pública do escritor portuense, confessa quando questionada sobre qual livro que está a ler neste momento, que a sua leitura actual é, nem mais nem menos do que "As Sereias do Mindelo", que Marmelo escreveu inspirado pelas suas vivências com as crioulas da ilha do Monte Cara (um belíssimo livro, por sinal).

Pronto, está dado o recado, Jorge. A Mayra Andrade tem um pedaço de ti na sua cabeceira. 





O mestre Paulino Vieira retratado pelo artista Miguel Levy. Belo!

(Galeria completa dos trabalho do artista, aqui)





Dôs com Vasco Martins


Conversa com Vasco Martins, instrumentista versátil de raros recursos, e o único compositor de música sinfónica em actividade em Cabo Verde, com uma vastíssima obra, reconhecida de há muito internacionalmente. Muito discreto, raramente dá entrevistas e desta vez, em pleno Monte Verde, não hesitou em abrir a alma e mostrar um pouco mais do seu lado de homem e artista. Um precioso testemunho para se entender como é possível que num país como o nosso, um génio orquestrador se possa revelar, numa inspiração rara que mistura ritmos, pedras, mar, natureza e uma forma muito peculiar de estar na vida e no mundo da criação artística.

O PAPEL DO ESTADO

Que perspectivas é que tens em relação ao novo Ministério da Cultura, tendo em conta que quem está à frente da tutela é um teu colega de profissão e amigo pessoal? Achas que pode deixar a sua marca?

Vasco Martins: Eu e o Mário Lúcio somos amigos. E a partir daí, tudo o que eu possa dizer vem também do coração. Mas por aquilo que eu sei, até porque já falamos muito sobre estes assuntos, ele quer fazer muita coisa, está a avançar em muitos projectos. O Mário Lúcio viveu na pele a problemática do que é ser artista em Cabo Verde e agora que está na posição de ministro sabe perfeitamente o que é preciso fazer. É disso que estamos todos à espera.

E o que te parece que é mais urgente que seja feito no domínio da politica cultural? Qual deve ser, afinal, o papel do Estado no desenvolvimento cultural de um pais como Cabo Verde?

É a velha questão que se coloca praticamente desde a nossa independência. Acredito que a intervenção do Estado deva ser feita em três domínios principais: primeiro na educação, nomeadamente na educação artística. Depois, numa intervenção nos meios de promoção e divulgação das pessoas que já tem obra, que precisa de ser divulgada e, sobretudo, muito mais promovida. Finalmente, a questão dos direitos de autor, que é bastante delicada porque somos um pais com parcos recursos. Aí, como noutros domínios, penso que o Estado deve intervir. Deve ter sempre um papel motor fornecendo energia de ordem económica mas também moral. Uma outra questão é a dos concertos, isto no domínio da música. Cabo Verde é tão pequeno que não faz sentido não extrapolar para fora todas as energias criativas dos bons projectos que tem sido feitos e desenvolvidos cá dentro. Por exemplo, lembro-me do caso da Finlândia, até porque sou um grande admirador do compositor Sibélius, que logo depois da sua independência, investiu fortemente durante muitos anos na promoção e divulgação da sua música no estrangeiro, não só sinfónica mas também popular, em países da Europa e também nos Estados Unidos da América.

ORÇAMENTO PARA A CULTURA MAGRO

Que é o que faz o Brasil hoje...

Exactamente, o Brasil aposta fortemente na divulgação da sua música no exterior, com os resultados que estão à vista de todos.

Costumamos dizer que Cabo Verde é muito conhecido lá fora, sobretudo por causa da sua música, mas esse é um esforço que tem sido feito pelos próprios produtores e músicos. Aí, o Estado tem tido uma intervenção reduzida e a dificuldade no aparecimento de novos valores e na sua divulgação acaba por ser muito maior...

Para já penso que tem que haver um maior orçamento para a Cultura. Ouvi dizer que neste momento está em 1% do bolo orçamental e eu considero que isso é muito pouco. Tem que haver mais meios económicos, mais meios humanos, para extrapolar tudo isto, não só dentro do pais, como também no estrangeiro.

Podemos pensar no teu próprio percurso, não é? Estamos num país que, apesar de relativamente jovem, apenas tem um único compositor de música erudita ou sinfónica. Isso não é um comprovativo do acto falhado que tem sido a educação artística de base no arquipélago, o facto de tantos anos depois ainda seres uma espécie de pregador no deserto no que diz respeito a essa vertente musical?

Eu faço música sinfónica porque razão? Se Cabo Verde tivesse uma orquestra sinfónica, se houvesse um público, uma rádio que transmitisse música clássica sem ser nos enterros, poderíamos compreender o meu trajecto. O meu trajecto, na verdade, é muito individual, muito meu. E também por isso não me considero um exemplo. Tendo um pais como este, até parece surrealista e algo louco que haja aqui um compositor sinfónico. O certo é que há, mas foi um caminho solitário.

ARISTIDES PEREIRA, O MECENAS

Não és um exemplo, mas o teu caso deve ser visto com atenção. Foste criado por ti próprio, não pelas condições onde estás inserido.

A história vem de trás. Quando tinha vinte e poucos anos lancei uma cassete artesanal no Daniel Vitória. Ele tinha por hábito na época fazer esse género de gravações com música de baile, como com os Kinkgs, por exemplo, música revolucionária, música acústica. Ele também gostava muito de música clássica e um dia ouviu-me tocar. Disse-me, “Vasco, vamos fazer uma cassete!”. E gravamos num piano vertical, que depois o Chico Serra acabaria por adquirir para o seu piano bar. A venda dessa cassete rendeu oito contos e tal, o que era bastante dinheiro em 1976. O Daniel Vitória não quis saber de ficar com o dinheiro e eu pude comprar um piano alemão para mim, graças a ele. Essa primeira cassete, que tinha o nome pomposo “De Quando Nasce o Homem”, foi parar não sei como às mãos do Presidente Aristides Pereira. Um dia o Daniel Vitória chamou-me e disse-me que o Aristides Pereira gostaria de conhecer-me porque levava sempre essa cassete para ouvir nas viagens dele. É importante que se diga que o Presidente Aristides Pereira na época foi aquilo que nós designamos hoje um mecenas, e não foi só para mim. Foi um mecenas para muitos artistas cabo-verdianos. Organizamos então um sarau em casa do Djosa Marques, onde estava o Aristides Pereira, a esposa, o Abílio Duarte. Ele ficou encantado quando me ouviu tocar e disse-me “eu quero ajudar-te. Como é que posso fazê-lo?”. E eu disse-lhe, “preciso de papel de música”. E todos os meses, durante algum tempo, recebi através do banco dois contos que me permitia não só comprar papel de música, mas também mandar buscar livros de piano em Portugal e outros materiais. Portanto, foi alguém com um pensamento de Estado, porque o Aristides Pereira era um homem de Estado, um mecenas, um melómano, que me resolveu apoiar quando estava a começar. Não só a mim, mas muitos outros artistas. Isso deu-me uma grande força moral.

E houve mais contactos com o Presidente Aristides Pereira?

Sim, houve sim. Quando o Presidente recebeu um piano novo convidou-me, tinha eu vinte e dois anos, juntamente com a Tututa, para darmos um concerto íntimo em homenagem ao Presidente Senghor, que estava de visita a Cabo Verde. Entretanto, o jantar demorou mais que o previsto e o concerto acabou por ser cancelado. No dia seguinte, eu e a Tututa, como não demos concerto, quisemos tocar para nós, para pelo menos poder estrear aquele belo piano (risos). Eu toquei, ela tocou. Tocávamos a quatro mãos, divertidos, ela sempre do lado esquerdo porque tinha uma mão esquerda incrível, eu do lado direito a improvisar. O Presidente Aristides, ouviu, foi à sala e imediatamente organizou um concerto íntimo para aquela mesma noite com alguns convidados, onde com a Tututa estreamos o tal piano, agora oficialmente. Isto é bonito, sabes?

É uma bela história.

Esta é a minha história, compreendes? Quando eu saí do grupo Colá, fiz questão de escrever na acta: “saio porque quero ser sinfonista.” E assinei o meu nome. E aí começou a minha viagem.

FALTA DE SEGUIDORES

Vasco, porque é que não há seguidores? Mais compositores que se interessem por música sinfónica? Porque é que não há sequer uma pequena orquestra de câmara em Cabo Verde, que se auto-intitula tantas vezes um país musical? O que falta para construirmos canais de ligação entre os jovens e a chamada música clássica?

Tendo Cabo Verde como referência, conhecendo a nossa realidade, é difícil aparecer mais gente na área. Mas por vezes, pergunto a mim próprio se não serei um pouco culpado, por nesses vinte e cinco anos que estou por cá não ter também incidido mais a minha acção na educação e nas energias da acção. Por exemplo, organizar uma orquestra, uma escola, isso são acções. Não havia professores, temos que ir buscá-los, numa primeira fase. O que se passa é que, por temperamento, nunca estive muito voltado para esse género de acção. Por outro lado, também podemos compreender que se eu gastasse as minhas energias a fazer isso, não teria conseguido fazer o que fiz. Não teria tido tempo para fazer as nove sinfonias, a música de câmara, as Danças de Câncer, os concertos para piano, os concertos para violino. Olha, em França, o meu professor de composição avisou-me, “ninguém dá trabalho a um compositor, mas se tu estudares etno-musicologia certamente terás emprego.” Ouvi o conselho dele. Ao mesmo tempo que estudava composição, também estudei etno-musicologia e foi nessa última condição que regressei a Cabo Verde. Pouca gente sabe disso, até porque ninguém mo perguntou, mas eu desde 1986 que sou funcionário do Estado de Cabo Verde. Faço o trabalho de investigação sobre a música de Cabo Verde, publiquei o livro sobre a morna e isso também deu-me tempo para compor. Foi graças ao Estado, a essa minha condição de funcionário público, que consegui fazer o que fiz. Dai a minha gratidão a este país.

Não sentes a necessidade de, além da tua arte, dar algo mais em troca? Partilhar o teu conhecimento, conseguir criar algum discípulo nessa vertente da composição?

Na verdade, a única pessoa que encontrei durante todo este tempo realmente interessada em aprender composição e orquestração foi o Voginha. Nomeadamente, para aplicar esses conhecimentos na vertente do jazz ou da música mais tradicional. E concluímos que eu não seria a pessoa ideal para o ensinar, porque a minha via é mesmo a da música sinfónica.

E isso não te trás algum desconforto, alguma mágoa pessoal?

Não, porque eu acho que a música sinfónica é um chamamento. Aliás, como tudo na vida e, mais ainda, no mundo da arte. Quando não há apelo, é porque não há interesse. Mas olha, neste momento, tenho três alunas que estão a aprender piano comigo na Ribeira do Calhau. Uma tem nove anos e as outras duas, doze anos. Estão na idade ideal para este tipo de aprendizagem. Daqui a algum tempo, quem sabe? Agora, eu gostaria de transmitir aquilo que sei e aquilo que fui adquirindo ao longo dos anos em termos de poética musical, mas também não há apelos. Nem da parte das universidades. Já tentei alguns contactos informais, mas não houve qualquer feedback.





O termo World Music ganhou projeção internacional a partir da década de 1980, graças a utilização de elementos musicais pouco conhecidos do público de cultura anglo-saxónica em geral. A sua utilização na música pop aconteceu pelas mãos de artistas como Peter Gabriel (que fez parceria com o artista paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan e com o senegalês Youssou N'Dour), Paul Simon ou David Byrne. Um outro colaborador importante foi George Harrison, que nas décadas de 1960 e 1970 trouxe ao mundo do rock a sitar indiana, tornando-se amigo de Ravi Shankar. Um representante muito importante da "pop world music" no Brasil é André Abujamra, que tem uma extensa obra dedicada à pesquisa e divulgação da diversidade cultural.

Pois bem, a cidade da Praia viveu este fim de semana a primeira edição do um auto-intitulado Cabo Verde World Music Festival. Quando fiquei a saber que o país promoveria um festival do género confesso que fiquei esperançado de que esta pudesse ser uma excelente ocasião para termos um festival de música que saísse dos padrões habituais dos grandes festivais organizados pelas Câmaras Municipais, incluindo a Baía das Gatas, Gamboa e o festival de Santa Maria.

Mas quando vi que para representar aquele que é, muito provavelmente, o país mais rico, criativo e diverso do mundo na área da produção musical (o Brasil), tinha sido escolhido o grupo As Tigresas do Funk (na imagem), confesso que fiquei não só desiludido como espantado. Aliás, pelas imagens que foram seleccionadas na televisão nacional de Cabo Verde dos vários participantes, talvez não fosse mau dar um novo nome a este evento, certamente fundamental para a promoção do país além fronteiras, como por exemplo, World Bundas Festival. 

Enfim, não vai ser desta que vamos poder ter um Zeca Baleiro a tocar nas nossas ilhas.





Quando se convida uma pessoa como Vasco Martins para uma entrevista, temos que estar preparados para o que isso significa. Falar com o Vasco é como falar com a ilha que ele mais ama, é como subir ao Monte Verde e contemplar, num raio de 360 graus, a beleza inusitada das montanhas rodeadas por mar e abraçadas pela areia branca. Aliás, foi isso mesmo que ele começou por dizer-me quando o contactei para a gravação desta conversa. “Eu vou, porque é contigo, mas sou eu que escolho o local. É melhor trazeres um casaco, porque ali faz algum frio”. Fomos para o Monte Verde, claro. Parou o pequeno jipe já envelhecido por muitos passeios, a uma boa centena de metros do sítio escolhido e fomos por ali acima, conversando sobre a vida, a natureza, os amigos. Este é o homem que mandou construir um arco de pedra, no início da estrada que liga a Baía das Gatas ao Calhau e que hoje é monumento de S. Vicente. É o homem que inventou o Tibete crioulo, para onde convida amigos e desconhecidos para o ouvirem tocar em sua casa. E marca a compasso a história da música de Cabo Verde. Conversamos, sentados no chão de uma colina, ouvindo apenas o silêncio que tanto o inspira. No final, ofereceu-me o seu novo disco, maravilhosa obra a que deu o nome de Li Sin, com composições para guitarra e quarteto de cordas. Faz-me companhia agora mesmo. A vida é mais bela, aqui sim. Obrigado, Vasco.

A entrevista, enquadrada na rúbrica Dôs, poderão lê-la na próxima edição do jornal A Nação. Olhem que vale mesmo a pena. 





«Ã‰ preciso observar, viver e guardar na alma.»
Orlando Pantera


Nunca mais me esqueço, faz hoje 10 anos. Estava eu no aeroporto de S. Pedro, na ilha de S. Vicente, me preparando para viajar para a cidade da Praia, onde o grupo de teatro do Centro Cultural Português iria apresentar, no dia seguinte, a peça "O Conde de Abranhos", no auditório da Assembleia Nacional. O telefone tocou e do outro lado da linha estava o actor e meu grande amigo Fonseca Soares: «João, prepara-te que a notícia não é boa: morreu Orlando Pantera.»

Fiquei triste e desolado. Era amigo dele desde os tempos de "Uma História da Dúvida". Pantera compôs, numa tarde de gravações na Rádio Nacional de Cabo Verde, a banda sonora integral da nossa adaptação de "Os Dois Irmãos", de Germano Almeida, numa sessão inesquecível que incluiu a gravação de dois temas originais. Um génio à solta que estava pronto para conquistar o mundo inteiro. Morreu na véspera da sua viagem a Lisboa, onde gravaria o seu primeiro disco. Imperdoável.

Orlando Pantera faz muita falta e não apenas pelo seu incalculável talento. Faz falta pela sua generosidade, pela forma como se dava à arte e à música, pelo significado que dava, no dia-a-dia, à palavra solidariedade e alegria de viver. Era um ser humano único, com um coração do tamanho do universo inteiro. Cabo Verde deve-lhe muito. A nova geração de músicos deve-lhe mais ainda. Sinto tanta falta daquele sorriso sincero e luminoso! A luz do arquipélago nunca mais foi a mesma, desde o dia em que a morte o levou de forma tão prematura no dia 01 de Março de 2001.

Aqui, o tributo de Mito, 10 anos depois.
Aqui, uma sentida biografia, coordenada por Djinho Barbosa






«Apesar do Governo não ter decretado feriado nacional quando morreste; apesar de a CMSV insistir em não te homenagear; apesar da Zau insistir em dar a uma praça da cidade o nome de um Luís qualquer de Portugal; apesar de não haver uma rua com o teu nome no Mindelo que tanto amaste; apesar de não haver um busto teu na ilha onde nasceste, nós não te esquecemos no sopro do teu clarinete que por estes dias invadem as nossas vidas, na saudade, no aperto no coração sempre que ouvimos BOAS FESTAS. Mas também na alegria do teu sorriso eterno, nos milhares de abraços apertados ao som do teu clarinete. Ha! Da crioula linda no peito ao som de um bolero ou de uma cumbia. Não te esqueceremos, nunca… So mas um solim, Luis?»

Eduíno Santos - Jornalista


Comentário: o som do clarinete de Luis Morais nos últimos dias do ano fazem tão parte da paisagem sonora da realidade cabo-verdiana que estas músicas desaparecerem subitamente do nosso quotidiano seria tão espantoso como se, de repente, deixássemos de ouvir as ondas do mar no arquipélago. O Luís Morais foi um homem que deixou marcas profundas como músico e foi o primeiro professor de música de gerações de cabo-verdianos. Raro é o mindelense que não tenha uma história relacionada ou sobre o Luís Morais. Aquela que mais me marcou - além do facto de ele sempre que me encontrava nas ruas da cidade me dizer, meio a sério meio a brincar, que um dia haveria de me oferecer um clarinete, tivesse eu tempo e paciência para aprender a tocar o instrumento - foi um concerto que ele deu num dos momentos musicais de uma das edições do festival Mindelact, onde no pátio do Centro Cultural do Mindelo fez o seu célebre número de ir desmontando, peça por peça, o seu inseparável clarinete sem nunca parar de o tocar. Luís Morais deixa muitas saudades, mas nesta altura do ano está mais presente do que nunca.





Norberto Tavares
(1956 - 2010)

“Se ver as portas franqueadas pelos produtores deverá custar a perda da minha identidade e liberdade de criação prefiro mil vezes deixar as minhas composições na gaveta.”






Hernâni Almeida, compositor, instrumentista e director musical de múltiplos projectos da nova geração. Tem já um novo disco aí à venda e não se considera um homem do Jazz. Quanto ao resto, Hernâni  fala como toca: de forma directa e desconcertante.

Consideras que a tua música está dentro do que poderíamos chamar as fronteiras do Jazz - já de si muito largas - ou preferes não colocar qualquer etiqueta ao que fazes?

Hernâni Almeida: prefiro não colocar etiqueta, se bem que há na minha música o uso de improvisação e para isso é preciso ter o vocabulário jazzístico, para haver um discurso musical coerente.

Está bem, mas em que prateleira a gente poderia encontrar os teus discos numa Fnac, por exemplo?

Provavelmente encontrarão na secção do jazz, mas eu preferia que fosse em world music, é mais livre para mim. O jazz já pressupõe um pouco de swing, e eu detesto swing jazzístico no meu projecto, gosto nos outros, mas não enquadra no meu projecto.

Mas o que é isso, do swing jazzístico, explica melhor…

Tecnicamente falando, é o uso de colcheia pontuada com semicolcheia, uma frase rítmica que ao ser tocada, ainda por cima no contrabaixo ou na bateria, dá ao pessoal aquela vontade de estalar os dedos e seguir o ritmo!

Mas para quem não entende de música, como se pode definir essa sonoridade?

Não sei se explico bem, é complicado falar de música sem o demonstrar com o instrumento, é uma forma mais directa de tocar, as pessoas sentem logo.

Pois, mas é estranho, porque se há uma ideia que as pessoas tem do jazz é que faz muito uso de dissonantes e por vezes nem é muito fácil para o ouvido, nomeadamente no jazz contemporâneo. Não achas que a tua música se enquadra neste contexto sonoro?

Não, graças a deus que não. Pelo menos no meu próximo disco que já vai sair no mercado, fiz questão de não usar os acordes dissonantes, acho que estudei o jazz exactamente para evitar tocá-lo, não quero estar numa prateleira em que a maior parte das pessoas vão achar a minha música um tanto ou quanto chata de ouvir

O bom jazz nunca é chato...

Eu sei, mas a maior parte das pessoas não o sabem. Como te disse, não digo que não gosto, gosto muito de jazz. Tocado por outros, mas não por mim

Continuo completamente convencido que é o que mais fazes. Basta ouvir-te ou ver como tocas em palco. Se aquilo ali não é jazz tenho que ir rever todos os meus conceitos musicais...

Olha, às vezes estou em casa e dou por mim a tocar acordes dissonantes, mesmo fortes, mas passo por aí apenas como exercício. Quando volto para o meu projecto, prefiro resoluções mais naturais, pelo menos para já. Daqui a uns anos posso experimentar outras coisas. Seja como for, percebo perfeitamente o que dizes, e acredito que seja jazz se assim o consideras. Mas prefiro não pensar na minha música como jazz!

O que são resoluções naturais, falando de música?

Evitar acordes dissonantes que podem ferir a sensibilidade dos que não os conhecem! Se bem que há uma arte na composição que serve exactamente para pegar duma progressão harmónica forte e conseguir encontrar notas que ligam um acorde a outro para que possa soar natural…

Ok, vamos sair deste beco porque esta conversa está a ficar um pouco dissonante! Dizendo o que dizes sobre o jazz, achas que existe, hoje, um jazz cabo-verdiano?

Há uma banda de São Vicente que eu conheço e que fazem uma música que está mais dentro do jazz. A banda "OLINÔS", que tem como líder o saxofonista Swagato, e outros grandes músicos, como o Humberto Ramos. Eles sim, estão no jazz. De resto, penso que não!

Como definirias o trabalho do Princezito, por exemplo? Ou de um Vasco Martins no piano?

O Princesito, já o disse antes noutra entrevista, é um grande poeta, que usa a música como meio de transporte das suas belas palavras. Em relação ao Vasco, não acho que seja um jazzmen, sinto que é mais livre do que isso, até porque um músico da craveira dele dispensa completamente o tal swing de que falava à pouco, ele tem uma linguagem muito própria e muito poética. Eu vejo o jazz como um estado de espírito também, e penso que nem um nem outro evocam o espírito jazzístico.

Tu trabalhaste com muitos músicos da nova geração. Alguns inclusive tragicamente desaparecidos. Como vês a música que se produz actualmente em Cabo Verde?

Hum, por vezes acho que Cabo Verde está parado musicalmente, há muitos festivais, de jazz até, mas sinto que não se está a criar nada mas sim apenas a repetir o que já foi criado há anos na música, em termos melódicos ou de poesia! Os nossos artistas copiam os espectáculos dos outros, é muito difícil, por exemplo, vermos algo novo num espectáculo hoje em dia, estão todos tão concentrados em ser originais que não se dão conta que estão a ser iguais!

Qual é a tua opinião sobre o novo festival de jazz da Praia, por exemplo?

Penso que a ideia é excelente, já fazia falta algo assim no nosso país. É um festival diferente em comparação ao que se passa com os outros, dá-nos a oportunidade de ouvir um repertório diferente. Está ainda em crescimento, ainda não é um grande festival, mas está a crescer, estive lá a assistir em 2009, tive pena de não poder ver o último dia, mas fora um ou outro artista, achei engraçado!

Faltou lá o Hernâni Almeida, digo eu…

Não sei, às vezes dá-me a sensação de aquilo ser tipo uma feira em que os artistas vão se expor. Prefiro para já fazer os meus espectáculos, organizados pela minha equipa, pois assim tenho por certo que só vai lá estar a ouvir quem sabe o que vai ouvir. Participar nestes festivais também pode constituir um risco, o pessoal pode não estar à espera e ainda podem pensar "tirem lá este Hernâni do palco, queremos música como deve ser!”

O teu disco de estreia nasceu a partir de um investimento pessoal. Não tiveste produtora, pagaste tudo do teu bolso. Já dá lucro ou ainda estás a pagá-lo?

Já consegui pagar quase tudo, o disco está praticamente pago. Consegui vender em Cabo Verde mil discos em seis meses, agora tenho mais para vender mas não tem vendido muito, ainda estou à procura de uma forma de distribuição lá fora. Mas com esta crise mundial, as pessoas tem receio de investir em algo novo. Seja como for, continuo a procura até encontrar. Prefiro andar devagar, mas seguro e com os meus pés!

Continuas sem produtor próprio...

Já trabalho com Lutz Meyer Scheel que é o meu produtor executivo, mas falta ainda encontrar um tour manager e uma distribuição no exterior. Mas o Lutz é mais um amigo que um produtor.

Quantas horas praticas por dia?

Pratico sempre que estou acordado. Não apenas na guitarra, pratico mentalmente, ando na rua, por exemplo, a pensar "hum, se eu juntar este acorde com aquela melodia, vai soar assim, hum, muito bom, se eu fizer assim vai ficar assim, boa!", e vou ouvindo as ideias que me passam pela cabeça enquanto ando neste mundo. Por vezes, tenho uma ideia bonita, e para não me esquecer, corro para casa para toca-la na guitarra.

Qual foi o último disco que compraste?

“The sixteen men of tain" de Allan Holdsworth.






Se ainda não provaram a famosa sandes de atum do Café Portugal, na cidade do Mindelo, ao som de “Caalma”, o novo Cd de Hernani Almeida, podem visitar sem mais demora  www.myspace.com/hernani1978 ou www.hernanicv.com e fique a saber mais sobre este o último trabalho discográfico deste virtuoso da guitarra.

Sucessos para Hernani !








Nasceu e cresceu no meio dos cavaquinhos, violinos e violões, tem as cordas e as notas musicais no sangue e há muito pouco que ele não consiga fazer com um destes instrumentos na mão. Um virtuoso, na mais pura acepção da palavra. E sonha ter uma escola para ensinar o que sabe.

Quantas horas por dia são necessárias de prática para poder atingir uma performance como a que tu consegues nos instrumentos de corda?

Bau: normalmente, para atingir os teus objectivos, numa exigência que é fundamental para qualquer artista, as horas nunca são demais. Claro, há sempre um limite, todos tem outras coisas que fazer, mas no meu caso particular toco cerca de seis a oito horas por dia. E tem noites em que me deito mais cedo, e acabo acordando por volta da uma da manhã e aí aproveito e fico a praticar até de manhã.

E tens aquele hábito bem mindelense de fazer aquela caminhada logo de manhãzinha, ir à Laginha, fazer um treino…

Antes corria mesmo, gostava de desporto. Mas neste momento ando um bocado malandro. Mas nessas noites em que eu fico a tocar até de manhã, preciso de descansar um pouco, senão não se aguenta.

A tua prática, o teu treino, está mais relacionada com a técnica dos dedos, da mão ou com questões harmónicas, de procura de novas sonoridades?

Pratico a criatividade. A harmonia. E também a ginástica dos dedos. Quer dizer, depende do que eu pretendo em cada altura.

Como é que nasceu esse teu gosto pelo instrumento de cordas. Todos sabemos que o ambiente familiar foi fundamental, mas o que queremos saber é quando é que pegaste num instrumento desses pela primeira vez e te apaixonaste por esta prática?

Desde que eu me lembro de existir, com 3 ou 4 anos, que o instrumento me chamava muito a minha atenção. Via as pessoas a passear com os seus violões, as serenatas...

Tens a memória daquela primeira vez em que pegaste num cavaquinho ou numa viola e começaste a tocar ou a tentar tocar?

Na oficina do meu pai, com uns seis anos, eu via os instrumentos com uma corda, duas cordas, que ali estavam para compor e eu ficava a pegar neles e experimentava. Aquela oficina era o meu mundo. Instrumentos pendurados, outros no chão, uns inteiros, outros por construir. Foram dos melhores momentos da minha vida, aqueles em que eu passava na oficina do meu pai, rodeado por todos aqueles instrumentos de corda.

Começaste a tocar então num cavaquinho de uma corda só?

Era isso mesmo. Eu pegava naquilo e tentava tirar música dele...

O teu pai nunca se chateava por estares a mexer nos instrumentos?

Ele não era pessoa para se zangar.

Mas sentias que ele ficava contente por sentir que poderias seguir as suas pisadas?

Ele era um observador, ficava ali a ver o que será que aquela criança iria conseguir fazer com aquele instrumento nas mãos. Até porque depois, um dia apareceu na casa com um cavaquinho embrulhado num papel de saquinha, feito à minha medida, pelas suas próprias mãos. Não se poderia imaginar um presente melhor do que aquele.

Foi logo a partir daí que terá nascido essa tua “mania” de construíres os teus próprios instrumentos, e feitos à medida? Um dos teus cavaquinhos mais conhecidos é maior do que o cavaquinho tradicional…

Sim, com a aprendizagem senti necessidade de fazer um cavaquinho maior, para me dar maiores possibilidades nos solos. Gosto dos instrumentos quando são feitos pela minha mão. Há um outro trato. Mas hoje em dia, com as necessidades técnicas e de electrificação, somos praticamente obrigados a adquirir os nossos instrumentos já feitos, porque não se encontram certos materiais em Cabo Verde.

Sendo, como és, um músico muito viajado, conhecendo muitos outros instrumentos, como é que classificarias a qualidade dos que são feitos aqui em Cabo Verde?

Não haja dúvidas que o nosso cavaquinho, o cavaquinho cabo-verdiano, tem um som próprio. Mas muitas vezes nós não temos muitas opções de materiais, tipos de madeira, etc. que nos possam fazer optar pelo melhor possível. Nem sempre conseguimos.

Tens a sensação de que se tivesses nascido num país europeu ou nos Estados Unidos, poderias ter uma projecção internacional, enquanto instrumentista, que Cabo Verde não te permite alcançar?

Tenho consciência que poderia ter ido um pouco mais longe. Aqui há muitas limitações, é um meio curto. Já o facto de estar num local pequeno, sem poder de compra, sem mercado, não te dá muitas opções...

A gerência da tua carreira é feita por ti próprio?

Tive um tempo com o Djô da Silva mas neste momento estou parado. Em reflexão. O que não é bom. Estar parado nunca é bom. Continuo a tocar nos locais habituais, nos hotéis e bares do Mindelo, mas é por prazer, não pelo dinheiro. Eu vejo a música, ou a arte em geral, como uma fonte de prazer. Fazer as pessoas ter prazer. A parte financeira é importante, mas vem depois.

Quando começas a solar em cima do palco, o que te passa pela cabeça? Viajas, esqueces-te onde estás? Ou simplesmente estás concentrado em tocar o melhor possível a todo o momento?

Eu nem me apercebo do que se passa à minha volta. Estou num outro mundo. A viajar. O som é que me leva. Esqueço-me do público.

Mas gostas do aplauso final?

Claro, é um incentivo. A gente sente que deste alguma coisa e estás a receber algo em troca.

Se pudesses definir qual a tua posição no panorama musical cabo-verdiano, o que poderias dizer? Tens consciência da importância que tens no meio?

Penso que sim. A gente tem que saber o que andamos aqui a fazer. Mas de resto tenho presente que estou sempre aberto para aprender algo de novo, e que é importante manter os pés no chão. Ando sempre à procura de algo novo. Algo que ainda não exista. Ir ao encontro disso. E penso que neste percurso, como cabo-verdiano, tenho dado o meu contributo.

De todos estes músicos com quem já trabalhaste, qual foi o que mais te marcou? Aquele que te fez sentir mais prazer em acompanhar?

Há vários. Desde que seja alguém que transmita algo, que consigamos ter uma comunicação em cima do palco, a coisa funciona e dá prazer a todos.

E como é, por exemplo, acompanhar um músico como o Paulino Vieira?

É um músico extraordinário. E com ele temos que estar preparados para tudo, porque muita coisa pode acontecer com o Paulino. Mas às vezes é difícil…

O que te falta fazer enquanto criador, enquanto músico? O que gostavas de fazer que ainda não conseguiste, o teu maior sonho?

Criar uma escola de música. Ensinar as crianças um pouco da minha arte. Faltam-me algumas condições. Em primeiro lugar, em próprio tenho que me dar um tempo para este projecto. Tenho uma grande necessidade de transmitir o que sei. 







Ainda não ouvi, mas foi aconselhado por um cliente aqui do Margoso e não podia deixar de partilhar. Não deixem de ouvir (e comprar, já agora) o último trabalho discográfico de Jorge Humberto, "Ar de nha terra". Cá está um músico que, apesar de ser dos nossos maiores talentos na arte de compor canções, provavelmente vai precisar de ganhar algum importante prémio lá fora, para ser reconhecido cá dentro. Ou uma homenagem póstuma, quando for caso disso (figa canhota, figa canhota!). Más un bon trabói de Jorge Humberto, como disse o meu amigo Fonseca Soares.





Já está disponível a página oficial do Kriol Jazz Festival 2010, que terá lugar na cidade da Praia nos próximos dias 9 e 10 de Abril. Segundo se pode ler esta edição contemplerá "um vasto leque de artistas crioulos num intercâmbio musical e humano em torno da eloquente programação oferecida nesta segunda edição."

Em 2010, o Festival presta homenagem ao compositor e pianista Horace Silver (na foto), co-fundador do movimento hard bop nos anos 50, um ícone do lendário Blue Note, um gigante do jazz, um monstro sagrado cuja as canções "Capeverdean Blues" e "Song for my father" demonstram seu compromisso com Cabo Verde, onde seu pai nasceu.

Consulte as novidades do certame, aqui






Grande destaque no Diário I, uma reportagem surpreendente. "Quatro magnatas da música descobriram Ilo Ferreira num bar do Mindelo. Querem fazer dele uma estrela nos EUA", reza o jornal luso. A figura em causa chama-se Ilo Ferreira, é filho do conhecido Vlú, e já está nos States a ganhar visibilidade artística. O título maior da notícia: "O milagre de S. Vicente. De Cabo Verde para a NBC ."

Afinal, ainda há milagres acontecendo na ilha do Porto Grande. Leiam tudo e mais alguma coisa, aqui.





No próximo dia 22 de Janeiro a Rua de Lisboa vai juntar num concerto comemorativo do dia do Município de S. Vicente nada mais nada menos que Boy Ge Mendes, Sara Tavares, Nancy Vieira e Paulo Flores. Sublinho o primeiro nome, compositor que comemora 40 anos de carreira e é, na minha opinião pessoal, um dos mais brilhantes músicos cabo-verdianos, criador de uma sonoridade única e original.

Bem que este seria um caso para dizer sabe pa fronta!, mas contando todos os gastos desta festa, acho que preferia ver esta verba ser aplicada numa entrada financeira da Câmara para a aquisição do Éden Park. E no dia da abertura do novo teatro municipal, convidavam-se estes e muitos outros músicos para a celebração do salvamento, in extremis, de um património cultural de inestimável valor para todos os mindelenses e cabo-verdianos. Aposto que nem cobravam cachet.

(A propósito, a petição já vai em 894 assinaturas. Seria interessante chegar ao milhar. O link está na coluna à direita.)

Nota Margosa: entretanto, soube hoje (dia 18 de Janeiro) que Sara Tavares, por motivos profissionais, não vai poder estar presente no concerto que comemora os 40 anos de carreira de Boy Ge Mendes. Uma pena.





Morreu um dos maiores da nossa música. Paz à sua alma.

(imagem A Semana online)






"Morreu na semana passada, aos 71 anos, o velho Manel d’Novas. Para quem não saiba, Manel d’Novas é num dos mais notáveis escritores de mornas de Cabo Verde. Como o seu falecimento não suscitou quase atenção nenhuma nos media portugueses, fiquei um pouco indignado e triste com mais este exemplo do galopante triunfo de um certo cosmopolitismo parolo.

Fosse Manel d’Novas inglês, francês, cubano ou norte-americano e o acontecimento teria dado origem, pelo menos, a uma ou duas daquelas primeiras páginas estilosas, com uma fotografia a preto-e-branco a toda a altura da página e uma frase de efeito, compungida, rendendo homenagem à genial simplicidade do trovador da boina. Mas Manuel Jesus Lopes é apenas um escritor de canções num idioma exótico falado em bairros problemáticos de Lisboa."

M.J. Marmelo in Público (via Teatro Anatómico)