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Ilustração dos artistas italianos Maurizio Cattelan e Pier Paolo Ferrari











Fantásticas criações do artista belga Ben Heine, da série "Pencil Vs Camera" onde mistura desenho e fotografia, imaginação e realidade. Vejam e apreciem a série completa, aqui





Circula na rede social Facebook uma pequena história que hoje gostaria de partilhar com vocês: um homem chama um chefe de um grupo de seis músicos para tocar no seu casamento. "Quanto é que vocês vão cobrar, mais ou menos?", pergunta o dono da festa. O músico diz que cobrará cerca de "dois mil euros." Reacção imediata: "tanto! Para tocar cobram isso tudo!". Ao que o músico respondeu, "olhe, chame seis canalizadores para trabalhar em sua casa no Sábado, das 18:00 horas até depois da meia-noite. Pode ter a certeza de que nós vamos tocar pela metade do que eles lhe iriam cobrar."

Isto para dizer o quê? Bem, para dizer que se querem que se acabe com o choradinho do apoio que tantos dizem ser a única coisa que os artistas desta terra sabem fazer, não seria mau, em primeiro lugar, começarmos por respeitar o trabalho deles, não torcendo o nariz de cada vez que se cobra alguma coisa por um livro, uma peça, um CD, um concerto. Disse-me uma vez um artista meu amigo que não lhe pedissem que ele desse de graça a única coisa que podia fazer profissionalmente e com a qual ele ganhava o pão-nosso de cada dia. Mas também não é apenas uma questão de sobrevivência, é uma questão de valorização e uma questão de respeito pelo trabalho dos outros. Na arte não é diferente. Não devia ser diferente.

A grande maioria dos artistas de Cabo Verde não vive da sua arte. Aqueles que conseguem viver da sua arte são logo apelidados de preguiçosos ou levianos porque "não arranjam nada melhor que fazer". Eis um lado da questão que é preciso alterar radicalmente o quanto antes: essa mentalidade de que a arte é algo sem valor. Não é. O seu valor está no alimento que dá ao espírito e à alma dos homens e mulheres deste mundo. Sem ela seriamos ainda mais obtusos, o planeta ainda mais perigoso, a vida ainda mais assustadora. E isso não tem preço.


Não faltem, se estiverem em Lisboa. 70 anos com o poeta Arménio «Conde» Vieira serão comemorados com Arte, Poesia, Música e Amizade.



«Que nome dar a este espaço de exaltação estética, em que somos convocados para a celebração da palavra, numa ritualização mágica e interactiva, que nos franqueia os domínios do sagrado pela porta profana do fascínio, do prazer e da fruição plásticas? Domina nestas performances o aparato da sua encenação, e não estamos distantes dos rituais da sagração. Mas sem obediência a um qualquer cânone, que não seja o do improviso, da experimentação, da irrupção do novo. Não faltam também, como nos domínios do sagrado, as técnicas, os instrumentos, os objectos, e até a figura do celebrante, embora aqui estejam estiolados, implodidos na sua missão de ordenamento, regulação e controlo, que dão lugar a uma prática da desobediência, da iconoclastia, de inesperado e até de insólito. É uma atmosfera mais mágica que mística, um território mais estético que religioso mas onde não estão totalmente ausentes o espiritual e o sagrado. Os caminhos é que são outros, diversos, inusuais. Enquanto espaço de ritualização ele obedece a um processo de constante reinvenção, recriação. É a isto que chamamos PERFORMANCE POÉTICA, ou POÉTICA PERFORMATIVA, ou ainda ORAL ACTION (à maneira da Action Painting), território complexo e pluridisciplinar de hibridização pós-moderno, onde as linguagens se fundem num processo fecundo de crioulização e mestiçagem.»

Mito Elias

Para quem está em Lisboa... E isto em Cabo Verde, seria bom, não? Maijina...



Ver vídeo de apresentação, aqui






Em Agosto o país entra em férias, mas a igallery continua aberta para acolher mais uma exposição. Desta vez uma série de esboços/ experiências do que virá a ser uma exposição em grandes dimensões: sketches for “freedom fighters collection” são um conjunto de 15 peças feitas à base de serigrafia e acrílico da autoria de Abraão Vicente. Apenas uma parte dos freedom fighters estão presentes nesse lote de experimentações. A expo estará aberta ao público a partir de segunda feira, 2 de Agosto. Venham pois degustar livros e imagens.








Numa altura em que, sem saber porquê, César Schofield Cardoso resolveu mandar uns certos  tipos àquela parte e apagou, até ver, todo o passado do seu Bianda, achei que serei uma boa altura para publicar aqui a conversa que tivemos os dois a propósito de arte e criação.

O César, que gosta de se intitular artista visual, porque é aquele que vê com olhos de ver, explica o que quer isso dizer e como se sente umas das pessoas que mais contesta o estado de coisas do seu país, nomeadamente na área cultural. Já o disse várias vezes: é uma voz que merece ser ouvida.

Não tens a sensação, várias vezes, de estares a pregar no deserto?

César Schofield Cardoso: Frequentemente.

Porquê?

Porque parece que o esforço empreendido para estudar, saber, procurar, tentar perceber o que posso fazer para ser diferente não se traduz em impacto esperado. E isso causa-me internamente muitas vezes uma grande insegurança, como se estivesse a trilhar o caminho errado.

Mas quando fazes as críticas que fazes e da forma que fazes, estás a pensar nesse tal «impacto esperado» ou fazes apenas porque isso é também uma forma de desabafo público?

Mais a segunda opção. Tenho por mim que a única coisa que pode causar impacto é o trabalho. As críticas são mais desabafo. Tento alinhar as críticas à produção. Se criticas, tens de ter exemplos a dar.

Cá está um aspecto que me interessa especialmente, nomeadamente no campo da criação artística. Consideras que os artistas reflectem e pensam sobre as suas próprias obras?

O problema entre nós é o conceito de produção artística: é uma forma de entretenimento ou é uma acção?

E qual é o teu conceito?

O meu é acção.

E a reflexão sobre essa mesma acção, onde fica?

Pois, se tem ideia que combato veementemente e que está de forma abundante no discurso político é a ideia da arte-entertenimento. A arte é uma coisa muito séria para ser tratada como mera diversão-decoração

E pegando nas tuas próprias palavras, pergunto: Cabo Verde leva a sério a sua própria Arte?

Terminantemente, não. Ainda não (re)encontramos a boa ligação entre a Arte e a Sociedade. Talvez ela tenha existido no tempo da Claridade. Talvez ela tenha existido durante a luta de libertação. Hoje, precisamos de novas causas.

Entretanto passaram-se décadas. O que falta para que o pensamento voltado para a arte, a conceptualização dos próprios criadores seja tão importante quanto a criação em si? Não sentes que há um enorme vácuo?

Sinto que já não podemos continuar no impulso. Fazer arte por paixão somente. Precisamos de produção intelectual, de forma integrada, que possa influenciar a produção artística. A meu ver isso passa, primeiro, por ensino e, depois, por crítica.

Mas o que podemos fazer se os próprios artistas não estão disponíveis para essa reflexão? Parece que te é proibido falar do teu próprio campo de concepção criadora, porque se és músico e reflectes sobre a música que se faz hoje, a discussão extravasa logo para questões menores e até pessoais sobre quem é mais importante e quem fez mais em determinadas alturas...

Por isso mesmo defendo uma certa "institucionalização" da arte. Como disse a Ministra da Cultura, temos que diminuir o achismo. O drama do artista cabo-verdiano, é que ele é, na sua maioria, de formação autodidacta, um tipo de formação francamente desvalorizada. Precisamos que validem o nosso conhecimento.

Isso é um pouco assustador. A cultura não se institucionaliza, é contra a sua própria natureza...

Sei que percebeste o que quis dizer. O que é a escola senão uma instituição? Então vamos defender aqui que não é preciso escola para a Arte?

Depende do conceito que estás a dar ao termo «escola». Se for para nos por a pensar todos a mesma coisa a partir de receitas pré-concebidas, não vale a pena...

Aí vem a segunda fase, a crítica. Eu adoro a crítica. Contrariando muita gente, tenho um enorme respeito pelos críticos. Sigo diariamente a crítica do cinema, por exemplo, e mesmo se de vez em quando estou diametralmente contra uma determinada crítica, foi preciso ela ter existido para que eu pudesse ter uma opinião diametralmente oposta. Para mim a crítica é a parte que nos vai tirar do academismo, para nos levar a produzir coisas novas de verdade. A Arte só existe quando há criação.

Porque se critica tão pouco em Cabo Verde nos palcos, mas se critica muito nos bastidores?

Fundamentalmente, porque a crítica tem que ser estruturada, e isso dá muito trabalho. E feita por gente preparada, por historiadores da arte, por sociólogos, por antropólogos. Em Cabo Verde a crítica vai continuar a ser feita nos bastidores porque não temos a certeza das coisas que tiramos da boca. Mas isso não é fazer crítica. Vamos lá alinhar as definições. Isso é mal-dizer. Aqui estamos a falar de crítica-análise.

Pelo teu discurso e a tua postura, parece-me claro que concordas com a junção dos Ministérios da Cultura ao Ensino Superior, porque muito do que dizes junta a questão e a problemática da formação à da criação artística...

Sou a favor que esses campos de actuação (Ensino e Cultura) sejam vistas juntas mas não defendo uma única orgânica para os dois. Aliás, falando da entrevista da Ministra, ficou-me claro que a Cultura vai continuar na berlinda.

Isso é bom ou mau? Estar na berlinda costuma ser visto como algo positivo.

Bem, o que quis dizer é que a Cultura vai continuar sem uma orientação forte.

À deriva?

A deriva é um movimento. Nem isso, atracada no porto. A nossa cultura ainda está à espera de rotas. Do tal "Planeamento Estratégico da Cultura".

Se te convidassem para integrares os quadros do Ministério da Cultura e tentar aplicar muito do que defendes, aceitarias?

Não teria o perfil para nenhuma posição no Ministério da Cultura. Profissionalmente desenvolvo Sistemas de Informação e por aí já vou tendo uma carreira de que me orgulho. Na Cultura posiciono-me como um produtor e, confesso, gostaria que a minha profissão fosse essa. Até porque o Ministério da Cultura não faz a Cultura, facilita-a.

Num dos teus últimos textos intitulas-te de «artista visual». O que quer isso dizer?

É o artista que tem olhos. Literalmente.

Olhos para...

Ver

Ver o quê e como?

A maioria das pessoas olha, o artista visual vê. Treina-se para isso.

E como é feito o teu treino? É diário? É mais introspectivo, mais reflexivo? Como decorre o teu processo de criação, seja com a câmara fotográfica, seja com o vídeo?

Inicialmente, era muito físico. Sempre gostei imenso de composição. Mas hoje, com um pouco mais de experiência, é muito introspectivo. Passo metade do ano a fotografar e a filmar dentro da cabeça e a outra metade a fazê-lo com a câmara. Leio muito e um pouco de tudo. E a cada leitura acabo por criar imagens na cabeça.

Não corres o risco de, por tanto reflectires, as pessoas dizerem todas que és um grande chato, e seres reconhecido antes por isso do que pela tua própria obra artística?

Sim, corro esse risco. Mas a minha prática tem confirmado esse caminho. Importante é fazer. A produção é a única confirmação dessa conversa fiada.

Qual é a tua relação, enquanto aquele que vê no seu acto de criação, com o facto de seres um menino de Soncent e amares profundamente a Praia, que é a tua base inspiradora? Por vezes, não tens sentimentos contraditórios, quanto mais não seja por causa do nosso DNA, um pouco bairrista por natureza?

Mindelo é um lugar que nasceu já sendo cidade. É cosmopolita por natureza e isso reflecte-se sem dúvida na minha maneira de ver as coisas. Praia, aliás, Santiago representa uma tremenda experiência telúrica. Aqui a Cultura significa Terra-Natureza-Homem. Considero-me muito mais rico depois de ter permitido essas coisas coabitarem dentro de mim. Sou menos conservador que o badiu e mais telúrico que o sanpadjudu de Mindelo.





«O Erro é mais omnipotente do que Deus.»

Provérbio e Imagem de Pedro Proença - artista plástico






Ministério da Dor

1. O ensaísta português João Barrento escreveu no seu livro A Espiral Vertiginosa: «Não conhecemos a dor. Não queremos conhecê-la, nas sociedades anestesiadas em que vivemos, no mundo ocidental ou ocidentalizado. Perguntar-se-á: e todas as dores deste século? E África, e a Palestina, e o Kosovo, agora mesmo? Direi ainda que não as conhecemos: não fizemos o trabalho de luto sobre elas, podemos reconhecer a dor de cada vítima da barbárie, mas a dessolidarização constitutiva da sociedade de massas, mediatizada e globalizada, impede-nos de chegar a uma catarse colectiva, de ir além de um simulacro, de viver mais o espectáculo da dor.»

2. Estou cada vez mais convencido que é isso mesmo que nos falta. E nos vai faltando de forma mais grave e urgente à medida que o tempo passa e continuamos com as nossas cabeças enfiadas num monte de areia constituída por certos conceitos que nos embriagam ou, pior ainda, nos anestesiam, como sejam os de desenvolvimento sustentado, entretenimento, indústrias culturais, investimento externo, crescimento económico. Sim, todas estas pílulas que nos são fornecidas tão generosamente pela sociedade capitalista nos fazem olvidar que um lugar que não chora as suas dores perde a sua identidade.

3. Quem conhece minimamente a História está consciente que isto não é nenhuma novidade. Na verdade, desde os Gregos que não se choram as dores com olhos de ver e o coração em sangue. No mundo de paixões que era o da tragédia clássica grega, a dor – e também a alegria, o canto e o êxtase – eram matéria-prima da vida ritualizada. Escreve João Barrento, «a vida foi-se dessacralizando, tornou-se mais confortável, mais baça… e mais longa. Ficamos mais sós. Sós, não porque nos faltassem os outros, muito pelo contrário. Ficamos sós porque fomos amputados de alguma coisa que era parte de nós.»

4. Ao contrário, em vez de identificar, isolar e ritualizar as dores das nossas vidas, sejam elas individuais ou colectivas, acumulamos coisas. Objectos, muitos. E sentimentos transformados em coisas. Acumulamos panfletos, convicções sem significado, namoradas e amantes, amigos no Facebook, downloads de músicas em formato mp3, experiências pouco ou nada vivenciadas, canais de televisão. Acumulamos telemóveis e computadores portáteis. E a acumulação converte-se em lixo. As nossas dores estão resumidas ao conteúdo do saco do lixo que vomitamos todos os dias para os contentores (quando os há).

5. Já fomos um povo que chorou e viveu as suas dores. O acto de abrir a porta para oferecer um prato de comida, de contar histórias ao final da tarde, do sair pela noite cantando serenatas não programadas previamente, são resquícios e sinais de uma certa sociologia do estar com o outro que eram o resultado de uma forma peculiar de viver a dor, fosse ela a miséria, a fome, as dificuldades, a seca, a morte de um ente querido. Ainda no mundo rural das ilhas esses sinais estão presentes, mas diluem-se nessa tal perspectiva global de desenvolvimento que quer fazer de Cabo Verde uma plataforma de uma série de parâmetros económicos ou de negócio. Onde antes se acumulavam simpatias, hoje acumulam-se projectos de plataformas globais.

6. O que vou dizer agora não é nenhuma novidade. É pela arte e pela criação artística que melhor se pode exorcizar as dores de um lugar, de uma sociedade, de um país, de uma cidade, de uma cultura particular. Não há outra forma. E ao olvidar e deixar para trás tudo o que diz respeito a esta componente fundamental da existência humana corremos o risco, melhor, já estamos a viver essa realidade concreta, de viver em permanente anestesia, confundindo o espectáculo da dor com a dor propriamente dita. Parece que nunca vimos (ouvimos? sentimos?) Paulino Vieira a tocar com a sua harmónica a introdução à morna M´cria ser poeta, transportando para aquelas notas musicais e para o seu jeito de tocar todas as suas dores de forma concentrada, única, reveladora.

7. Porque nos emocionamos perante uma obra de Manuel Figueira? Porque nos vêm lágrimas ao olhos quando vemos os bailarinos do Raiz di Polon em êxtase corporal? Porque paramos perante um poema de Arménio Vieira? Porque nos parece que Sara Tavares, essa alma pura, nunca jorrou as suas dores de forma tão intensa como quando canta, em crioulo, a música Guisa, como se quisesse partilhar connosco todas as dores do mundo? Nós, que choramos os mortos de forma tão intensa e ritualista, porque nos esquecemos cada vez mais de chorar a dor dos que ainda cá estão?

8. Estamos cada vez mais sós e por paradoxal que possa parecer, o acto da criação artística é a nossa salvação. Paradoxal porque esse acto de criação é um acto isolado, incomensuravelmente dorido e não partilhado, tantas vezes resultado de urgentes, interiores e intransmissíveis reflexões pessoais. No entanto, o resultado, esse sim, pode ser um reflexo que nos desperta, nos obriga a olhar para o outro e para nós, de fora para dentro, que nos questiona. Nós não fazemos a mínima ideia, mas é assim mesmo: o acto criativo, quando levado a sério, implica um enorme sacrifício, isolamento e uma capacidade de sofrimento que, por ser partilhada à posteriori, faz do artista-criador o mais generoso dos seres.

9. Ah! Se soubessem como dói! Uma história verídica que me contaram: uma pintora famosa – muito famosa, mas cujo nome omito aqui por ser pessoa viva – quando se fechava no seu atelier pintando, proibia a entrada de qualquer outra pessoa no seu espaço de criação, incluindo os próprios filhos. Se estes quisessem comunicar com a mãe teriam que faze-lo colocando folhas de papel por debaixo da porta. Querem maior acto de sacrifício do que este? Podemos nos chocar e bradar aos céus que tudo isto não faz muito sentido, mas depois vemos as obras e ilumina-se-nos o espírito. Faz sentido, sim. Todo o sentido. Há maior dor que a dor do parto? E o resultado não faz todo o sentido? Faz sentido, sim.

10. Quando falamos com uma verdadeira criadora como é, por exemplo, Luísa Queirós, entendemos a sua pintura porque é o reflexo claro e imperturbável de muitas dores acumuladas. Quando vemos Vasco Martins ao piano olhando para o céu antes de tocar o primeiro acorde de mais um tema exaltante, entendemos porque um homem daqueles se isola num vale como um eremita para ficar mais perto dos Deuses… e das suas dores, certamente. Um verdadeiro criador está sempre a um pequeno passo de um abismo qualquer. E muitas vezes salta para o vazio. Por isso quando é bom, quando se revela, falamos em soco no estômago. Andamos a precisar de levar porrada. Mas porrada a sério.

11. Um país que não entende isto, que não se identifica com as suas próprias dores, exteriorizadas pelos seus criadores e artistas, nunca poderá ser um país cultural. Um país que não respeita as dores de parto de cada obra de arte que é capaz de gerar será também incapaz de se olhar interiormente. Acabará invadido e assimilado por este tsunami global. É urgente pararmos com este fingimento de que temos muitos museus, génios espalhados pelos quatro cantos do arquipélago e uma política para a cultura neste país. É urgente transformar o Ministério da Cultura num verdadeiro Ministério da Dor. E acabar com a anestesia. Desligar a televisão e voltar às montanhas. 






Louise Bourgeois
(25 de Dezembro de 1911 - 31 de maio de 2010)
artista plástica


«Fui ao Inferno e voltei 
e, deixem-me que vos diga, foi maravilhoso.»





«O facto de ninguém te entender não faz de ti um artista.»
Frase escrita na porta da casa de banho da Escola Superior de Teatro e Cinema






O auditório da Reitoria da Uni-CV vai ser, nos dias 16 e 18 de Março, pelas 18:30 horas, palco da apresentação dos 10 vídeo-postais de Mito EliasNa fai minotu”.

Mito Elias, como é sabido, é um artista cabo-verdiano com um marcante percurso nas artes plásticas. Muito multifacetado, a videoarte é das últimas especialidades com que vem brindando Cabo Verde e o mundo.

Com obras com um vocabulário muito próprio, por vezes quase experimentalista, Mito já expos em diversos espaços em Portugal, onde vive, Estados Unidos, China, Brasil, entre outros. Em Janeiro, expôs na Uni-CV.

Eu, se estivesse por lá, não perdia isto por nada deste mundo. 








Exposição de pintura de Tchalê Figueira, na iGallery. A abertura está marcada para o dia 4 de Março pelas 19 horas.

"Tchalê Figueira é uma criança gigante que pinta “bitchins” e “gongons”. Alguém que colore um livro de histórias sem figuras nem contornos. Labirintos que só perceberemos quando chegamos à idade do entendimento. Tchalê é a criança “terrible” que dialoga com cada personagem da Rua de Praia, que conhece cada criatura do seu Mindelo, que fantasia com todo o feminino do universo. Menino traquinas capaz de pronunciar todas as palavras, de eliminar a ideia do proibido, trazer toda a intimidade da porno-grafia quotidiana e normaliza-la. Mestre de monstros velhíssimos, perversíssimos. Indomáveis. Ele próprio assim."

Texto de apresentação da exposição






Para que serve a Arte?


À melhor resposta, ofereço um café










Se há algo que é consensual para toda a gente é o facto de não se poder construir um edifício começando pelo telhado. Há que projectar primeiro, a partir de uma profunda reflexão sobre o local onde a obra vai ser implementada, as suas características, a sua integração paisagística e a forma como se vai relacionar, visual, urbana e socialmente, com os restantes prédios, ruas e casas. Depois o próprio projecto tem que ter em conta o que se pretende para a casa. Só depois começamos a construção e esta, como é óbvio, começa sempre pelos alicerces. Não sendo assim, mais dia menos dia, a casa vem abaixo.

É precisamente isso que está a faltar a Cabo Verde, 35 depois da Independência do arquipélago: um pensamento (e consequente fazer) projectado, consistente, realista e de alto índice de praticabilidade de educação artística no país. Porque, e esta é outra verdade tão evidente que se torna banal, é pela educação que tudo começa. Se não temos um pensamento voltado para a arte (e não temos), há falta de educação artística de base isso se deve. Se temos um cinema que morre e agoniza (veja-se o caso do Éden-Park), é porque não temos uma educação artística de base. Se continuamos a menosprezar o papel da cultura e dos seus intervenientes, caindo no engodo de que o investimento público na área é dinheiro deitado no mar (que é como quem diz, para sustentar alguns oportunistas que não tem mais nada melhor que fazer na vida), é porque nunca tivemos uma educação artística que nos mostrasse o quanto a arte pode fazer a diferença num pais como o nosso.

Parece que Cabo Verde está acordando para esta realidade. Por mim, tenho muito claro que não há outro caminho. Estudos estão feitos em todo o mundo e está mais do que provado que a cultura faz toda a diferença. Pode fazer toda a diferença. Seria bom pensarmos porque é que ainda hoje, num pais destes, quando um jovem de 17 anos diz aos pais que quer ser músico e estudar música, lhe respondem algo como “tudo bem, fazes isso nos tempos livres, mas entretanto tens que estudar algo realmente importante, como direito, economia.” Só a educação artística de base pode mudar esta triste realidade.






Mais uma exposição na I. Gallery, o espaço que a livraria Nho Eugênio decidiu, em boa hora, criar, para gaúdio de todos quantos apreciam convívios marcados pelo bom gosto, conversa e companhia. Desta vez, cabe a Abraão Vicente apresentar-se com uma exposição de pintura intitulada “A idade de Bruegel ou a queda dos anjos rebeldes” que, segundo o próprio "mais não é que um exercício de leitura de algumas obras de Pieter Bruegel, pintor flamengo que viveu entre 1525 e 1569."

As obras apresentadas por Abraão Vicente nesta colecção de oito quadros, são justaposições, novas composições, rearranjos de temas, figuras e imagens pertencentes não só a obras bem especificas de pintor flamengo, mas também ao imaginário da época. Ao extremo exercício de composição, tradução, volume, contemporização de Bruegel, Abraão Vicente contrapõe traços livres e rápidos, figuras propositadamente descontextualizadas e um guião que bem poderia ser a de hoje, nas ilhas. Das ilhas. Sendo por isso “A Idade de Bruegel” um tempo simultaneamente longínquo e recente. Diria, que se repete no hoje. Algures.

A abertura desta exposição acontece na próxima quinta-feira, dia 4 de fevereiro. Não percam e aproveitem o excelente ambiente, o bom vinho e a boa companhia. Tud isto rodeado de livros. O que se pode pedir mais?




Dirceu Veiga pode ter este apelido, mas criatividade não lhe falta. Ainda por cima toca, e em simultâneo, em dois pontos particularmente sensíveis a este estabelecimento: a arte e o café. Este artista plástico brasileiro de Curitiba avança e põe em prática o conceito de Coffee Art, fazendo todos os seus trabalhos utilizando como única matéria prima o próprio café. Isso mesmo: em vez de tinta, o café é que dá cor e corpo ao talento do artista. Aqui ficam algumas imagens.











O sítio oficial, com muitas informações, biografia e eventos ligados ao Coffee Art, pode ser encontrado aqui.





"Cada um deverá ter, pelo menos, o mínimo indispensável para não ficar na estrada, porque o homem não vive de graça. Daí até afirmar-se, por exemplo, que é o bem-estar resultante da riqueza e abundância que permite ao homem dar realidade ao seu temperamento criador, e seja esse bem-estar a condição indispensável para a produção de obras duradoiras, vai uma grande distância. Isso aplica-se àqueles que olham o mundo de longe, que lhe fogem ao contacto, trancados na imaculada torre de marfim. A arte, por exemplo, não é só a expressão, o que produz o esteta frio, distante e inacessível - é, sobretudo, o que salta faiscante do fogo da vida, da luta, dos deseesperos e dessas verdadeiras humanas alegrias. É o que tem sangue porque ao mesmo tempo é vida e vive. Os mais profundos e autênticos impulsos criadores provêm da dor e do inconformismo, do ódio, do amor e da revolta., em suma, da compreensão, que é o produto das mais duras experiências."

Manuel Lopes - Os meios pequenos e a Cultura


Comentário: cruzei-me com este texto do claridoso Manuel Lopes quase por acaso. Foi escrito à meio século, fala de meios pequenos, dos preconceitos relativamente à criação artística e à cultura e a importância destes bens essenciais para a sociedade, mais ainda em meios pequenos. É espantosa (e devo dizer, assustadora) a actualidade deste texto. Ou o mundo dá mesmo muitas voltas e acabamos por ir parar aos mesmos lugares de sempre ou nunca muda, embora pareça o contrário. Continuaremos a dar conta deste pensamento de Manuel Lopes, em futuras ocasiões. Há muito, muito para partilhar.










E por falar em criatividade, vejam só este trabalho espantoso do arquitecto ucraniano Mark Khaisman que abandonou a arquitectura para se dedicar a algo bem diferente: à arte de pintar com... fita adesiva. Fazendo justaposição de diferentes camadas, com o intuito de produzir diversas itensidades de iluminação e sombra, escolhe muitas vezes o cinema como tema principal das suas obras, inspirando-se em frames dos seus filmes de eleição. Simplesmente fantástico.

Vejam a página oficial do artista aqui.