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quinta-feira, 19 de março de 2020

O ENSINO DAS NOVAS GERAÇÕES

O ensino das novas gerações
(Public em O DIABO nº 2254 de 13-03-2020, pág 16)

O ensino das crianças tem início logo que o bébé nasce e começa a observar à sua volta e a pensar naquilo que vê, suas causas, efeitos e circunstâncias em que ocorre. Aquilo que vê fazer gera vontade de imitar ou de rejeitar. E as interferências da mãe, de outras pessoas de família ou de ama ou educadora complementam a aprendizagem e constituem, com sensibilidade adequada, prémio ou castigo de actos correctos ou errados. E, desta forma, os contactos com os mais crescidos, nas mais variadas circunstâncias, são fontes de aprendizagem.

A propósito, num dos almoços semanais com amigos, recordei as aulas de um professor, pai de um deles, no ano lectivo de 1946- 47, no Liceu Nacional Alves Martins (que no ano seguinte foi substituído pelo novo Liceu Nacional de Viseu), ao lado de uma calçada muito inclinada em que, do lado oposto à janela da nossa turma, havia um ferrador que tratava do calçado (ferraduras) de cavalos dos clientes e que passava grande parte do tempo a martelar ‘pic-pic’ a ferradura, junto à forja, para a ajustar à forma e dimensão do casco. Um dia, a meio de uma aula, perante dois ou três alunos distraídos e a conversar, o professor chamou-lhes a atenção de forma didáctica e socialmente educativa, dizendo “está o ferrador a trabalhar continuamente ‘pic-pic’ e os meninos sem prestarem atenção ao colega que está no quadro a tentar resolver o problema”.

Aprendi que a observação da realidade que nos circunda e o pensamento acerca dela constituem um factor de aprendizagem e de cultura. E as palavras do professor tinham lógica, foram coerentes com o momento e ditas de forma correcta e didáctica. A lição estava adequada à disciplina escolar e à formação de meninos que estavam a iniciar a vida e englobava a noção da prioridade merecida pelo assunto da lição e foi útil por mostrar que, na vida, devemos estar atentos a tudo o que se passa à nossa volta para sermos cidadãos responsáveis agindo de forma moralmente correcta. Passados mais de setenta anos, ainda recordo positivamente esta lição simples mas eficaz.

E este pensamento não foi rememorado por acaso, mas porque, em conversa, foi referida a alusão do nosso PR a um caso actual, em que reagiu por impulso e sem a devida análise e meditação ponderada, fazendo pressão limitativa sobre juízes italianos no julgamento de um jovem português que, talvez pouco esclarecido, esteve comprometido em acções de tráfego de pessoas, ao serviço de organização ligada à transferência de migrantes para a Europa, provavelmente às ordens de milionários internacionais que, com isso, pretenderiam desequilibrar a vida dos países europeus para fins de estratégia internacional não confessada. Com o pretexto de que o português estivesse movido por fins humanitários de salvamento de pessoas em perigo de afogamento, o PR, sem procurar melhor informação, deixou-se arrastar para um acto que classificou de heroísmo. Mas a realidade, baseada em testemunhos apoiados em várias fotos, mostra que, na maior parte dos casos, não chegou a haver perigo de vidas, mas apenas mudança de meio naval, de pequenas embarcações pneumáticas, cujo combustível dava até ali, para embarcações de maior capacidade, onde se encontrava o nosso “herói”, que ali estavam preparadas para esta transferência e levar os falsos “náufragos” a porto italiano.

Todos os barcos estão controlados pela ONG, ao serviço de capitalista internacional que os financia e paga. Na origem, os traficantes de pessoas também recebem destas o pagamento da viagem. Este é um caso que exige boa investigação e não deve ser condenada ‘a priori’ a posição do Governo italiano nem o tribunal que age perante migração ilegal. Do outro lado, estão ocultos interesses políticos e financeiros contra os direitos de pessoas que vêm ameaçada a sua cultura tradicional, a sua história, a sua religião, os seus hábitos, etc. O Saber não ocupa lugar e surge de casos aparentemente insignificantes, que merecem ser bem ponderados. ■

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A JOTA PODE SER SOLUÇÃO!

A jota pode ser solução?
DIABO nº 2233 de 18-10-2019 pág 16. Por António João Soares

Segundo Pedro Soares Martínez fez constar no seu artigo de O DIABO nº 2230, hoje, nos países latinos, os políticos são provenientes de advogados sem causas, escritores falhados, professores sem amor aos livros, médicos sem clínica, engenheiros sem colocação, etc.

Isto faz-me recordar um texto já com alguns anos que referia a ida da D. Maria José, de uma aldeia próxima, à cidade comprar uma camisa para o neto António Carlos. Foi muito bem recebida pelo dono da loja, já conhecido de longa data, que, no meio dos cumprimentos e da conversa, lhe perguntou como o rapaz ia nos estudos. A avó despejou a sua mágoa por ele não gostar de dedicar muito tempo aos livros e preferir as brincadeiras com outros rapazes, o que, segundo ela, lhe tornava difícil realizar os objectivos que a família esperava dele, desejando que viesse a ser doutor, satisfazendo a vaidade dele e da família e permitindo uma vida desafogada, sem dificuldades nem problemas financeiros.

Os desabafos da avó mostravam grandes preocupações familiares e comoveram o dono da camisaria, Manuel Afonso, que tentava sossegar o ânimo da cliente, dizendo-lhe que esta juventude de agora é diferente daquilo que foram os seus pais, etc. E, a dada altura da conversa, sugeriu a solução adoptada por um cliente ali vizinho que falou com o líder local de partido bem cotado para convencer o seu filho, também avesso aos estudos, a inscrever-se na juventude a fim de procurar sucesso na vida que suprisse a falta de jeito e de vontade para estudar. O rapaz entusiasmou-se e, com a vaidade a crescer, dedicou-se à realização das tarefas que lhe eram dadas, foi trabalhar para a Câmara, alimentou a esperança de vir a ser vereador, movido pela vaidade e ambição e, influenciado pelos mais idosos, continuou a estudar e a querer fazer figura, e lá se ia esforçando um pouco.

Mas a Maria José continuava presa aos objectivos que esperava ver atingidos pelo neto, repetia que a família desejava que ele viesse a ser doutor, mas o Manuel Afonso respondia que ele podia vir a ser deputado, podia fazer uns favores a uma universidade que, em troca, lhe poderia dar um diploma; e citava um primeiro-ministro a quem, pouco tempo antes, uma universidade tinha mandado entregar, num Domingo, o diploma de licenciatura e referiu outros casos com aspectos semelhantes. Além disso, ele vai aprendendo as habilidades e as manhas dos políticos e, com facilidade, se torna rico e até milionário sem suar nem fazer calos, causando inveja aos actuais companheiros da escola que matam a cabeça para obter boas notas, mas sem aprenderem a maneira de arranjar fortuna.

De entre as habilidades citou o domínio da Comunicação Social, para manter a população de cérebro lavado e vazio, a preocupar-se com ninharias e afastada dos problemas essenciais que devem ser desviados das conversas para não colocarem em más condições as posições dos políticos, por estes não serem capazes de encontrar soluções para o que realmente interessa à população. Por isso evitam que esta vá alem do futebol e crie problemas aos governantes.

Essa lavagem de cérebro tem agora uma artista, a Greta, que à margem da ciência agride verbalmente pessoas com responsabilidade, com fantasias sem o mínimo de saber científico mas que cala a boca de gente a quem falta saber e discernimento para distinguir o que é científico daquilo que não passa de fantasias. E há muito dinheiro por detrás de tais palhaçadas que permitem lucros compensadores em negócios para lutar contra fantasmas que o povo leva a sério.

Veja-se o discurso que Vladimir Putin leu, em ambiente solene, a alertar os governantes ocidentais que desprezam a sensatez e a racionalidade. ■

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A DEGRADAÇÃO SOCIAL E O FUTURO DAS CRIANÇAS


A degradação social e o futuro das actuais crianças
(Foi publicado em O DIABO de 13-12-2016, pág. 10)

Como ídolo de crianças, adolescentes e graúdos, existe na actualidade um rapaz cantor que causa histeria demasiado visível por onde passam cantigas, fáceis para um ouvido destreinado de qualquer futuro amante de música, com muitas batidas ritmadas.

Há muitos papás e mamãs com filhos a partir dos quatro ou cinco anos de idade, a colocar tais cantigas em tudo quanto é smartphones e demais equipamentos. O passo seguinte, como era previsível, é reservar bilhete para o concerto mais perto de casa, porque é considerado legítimo levar os filhos a ver o ídolo e quanto mais cedo melhor para não ficarem mal vistos pelos colegas de escola.

Na degradação social em que vivemos e em que os jovens pais têm vivido com tolerância e aceitação, é considerado que os filhos não podem ser contrariados nem desiludidos para não correrem o risco de terem uma crise de ansiedade, stress ou alguma outra maleita psicológica mais grave. E assim vão crescendo uns pequenos ditadores sem noção das realidades da vida, sem respeito pelos outros e sem saberem lutar por objectivos sociais, de solidariedade e de trabalho de equipa, com moral e com ética para viverem numa sociedade agradável para todos.

Para os objectivos de construção de um mundo melhor, as letras das cantigas atrás referidas nada ajudam, antes pelo contrário, a cultivar a mente infantil no sentido de levarem uma vida feliz, olhando para o que mais lhes convém, com vista a um desenvolvimento agradável de livre escolha, tendo em foco o que mais lhes puder interessar no futuro que desejam. Apoiar nas crianças a mentalidade de rebanho de imitação daquilo que lhes seja nefasto, não é boa regra para pais e educadores. É preferível ensinar a fazer escolhas.

Diz quem as conhece que as letras das referidas cantigas são impróprias para crianças ou adultos com recato, e os pais vão ter dificuldade em explicar às crianças perguntas que estas lhes façam acerca de excertos das letras, mesmo que lhes tentem iludir a compreensão.

Se não forem evitados às crianças contactos com procedimentos impróprios para consumo moral, não se pode estanhar a agressão nas escolas, crianças que não sabem brincar umas com as outras, crise de valores, desrespeito mútuo, agressão a professores, que são queixas frequentes dos encarregados de educação sobre o comportamento dos seus educandos.

Mas, infelizmente, há pessoas, que dão tempo de antena, que se deslocam para assistir a manifestações que vão contra todos os conceitos da moral e dos bons costumes, acompanhadas de crianças em idade de frequentarem o ensino básico ou nem isso. O que esperam desses futuros cidadãos, quando forem adultos em cargos de responsabilidade social?

O “artista”, num país livre, actua segundo a sua veia e não deve ser inibido de a manifestar mas o que é criticável é a decisão, nada didáctica, de pais e encarregados de educação de proporcionar momentos altamente duvidosos a crianças de tenra idade, que deveriam estar a receber bases sãs para um futuro digno.

Não é tempo de aconselhar métodos antiquados, mas deve ser evitado que as crianças percam o tempo a ver séries televisivas com muito sangue, focadas em crises de pré-adolescentes a maltratar os pais a toda a hora, telenovelas em que já não existe maneira de descer a um nível mais rasca, e artistas com letras que deveriam levar um sinal sonoro de censura em cima de certas palavras que surgem em cada parágrafo.

Estes espectáculos deveriam levar os pais a agir. E os pais de agora não devem deixar de orientar os filhos para coisas belas e instrutivas, a fim de travarem e evitarem a degradação social a que estamos a assistir. Esta é missão de todos e de cada um dos seres humanos, a recuperação de valores cívicos que, independentemente de eras, são sempre indispensáveis. Todo o esforço é pouco para se travar a degradação social e para se criar uma humanidade mais digna e harmoniosa.

A João Soares
6 de Dezembro de 2016

quarta-feira, 5 de março de 2014

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

NUNO CRATO CONFESSA OMISSÃO


Quando era criança, aprendi que os pecados podem ser por pensamentos, acções ou omissões e agora deparo com o ministro Nuno Crato, depois de quase dois anos e meio de Governo, a confessar que ainda há muito a melhorar nas escolas portuguesas.

E que melhoramentos fez durante todo este tempo, mais de metade do mandato? Já houve tempo suficiente para analisar a situação, fazer o diagnóstico e aplicar a terapia para, no fim da primeira metade do mandato, começar a colher os louros das medidas tomadas. Isto evidencia que realmente o País precisa de muita coisa a melhorar, a reformar, mas não parece que tais tarefas estejam ao alcance dos actuais governantes. Pelo menos, depois de muito entrados na segunda parte do mandato, o Governo ainda continua à espera que um milagre resolva os problemas do País.

E ainda há quem repita que a culpa é do governo anterior!!! Afinal, para que serviu a austeridade que empobreceu grande parte da Nação? Ressalta assim outra notícia de título “O governo magoa a população e sente-se orgulhoso”

Imagem de arquivo

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES


Transcrição do artigo «
A Saúde Mental dos Portugueses» do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público em 21 de junho de 2010

Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.

Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária.

Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo as crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade.

Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade.

Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejada de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso
Médico psiquiatra

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Reforma do Estado é problema nacional


Do muito que tem sido publicado conclui-se que a reforma do Estado não pode ser um remendo colocado por capricho do actual Governo, mas constitui uma necessidade, um imperativo nacional e deve ser levada a cabo com o objectivo claramente definido de sair da crise, evitar cair noutra de causas semelhantes, dar aos portugueses melhor qualidade de vida com bons apoios de educação, de saúde, de justiça, de equidade social, de segurança e de garantia de emprego.

Para isso, é estranho que agora o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, diga que o seu partido se mantém disponível para "aproximar posições" com os partidos oposição. Isso não poder ser aceite como uma concessão da coligação no Poder, pois a reforma, para ser eficaz e duradoura, deve ser fruto de convergência de esforços de todos os partidos e forças vivas. Não são aconselháveis avanços e recuos a bel-prazer de partidos que subam ao Governo.

Está no caminho certo a Presidente da AR, Assunção Esteves, quando defende uma carta de intenções em que os partidos parlamentares clarifiquem o objecto da comissão de reforma, em que haja boa-fé garantida à partida pela explicitação do objecto da comissão.

Além do objectivo da reforma, é preciso, a seguir, traçar as linhas estratégicas gerais a que devem obedecer as medidas práticas indispensáveis: tornar o Estado e a administração pública e autárquica, mais simples sem burocracias desnecessárias, mais barato, mais eficaz, tornando extensivos os apoios atrás referidos a todos os cidadãos, por meio de uma justiça social que reduza ao mínimo os explorados e carenciados, crie um tecto para as pensões de reforma douradas, e use o salário mínimo como medida de cálculo e de expressão dos salários e mordomias dos funcionários públicos e dos políticos.

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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ensino é factor valioso


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Este vídeo extraído do blogue Sempre Jovens mostra que o ensino, por ser obrigatório e praticamente gratuito é considerado um castigo que tortura e oprime as crianças inocentes que apenas são ensinadas a exigir respeito pelos seus «direitos» sem lhes serem mostrados «deveres» que as preparem para a qualidade de cidadania, depois de adultos.

Há alguns anos, quando se pretendeu criar um serviço de saúde gratuito com remédios por conta do Estado, sobressaiu o conceito de que se os cuidados com a saúde não podem ser menosprezados, convém que não sejam totalmente gratuitos, porque o que é gratuito acaba por ser considerado sem valor e desprezado. E quando as pessoas apreciam uma coisa e gostam dela e do seu uso estão dispostas a pagar bons preços como é o caso do carro, dos equipamentos de comunicação e informáticos e com as roupas da moda.

Nesta óptica, seria lógico pensar que a dedicação aos estudos e o respeito pelos professores por parte dos alunos e das famílias atingiria um grau mais elevado se deixasse de ser obrigatório e gratuito. Aquilo que tem valor não pode ser gratuito nem obrigatório.

Poderá dizer-se que há uma faixa da população sem capacidade de pagar integralmente o estudo dos filhos, mas a esses aplicava-se um valor simbólico e dependente da capacidade de aprendizagem e do comportamento dos alunos. A um génio nascido em família pobre, o Estado tem conveniência em apoiar investindo nele com razoabilidade.

Hoje, como mostra o vídeo, muitas crianças não estudam por gosto, por consciência de que precisam de aprender, mas porque a isso são obrigadas, porque têm de fazer «trabalhos» de casa, para satisfazer as exigências do professor, etc. Por isso, se sentem no direito de reclamar e insultar os seus «opressores». E nisso têm o apoio da família, quando esta não sente a necessidade de aquisição de conhecimentos e de valorização, para benefício futuro. Não encara o ensino como qualquer outro investimento nem sequer como uma despesa com brinquedo efémero. É visto como um direito, sem contrapartida de deveres e obrigações.

Por seu lado, o Estado também está a encarar o ensino como uma bandeira de competição com os países amigos, querendo mostrar estatísticas de êxito, que é falacioso, porque é obtido por provas fáceis, superficialidades, inutilidades e afastamento de uma finalidade prática na aplicação na vida corrente. A ostentação das estatísticas apresenta aspectos vergonhosos, com números falsos que ruiriam se fosse feita uma eficaz avaliação posterior de conhecimentos.

Em vez da obrigatoriedade, seria mais lógico e eficaz considerar o saber como um produto útil que cada um deve obter por sua iniciativa, esforço e dedicação. Isso devia ser posto em prática estimulando as famílias a interessar-se pela educação e instrução dos filhos com o mesmo entusiasmo com que compram o último modelo de telemóvel. Na vivência escolar, o professor deveria agir, em conformidade, com rigor e exigência, ensinando os alunos a ser responsáveis para se tornarem adultos válidos para si próprios e para a sociedade. Se, durante as aulas, o estudante mostrar que não tem vontade ou capacidade, deve ser-lhe imposto que vá fazer outra coisa ou pagar a um colégio especializado em ensinar os menos capazes.

Na sequência, os empregadores deveriam fazer uma avaliação das capacidades dos candidatos aos postos de trabalho e só admitir os melhores, com mais mérito para o desempenho das tarefas que lhes vão ser atribuídas. Esse seria o prémio aos bons estudantes e um estímulo para os estudantes gostarem de estudar responsavelmente.

É claro que ficariam muitos marginais, mas ao contrário de agora, esses não argumentavam que até têm diploma e não lhes dão emprego. A Justiça deveria ser rigorosa no combate à criminalidade ou acções anti-sociais. As prisões não deviam ser hotéis, mas locais de castigo com finalidade e possibilidade de recuperação social para reintegração na sociedade.

Mas, pelo contrário, a filosofia existente é de apoio à mandriice, à reivindicação de direitos e ao desprezo de deveres. E, neste caso, os professores são muitas vezes as maiores vítimas do sistema.

NOTA:
Tendo mostrado este vídeo e texto a uma professora conhecida, recebi comentário demolidor por a senhora se fixar apenas no pagamento e por pensar que era defendida a privatização do ensino. Enviou-me o vídeo seguinte que mostra jovens portugueses da escola Profissional de Música de Braga que integram a Orquestra sub-21 em Guimarães 2012, e que, ao contrário do comentário da senhora,  me merece a NOTA que se lhe segue.



A música, em coro ou em orquestra, constitui o resultado do tipo de ensino que se sugere na nota anterior. A aprendizagem da música assenta na motivação de cada aluno, na sua vontade de aprender. O aluno aprende e pratica o trabalho de equipa (orquestra) em que cada um actua com a máxima perfeição de que é capaz, respeitando o trabalho de cada um dos seus colegas. Assume esse dever, porque sabe que a falha de uma nota prejudica o resultado final da participação de todos, da obra colectiva. O professor ou maestro é respeitado e as suas indicações e correcções são ouvidas com vontade de serem fixadas e tidas em conta em qualquer momento.

Não importa que a orquestra do vídeo seja formada por alunos de escolas de música pública ou privada. Os métodos não podem ser diferentes, na sua essência, porque o resultado pretendido é o mesmo. O que pode ser discutido e deve ser bem analisado é o sistema que crie melhor motivação nos alunos para se dedicarem inteiramente à aquisição de conhecimento com respeito pelos professores e colegas e pelas regras a seguir. Mais do que em direitos, os alunos devem ser consciencializados para os seus deveres e aprender a viver em sociedade civilizada.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Educação é prioritária

Transcrição de notícia, com afirmações de conteúdo de importância fundamental para o Portugal de amanhã:

Medidas de austeridade não podem prejudicar a Educação, diz Ramalho Eanes
TSF 30-04-2012 às 20:38


O antigo Presidente da República Ramalho Eanes considerou ser importante que as medidas de austeridade aplicadas em Portugal não prejudiquem a área da Educação.

O general Ramalho Eanes falava no final da cerimónia em que recebeu o doutoramento Honoris Causa da Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, por ocasião do 26.º aniversário da instituição do distrito em que nasceu, Castelo Branco.

O antigo Presidente reconheceu que, «em tempos de crise, as dificuldades estendem-se a todas as atividades públicas, nomeadamente à Educação».

No entanto, frisou ser «necessário que as medidas de austeridade não prejudiquem a coerência estratégica de desenvolvimento da Educação, para que o país tenha futuro».

O alerta é baseado na História Europeia, que, como sublinhou, mostra que a qualificação do capital humano «é indispensável para a produção de riqueza, mas também para a concretização da equidade» social.

Com um sistema educativo competente, Ramalho Eanes acredita que Portugal pode passar da atual situação de crise para outra em que seja «muito mais competitivo».

«Isso passa sobretudo pela qualificação da juventude», defendeu, considerando que «não há governo nenhum que não tenha que ter esta preocupação», embora sem fazer qualquer referência direta ao atual Executivo.

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domingo, 15 de abril de 2012

Autoritarismo abomina liberdade e livre-arbítrio

Transcrição de artigo seguida de NOTA:

Saúde "manu militari"
Publicado por Manuel António Pina, no Jornal de Notícias, em 2012-04-12,

Quatro anos depois, o dr. Francisco George, eterno director-geral de Saúde, está a convocar as tropas higieno-fascistas para a 2ª Cruzada Antitabagista, desta vez mobilizando também as brigadas anti-álcool (as próximas cruzadas já contarão com as brigadas anti-sal, anti-açúcar, anti-gorduras polinsaturadas, anticafeína, etc.), tudo sob o comando de um até aqui anónimo secretário de Estado da Saúde.

Parece que um estudo encomendado pela Direcção-Geral terá concluído que um em cada quatro portugueses morre prematuramente, "em parte devido ao tabaco" (a parte de mortes devidas à miséria, ao desemprego ou à fome não vem nas estatísticas do dr. George). Era do que secretário de Estado e director-geral precisavam para se sentirem no direito de se intrometer nas decisões pessoais, na vida, na casa, e até nos automóveis alheios.

Restaurantes e bares dirão adeus aos investimentos feitos e deixarão de poder ter espaços reservados a fumadores; até à porta será proibido fumar (e quem for a passar?, terá que mudar de rua?); serão proibidas máquinas de venda automática de tabaco (não há máquinas de venda de "cavalo" ou de "branca" e nem por isso é difícil obtê-los...); proibir-se-á fumar dentro de carros com crianças (haverá um inspector da ASAE dentro de cada carro?); quanto ao álcool, nem uma "mini" poderá ser vendida em bombas de gasolina ou após a meia-noite.
A estrela amarela ao peito ficará para mais tarde.


NOTA: As atitudes ditatoriais surgem sempre de cabeças incapazes de liderar um povo, com respeito pelas liberdades e pelo livre-arbítrio de cada um, recorrem ao policiamento por não saberem usar um bom sistema de ensino e de difusão de informação positiva. O convencimento exige saber e capacidade de utilizar os melhores argumentos para suscitar os comportamentos mais benéficos a cada um e à colectividade. Na ausência de tais competências surge a mão de ferro, o «quero, posso e mando» e são vomitadas «leis» sem viabilidade. Se ninguém os travar criarão a brigada anti-suicídio, com a finalidade de evitar que os mais decididos resolvam acabar com a vida, rapidamente, antes que a miséria fruto da austeridade e da má condução da sociedade, os elimine lentamente com sofrimento continuado. Mas tal sadismo não será de estranhar.

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sábado, 31 de março de 2012

Rigor ou cata-vento impune?

Há mais de três anos, está aqui um post que apresenta uma tecnologia para se beneficiar da conveniência de pensar antes de decidir e tem sido referido sempre que se torna oportuno ser relembrado tal conceito por parecer esquecido.

Agora depara-se nova oportunidade suscitada por duas notícias que não teriam existido se, da parte dos intervenientes nos casos referidos, tivesse havido capacidade, competência dedicação à função e respeito pelos cidadãos que os tivesse levado a maior rigor e eficácia na preparação das decisões tomadas.

Imagine-se que Regras para acesso ao Ensino Superior através do recorrente voltaram a mudar e que o Governo vai fazer correcção na proposta de rectificativo entregue no Parlamento. Parece que a estratégia dos serviços públicos ao mais alto nível tem como objectivo a imitação do cata-vento.

Aos olhos do cidadão vulgar fica a desconfiança acerca da capacidade e da competência dos «altos» funcionários «responsáveis» pelos serviços públicos, bem pagos e livres dos cortes dos subsídios de férias e de Natal, que passam a receber com outro nome.

No caso do Ensino, sendo a Educação um pilar da sociedade e que deve constituir um exemplo de organização, de rigor e de eficiência para a formação dos cidadãos de amanhã, é pena que imite o cata-vento, em sucessivas mudanças, mostrando que as decisões são tomadas antes de serem devidamente estudadas, analisadas, usando o diálogo mais alargado possível. Seria preferível adiar uma decisão do que depois de ser tomada e publicada ter de ser alterada, em consequências de reclamações e observações atendíveis que foram ignoradas na deficiente preparação.

Também na «rectificação» do «rectificativo» entregue na véspera, nada abona da dedicação e do rigor com que as coisas são tratadas, não tendo havido o cuidado de rever conscientemente os papeis elaborados, antes de saírem do gabinete.

Errar é humano mas não é dignificante e quem erra deve ser punido, pelo menos com averbamento na folha de avaliação contínua. Imunidade e impunidade estão certamente entre as causas mais graves da actual situação de crise que estamos a viver e que importa eliminar radicalmente.

Imagem do PÚBLICO

segunda-feira, 19 de março de 2012

Governar é Deixar Fazer


Transcrição integral de artigo que merece reflexão, principalmente por parte dos políticos que nos «governam».


Deixar Fazer
Diário de Notícias. 19-03-2012. Por João César das Neves

O Governo está empenhado em profundas reformas. Como os anteriores. Fazemos reformas estruturais e definitivas há décadas e as coisas só pioram. Um exemplo simples do sector mais reformado, a educação, mostra o que falta.

Pode aprender-se com o irmão do vilão? Não há país mais odiado que os EUA e ninguém mais detestado que George W. Bush. Mas o seu irmão John Ellis ("Jeb"), governador da Florida de 1999 a 2007, tem a seu favor uma excelente reforma educativa. Em poucos anos conseguiu, quase sem gastar mais dinheiro, passar as escolas do estado das piores para as melhores do país.

O método seguiu cinco passos:
1. "Primeiro, a Florida começou a classificar as escolas de A a F, segundo a capacidade e progresso dos alunos em testes anuais de leitura, escrita, matemática e ciência. O estado dá dinheiro adicional às escolas que têm A ou melhoram a sua classificação, e os alunos das escolas que tenham dois Fs em quatro anos podem transferir-se para escolas melhores.
2. egundo, a Florida deixou de permitir que os alunos do terceiro ano que mal consigam ler passem para o quarto (prática comum em toda a América, chamada "promoção social").
3. Terceiro, criou um sistema de pagamento de mérito, no qual os professores cujos alunos passem certos exames recebem bónus.
4. Quarto, dá aos pais muito mais escolha, com cheques estaduais, entre escolas públicas, convencionadas, privadas e até online.
5. Quinto, a Florida criou novos métodos de certificação para atrair pessoas mais talentosas para a profissão, mesmo que essas pessoas não tenham um grau académico específico em educação" (The Economist, 25/Fev, p. 41; ver o site da fundação do ex- -governador, www.excelined.org).

Este é um caso entre vários, não muito original, mas mostra o essencial. Tem coisas parecidas com o que por cá tenta o senhor Ministro da Educação, mas uma diferença essencial: confiança nas pessoas. Na Florida acha-se que alunos, pais e professores sabem o que é melhor, e o Estado apenas os ajuda nesse esforço. Note-se que esta não é uma solução liberal. Continua a haver escolas públicas e o Estado tem enorme intervenção, classificando, subsidiando, bonificando. Mas a atitude de fundo é subsidiária, dando primazia à sociedade como agente e finalidade, não à genialidade do especialista que julga saber. Por exemplo, em Portugal avaliam-se professores, na Florida avalia-se o seu trabalho. Cá criamos exames para promoção na carreira, lá usam-se os testes dos alunos para premiar os docentes.

O problema entre nós é que eleitores, jornais, partidos e os próprios ministros acham mesmo que a questão se resolve com políticas. É esta atitude de partida, cheia de ingénua boa vontade, que as condena à irrelevância. O papel essencial do Estado na sociedade é ser Estado, não sociedade. Governar, não fazer ou mandar fazer. A sua função é deixar fazer. O Governo não promove crescimento, cria emprego, educa crianças, trata doentes ou julga criminosos. Isso fazem os cidadãos nas profissões. O Estado apenas gere uma estrutura que apoia a sociedade nessas actividades. Mas tem de começar por compreender que quem sabe é o povo.

Faz parte da tradição nacional ver o Governo como salvador. Depois segue-se o calvário habitual. Começam com estudos, que se empilham em cima de centenas de anteriores. Vêm então as comissões pensar maduramente e descobrir ideias geniais, que os antecessores já tinham tido. Passa-se então à acção com medidas sobre o povo, por hipótese boçal e ignaro, que deveria esperar atenta e ansiosamente a solução milagrosa. No final corre tudo mal, a reforma revolucionária fica capturada pelos interesses instalados de sempre e muda-se o ministro por outro, que será o salvador. Até agora ainda não tivemos um governo que à partida soubesse o mais importante da política: que ele e as suas reformas são parte do problema.

O Estado põe-se à frente e depois o país não anda, porque ele não sai da frente. Neste tempo tão nebuloso há apenas duas previsões seguras: haverá muitas reformas e vão quase todas falhar.

naohaalmocosgratis@ucp.pt
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
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sábado, 15 de janeiro de 2011

Educar para produzir ou para o ócio?

Depois de ver as imagens do «Encerramento da Expo de Shanghai», em que fica bem patente a perfeição do espectáculo, fruto de preparação meticulosa, surge o texto que transcrevo que, embora polémico, por contrariar o «dolce far niente» de que nós ocidentais gostamos, leva a compreender o que está na base do desenvolvimento da China com um crescimento económico de cerca de 10 por cento ao ano, e do desenvolvimento na ciência, nas artes, na indústria e nas novas tecnologias, muito notável em todos os aspectos. Enquanto nós estamos a estender a mão à caridade e a pagar juros altíssimos pelos empréstimos, eles, depois de recuperarem do domínio mongol, da guerra do ópio, da invasão nipónica, da aventura de Mao e de evitarem o contágio da implosão soviética, estão à beira de serem a principal potência mundial e emprestam a nós e à Grécia aquilo que está fora das possibilidades da Europa.

A mentalidade de trabalho e de produção começa desde criança. Há dias ouvi num programa de José Hermano Saraiva que o valor de um País depende daquilo que produz e não daquilo que consome.

As mães chinesas educam melhor?
 ISABEL STILWELL | EDITORIAL@DESTAK.PT 13- 01-2011

O livro de Amy Chua, sobre como é que as mães chinesas conseguem fazer dos seus filhos prodígios em tudo, da música à matemática, saiu há dias, mas já criou uma polémica acesa entre os pais norte-americanos.

Battle Hymm of the Tiger Mother (Hino de Batalha da Mãe Tigre) diz coisas que chocam os ouvidos ocidentais, e a autora, professora de Direito na Universidade de Yale e casada com um americano, tem absoluta consciência de que ia deixar claras as diferenças entre duas formas distintas de exercer a função parental.

Escreve Amy Chua que os pais chineses não aceitam que os filhos tenham menos do que a nota máxima, e a tudo, que escolham as actividades extracurriculares, vejam televisão, tenham um namorado na escola, ou que não sejam os melhores em tudo.

«Se uma criança chegar a casa com um 4, coisa que não acontece!, os pais não se vão queixar à professora. Gritam-lhe e dizem-lhe: «Isto começa por ti, esforça-te mais.» E isto porque acreditam que os filhos são capazes do melhor, e acham que, como pais, têm todo o direito de exigir excelência aos filhos, que lhes devem tudo.

Não é uma questão de mais ou de menos amor, insiste. Para ela «a grande diferença é que os ocidentais estão mais preocupados com a psique e a auto-estima dos seus filhos, enquanto os chineses colocam o enfoque na força, em lugar de nas fragilidades».

Aos pais chineses, afirma, pouco importa que um filho diga que os odeia, porque sabem que quando triunfar lhes vai agradecer a forma como se empenharam na sua educação, a que dedicam dez vezes mais tempo do que os ocidentais.

E os pais vão orgulhar-se, e dar-lhes nota do seu orgulho, em vez de fazerem como os ocidentais que se autoconvencem de que não estão desiludidos pelos seus filhos não serem os melhores, desistindo deles com o argumento de que são diferentes ou especiais. Não há como a polémica para nos fazer pensar...


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domingo, 5 de setembro de 2010

Educação sem objectivo bem assumido

Os professores universitários queixam-se de que os Alunos são "cada vez mais fracos". Há dias, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, a professora de Técnicas de Laboratório e Segurança, Elvira Gaspar, reprovou quase 70% dos seus alunos, o que foi um escândalo por que se mostrou desinserida do objectivo fundamental imposto superiormente, pelo menos de forma implícita, informal, de mostrar boas estatísticas que evidenciem um bom sucesso escolar.

As notícias parecem conduzir à conclusão de que os professores universitários estão desinseridos da filosofia da ministra da Educação que defende que não deve haver chumbos nem retenções. Aluno que entra na escola deve chegar ao 12ª sem ser incomodado!!! Porque é que no ensino superior não se sintonizam com esta modernidade e não dão os diplomas a alunos que nada saibam???!!!

Os concursos televisivos em que os concorrentes ao prémio têm de responder a perguntas de escolha múltipla, mostram o nível de conhecimentos de muitos diplomados que por ali passam. Uma triste imagem dos resultados dos critérios do «sucesso escolar». E o espectáculo ainda vai no início!

Além de sugerir a leitura dos artigos atrás linkados, transcreve-se a crónica seguinte


Uma perigosa reaccionária
JN. 100825. 00h12m. Por Manuel António Pina

Uma professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa ficou sem a regência de duas cadeiras por ter chumbado mais de 50% dos alunos. O motivo invocado pelo Departamento de Química da Nova para a punição não deixa dúvidas: "Aumento súbito do insucesso escolar".

O resultado das recentes políticas de ensino

Desde que, no sistema educativo português, foi consagrado entre os direitos, liberdades e garantias fundamentais o direito ao sucesso escolar, quem se meta entre um aluno e o diploma a que tem direito (atrevendo-se, como no caso, a dar notas negativas em exames finais) é culpado do pior dos crimes, o de terrorismo anti-estatístico.

Se o futuro licenciado sabe ou não sabe alguma coisa (ler, escrever e contar, por exemplo), é irrelevante; o país, as estatísticas e as caixas dos supermercados precisam de licenciados. Foi isso que a professora da Nova não percebeu. Arreigada a valores reaccionários, achava (onde é que já se viu tal coisa?) que "um aluno só merece 10 valores se adquiriu as competências mínimas nas vertentes teóricas e práticas da disciplina". Campo de reeducação em Ciências da Educação com ela.


Imagem da Net.

domingo, 8 de agosto de 2010

Ensino sem bússola

Transcrição seguida de NOTA:

Nós, os suecosJornal de Notícias 02-08-2010. Por Manuel António Pina

A ideia de acabar com os chumbos não é da ministra Isabel Alçada, é de algum eduquês desconhecido que anda pelo Ministério pelo menos desde o tempo de Roberto Carneiro.


E que há-de ser um grande vendedor de ideias pois a generalidade dos ministros aparece com a original ideia de acabar com os chumbos menos de um ano depois de ter tomado posse.

Só os argumentos vão variando. Desta vez é fazer como "na Finlândia, Suécia, Noruega e Dinamarca" onde, "em vez de chumbar, os alunos com mais dificuldade têm apoio extra".

É certo que, na Noruega (12 alunos por professor no Básico e 8,2 no Secundário, contra 28 a 30 em Portugal), 40% das escolas básicas "são tão pequenas que crianças de diferentes idades têm aulas juntas" e que, na Suécia, cerca de 60% das escolas do 1.º Ciclo funcionam com menos de 50 alunos.

Por cá, a ministra que quer apoio personalizado para os"alunos com dificuldades" é a mesma que fecha as pequenas escolas de proximidade e manda as crianças de camioneta para mega-escolas anónimas e indiferenciadas nos grandes centros. Mas por algum sítio temos de começar para sermos suecos, não é?


NOTA: O autor deste artigo, por quem tenho admiração, atribui a origem dos desnortes da educação a «algum eduquês desconhecido», mas creio que este palpite não será correcto, pois parece que não será apenas um, mas um ou dois pares, em gabinetes estanques, cada um atirando para o ar com a sua aleivosia, e não havendo um governante capaz de coordenar as vontades de todos e inseri-las numa linha estratégica coerente para um objectivo bem definido. Claro que de políticos, com a sua falta de currículo em organização, gestão, coordenação e controlo, não se pode esperar melhor. Mas, para compensar tal deficiência, devia haver no ministério um Director-Geral escolhido por concurso público de entre os que tivessem condições para dirigir a equipa responsável perante o governante de lhe apresentar as soluções, com as respectivas vantagens e inconvenientes. Mais uma vez repito que é boa norma «Pensar antes de decidir».

Sem tal coordenação, aparece um a decidir a concentração das escolas com o argumento dos custos, outro a propor exemplos estrangeiros de eficiência e boa aprendizagem só viáveis em escolas pequenas com íntima ligação entre educadores e educandos. E o objectivo mais publicitado é a abolição de chumbos e repetições, o que, se for avante, faz prever a curto prazo a entrega do diploma de doutoramento no primeiro dia de aulas da primária.

No artigo «Só mudanças radicais podem aproximar Portugal da Finlândia» este tema é analisado de uma forma interessante de que se conclui ser indispensável uma bússola no ministério da Educação para que dele saiam decisões coerentes e orientadas para o objectivo pretendido tendo em conta as condições reais existentes. Sem uma boa e inteligente organização coordenada e controlada haverá excesso de gastos, sem finalidade racional e o agravamento do atraso do nível da população.

Imagem da Net,

domingo, 16 de maio de 2010

Educação e Justiça

Há nas sociedades duas componentes, dois pilares, essenciais, para a vida ser agradável e não constituir um permanente martírio. São: a educação e a justiça.

A educação deve ensinar o respeito pelos outros, o civismo, a cidadania, o trabalho em equipa, a solidariedade e tudo o que contribui para o amor aos outros, sem descriminação. Isso deve conduzir a que cada um cumpra os seus deveres com convicção e eficiência, desde os governantes aos mais simples cidadãos.

Mas, como nem sempre se consegue um bom entendimento e como nem toda a gente possui um conveniente grau de comportamento cívico, é indispensável a Justiça para «dar o seu a seu dono». E esta deve ser livre, imparcial, ditada por elevados princípios e ser aplicável a todos sem olhar à posição social dos infractores, sem dispensar os políticos ou os detentores do poder económico, apenas considerando as pessoas em si, nas suas responsabilidades cívicas e de cidadania.

É esse o exemplo que vem dos países com pessoas mais civilizadas, como mostra exemplo da «Islândia» e como mostrou há poucos dias uma notícia de julgamento e condenação de políticos na América, e o julgamento na Coreia do Sul (Sentido da Honra e da Responsabilidade) de dois ex-presidentes que foram condenados à morte por crime de corrupção. Também na Holanda e na África Do Sul (A corrupção por cá) e agora na vizinha Espanha em que o juiz Garzón não foi poupado e foi «suspenso da Audiência Nacional» por ter assumido competências que não tinha.

Em Países sem civismo, os políticos governam-se em vez de governarem o País, e, por seu lado, a Justiça cobre-os com a capa da inocência e nunca os condena.

Estas reflexões rudimentares surgem na oportunidade oferecida pelo momento que estamos a viver em Portugal, em que os causadores da grave crise que estamos a atravessar, continuam a deter o Poder e a usá-lo, mantendo os privilégios dos seus detentores enquanto aumentam o mal-estar do povo e mantêm as condições estruturais que, com sucessivas irregularidades, estão na causa da crise económica, financeira, social e ética. A injustiça social chegou a um ponto explosivo em que, à mínima centelha, haverá acontecimentos dramáticos, como presentemente se vivem na Grécia e na Tailândia.

A notícia de hoje «Megafraude fiscal no ouro vai prescrever em Agosto» num momento em que as pessoas estão muito sensíveis à diferença de tratamento entre pobres e poderosos, em que estes ficam sempre incólumes, imunes e impunes, exige justificação da ineficiência, do que está mal na estrutura judicial, de modo a não ficarem dúvidas sobre o que possa estar oculto por detrás da capa da inocência e da falta de eficácia.

domingo, 14 de março de 2010

Professores educadores

Há pessoas muito atentas, com bons arquivos e com bom sentido das oportunidades. Depois dos suicídios de um aluno em Mirandela e de um professor em Rio de Moura, o problema da indisciplina nas escolas veio à conversa.

No jornal de Notícias a notícia «Professores não sabem lidar com indisciplina» mostra que a gestão de conflitos nas aulas está nas mãos do docente e que há cada vez mais professores a procurar formação para aprender a lidar com a indisciplina.

Assiste-se a uma "mudança social no relacionamento das pessoas". Perdeu-se a solidariedade e a empatia, a comunicação na sala de aula complicou-se. Nem sempre é assertiva e positiva como deveria ser. No entanto a estrutura escolar não funciona devidamente e «a gestão da disciplina na sala de aulas está nas mãos de quem ensina».

Mas o que queria salientar é a oportunidade com que me foi enviado o seguinte texto, já conhecido de há muito, mas que com interesse:

Educadores mais do que professores – Duas histórias

1ª história

Num liceu no Porto estava a acontecer uma coisa muito fora do comum. Um "bando" de miúdas andava a pôr batom nos lábios, todos os dias, e para remover o excesso beijavam o espelho da casa de banho.

O Conselho Executivo andava bastante preocupado, porque a funcionária da limpeza tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao fim do dia e, no dia seguinte, lá estavam outra vez as marcas de batom.

Um dia, um professor juntou as miúdas e a funcionária na casa de banho e explicou que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas que elas faziam e, para demonstrar a dificuldade, pediu à empregada para mostrar como é que ela fazia para limpar o espelho.

A empregada pegou numa "esfregona", molhou-a na sanita e passou-a repetidamente no espelho até as marcas desaparecerem.

Nunca mais houve marcas no espelho...

2ª história

Numa dada noite, três estudantes universitários beberam até altas horas e não estudaram para o teste do dia seguinte.

Na manhã seguinte, desenharam um plano para se safarem. Sujaram-se da pior maneira possível, com cinza, areia e lixo. Então, foram ter com o professor da cadeira e disseram que tinham ido a um casamento na noite anterior e no seu regresso um pneu do carro que conduziam rebentou. Tiveram que empurrar o carro todo o caminho e portanto não estavam em condições de fazer aquele teste.

O professor, que era uma pessoa justa, disse-lhes que fariam um teste-substituição dentro de três dias, e que para esse não havia desculpas. Eles afirmaram que isso não seria problema e que estariam preparados.

No terceiro dia, apresentaram-se para o teste e o professor disse-lhes com ar compenetrado que, como aquele era um teste sob condições especiais, os três teriam que o fazer em salas diferentes. Os três, dado que tinham estudado bem e estavam preparados, concordaram de imediato.

O teste tinha 6 perguntas e a cotação de 20 valores.

Q .1. Escreva o seu nome ----- ( 0.5 valores). Q.2. Escreva o nome da noiva e do noivo do casamento a que foste há quatro dias atràs ---(5 valores ). Q.3. Que tipo de carro conduziam cujo pneu rebentou.--( 5 valores). Q.4. Qual das 4 rodas rebentou ------- ( 5 valores ). Q.5. Qual era a marca da roda que rebentou ---- (2 valores). Q.6. Quem ia a conduzir? ------ (2.5 valores).

Há professores e educadores...

Futuros cidadãos no Portugal de amanhã


Recebi por e-mail do amigo FR, a quem agradeço a simpatia e amizade, cópia da notícia da RTP com este preocupante título «Ministério da Educação quer suspensão imediata de agressores nas escolas». Fica em link para os interessados verem os pormenores, e segue-se uma pequena nota.

E qual é o destino dos meninos expulsos, mesmo que seja por poucos dias? Vão enveredar pela marginalidade para que têm apetência? Como se evita o acréscimo de crimes violentos com essas pessoas à solta? Não seria melhor anunciar medidas de reabilitação em recinto fechado durante algum tempo? Não seria oportuno anunciar o aumento das medidas de disciplina nas escolas? Que futuros cidadãos pretende formar o ministério da Educação?

O problema não é de fácil solução, porque não é pontual, mas fruto de uma continuada ausência de autoridade e de uma deseducação sem normas cívicas, éticas, morais, em que tudo tem sido permitido para não «violentar» as personalidades dos menores, só que se estão a criar indivíduos sem personalidade ou com ela deturpada e anti-social.

Não esqueçamos que a escola deve ser o nascer do sol para as crianças, cidadãos do futuro Portugal. Se, em muitas actividades, as atenções devem estar centradas no presente e no curto prazo, na escola, pelo contrário, deve pensar-se no longo prazo para
preparar o futuro do País.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Conselhos aos estudantes


O que disse o Presidente Obama aos alunos da América

Sei que para muitos de vocês hoje é o primeiro dia de aulas, e para os que entraram para o jardim infantil, para a escola primária ou secundária, é o primeiro dia numa nova escola, por isso é compreensível que estejam um pouco nervosos. Também deve haver alguns alunos mais velhos, contentes por saberem que já só lhes falta um ano. Mas, estejam em que ano estiverem, muitos devem ter pena por as férias de Verão terem acabado e já não poderem ficar até mais tarde na cama.

Também conheço essa sensação. Quando era miúdo, a minha família viveu alguns anos na Indonésia e a minha mãe não tinha dinheiro para me mandar para a escola onde andavam os outros miúdos americanos. Foi por isso que ela decidiu dar-me ela própria umas lições extras, segunda a sexta-feira, às 4h30 da manhã.

A ideia de me levantar àquela hora não me agradava por aí além. Adormeci muitas vezes sentado à mesa da cozinha. Mas quando eu me queixava a minha mãe respondia-me: "Olha que isto para mim também não é pêra doce, meu malandro..."

Tenho consciência de que alguns de vocês ainda estão a adaptar-se ao regresso às aulas, mas hoje estou aqui porque tenho um assunto importante a discutir convosco. Quero falar convosco da vossa educação e daquilo que se espera de vocês neste novo ano escolar.

Já fiz muitos discursos sobre educação, e falei muito de responsabilidade. Falei da responsabilidade dos vossos professores de vos motivarem, de vos fazerem ter vontade de aprender. Falei da responsabilidade dos vossos pais de vos manterem no bom caminho, de se assegurarem de que vocês fazem os trabalhos de casa e não passam o dia à frente da televisão ou a jogar com a Xbox. Falei da responsabilidade do vosso governo de estabelecer padrões elevados, de apoiar os professores e os directores das escolas e de melhorar as que não estão a funcionar bem e onde os alunos não têm as oportunidades que merecem.

No entanto, a verdade é que nem os professores e os pais mais dedicados, nem as melhores escolas do mundo são capazes do que quer que seja se vocês não assumirem as vossas responsabilidades. Se vocês não forem às aulas, não prestarem atenção a esses professores, aos vossos avós e aos outros adultos e não trabalharem duramente, como terão de fazer se quiserem ser bem sucedidos.

E hoje é nesse assunto que quero concentrar-me: na responsabilidade de cada um de vocês pela sua própria educação.

Todos vocês são bons em alguma coisa. Não há nenhum que não tenha alguma coisa a dar. E é a vocês que cabe descobrir do que se trata. É essa oportunidade que a educação vos proporciona.

Talvez tenham a capacidade de ser bons escritores - suficientemente bons para escreverem livros ou artigos para jornais -, mas se não fizerem o trabalho de Inglês podem nunca vir a sabê-lo. Talvez sejam pessoas inovadoras ou inventores - quem sabe capazes de criar o próximo iPhone ou um novo medicamento ou vacina -, mas se não fizerem o projecto de Ciências podem não vir a percebê-lo. Talvez possam vir a ser mayors ou senadores, ou juízes do Supremo Tribunal, mas se não participarem nos debates dos clubes da vossa escola podem nunca vir a sabê-lo.

No entanto, escolham o que escolherem fazer com a vossa vida, garanto-vos que não será possível a não ser que estudem. Querem ser médicos, professores ou polícias? Querem ser enfermeiros, arquitectos, advogados ou militares? Para qualquer dessas carreiras é preciso ter estudos. Não podem deixar a escola e esperar arranjar um bom emprego. Têm de trabalhar, estudar, aprender para isso.

E não é só para as vossas vidas e para o vosso futuro que isto é importante. O que vocês fizerem com os vossos estudos vai decidir nada mais nada menos que o futuro do nosso país. Aquilo que aprenderem na escola agora vai decidir se enquanto país estaremos à altura dos desafios do futuro.

Vão precisar dos conhecimentos e das competências que se aprendem e desenvolvem nas ciências e na matemática para curar doenças como o cancro e a sida e para desenvolver novas tecnologias energéticas que protejam o ambiente. Vão precisar da penetração e do sentido crítico que se desenvolvem na história e nas ciências sociais para que deixe de haver pobres e sem-abrigo, para combater o crime e a discriminação e para tornar o nosso país mais justo e mais livre. Vão precisar da criatividade e do engenho que se desenvolvem em todas as disciplinas para criar novas empresas que criem novos empregos e desenvolvam a economia.

Precisamos que todos vocês desenvolvam os vossos talentos, competências e intelectos para ajudarem a resolver os nossos problemas mais difíceis. Se não o fizerem - se abandonarem a escola -, não é só a vocês mesmos que estão a abandonar, é ao vosso país.

Eu sei que não é fácil ter bons resultados na escola. Tenho consciência de que muitos têm dificuldades na vossa vida que dificultam a tarefa de se concentrarem nos estudos. Percebo isso, e sei do que estou a falar. O meu pai deixou a nossa família quando eu tinha dois anos e eu fui criado só pela minha mãe, que teve muitas vezes dificuldade em pagar as contas e nem sempre nos conseguia dar as coisas que os outros miúdos tinham. Tive muitas vezes pena de não ter um pai na minha vida. Senti-me sozinho e tive a impressão que não me adaptava, e por isso nem sempre conseguia concentrar-me nos estudos como devia. E a minha vida podia muito bem ter dado para o torto.

Mas tive sorte. Tive muitas segundas oportunidades e consegui ir para a faculdade, estudar Direito e realizar os meus sonhos. A minha mulher, a nossa primeira-dama, Michelle Obama, tem uma história parecida com a minha. Nem o pai nem a mãe dela estudaram e não eram ricos. No entanto, trabalharam muito, e ela própria trabalhou muito para poder frequentar as melhores escolas do nosso país.

Alguns de vocês podem não ter tido estas oportunidades. Talvez não haja nas vossas vidas adultos capazes de vos dar o apoio de que precisam. Quem sabe se não há alguém desempregado e o dinheiro não chega. Pode ser que vivam num bairro pouco seguro ou os vossos amigos queiram levar-vos a fazer coisas que vocês sabem que não estão bem.

Apesar de tudo isso, as circunstâncias da vossa vida - o vosso aspecto, o sítio onde nasceram, o dinheiro que têm, os problemas da vossa família - não são desculpa para não fazerem os vossos trabalhos nem para se portarem mal. Não são desculpa para responderem mal aos vossos professores, para faltarem às aulas ou para desistirem de estudar. Não são desculpa para não estudarem.

A vossa vida actual não vai determinar forçosamente aquilo que vão ser no futuro. Ninguém escreve o vosso destino por vocês. Aqui, nos Estados Unidos, somos nós que decidimos o nosso destino. Somos nós que fazemos o nosso futuro.

E é isso que os jovens como vocês fazem todos os dias em todo o país. Jovens como Jazmin Perez, de Roma, no Texas. Quando a Jazmin foi para a escola não falava inglês. Na terra dela não havia praticamente ninguém que tivesse andado na faculdade, e o mesmo acontecia com os pais dela. No entanto, ela estudou muito, teve boas notas, ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade de Brown, e actualmente está a estudar Saúde Pública.

Estou a pensar ainda em Andoni Schultz, de Los Altos, na Califórnia, que aos três anos descobriu que tinha um tumor cerebral. Teve de fazer imensos tratamentos e operações, uma delas que lhe afectou a memória, e por isso teve de estudar muito mais - centenas de horas a mais - que os outros. No entanto, nunca perdeu nenhum ano e agora entrou na faculdade.

E também há o caso da Shantell Steve, da minha cidade, Chicago, no Illinois. Embora tenha saltado de família adoptiva para família adoptiva nos bairros mais degradados, conseguiu arranjar emprego num centro de saúde, organizou um programa para afastar os jovens dos gangues e está prestes a acabar a escola secundária com notas excelentes e a entrar para a faculdade.

A Jazmin, o Andoni e a Shantell não são diferentes de vocês. Enfrentaram dificuldades como as vossas. Mas não desistiram. Decidiram assumir a responsabilidade pelos seus estudos e esforçaram-se por alcançar objectivos. E eu espero que vocês façam o mesmo.

É por isso que hoje me dirijo a cada um de vocês para que estabeleça os seus próprios objectivos para os seus estudos, e para que faça tudo o que for preciso para os alcançar. O vosso objectivo pode ser apenas fazer os trabalhos de casa, prestar atenção às aulas ou ler todos os dias algumas páginas de um livro. Também podem decidir participar numa actividade extracurricular, ou fazer trabalho voluntário na vossa comunidade. Talvez decidam defender miúdos que são vítimas de discriminação, por serem quem são ou pelo seu aspecto, por acreditarem, como eu acredito, que todas as crianças merecem um ambiente seguro em que possam estudar. Ou pode ser que decidam cuidar de vocês mesmos para aprenderem melhor. E é nesse sentido que espero que lavem muitas vezes as mãos e que não vão às aulas se estiverem doentes, para evitarmos que haja muitas pessoas a apanhar gripe neste Outono e neste Inverno.

Mas decidam o que decidirem gostava que se empenhassem. Que trabalhassem duramente. Eu sei que muitas vezes a televisão dá a impressão que podemos ser ricos e bem-sucedidos sem termos de trabalhar - que o vosso caminho para o sucesso passa pelo rap, pelo basquetebol ou por serem estrelas de reality shows -, mas a verdade é que isso é muito pouco provável. A verdade é que o sucesso é muito difícil. Não vão gostar de todas as disciplinas nem de todos os professores. Nem todos os trabalhos vão ser úteis para a vossa vida a curto prazo. E não vão forçosamente alcançar os vossos objectivos à primeira.

No entanto, isso pouco importa. Algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo são as que sofreram mais fracassos. O primeiro livro do Harry Potter, de J. K. Rowling, foi rejeitado duas vezes antes de ser publicado. Michael Jordan foi expulso da equipa de basquetebol do liceu, perdeu centenas de jogos e falhou milhares de lançamentos ao longo da sua carreira. No entanto, uma vez disse: "Falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E foi por isso que fui bem-sucedido."

Estas pessoas alcançaram os seus objectivos porque perceberam que não podemos deixar que os nossos fracassos nos definam - temos de permitir que eles nos ensinem as suas lições. Temos de deixar que nos mostrem o que devemos fazer de maneira diferente quando voltamos a tentar. Não é por nos metermos num sarilho que somos desordeiros. Isso só quer dizer que temos de fazer um esforço maior por nos comportarmos bem. Não é por termos uma má nota que somos estúpidos. Essa nota só quer dizer que temos de estudar mais.

Ninguém nasce bom em nada. Tornamo-nos bons graças ao nosso trabalho. Não entramos para a primeira equipa da universidade a primeira vez que praticamos um desporto. Não acertamos em todas as notas a primeira vez que cantamos uma canção. Temos de praticar. O mesmo acontece com o trabalho da escola. É possível que tenham de fazer um problema de Matemática várias vezes até acertarem, ou de ler muitas vezes um texto até o perceberem, ou de fazer um esquema várias vezes antes de poderem entregá-lo.

Não tenham medo de fazer perguntas. Não tenham medo de pedir ajuda quando precisarem. Eu todos os dias o faço. Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, é um sinal de força. Mostra que temos coragem de admitir que não sabemos e de aprender coisas novas. Procurem um adulto em quem confiem - um pai, um avô ou um professor ou treinador - e peçam-lhe que vos ajude.

E mesmo quando estiverem em dificuldades, mesmo quando se sentirem desencorajados e vos parecer que as outras pessoas vos abandonaram - nunca desistam de vocês mesmos. Quando desistirem de vocês mesmos é do vosso país que estão a desistir.

A história da América não é a história dos que desistiram quando as coisas se tornaram difíceis. É a das pessoas que continuaram, que insistiram, que se esforçaram mais, que amavam demasiado o seu país para não darem o seu melhor.

É a história dos estudantes que há 250 anos estavam onde vocês estão agora e fizeram uma revolução e fundaram este país. É a dos estudantes que estavam onde vocês estão há 75 anos e ultrapassaram uma depressão e ganharam uma guerra mundial, lutaram pelos direitos civis e puseram um homem na Lua. É a dos estudantes que estavam onde vocês estão há 20 anos e fundaram a Google, o Twitter e o Facebook e mudaram a maneira como comunicamos uns com os outros.

Por isso hoje quero perguntar-vos qual é o contributo que pretendem fazer. Quais são os problemas que tencionam resolver? Que descobertas pretendem fazer? Quando daqui a 20 ou a 50 ou a 100 anos um presidente vier aqui falar, que vai dizer que vocês fizeram pelo vosso país?

As vossas famílias, os vossos professores e eu estamos a fazer tudo o que podemos para assegurar que vocês têm a educação de que precisam para responder a estas perguntas. Estou a trabalhar duramente para equipar as vossas salas de aulas e pagar os vossos livros, o vosso equipamento e os computadores de que vocês precisam para estudar. E por isso espero que trabalhem a sério este ano, que se esforcem o mais possível em tudo o que fizerem. Espero grandes coisas de todos vocês. Não nos desapontem. Não desapontem as vossas famílias e o vosso país. Façam-nos sentir orgulho em vocês. Tenho a certeza que são capazes.

NOTA: Neste aspecto o que é verdade para os USA também é para Portugal.

Extraído do blogue Sempre Jovens

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ministra, pessoa normal. 050625

(Enviada aos jornais em 25 de Junho de 2005)

A ministra da Educação, ao ser confrontada com um despacho do Tribunal de Ponta Delgada sobre uma providência cautelar para evitar os serviços mínimos na realização dos exames durante a greve dos professores, disse que tal não respeitava ao nosso sistema, tratando-se de «um pronunciamento que não é de Lisboa nem respeita à República Portuguesa». Como se os Açores já fossem independentes! Mais tarde, considerou isso um «pequeno lapso» e disse que os ministros são pessoas normais e cometem lapsos. Lá que cometem «lapsos» todos sabemos, mas que são normais não compreendemos, ao saber das regalias que auferem, como tem vindo a público ultimamente, e ao alimentarmos o desejo de vermos neles exemplos a seguir!

Temos sofrido momentos de angústia com a ignorância evidenciada por licenciados e estudantes universitários em programas televisivos. Agora sabemos que não há motivo para desgosto pois a ignorância é normal, mesmo em ministros que são professores universitários. Dizer que cometer tais erros é um «pequeno lapso» num académico, corresponde a um desincentivo à instrução, ao aperfeiçoamento cultural. Com uma ministra da educação, assim tão normal, não temos razão para lamentar os resultados do nosso ensino e as tristes figuras que vemos nos concursos da TV. Se isso é normal numa entidade que devia ser respeitável, não o podemos criticar nos simples cidadãos. O que é grave é que a Educação, o conhecimento, é a base do desenvolvimento sustentado de qualquer país. Sem esse alicerce, nada pode ser edificado com segurança e condições de durabilidade.