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terça-feira, 2 de abril de 2013

I believe I can fly (já tu, não sei)

A Samoa Airlines vai começar a cobrar pelo peso dos passageiros, em vez de por lugar. Aqui. Diz o patrão da companhia que é a forma mais justa de viajar, já que as companhias aéreas governam-se pelo peso, e não pela quantidade de pessoas que transportam. Sim e não. Sim, os aviões gastam mais ou menos combustível consoante o peso que levam a bordo (daí as restrições na quantidade e peso das malas que se podem levar) e, pelo facto de ter que arrancar do chão, faz com que o peso faça variar mais o consumo de combustível do que no caso de um carro, por exemplo. Não, porque as companhias pagam uma taxa por pessoa que transportam ao aeroporto de chegada (tipo taxa de administração por cabeça).

Ainda assim, o patrão da Samoa Airlines diz que todos nós já sentimos que devíamos pagar metade do que o passageiro ao nosso lado pagou, por ocupar tão mais espaço que o médio mortal.

Eu, dona de uns confortáveis 48 kgs de gente (tenho metro e meio, atenção), aplaudo muito esta iniciativa. Significa que, potencialmente, poderia começar a levar mais bagagem, já que a ideia é bagagem e chicha levarem a mesma taxa. O que conta é o kg, seja ele de roupa, seja ele de pessoa.

Aplaudiria... se isto não tresandasse a discriminação. Porque depois de gargalhar um bocadinho, parei e pensei que isto é precisamente daquelas coisas que parecem muito lógicas à primeira vista, mas que depois de uma análise mais cuidadosa têm um je-ne-sais-quoi de completamente errado. E se há coisa que o feminismo me ensinou foi a olhar além dessa camada fininha e superficial de senso comum.

Então agora vai-se começar a ter ser humano ao quilo? Eu sei que em termos de combustível e esforço da máquina, o quilo é mesmo só o que conta, e que é completamente diferente um avião ir cheio de crianças de 10 anos ou ir cheio de adultos de 150 kgs. Mas, caramba, uma pessoa é uma unidade, é mais do que a soma da sua massa, ou não? E depois, porquê premiar ou penalizar uma coisa que em boa parte está fora do controlo da própria? Eu ocupo pouco espaço muito devido à minha genética, o controlo que tenho sobre os quilos que peso é de pouquíssimos quilos, tanto para um lado como outro. Ora, isto é válido para muita gente, mas com o problema contrário. E não é preciso ir para a questão da obesidade: é justo penalizar um homem de dois metros, fortalhaço e com mais de 100 kgs? E uma grávida?

O maior receio é que esta medida tenha consequências draconianas inesperadas, do género ser desencorajadora para pessoas obesas viajarem, ou aumentar a pressão para que as pessoas emagreçam a todo o custo antes de uma viagem. Como se o que fizesse falta na nossa sociedade fossem mais coisas a instigar obsessões com o peso... No fundo acho que se pode vir a revelar uma medida humilhante.

O argumento do peso-é-o-que-interessa-num-avião é mesmo muito forte, eu sei. E, racionalmente, faz todo o sentido. Já eticamente, tenho as minhas dúvidas.






S.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ele há coisas... #26

Desta vez venho partilhar algo lusitano que me despertou realmente o interesse.

Descobri-a bem por acaso (apesar de não ter podido evitar passar por ela, por isso se calhar não foi verdadeiramente por acaso...). Não obstante, descobri-a num momento apressado e quando me preparava para mais um "até logo" a solo lusitano.



A loja, vendendo exclusivamente produtos portugueses não é propriamente um conceito original. Mas foram os produtos e a variedade que me prenderam a atenção.

A loja está organizada por secções e é bastante completa. Normalmente, as lojas de produtos "made in Portugal" são especializadas em apenas gourmet ou apenas calçado ou apenas livros ou apenas objetos de cortiça. Esta tem-nos todos.




A parte das roupas, onde figuram marcas como a Salsa, a Muu ou a Parfois, incluíndo também a Pelcor com as suas malas e carteiras de pele de cortiça.





Uma prateleira dedicada à artista Joana Vasconcelos, recentemente mediatizada pela exposição em Versalhes.




A parte da literatura portuguesa dominada pelo Saramago :)

Mas foi a parte da loiça - curiosamente! - que me prendeu o interesse. Então não é que existem conjuntos de chávenas com os heterónimos do Fernando Pessoa?! Quão fixe é isto, pá...





O Eça também lá estava...





Outros pratos, caixas e chávenas tinham ilustrações relativas a História portuguesa, como esta:





Foi a primeira vez que senti genuína vontade de comprar um souvenir português. No entanto, a mochila a abarrotar mais a mala de 23 kg que me aguardaria à chegada tiraram-me as ideias de compra de porcelanas frágeis da cabeça.

Gostei muito. Vou andar de olho nela da próxima vez que visitar o Aeroporto de Lisboa.



S.







quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Been there, done that

Depois de três semanas em Portugal, o regresso atribulado a Bruxelas (que implicou uma recusa de embarque, uma noite extra em solo português, coração nas mãos na segunda tentativa de embarque e uma mala que não veio) já acabou e já estou novamente instalada na capital belga e com todos os meus pertences devolvidos.

Sinceramente, os aeroportos andam pouco imaginativos no que respeita os meus regressos atribulados, já que tudo o que se passou desta vez foi quase um déjà vu de há um ano e meio. De maneiras que foi com algum enfado que passei por tudo isto outra vez. Quando o senhor da segurança, em Lisboa, se dirige a mim  e me impede de recolher a mala do raio X porque "A senhora tem aí uma latinha na sua mala..." - era de chá, what else - ainda me entusiasmei um bocadinho e pensei "Eh lá! Sou suspeita". Mas ele nem quis que eu abrisse a mala para confirmar o que era, de maneiras que aquilo acabou tudo muito rápido.

Enquanto o homem não chega tenho andado entretida a tornar a casa habitável, incluindo reabastecimento do stock alimentar, a voltar à rotina de ginásio - que não tinha chegado a tornar-se rotina - e a tratar de burocracias necessárias a uma permanência mais permanente aqui na Bélgica. 

Amanhã é o meu primeiro dia de trabalho e tornar-me-ei formalmente uma emigra. De momento, estudo o mapa de transportes de Bruxelas para descobrir o caminho mais curto para o escritório, que infelizmente é demasiado comprido para ser percorrido a pé. O ginásio cá está para a substituição.



o universo conspira para que eu ame cada vez mais aeroportos


S.  

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Encomendas, autocarros e tudo o que fica pelo meio

A Bélgica tem o sistema de correios mais aleatório com que já lidei. A sério.

As cartas escapam a esta observação, já que aí ainda não tive problemas de maior. Mas no que toca a encomendas, há que fazer um esforço grande para não desatar a arrancar cabelos.

Quatro encomendas que já recebi aqui, todas vindas de Portugal. Os correios belgas conseguiram a proeza de dar quatro destinos diferentes a essas encomendas. Da primeira vez, chegou o carteiro e, como não estava ninguém em casa, deixou o normal papelinho para ir levantar aos correios mais próximos. Sim, senhora. O facto de os correios aqui, tal como em Londres, estarem abertos ao sábado, facilita muito as coisas para pessoas que tem um horário das 9h às 17h (no meu caso é das 8h30 às 17h30 mas vai dar ao mesmo).

Da segunda vez, Jesus! Tentaram entregar em casa, falharam, fui obrigada a telefonar para a DHL. "Ah e tal, a senhora vai ter que vir buscar aos nossos armazéns." Que ficam SÓ A UMA HORA DO CENTRO DE BRUXELAS. Senão larga 30 euros e já te vão entregar a casa. Comecei a mal-dizer a hora em que fui na cantiga da Wook e dos portes internacionais grátis...

Da terceira vez, DHL novamente, mas com mais sofisticação. Tentam entregar, falham, enviam mensagem e e-mail a avisar para telefonar e agendar nova entrega. Assim que a carrinha da DHL parou em frente à nossa janela no dia combinado, já estava eu à porta para receber a encomenda. O estafeta olhou-me com o respeito devido a alguém que possui poderes telepáticos e eu respirei de alívio por me entregarem em mãos uma coisa pela qual paguei dez euros de portes.

Quarta vez: recebo novo papelinho para ir levantar aos correios a encomenda cuja entrega - surpresa! - falhou, mas qual não é o meu espanto quando olho a morada e não era o mesmo posto de correios da primeira encomenda. Suspiro gigante. Vejo o caminho no Google, mas porque envolvia autocarros, perdi-me, andei às voltas durante uma hora, lá cheguei à rua certa, suspiro gigante, desta vez de alívio. Qual não é o meu espanto quando descubro que o posto de correios não era um posto de correios mas uma comum papelaria onde carteiros vão meter encomendas cujas entregas falharam. Eeeer... Tudo bem.

Mas voltando à segunda encomenda e aos armazéns da DHL. Como hoje tive tarde livre e já me tinha perdido durante a hora do almoço quando fui buscar a quarta encomenda, decidi aventurar-me e ir reclamar o que era meu. Vi o trajeto no Google maps, como é óbvio, e fiquei surpresa por ver que só precisava de apanhar um tram e um autocarro e que não havia transferências. Ou seja, nada de ter que andar para a rua seguinte ou procurar armazéns um bocadinho mais à frente porque era tudo muito certinho: chegar, trocar, chegar, porta dos armazéns a 40 metros. Aponto na mesma os nomes das paragens, direções dos transportes a tomar e números. O que é que podia correr mal, certo?

Basicamente, tudo o que podia correr mal, correu. Começou logo nos tempos de espera de tram e autocarro, que esqueço-me que não tem a regularidade de um metro, com o bónus de este autocarro ser suburbano e portanto apenas de quarenta em quarenta minutos. Não tinha aqueles painéis jeitosos a dizer quais as paragens seguintes, nem uma voz a avisar "próxima estação: X". Comecei logo a panicar. Sabia que eram cerca de 16 paragens até ao destino, mas ele não pára em todas e portanto a partir da terceira ou quarta já não fazia ideia quantas tinham ficado para trás. "Pergunto ao condutor? Não pergunto?", a viagem toda com esta pergunta a moer-me a consciência. Começámos a entrar numa terra que tinha o nome precisamente da paragem onde eu tinha que parar, mas os nomes que lia de relance nas paragens não se aproximavam do tal. Foi só quando vi uma grande placa com BRUXELLES - BRUSSEL e um risco vermelho por cima, e quando tudo de repente aparece escrito em flamengo, é que eu começo realmente a panicar e decido-me a ir perguntar ao motorista se faltava muito para Diegem. O ar de "pffuuuu!..." dele não me descansou. Estávamos a cinco quilómetros, mas porque já tínhamos passado! De notar que estávamos perto do aeroporto, aqueles locais de ninguém com vias-rápidas largas e cheios de armazéns de carga (e nenhum o da DHL, porra!) que tornam a perspetiva de ter que esperar mais meia hora pelo autocarro de volta e chegar a casa de mãos a abanar nada atrativa. O senhor lá foi muito simpático e disse o que eu tinha que fazer: sair, apanhar autocarro até ao aeroporto e lá esperar pelo 272 que me levaria perto do armazém.

Saio, espero, chega o autocarro para o aeroporto. Entro e pergunto se vai para o aeroporto já que dizia:  Zaventem - Vertrek (que agora sei querer dizer "Partidas e Chegadas"). "Isjngfisuengucht", "Pardon?", "Isjngfisuengucht", volta o motorista a dizer, com um aceno afirmativo da cabeça. Ainda pensei "Epá, este senhor tem um francês mesmo cerrado..." Qual francês! Estava a falar comigo em neerlandês! E acho mesmo que levou a mal eu me dirigir a ele em na língua da Valónia... Única passageira. Só me ocorre um "Isto 'tá bonito..." Só quando começo a ver aviões baixinhos e tabuletas a indicar o aeroporto é que me permito respirar um bocadinho.

No aeroporto, só pensava em voltar para casa. Já tinham passado mais de duas horas, já devia estar a voltar, segundo as contas do Google, mas em vez disso estava ali, com indicações obsoletas num papel, sem fazer ideia onde era o armazém, apenas com a indicação do número de um autocarro, sem fazer ideia de como depois ía voltar (não me apetecia voltar outra vez para o aeroporto; seria pelo menos mais uma hora até casa) e rodeada de palavras escritas somente em neerlandês e de pessoas que olham com má cara quem lhes dirige uma palavra em francês e insistem em continuar palavreado na mesma língua. Eu sei que eu é que estou no país deles, eu que me lixe. Mas é assustador ir-se no mesmo autocarro, passar-se um sinal com BRUXELAS e risco por cima e parecer que se está noutro país porque a língua francesa sumiu. Tive mais 40 minutos para matutar sobre isto.

Finalmente, o 272. Desta vez, de morada do maldito armazém em punho, decidi não cair no mesmo erro e perguntei logo ao início se aquele autocarro passava na DHL e onde tinha de parar. "Não sei.", foi a resposta (pediu-me se podia falar comigo em inglês. Oh meu amigo, faça favor! Menos esforço francófono aqui para a menina!) Ah, e tal, que não fazia ideia porque a DHL tinha inúmeros armazéns na zona circundante ao aeroporto, que a rua que estava no meu papel tinha vários quilómetros de comprimento e que ele não fazia ideia se passaria no número 151. Mas porque eu tinha perguntado uns minutos antes no autocarro errado pelos armazéns da DHL e a motorista indicou-me o autocarro correto e até a paragem lá perto, e quando eu disse o som da paragem houve reconhecimento da parte do motorista (a mim soou-me a "Cánádie", afinal era "Kennedy". Nem comento.) decidi arriscar. Mas o meu passe não dava porque já não estávamos em Bruxelas. Depois de muito rabuscar na mala, reparo que tinha deixado o porta-moedas em casa. A sério que quase desatei a chorar. Mas afinal os autocarros suburbanos belgas tem um sistema muito útil que dá para pagar bilhetes através de SMS, e por sorte uma das redes era precisamente a que eu uso. Ai, a sortezinha.

Lembro-me de ele dizer "Kennedy!" e de eu ser largada na paragem sem fazer ideia nem de onde estava nem onde poderiam ser os armazéns da DHL. A esta altura já eu respirava fundo, conscientemente, numa tentativa de me acalmar: "Sossega, S., o pior que pode acontecer é teres de voltar para a paragem, esperar mais 40 minutos e fazer o caminho inverso até ao aeroporto, relaxa, no máximo daqui a três horas estás em casa."

Quando chego à tal rua com muitos quilómetros e assim que vejo que o armazém em frente era o 141 (o meu papel indicava que a DHL ficava situada no 151), quase desatei num pranto. A correr tenho a certeza que desatei. Largo todo o ar que tinha nos pulmões e vou finalmente buscar os tão inatingíveis livros.

Por um acaso qualquer ou instinto ou que seja, apanhei um autocarro diferente de volta a Bruxelas. Descobri que este é que era o certo. E que me levou exatamente até onde tinha que apanhar o tram para casa.

Conclusão: Não volto a confiar no Google.

Conclusão 2: Vou parar de andar de autocarro. A sério. Já começa a ser ridículo.








S.