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segunda-feira, 12 de junho de 2017

Complexo de inferioridade

Um dia hei-de fazer um estudo sobre a forma como os media portugueses equacionam sucesso de ideias portuguesas com a atenção que países estrangeiros lhes devotam.

(Nunca vi país com tanta necessidade de validação externa como Portugal, irra. Deve ser por isso que vibramos tanto com vitórias em Euros, sejam de futebol sejam de canções.) 



S.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Somos mesmo uma nação de emigras

Há duas semanas enviei e-mail ao consulado português em Manchester para alterar moradas para poder votar nas legislativas portuguesas e começar a pensar em renovar cartões de cidadão que expiram para o ano. Enviaram-me e-mail há uns dias a dizer que temos marcação para... 11 de março de 2015. A próxima data livre.

Estamos todos cá fora, está visto.

(Faço ideia da espera no consulado português em Londres, o principal.)



S.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Portugueses bravos descobridores

- "Então, de onde vens?"
- "Eu sou da Malásia, e tu?"
- "Sou de Portugal."
- "Ah, que engraçado, os portugueses foram o primeiro povo a colonizar a Malásia."
- "..."
 
O que é que uma pessoa responde a isto?
 
a) "Ah, que giro, não foi isso que aprendi na escola. Na escola ensinam-nos que os portugueses não colonizaram coisas, 'descobriram-nas'."
 
b) "Ai sim, onde fica a Malásia, mesmo? Nós colonizámos tanta coisa que é difícil manter registo de tudo."
 
c) "Agora somos nós os colonizados, já não colonizamos ninguém."
 
(As três passaram-me pela cabeça, mas só uma viu a luz do dia.)
 
Normalmente o que se segue à resposta "Sou de Portugal" é um par de olhos muito abertos e um "Uau, a sério?". Ainda não tinha conhecido ninguém da Malásia.





S.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Veados algarvios em sonhos concretizados

Depois de incursões falhadas a Windsor, ao Richmond Park e até à Tapada de Mafra, foi no Algarve que eu concretizei o meu sonho de confraternizar com veados.



Animais maravilhosos e altivos, não sei quem estava mais nervoso com a aproximação, se eu ou eles. Parecendo que não, há ali muito chifre pontiagudo e afiado. E, pelo outro lado, os humanos são animais de movimentos bruscos e barulhentos. A desconfiança era, portanto, mútua.





 
No final, não só confraternizei com eles como ainda vieram comer à minha mão. Ainda estou em êxtase. 





S. 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Indo eu, indo eu, a caminho de Caminha

Já estamos em Portugal e já estamos de partida. Ainda não acredito que vamos mesmo embarcar nesta viagem de bicicleta e as minhas pernas nem suspeitam da sova que vão levar. Provavelmente, nem a mente está ainda consciente do que vamos fazer. Ignorância é bênção, deixa-as estar.
 
A partir de amanhã e durante o próximo mês vamos estar aqui.


Desejem-nos sorte e força nas canelas. :)




S.
 

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Do mal o menos

Assim que apareceram os primeiros resultados das eleições e vi os 7 porcento e tal do Partido da Terra a minha reação foi: "Ena, os portugueses estão a começar a preocupar-se a sério com o ambiente!




A minha ingenuidade chega a ser querida.

S.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Amor à pátria

E agora: é para votar porque apoia-se sempre o país na alegria e na tristeza, ou não é para votar senão eles nunca mais aprendem?




S.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Definição de casa-pátria

Em Bruxelas, existem carros de muitas nacionalidades. Como aqui há gente de muitas nacionalidades, causa direta de isto ser a capital da Europa e de tudo o que gira à volta desse facto, haver carros de matrículas tão variadas não é nada de estranho ou digno de nota. Mas eu gosto de números e letras arranjados aleatoriamente e por isso ter matrículas variadas é uma coisa que me distrai os sentidos.
 
Portugal é o único país que usa uma faixa amarelinha de lado com o ano e mês em que o carro foi registado. Eu não sabia, mas após esta longa experiência empírica já concluí que sim, é o único. E então acontece que o meu estômago dá um salto de cada vez que eu descortino uma matrícula com uma listinha amarela, porque sei automaticamente que aquele carro vem de Portugal e algures ali perto (talvez até ao volante, se não estiver apenas estacionado) estará um português. É o mesmo tipo de salto de estômago que acontece quando oiço português na rua.
 
Agora imaginem quando vou a Portugal. O meu estômago parace um ginasta olímpico. É só carros com listas amarelas nas matrículas! E como isto já se tornou uma reação inconsciente, eu tenho que estar a dizer, frequentemente, ao meu estômago para parar com essa merda porque ali é normal. Estamos na terra deles! Ouvir português em todo o lado, idem.
 
Isto para dizer que ainda não tenho a certeza absoluta, mas acho que já encontrei a minha definição de casa, não a casa particular, mas a casa-pátria: a minha casa-pátria é onde todos os carros têm listas amarelas nas matrículas.
 
 





S.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Guia de Portugal para o não-viajante

Já temos trajeto completamente definido.

Foi só agora, num cálculo mental rápido para ver quanto tempo tínhamos demorado a decidir o caminho, que me apercebi que foi no dia um de fevereiro que ficou decidido que iamos mesmo pedalar por Portugal afora. Demorámos pouco menos de duas semanas, portanto. Tenho a certeza do dia exato e tudo porque estivemos juntos e falámos que nos fartámos da coisa, tanto que tivemos que ir procurar num instante um mapa de Portugal à tabacaria mais próxima (que acabou por ser um Continente, as tabacarias já não vendem dessas coisas. Se calhar nunca venderam, não sei, nunca precisei de um...). Foi também quando informámos terceiros sobre a nossa ideia louca. E quando se informa terceiros sobre a nossa ideia louca ela deixa de ser ideia e passa a realidade. Pode continuar a ser louca à mesma, mas fica a pressão de se a concretizar.

Bom, mas dizia eu que comprámos o tal mapa porque nos estava a fazer falta na conversa um guia exato da linha de costa do nosso país. Para sabermos se daqui até ali é mesmo perto ou se tem que se guardar dois dias para lá chegar, como é.

Claro que um mapa de papel não chega nem de perto nem de longe para o ultra-mega-planeamento pormenorizado que queríamos, um que incluísse distâncias exatas (escalas e medir cenas com régua é aborrecido e demasiado dispendioso de tempo. E lamento mas somos criaturas jovens, que cresceram à medida de um Google Maps e não pensam abrir mão da sua mega conveniência.)

Posto que o mapa de papel foi muito útil para se abarcar a ideia geral, mas o trabalho todo de cálculos de distâncias, decisões de dormidas e terras a visitar foi feito através do nosso amigo precioso.

Assim que acabámos eu tive a brilhante ideia de pegar no livro que tinha comprado há uns anos e que teria sido bem mais útil ler antes de termos sequer começado a desenhar o trajeto...




Isto porque a ignorância por vezes é uma benção. E eu acho que era uma pessoa mais abençoada quando não sabia que Portugal tinha tanta coisa fascinante para ver. Mas saber não é ter uma ideia vaga, do género "gostava de visitar Aveiro, ou o Gêres, dizem que a costa alentejana é muito boa também...". É ver mesmo fotos ou ler descrições de sítios específicos, concretos, saber-lhes o nome e ver-lhes a cara. Por exemplo, sabiam que Portugal tem uma coisa destas?



Eu não sabia! E estou num misto de estupefação e indignação, mas mais indignação porque não sei quem é que nos anda a esconder estas coisas.

Nós decidimo-nos pela viagem pela costa abaixo e graças a isso vamos ver coisas magníficas, a antever pelas poucas terras que googlámos (há que manter algum suspense) e porque a costa portuguesa é extremamente diversificada para um país tão pequenino. Mas isso significa também que vamos abdicar de muita coisa interessantíssima que valeria tanto a pena quanto o resto, só foi azar ter calhado a mais de 20 quilómetros do mar.

Por isso mesmo, para não se falar mais do que poderia ter sido e cortar pela raiz os arrependimentos, vou deitar cá para fora tudo aquilo que eu queria tanto ver mas que não cabe na viagem. Para depois poder falar do que realmente vamos visitar já com a alma purgada.


Monserrate

Sintra, realmente... Mete raiva. Mete raiva pela quantidade de coisas que tem para ver, pela mistura de paisagens naturais e monumentos lindíssimos com que foi agraciada, pela aura de mistério, até pelo micro-clima marado e chuvoso. Algures lá para o meio da serra está o Palácio de Monserrate, uma construção exótica rodeada de plantas de todo o mundo e que, ao que parece, está um bocado ao abandono. Está na minha imaginação como uma Regaleira II.



Buçaco

E por falar em Regaleiras II... Grande filha da mãe, esta floresta, hã. Então nós temos toda uma espécie de floresta encantada e mística ali para os lados de Coimbra e eu só soube disto há dois ou três anos?! Como é possível?! Tem mosteiros e casas de retiro com mais de mil e quatrocentos anos, tipo casas escavadas no meio da rocha, tem vales de fetos, tem igrejas pequeninas cobertas de musgo, eucaliptos centenários e monumentos a batalhas das invasões francesas e eu sem nunca lá ter metido os pés. Parece impossível.



Batalha

Este não posso dar a desculpa de que nunca tinha ouvido falar, que me andaram a esconder e não sei quê. É mesmo uma falha grande e pronto. Mas é um grande mosteiro, provavelmente o nosso mais bonito (rivaliza ali taco-a-taco com o dos Jerónimos) e está na minha lista de coisas para ver em Portugal há muuuuito tempo. Ainda não vai ser este julho.



Tomar

Ali perto está outro monumento assim daqueles hard-core da história portuguesa que é o Convento de Cristo de Tomar. Segundo este senhor, é ali que está escondido o Santo Graal, que não é cálice nenhum mas sim um globo terrestre de madeira feito por Jesus Cristo carpinteiro e dado aos Templários para estes desbravarem o mundo. Foi por isso que os portugueses foram pioneiros nisto dos descobrimentos, e que sabiam que o Brasil estava lá onde estava muitos anos antes de 1500. É uma teoria muito linda, muito divertida, à la Dan Brown, mas que me espicaçou ainda mais a curiosidade de visitar esta cidade. Até porque é lá que está enterrado o nosso Pai Fundador, o Sr. Henriques, e a cidade diz que também é muito bonita.



Castelo de Arouce

Algures perto da Lousã, nos arredores de Coimbra, existe um castelo num vale. Um castelo construído num vale, ao invés de no monte mais alto que conseguiram arranjar. Quão intrigante é isto?...



Biblioteca da Universidade de Coimbra

Portanto, eu estive em Coimbra em dezembro, sabia que a universidade é centenária e tinha ouvido umas coisas sobre como a biblioteca é qualquer coisa de especial, mas ainda assim não a fui visitar. Por esta só me tenho a mim própria para culpar.



Ponte da Barca

Epá, adoro vilas com pontes romanas. São lindas. Pensar que os senhores de camisolas vermelhas, sandália no pé e capacetes com penugem estiveram ali e construíram aquilo que estou a ver e que mais de dois mil anos depois ainda é útil e utilizado, deleita a historiadora clássica que há em mim. E esta paisagem é lindíssima.



Citânia de Briteiros

E por falar em cenas bué antigas... Nós temos toda uma aldeia da Idade do Ferro reconstruída algures no Minho. E ninguém me ter dito nada, está certo? Não acho que esteja muito certo.





Braga

Braga está-me atravessada há já bastante tempo. Uma das cidades portuguesas mais bonitas e eu não a conheço. Vergonha, só vergonha.




Parque Nacional Peneda-Gerês

Deste nem vou falar para não me enervar...



Marvão

Como quase todos os vilarejos, vilas e cidades de fronteira, o Marvão é bad-ass. O que mais me fascina quando li sobre esta vila é o contraste entre o tamanho e o nível de fortificação: ultra-proteção para uma coisa tão pequenina. E vejam como se camufla ali na rocha:



Miróbriga

No Alentejo, perto de Santiago do Cacém, existe uma cidade romana encontrada e escavada que apresenta ruínas de coisas como dois templos, um fórum e um circo com capacidade para 25 mil pessoas. !!! Quem precisa de Romas com coisas destas a duas horas de Lisboa de carro?



Museu Regional de Beja

Este museu é o antigo Convento de Nossa Senhora da Conceição, que fiquei há dias a saber foi onde a freira Mariana, das Lettres Portugaises (1669), viveu. Está lá a janela da cela dela e tudo. Estas Lettres Portugaises foram mais tarde reproduzidas com um twist nas Novas Cartas Portuguesas, um livro chave do feminismo português e que, como bom livro feminista, irritou profundamente a censura do Estado Novo.


Tem ainda salas arabescas como esta, de azulejos intricados lindíssimos como estes, de maneira que vale mais a pena uma visita do que eu consigo exprimir:



Tour dos megalitos


Por último (quero crer que é o último...), entre Évora e Santiago do Escoural, existe tanto megalito, menir e dólmen que os senhores que escreveram o meu guia de Portugal criaram a tour dos megalitos, que deve durar um dia inteiro. Tem coisas como isto, a gruta do Escoural, carregada de pinturas rupestres com mais de 15 mil anos:


Ou isto, o Cromeleque de Almendres:


Não sabia que tínhamos celticidades e druidarias destas.

Pronto. Estão exorcizados de mim os sítios que não visitarei este julho mas que ainda assim quero tanto, tanto, tanto visitar. O tempo é curto, a vida é pequenina para se estar em todos os lados que se quer. O Fernando Pessoa tinha aquela ideia - parva - de que não é preciso ir aos sítios para os visitar, muito pelo contrário, que a ideia de visitar coisas é mil vezes mais interessante em si mesma do que o ato concreto de o fazer. Eu como sou uma pessoa mais rude e simplezinha, e como o Fernando claramente viajou pouco, fico-me pela vontade de querer mesmo pisar estes sítios e vê-los com os meus próprios olhos, sem intermediários. Ainda assim, acho que o Fernando Pessoa teria gostado de conhecer o Google Images.




S.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A grande viagem (ou, como quem diz, já não há juízo entre nós)

Há uns meses valentes, dizia-me o D. assim: "Eh, 'bora de Bruxelas a Portugal de bicicleta!" Eu acho que na altura não disse nada porque fiquei muito ocupada agarrada à barriga a rir. Mas nos tempos seguintes comecei a ponderar, a admirar a coisa de diversos ângulos e a magicar maneiras de a tornar possível. Como acontece aliás sempre que ele vomita uma ideia estrombólica deste tipo (cofvamosviverparalondrescof). Depois a coisa já era "Eu hei-de ir a Portugal de bicicleta..." E eu tornei-me condescendente: "Hmm-hum, claro que vais, se nem em Bruxelas andas, deves ir." Mas a ideia, na sua teoria, vá, até era fixe e seria uma mega conquista e uma oportunidade perfeita para palmilhar, quase literalmente, um bom pedaço da Europa, e eu até ia todos os dias para o trabalho de bicicleta e tal, comecei a dar algum crédito à coisa. Seria difícil mas não impossível e inesquecível decerto. Depois até descobri a rede EuroVelo e fiquei fascinada com a prospetiva de uma Europa toda ciclável e ganhei balanço. Chegámos a estimar dias e quilómetros, se faríamos pela costa francesa e espanhola ou cortando caminho pelo interior (eu dizia-lhe: "Há PIRINÉUS pelo meio" mas ele não queria saber), estivemos quase a comprar bicicletas para começar a visitar cidades belgas aos fins-de-semana (sempre Waterloo...), chegámos a sonhar visitar uma cidade de cada país aqui à volta só para dizer "Eu fui a [inserir país vizinho da Bélgica] de bicicleta e voltei!", eu sempre a insistir em irmos a Londres dando ao pedal e quase morrendo de desgosto por saber que o ferry de Calais-Dover ou Ostende-Southampton só transporta carros (sempre a Inglaterra...).

Entretanto a nossa partida definitiva da Bélgica chegou mais abruptamente do que o previsto e a ideia foi posta de parte. No final de junho iremos para Portugal, em setembro este blog voltará para o sítio que lhe deu o nome. A univ/cidade ainda não está escolhida mas a volta para a ilha já é uma certeza.

Mas... Mas. Há outra coisa. Surgiu a ideia (ou ressurgiu, nem sei com certeza), tão repentina mas tão avassaladora - e as melhores ideias surgem assim, já percebi - de uma volta a Portugal em bicicleta. "Se não dá a viagem maior, faça-se esta por Portugal, já que vamos ter umas férias mais alargadas do que o previsto", disse-me ele. E eu, contra todo o meu instinto dos "mas" e "se"s compulsivos disse: "'Está bem." É que, entendam, depois de termos passado meses e meses a considerar distâncias de 2000 e tal quilómetros e ver como enfiar aquilo em três semanas, olhar para o mapa do litoral português e ver que de cima a baixo são 700, a coisa parece uma brincadeira de crianças. E eu agora até corro fixe e tal, há-de dar, pensei eu. É a confiança de que o meu corpo é imparável e os seus limites serão apenas os que eu lhe impuser. Ou isto é uma revelação extremamente sábia ou a corrida queimou-me o cérebro todo, ainda não sei dizer.

Assim, e porque já sei que é certo e já temos um percurso (em rascunho), as datas alinhavadas e as linhas gerais de logística traçadas, eu posso dizer, com certeza, que o próximo julho será passado numa bicicleta (duas). Iremos de Viana do Castelo a Vila Real de Santo António, em 29 dias, sempre pela costa portuguesa (os emigrantes querem é praia e sol, of course). O entusiasmo é enorme, a antecipação também, o nervoso miudinho é que nem por isso. E isto é estranho. Tenho assim novo objetivo para lá da Meia-Maratona/Corrida dos Sinos: convencer as minhas pernas que pedalar 50 km por dia durante um mês é very nice.

Escusado será dizer que este blog em julho vai estar a abarrotar irritantemente de descrições de quilómetros feitos, dores nas pernas, escaldões no pescoço e outros pormenores que provavelmente só a nós interessarão. Escusado será também dizer que todas as dicas, experiências, conselhos e coiso serão extremamente bem acolhidos por estes dois jovens amadores que não têm nenhuma experiência com viagens de bicicleta, só uma pancada muito grande nestas duas cacholas.



Era para ser uma destas mas eu sou fraca demais para puxar pelos dois e control-freak demais para me deixar ser puxada.



S.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ele há coisas... #39

Há coisas que uma pessoa esquece. Que o sol português, em pleno solstício de inverno, incomoda os olhos e aquece, é uma delas.

Que levantar às três da manhã e viajar de madrugada nos traz recompensas, é outra.





S.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Portugal à segunda vista

Ainda estou a digerir um pouco o facto de que já não estou de férias. Nunca fiquei com depressões pós-férias nem nunca me custou regressar à escola/trabalho. Muito pelo contrário: setembro é um dos meus meses favoritos do ano, é como se fosse o Ano Novo, é o mês da rentrée, o fim da silly season, o mergulho na vida a sério, cheira a livros novos, tem a força da vontade das empreitadas novas, é o apagar de mais uma vela no bolo de aniversário. Mas isto anda tudo vazio, é Bruxelas, é a blogosfera, é os emails, é o escritório. Já estou pronta para setembro mas o resto do mundo ainda não. E isso entristece-me mais do que o fim das minhas férias.

Nestas semanas de regresso à pátria fiz um esforço consciente para visitar coisas que me andavam a fazer cócegas na imaginação há muito tempo. Mas como as férias são tempo para usar e abusar da presença física dos mais próximos - e de quem não podemos abusar durante o resto do ano, valha-nos o Skype mas não nos vale assim tanto, é pura imitação - arrastei a família atrás, ah pois.

Sintra. Aquele pedaço de terra mística que me é tão familiar mas tão superficialmente conhecido. As odes nos jornais, nos livros, na História, no Pessoa, nos Maias, na boca e nos olhos brilhantes dos estrangeiros que já visitaram Portugal e dificilmente encontram palavras para descrever a sua visita quando lhes digo de onde venho. O meu conhecimento superficial e a pouca distância da minha casa de 20 anos, aliada àquele sentimento de coisa adquirida que temos pelo que convivemos quotidianamente, fez-me achar durante muito tempo que Sintra estava um tanto ou quanto overrated.



Não está, porra. Não está. À Regaleira fui há uns anos, numa visita prenda-de-anos, e não desapontou. Tornou-se instantaneamente num dos meus lugares portugueses mais preciosos, com espacinho no coração (não são muitos). Desta vez fomos lá acima, ao topo da serra, ao Palácio, que vale mil vezes mais pelas vistas maravilhosas que pelo interior do edifício. Que serra maravilhosa. Que vista desafogada (50 pontos para quem conseguir distinguir o Convento de Mafra ao fundo). Ainda tivemos direito a testar o microclima sintrense porque a dada altura começou a chuviscar e eu passei o dia a vestir e a despir o casaco, consoante as esquinas do palácio que virava.

Porto. Xii, o Porto. Revelo com a vergonha devida que conhecia mesmo, mesmo muito mal a segunda cidade do país. Mas se calhar por isso ela arrebatou-me pelos pés e virou-me do avesso. Juro que a frase que mais pensei enquanto era guiada pelas ruelas da cidade, pela Ribeira, pela Foz e pelos miradouros, foi que o Porto batia aos pontos a beleza de Lisboa*. E que a cidade está ainda demasiado underrated, tanto na mente dos morcões como na dos estrangeiros que visitam Portugal e talvez não contem o Porto como parte do seu itinerário de viagem. Meu deus, a riqueza que é ter pontes que se percorrem a pé! Ter uma margem sul que não é bem Margem Sul porque é tão já ali. Ir ao Porto é acreditar que há vida para além de Lisboa, há Portugal vivinho da silva para além da capital, e isso fez-me extremamente bem às perspetivas.




E depois a descida do rio Tejo, sempre na ânsia do "já chegámos? já chegámos? já chegámos?" porque sabia que a qualquer momento iria virar uma curva e vislumbrar o Castelo de Almourol em toda a sua glória, e sim, ali estava ele, no meio do rio, lindo como sabia que só podia ser, mágico como esperava que fosse, um bocado, er... vazio por dentro como não sabia, mas com vistas do caraças quando se sobe mesmo até lá acima. Dá para sentir como um conquistador, e se semi-cerrarmos os olhos com convicção e se o sol brilhar forte na cabeça pode ser que dê para vislumbrar um exército a cavalo lá ao fundo. Mas o sol tem que estar a bater forte e quente na cabeça, claro.



Finalmente, a Tapada. Tão perto mas durante demasiado tempo longe do coração. Sempre a querer ver veados em Richmond e não sei quê, e afinal vivi durante tanto tempo tão perto deles. Ali, mesmo à mão de semear, quase que dá para se fazer festinhas, não fosse a desconfiança dos bichos em relação ao pessoal de duas patas. Teria mais sorte com os javalis, suspeito. Peguei numa coruja pela primeira vez e estou quase a completar a minha experiência HPteriana. Só falta o tour às Highlands.




Ainda voltei para uns dias no sul, que foram muito bons para levar muitos banhos de calor familial, uns tantos de sol e ainda mais uns literais de mar. Que maravilha é ter um mar só para nós e uma praia semi-deserta às 9 da manhã. E sim, é possível tal coisa no Algarve em pleno agosto. É só saber onde procurar :). Serviu também para apreciar o fresquinho de Bruxelas e maravilhar a possibilidade de andar na rua sem precisar de óculos de sol na cidade. Que esta aprendizagem me sustenha durante os próximos meses (já estou a pensar que tenho de comprar um casaco verdadeiramente quente e umas botas verdadeiramente aderentes. Pensar em neve em meados de agosto é espetacular.)


(Foto roubada ao primo que tira fotos melhor do que eu)


Agora vou sossegar um bocadinho aqui em Bruxelas e aprender a chamar "home" à casa nova, voltar a encaixar a biblioteca na minha vida e cruzar os dedos até mais ou menos maio. 



S. 


*Entretanto, já nem sei, porque uns dias depois fui à Baixa e desci a Rua Augusta e o sol brilhava forte no céu azul intenso e a pedra do arco da Rua Augusta estava tão mas tão branca, e fiz a procissão até ao Cais das Colunas - que sim, aquele caminho tem mais de sagrado e ritualesco que muita romaria que por aí anda - e eu fiquei novamente embriagada com o caráter de Lisboa e já quase lhe implorava perdão por ter pensado que outra cidade portuguesa a podia bater. Igualar, pronto vá, lá me decidi pela justeza.  

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O mundo ao contrário

Deixar só registado, para daqui a uns meses não pensar que isto foi um sonho:

- deixei uma Bruxelas quente e soalheira, a rondar os 28 graus, e fui acolhida pela terra natal afundada em nevoeiro e cacimba.

(há três semanas deixei uma Lisboa de 36º e fui-me enfiar numa Bruxelas de 12º. Mas assim fico mais descansada e com a confiança que às vezes também faz mais calor na minha cidade de acolhimento que tem um problema sério de botões de clima avariados, do que no meu lugar de origem).





S.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Olha, outro...

Uma pessoa fica sem net por uns dias e quando acorda é esta rebaldaria: ministros a demitirem-se, reis a abdicar...

É qualquer coisa que anda no ar, só pode.

Estou com um bocado de medo de ir para casa agora. Não sei o que esperar nas capas dos jornais de amanhã.







S.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Volta man-washer*, estás perdoado

Desta vez foi numa montra insuspeita de uma loja de fotografia algures em Portugal. Vendia também daquelas t-shirts com ditos engraçadolas, e apanhou-me desprevenida. A modos que me gelou o sangue:



Gosto do pormenor de terem escolhido o vermelho para as letras e para o fundo da camisola e o preto para o punhal. Não deixa escapar nenhuma associação com o real. Eu sei que a comicidade deste tipo de t-shirts por vezes é um bocadinho discutível mas isto parece-me que vai longe de mais. Há ainda demasiadas mulheres a morrer às mãos dos maridos/ex-companheiros, a violência doméstica (tanto física como psicológica) ainda faz parte de demasiadas vidas de mulheres, a ciumeira e os comportamentos obsessivos ainda são levados demasiadamente como normais de quem gosta (tanto no casamento como no namoro) para que isto possa ser uma piadinha bem disposta. E, a sério, quem é que usaria isto? Provavelmente não um verdadeiro assassino mas provavelmente alguém que se sentisse bem na pele de um controlador obsessivo (para lhe dar um eufemismo bonito).

Comédia inteligente e negra é uma coisa extremamente fabulosa mas que tem que ser feita com mestria. Há uma linha demasiado ténue entre comédia negra e a básica ofensa gratuita**. Esta t-shirt não conseguiu alcançar a primeira. 




S.

*para quem não sabe, o man-washer é esta preciosidade
**apetece-me muito fazer um post sobre a diferença já há um tempo. Pode ser que esteja para breve.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ele há coisas... #26

Desta vez venho partilhar algo lusitano que me despertou realmente o interesse.

Descobri-a bem por acaso (apesar de não ter podido evitar passar por ela, por isso se calhar não foi verdadeiramente por acaso...). Não obstante, descobri-a num momento apressado e quando me preparava para mais um "até logo" a solo lusitano.



A loja, vendendo exclusivamente produtos portugueses não é propriamente um conceito original. Mas foram os produtos e a variedade que me prenderam a atenção.

A loja está organizada por secções e é bastante completa. Normalmente, as lojas de produtos "made in Portugal" são especializadas em apenas gourmet ou apenas calçado ou apenas livros ou apenas objetos de cortiça. Esta tem-nos todos.




A parte das roupas, onde figuram marcas como a Salsa, a Muu ou a Parfois, incluíndo também a Pelcor com as suas malas e carteiras de pele de cortiça.





Uma prateleira dedicada à artista Joana Vasconcelos, recentemente mediatizada pela exposição em Versalhes.




A parte da literatura portuguesa dominada pelo Saramago :)

Mas foi a parte da loiça - curiosamente! - que me prendeu o interesse. Então não é que existem conjuntos de chávenas com os heterónimos do Fernando Pessoa?! Quão fixe é isto, pá...





O Eça também lá estava...





Outros pratos, caixas e chávenas tinham ilustrações relativas a História portuguesa, como esta:





Foi a primeira vez que senti genuína vontade de comprar um souvenir português. No entanto, a mochila a abarrotar mais a mala de 23 kg que me aguardaria à chegada tiraram-me as ideias de compra de porcelanas frágeis da cabeça.

Gostei muito. Vou andar de olho nela da próxima vez que visitar o Aeroporto de Lisboa.



S.







sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Ele há coisas... #25

É um facto. Portugal tem o céu mais azul da Europa.


A primeira coisa que noto sempre que regresso é esta luz e claridade intensas, que nem no verão a Europa do norte consegue igualar. 



E estes dias têm sido particularmente simpáticos para dois portugueses emigrantes cheios de carência de vitamina D. Ou apenas carência afetiva solar.






S.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Ele há coisas... #24

Fiquei na dúvida se o Parlamento Europeu já está em meados de fevereiro ou se teve uma crise de identidade...



Num olhar mais atento, descubro que esta é apenas uma homenagem a um artista plástico checo, e que o coração néon foi originalmente feito por ele e colocado em Praga para celebrar a queda do regime totalitário comunista. Celebra-se agora 20 anos desde que o senhor ergueu o coração na capital checa.







Noutra nota, o PE decidiu celebrar o prémio Nobel da Paz colocando nos placards a toda a volta da entrada principal as fases da paz europeia. Bem no centro, e por cima do reflexo sêxtuplo do coração, está o contributo português para uma Europa melhor: a Revolução dos Cravos.






Pedacinhos de casa que vou encontrando...



S.