agora paralisado do lado esquerdo após dois avc que terminaram a sua carreira, fica-me a

memória-testamento dele, um dos maiores pianistas que alguma vez pude ouvir sobre um palco.

às vezes penso nos que puderam ouvir chopin tocar, sem estarem conscientes desse privilégio.

é extraordinário como este concerto de colónia 

festeja os quarenta anos com o mesmo brilho

podia até ser irónico que o último cd de charlie haden a ser lançado (mais uma colaboração com keith jarrett) terminasse com esta cover de "goodbye". mas não é… porque em bom rigor, é apenas um "see you soon" escondido em mais um nocturno mais-que-perfeito.

jarrett no japão. um solo nostálgico. um nocturno mais-que-perfeito

“Music is an amazing thing. It doesn’t exist as a stationary object. It moves in real time and can be uplifting both to the player and the listener. The melting, trans-figurative moment, that feeling of everything being there, just for an instant, that surrender that overcomes us as players (if we’re good enough) and leads us on to the next pregnant second, patient in the knowledge that there always is, waiting in the wings, the next chance to feel this fullness and celebrate it (as it is only in the nature of art to produce it this way); to this we dedicate our lives. But it is not for us alone; it is also made for you, the listener, to feel these same feelings along with us, to participate and to also be uplifted by it.”

Keith Jarrett

(testament - paris concert - part vii)

“Art is dying in this world, and so is listening, as the world becomes more full of toys and special effects. With this death will come the undoing of many possible feelings: beautiful, tender, deep, trusting, free, sad, full of internal meaning and color. Closeness won’t have to necessarily be physical. Intimacy will be hard to find. Communication will be lost. Here is some music for you. Take it and it’s yours.”

Keith Jarrett

(outro nocturno mais-que-perfeito)

[ em demanda do nocturno mais-que-perfeito ]

há canções que me lembro perfeitamente de ter ouvido pela primeira vez. 
sei onde estava ou com quem estava ou em que estação ou ano tal ocorreu.
não é o caso do köln concert, que ouvi tantas vezes que me parece ter nascido comigo.

festejas hoje sessenta e sete risonhas translações solares 

e sei que sabes que dentro de ti há uma palavra por cantar: 

essa palavra que os teus dedos escrevem desde sempre para  

nós, que neste papel em branco só podemos ouvi-la mudos.

[ parabéns keith. olha, o poema e as plantas sem clorofila que se seguem são para ti. obrigado por tudo, por nos aturares como ouvintes ]

a noite pede música diz a marta e a anita fala 

da banda sonora do dia (que se fez noite e me 

desperta para um momento raro de céu na terra)

[ o senhor jarrett feito chopin, e a caminho da imortalidade... ]

(para a marta e para a anita)

mais um grande azul sem palavras (não contabilizando as que sabemos lá estarem)
numa noite parisiense em que o senhor jarrett se sentou melancólico a tocar piano...