... e espanto.
Ainda a capacidade do espanto, algo que pensava já não me afligir.
A criança de 12 anos, violada pelo padrasto durante mais de dois anos, engravidou. Todos nós já tomámos conhecimento deste caso, todos (ou quase) ainda levamos um valente abanão com notícias destas.
Estamos a falar de uma criança que estava sinalizada, que já tinha estado institucionalizada, e quais foram as medidas tomadas para proteger esta menina? Ah, pois, o superior interesse da criança era mantê-la com a família, entendo!
Agora, que engravidou, colocava-se a questão: proceder ao aborto, sim ou não?
Vale a pena ler a "explicação"/"justificação" do director Luís Graça:
“Como explicara um dia antes ao DN Luís Graça, diretor do
serviço de obstetrícia do Santa Maria, "a gravidez, embora seja uma
criança de 12 anos, não coloca em risco a vida física, mas coloca em gravíssimo
risco a vida mental desta rapariga". (aqui)
Sr. director, importa-se de explicar como está, agora, neste momento, a saúde mental dessa criança? Mais. Importa-se de explicar como ficará a saúde mental desta criança após o aborto?
Pois é, é sempre melhor ir pelo caminho mais fácil(?).
Será que a criança foi questionada sobre o queria? Se queria o filho, ou preferia abortar.
Segundo uma das nossas melhores pedopsiquiatras, a criança deveria SEMPRE ser previamente ouvida antes de que lhe fosse feito o aborto. Será que foi?
Depois temos a posição do Hospital.
"A posição oficial do Hospital de Santa Maria, divulgada em comunicado, é que "foi tomada uma decisão considerando o superior interesse da criança" .”(aqui)
Ora digam lá, caros senhores, estão a defender o "superior interesse" de qual das crianças? Da mãe/ criança, ou do seu filho, um bebé com uma gestação de 5 meses? É que estamos perante o superior interesse de DUAS crianças, não sei se já repararam.
Já pararam para pensar como esta criança/mãe a quem foi roubada, da forma mais infame, a dignidade e a inocência, se vai sentir quando lhe roubarem o filho que sentia viver dentro de si?
É óbvio que uma menina de 12 anos não está preparada para ser mãe, da mesma forma que que não me parece que esta seja a melhor solução.
Ora vejamos:
- Estamos perante uma criança que tem sido, desde sempre, VITIMA.
- VITIMA de ter nascido, muito provavelmente, numa família desestruturada.
- VITIMA de falta de amor, de proteção.
- VITIMA de falta de respeito, o respeito que toda a criança exige/merece.
- VITIMA de lhe terem roubado o direito a ter uma vida digna.
- VITIMA de uma sociedade, não só profundamente hipócrita, como irresponsável.
- VITIMA de serviços oficiais, que tiveram conhecimento da sua situação e nada fizeram para a defender/proteger.
- VITIMA de uma mãe que não soube(?) ajudá-la, não se apercebendo, sequer do estado em que se encontrava.
- VITIMA de um homem, que de homem tem apenas o nome.
E justifica-se a opção do aborto, tendo em conta o risco que representaria para a saúde mental desta menina o nascimento do seu filho? Que tal um pouco de respeito pelo sofrimento desta criança?
Rezo, espero(?) que não a encaminhem, de novo, para uma instituição.
Não haverá um braço/abraço/colo para esta criança?
Não haverá alguém que lhe dê um pouco daquilo que nunca teve: AMOR?
Não haverá?
Nota: Negrito e sublinhado meu.