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27 de setembro de 2012

Você está sempre tentando modificar seu parceiro?



 



Você já tentou ou pelo menos desejou mudar algo em seu parceiro? Dar uma arrumadinha nele, deixá-lo mais romântico, ou deixá-la mais econômica, ou mais organizado(a)? Mais objetivo(a) ou mais sentimental?

Nos relacionamentos algumas vezes chegamos a crer que estaríamos mais felizes com pessoas que pensam da mesma forma que nós, ou que possuem as mesmas crenças e pontos de vista, e de certa forma, realmente seria mais fácil, pois com esse perfil as chances de você ser confrontado certamente seriam menores.

A grande questão é que os relacionamentos que mais nos estimulam a crescer e a repensar nosso forma de vida são aqueles travados com pessoas que se orientam por parâmetros diferentes dos nossos, pois é com elas que aprendemos a exercitar nosso conceito de respeito.

Respeito implica em receber e entender o outro a partir de sua perspectiva, de seu prisma, o que significa estar na mesma hierarquia, no mesmo patamar, sentir-se nem maior nem menor que o outro, apenas fazendo parte de uma relação simétrica e não complementar.

Desse ponto de vista, sempre teremos a acrescentar em nossa vida, à medida que possamos nos permitir entrar em contato com o genuíno que existe em cada um de nós.

Quando tentamos modificar o outro, sem respeitar suas particularidades, talvez estejamos buscando nos relacionar com nosso espelho, impondo nossas verdades e entendimentos de mundo, numa busca desesperada de evitar o medo do novo e do diferente. Para lidar com eles, temos que estar muito convictos de nossa identidade e de nossas certezas, e ao mesmo tempo dispostos a checá-las e consequentemente repensá-las.

Em contrapartida, muitas vezes queremos mudar no outro o que ele tem de nós; implicamos com a chatice do outro para não olharmos para a nossa, olhamos o mau do outro para evitarmos entrar em contato com o nosso mau interno, implicamos com sua desorganização para não lidar com nosso excesso de ordem que muitas vezes nos escraviza.

Nossas escolhas de vida são processos de amadurecimento e transformação pessoal. A maturidade emocional passa pela capacidade de fazer escolhas e lidar com suas consequências.

Aprender a apurar nosso foco de atenção, perceber nossas necessidades, desejos e dificuldades, é o primeiro passo. Em decorrência desse processo ganhamos a capacidade de sermos assertivos em nossas atitudes e consequentemente fortalecemos nossa autoestima, condição indispensável para lidar com nossas escolhas.

Sendo assim olhe para seu companheiro(a) não com os olhos críticos de quem procura defeitos a serem corrigidos, mas com os olhos de quem está pronto e aberto a conhecer outras formas de existir.



Sirley Bittú 
 
 

13 de setembro de 2012

Amor versus individualidade




Ao longo do segundo ano de vida a criança vivencia enorme avanço em suas competências: aprende a andar, a formular as primeiras frases, aprimora suas aptidões motoras etc. Se até então seu maior prazer era ficar no colo da mãe, usufruindo da paz e aconchego similar ao que foi perdido com o nascimento e sentindo por ela aquilo que chamamos de amor, agora ela gosta também de circular, especular sobre o ambiente, tentar entender para que servem e como é que funcionam os objetos. Coloca quase tudo que encontra na boca, tenta sentir seu tato, observa o que acontece quando deixa que caiam no chão. Dá sinais de grande satisfação a cada nova descoberta. Está praticando os primeiros atos próprios de sua individualidade - e se deleitando com eles.

Tudo isso acontece na presença da mãe. Sim, porque se ela for para um outro local, a criança imediatamente abandona o que está fazendo e sai em disparada atrás dela. O mesmo acontece se levar um tombo: corre chorando de volta para o colo. Diante da dor física ou da iminência de distanciamento exagerado da mãe, a sensação de desamparo cresce muito rapidamente e aí se torna absolutamente necessária a reaproximação. Há, pois, uma clara alternância de preferências: estando tudo em ordem, o que a criança quer é exercer os prazeres da sua individualidade em formação; ao menor desconforto, busca no aconchego materno (amor) o remédio para todas as dores.

Não há como não compararmos nossos comportamentos ditos adultos com o que acabei de descrever: queremos exercer nossa individualidade com a máxima liberdade, mas queremos voltar para casa e encontrar o parceiro à nossa espera. Ficamos bem longe da pessoa amada por algum tempo, mas depois o desejo maior é o de nos aconchegarmos; se isso não é possível, sentimos a dor forte correspondente à saudade (mistura de abandono com lembrança do calor que advém da companhia). Temos a nosso favor o benefício de um imaginário mais rico e a capacidade de nos comunicar com o amado à distância graças aos recursos tecnológicos: sentimos-nos aconchegados, mesmo longe, graças às palavras e juras de amor.

No convívio íntimo, parece que queremos mesmo é encontrar uma fórmula capaz de conciliar amor e individualidade: quero, por exemplo, assistir ao programa de TV do meu interesse e quero que minha amada esteja ao meu lado, se possível bem agarradinha. Ela, também interessada no aconchego, poderá tentar achar graça, por exemplo, no jogo de futebol que tanto me encanta. Mas talvez não consiga e aí começam os problemas. Ela se afastará, indo em busca daqueles que são os seus reais interesses individuais. Eu me sentirei rejeitado, abandonado e mal amado; tentarei pressioná-la com o intuito de fazer com que volte. Ela, prejudicada em seus legítimos direitos, irá se revoltar e a briga (chamada de “briga normal dos casais”) será inevitável.

O homem é, ao mesmo tempo, a criança e a mãe. O mesmo vale para a mulher. Querem exercer sua individualidade, mas sem se afastar muito um do outro. Lutarão pelo poder, para definir quem irá impor o ritmo e a programação. Por maiores que sejam as afinidades, sempre irão existir atividades que são do interesse exclusivo de um dos membros do casal. A fórmula tradicional - homens mandam e mulheres obedecem - não funciona mais (felizmente).

O que fazer? Só há um jeito: o crescimento emocional de ambos para que a dependência típica do amor infantil se atenue. Que cada um consiga se sentir em condições de exercer suas atividades, de modo a liberar o parceiro para fazer o mesmo.



Flávio Gikovate 
 
 
 

26 de julho de 2012

O que é maturidade emocional?



O pavio curto é aquele que facilmente “explode” o famoso “tolerância zero”. A pessoa que age como um pavio curto na vida, é na verdade comparável a uma “criança mimada grande”, que nega-se a aceitar seus próprios limites e os limites dos outros faltando com o respeito a si e aos demais. 

Em nosso aprendizado de relacionamentos, absorvemos nossa cultura e através dela aprendemos a reagir. Enquanto bebês, precisamos da sensação de onipotência oferecida por nossa mãe ou cuidadores. Essa sensação é resultante de termos o que precisamos, no momento que precisamos. O bebê tem fome e recebe o alimento tem frio e é acolhido, tudo isso num ritmo que o faz “pensar” que tudo faz parte dele, tanto a fome como o alimento. Mundo interno e externo ainda estão confusos e misturados, é a fase em que o bebê ainda não possui a noção do que é dele e do que não é. Essa sensação primária de onipotência é extremamente importante e ajuda o bebê em seu desenvolvimento e na formação de sua identidade emocional. O esperado é que gradativamente o bebê passe a perceber esses limites ao passo que comece a vivenciar algumas pequenas frustrações, como por exemplo, ter de esperar pelo leite. Este delicado e complexo caminho do desenvolvimento humano foi estudado em minúcias por vários especialistas em comportamento e desenvolvimento emocional.

Durante nosso desenvolvimento caminhamos dessa sensação de Onipotência/Impotência para a percepção clara de nossos limites e potencialidades que poderíamos chamar de poder pessoal, ou simplesmente de maturidade emocional. Na vida adulta nos descobrimos interdependentes com o meio, precisamos nos relacionar para sobreviver, precisamos do outro e o outro de nós. A maturidade emocional se faz quando percebemos esta difícil e delicada inter-relação, pois para nos relacionarmos precisamos conhecer nossos limites e os limites do outro. A sociedade impõe regras inerentes à sua cultura e o ser humano impõe regras inerentes à sua saúde emocional. 

Estamos todo o tempo nos relacionando em diferentes papéis sociais, quanto maior nossa clareza sobre nossos potenciais, limites e responsabilidades, maior nossa capacidade para perceber o outro como ele é, pois nos tornamos capazes de trocar de papel, nos colocarmos no lugar do outro, entendendo melhor suas motivações e atitudes. Ganhamos a possibilidade de tornar a vida mais “ensolarada”, e menos “nublada” por nossas desconfianças , medos e conclusões equivocadas. Vamos dar um exemplo: se estamos nos sentindo carentes afetivamente teremos a tendência a olhar o mundo como povoado por seres egoístas e pouco afetivos. Não conseguimos ver aquilo em que não acreditamos, se acreditamos que não poderemos receber afeto, realmente não receberemos, simplesmente pelo fato de que não estaremos abertos a perceber o que já temos, apenas o que nos falta. 

Existem muitas pessoas que vivem se lamentando de suas amarguras e ressentimentos com o mundo, cobrando algo que a muito elas não oferecem... amor, atenção, carinho e respeito. O pavio curto é na verdade alguém que tem dificuldade em aceitar seus limites e frustrações, não consegue lidar com eles, portanto grita primeiro numa desesperada tentativa de evitar a frustração. A fantasia associada é a mesma que o bebê tem, ou seja, de que não conseguirá sobreviver à dificuldade e que não tem recursos internos que o ampare. A nossa capacidade de tolerar frustração é a base da maturidade emocional principalmente porque nos dá a habilidade necessária para distinguir fantasia de realidade. O ser humano é falível, porém, cheio de potenciais que precisam ser descobertos para serem estimulados e aproveitados. 

A energia de vida humana é o que nos move, o que nos impulsiona para saborear a vida, quando acreditamos que o mundo nos deve algo, que ele é “mau”, uma das saídas emocionais que algumas pessoas encontram é agredir o mundo, usando esta energia para este fim. O mundo não é bom ou mau, ele é as duas coisas, como o ser humano. O “pavio curto” agride o mundo numa desesperada tentativa de se defender, como se ele estivesse antecipando o ataque que acredita que receberá. 

Se você já está esmurrando a mesa, ao passo que vai lendo este artigo, não se preocupe, ser “pavio curto” é uma dificuldade emocional e não uma doença, portanto a busca de autoconhecimento e de superação de seus limites é possível e está a seu alcance. Não podemos esquecer que você, que se considera uma pessoa de temperamento explosivo, pode aprender a utilizar essa sua energia à seu favor. Existem outros aspectos também relacionados a esta característica emocional, como a dificuldade de perdoar e de ser humilde para reconhecer seus erros e suas dificuldades. 

No processo psicoterapêutico buscamos desenvolver a autoconsciência ou seja, a capacidade de observar a si mesmo e descobrir o que sente, o que pensa e o que percebe aprendendo as diferenças sobre essas coisas e descobrindo novas formas de reagir, tornando-se mais “dono de si”. 

A arte de fazer escolhas ou nossa capacidade de tomar decisões está relacionada à noção de ter de perder algo para ganhar algo e relaciona-se com nossa capacidade de avaliar os reflexos de nossos atos, assumindo a responsabilidade pela conseqüência de nossas ações. 

A maturidade emocional implica também na compreensão de que a onipotência é apenas uma ilusão criada por nossa mente inicialmente primária, para nos ajudar a sobreviver à nossa fragilidade emocional. Precisamos desenvolver nossa capacidade de rir de nós mesmos, num movimento de aceitação tanto de nossas características boas como das “não tão boas”, para que possamos ter a humildade de tentar superá-las. Negar nossas dificuldades é negar o humano que existe em nós.

Sirley Bittú

30 de maio de 2012

Sinais de maturidade

  


A gente não sabe ao certo quando ela chega nem como ela se instala - talvez porque seja de forma lenta e quase imperceptível - mas de repente a gente se dá conta da prazerosa sensação da maturidade.

A pessoa madura sente-se mais livre para expressar pensamentos e sentimentos, dizer a sua verdade calma e mansamente. Muitas vezes opta por não dizer nada ainda que esperem que ela diga, e isto não lhe causa nenhuma culpa ou constrangimento.

A pessoa madura sente-se contente consigo mesma, valoriza o longo trajeto já percorrido e verifica que tanto as vitórias quanto as derrotas foram necessárias para o seu crescimento e plenitude. Não se desespera quando a vida parece dar uma longa pausa, aguarda com serenidade e otimismo as novas circunstâncias ainda não configuradas no cenário de sua existência.

A pessoa madura decididamente não faz tipo e se liberta de vez da ideia: mas o que vão pensar de mim?? Aprende a distinguir valores essenciais dos valores supérfluos e descartáveis. Sabe que esta passagem pela terra é rápida demais para ser desperdiçada com mazelas.

Os sonhos, projetos e ideais de uma pessoa madura são quase sempre exequíveis. Contenta-se com o que tem, ajusta-se dentro do próprio orçamento, não gasta mais do que ganha e faz algumas renúncias (de forma serena) em prol de seu núcleo familiar ou de alguma causa que resulte no bem comum.

A pessoa madura se despoja dos melindres, se despe dos preconceitos, deixa de ser reativa (reacionária) para ser pró-ativa. Aprende a gostar da própria companhia, torna-se a melhor amiga de si mesma dando ao próprio "eu" os contornos do equilíbrio.

Conhece seus pontos fortes e fracos, sabe que não tem todas as respostas nem é dona da verdade, mas mantêm um código secreto de verdades e valores próprios que lhe permitem nortear-se, de forma positiva, pelas diversas circunstâncias da vida.

A pessoa madura não aparenta ser. Ela é! Ela é alguém que deletou centenas de arquivos inúteis que atravancavam e emperravam o livre fluxo da própria existência. Ela é alguém que está em paz consigo mesma. 


Fátima Irene Pinto


22 de janeiro de 2012

Quando o amor é distração



Depois de algum tempo, que varia de pessoa para pessoa, é inevitável que a gente tenha a sensação que já fez de tudo e que a vida – aquela de todos os dias, ano após ano - está se repetindo. Quando eu tinha 17 anos, um dos meus melhores amigos, um ano apenas mais velho do que eu, decidiu se casar. Durante a conversa que tivemos sobre isso, argumentei que a decisão era pra lá de precoce, mas ele respondeu, cheio de si: “Eu sinto que já fiz de tudo.” 

Os tempos mudam, mas algumas coisas permanecem. 

Nos anos 70, quando essa conversa aconteceu, havia pressa entre os garotos em tornar-se homens. Para alguns, como esse amigo, mais conservadores, isso se dava por meio do casamento. Você provava ao mundo e a si mesmo que havia crescido ao entrar na igreja e ter um filho, preferencialmente com um intervalo de alguns meses entre uma coisa e outra. 

Hoje em dia talvez seja o contrário. Há uma determinação coletiva em esticar a adolescência além do limite razoável. A sensação predominante, aquilo que alguns chamam de espírito do tempo, é que nós todos viveremos como Oscar Niemeyer ou Domingos de Oliveira. Talvez mesmo como Matusalém, aquele personagem bíblico que bateu sandálias aos 969 anos. Com frequência eu escuto conversas assim: “Eu tenho 25anos, sou moleque, mas...” Obviamente mudou a idade em que as pessoas sentem que cresceram. 

O que não mudou desde a calça boca de sino foi a maneira que as pessoas escolhem para mudar a vida. Quando as sensações estão se repetindo, quando um ciclo aparentemente se esgotou, elas se apaixonam. Temos até uma frase para explicar isso: quando estamos prontos, a pessoa certa aparece. A “pessoa certa” varia de uma vida para outra, mas a função dela, eu acho, é sempre encerrar uma etapa e dar início a outra. Recomeçar. 

O motivo é simples: a paixão nos dá a sensação de voltar a zero. Ou quase. Eros, na mitologia grega, não encarna apenas a força brutal do amor e do erotismo. É também o deus da natureza, com seus ciclos indomáveis de morte e renascimento. Estar apaixonado é florescer, tanto quando se entorpecer ou enlouquecer. Meu amigo percebia isso aos 18 anos. Pegou carona na energia da paixão para mudar a vida na direção que imaginava correta. Um novo amor, um novo começo, a possibilidade de uma nova vida. Quem nunca embarcou nessa? 

Mas eu vejo um problema com essa forma de mudar as coisas: a energia da paixão é ambígua. Ela pode ajudar a promover mudanças reais ou pode encobrir, sob uma camada de novidade e erotismo, a vontade de mudança que não se realiza em outros aspectos da vida. O amor pode ser ação, mas pode ser apenas distração. 

Escrevo isso porque, frequentemente, tenho a sensação de que transferimos para o amor a responsabilidade por milagres que ele não tem capacidade de operar. É comum, por exemplo, estar tão enfastiado com o trabalho que a vida pareça insuportável. Quem pode ser feliz fazendo o que não gosta todos os dias? Ou indo a um lugar onde não gostaria de estar? Ou tratando diariamente com pessoas que não gostaria de ver? 

Mas é igualmente comum que, em vez de tentar alterar esse aspecto essencial da existência, as pessoas se atirem a mudanças de outra ordem, sobretudo afetivas, em busca de uma satisfação que será necessariamente temporária e que não vai mudar em nada o problema essencial. Eu já fiz isso e já vi dezenas de pessoas fazerem igual. 

(Minha sensação é que as pessoas práticas, aquelas capazes de mudar com mais eficiência os aspectos materiais da sua existência, têm menos necessidade de revolucionar seu mundo afetivo a cada par de meses ou anos. Elas se renovam mudando outros aspectos da vida.) 

Há também a paixão que nos consola das nossas questões interiores. Das nossas dores permanentes. Da nossa ansiedade intolerável. Por algum tempo ela nos distrai de nós mesmos. É uma fuga que tende a se repetir. Gente angustiada e sedutora faz isso o tempo inteiro: troca de parceiro e de paixão sem conseguir trocar o essencial em si mesmo. Eu já conheci gente assim, você também. Um belo dia elas acordam, percebem que a velha dor está lá, e vão embora, atrás de outra paixão que consiga preencher o buraco impreenchível. 

Qual é a moral dessa história? Que talvez tenhamos de desconfiar de nós mesmos (e de nossas razões) mesmo quando estivermos sendo levados ao céu pelo anjo inesperado e providencial da paixão. Se o anjo aparece toda vez que a vida se torna insuportável, talvez não passe de uma requintada muleta com asas. Ou de uma ilusão. Quem sabe um analgésico. 

O meu amigo decidiu que já tinha vivido tudo aos 18 anos e que a paixão e o casamento resolveriam suas angústias de adolescência. Obviamente ele era um tolo e as coisas não aconteceram como ele previa. A maioria de nós fez 18 anos há muito tempo, mas, de uma forma silenciosa e quase inconfessável, muitos continuamos esperando que o amor (o próximo amor, o casamento, ou aquele cara...) vá solucionar, repentinamente, nossa vida. Eu acho que não acontece assim. Pelo menos comigo não tem acontecido.


Ivan Martins





13 de dezembro de 2011

Quando foi que ficamos adultos?




Olho em volta e tenho a impressão de que vivemos em estado de confusão.

Um amigo decidiu sair de casa, mas sofre com dúvidas e medo. Outro descasou definitivamente, para viver uma aventura trepidante. Há a colega separada (cujo ex-marido descobriu que a ama), o grisalho apaixonado pela mulher mais jovem (que não sabe o que quer) e aquele outro que insiste em seduzir todas as mulheres do mundo, desde que sejam lindas e não gostem dele.

Eu presencio essas coisas todas e me pergunto quando foi que ficamos adultos.

Ao contrário do que diz a lenda, não me parece que esse estilo de vida reflita imaturidade. Ele é um jeito de ser. Havia uma convenção que nos protegia de nós mesmos e dos nossos desejos. Rompemos com ela e agora o mundo é o da ambiguidade permanente.

De um lado, a esperança atroz de ser feliz. De outro, a dificuldade em construir a felicidade. Aqui, todas as possibilidades do mundo. Ali, a incapacidade em fixar-se em qualquer uma delas. Sonhamos com romance e arrebatamento, mas, ao nosso redor, se multiplica o efêmero e a ansiedade. Permeando tudo, a liberdade e a possibilidade de tentar.

Às vezes tenho a impressão de que fomos expulsos do Paraíso.

Lá, havia um grande amor claramente reconhecível e um plano de vida simples, que começava cedo e se resumia à tarefa grandiosa de construir uma grande família. Em troca, tínhamos de manter sob custódia nossas inquietações e nossos desejos. Era um compromisso de longo prazo que exigia abnegação e disciplina. Não conseguimos. Fomos espiar pela janela, nos apaixonamos pelo mundo, ficamos entediados com o que nos cercava e deixamos fenecer a nossa escolha. Em uma única palavra, pecamos. Agora vivemos do lado de fora do Éden.

Eu gosto. Tendo morado sob a macieira uma longa temporada, descobri que é melhor ser adulto com todas as minhas dores do que viver em estado de graça domesticado. Aliás, nem tinha tanta graça assim. Aqui fora, desde então, a vida tem sido mais sincera. Sem trair as verdadeiras lealdades – a dos princípios, do amor, da fraternidade e da paternidade – é possível ser provisoriamente feliz, seguidamente. O que não quer dizer que não doa.

Outro dia, passando os olhos pelo Facebook, dei de cara com uma provocação: “A diferença entre os homens e os abacates é que os abacates amadurecem”. Quem escreveu foi uma mulher, claro. Eu ri, mas está errado. Acho que somos todos abacates, embora pensemos o contrário. O outro é imaturo, nós somos apenas verdadeiros e independentes. O outro não sabe o que quer. Nós, quando mudamos de ideia, apenas seguimos os nossos sentimentos. O inferno é o outro. Na forma de abacate, mamão ou beterraba.

Da minha parte, acho que viver os dilemas das relações – aos 20, aos 30 ou aos 60 anos – significa ser adulto. A solução que cada um dá para esses dilemas define personalidade e estilo de vida. Ninguém tem o monopólio da maturidade ou sabe o jeito certo de viver. Somos todos adultos. Cada um de nós sofre ou goza da maneira que escolheu.




Ivan Martins




25 de novembro de 2011

O problema é você?




Por que as coisas não mudam na sua vida? Por que sempre acontecem transformações espetaculares na vida dos outros, enquanto a sua não sai do lugar, por mais movimentos que você faça? Os outros sempre são promovidos, sempre estão vivendo um momento especial, um romance de tirar o fôlego. Os casais que cruzam seu caminho parecem estar em pleno exercício do amor sublime, do sexo transcendental.

Aí você olha para sua vidinha e pensa: que bosta! Nada muda. Todo mundo está feliz, completo, amando, realizando, conquistando… e você correndo em círculos, atrás do rabo, sobrevivendo do jeito que dá. A mesma ladainha do amor não correspondido, da ralação no trabalho não reconhecido. Às vezes, aparece uma luz no fim do túnel e você pensa, agora vai! E não é que acontece alguma coisa justo na sua vez de ser feliz? Pronto, você se frustra, apaga seu brilho, chora, esperneia e, pior, não é como era antigamente, quando os seus dissabores e revezes eram amortecidos pelos pais, avós ou outras pessoas que tinham esse superpoder.

Acabou o colo. Acabou aquela crença “depois de um dia ruim vem um dia bom”, porque muitas vezes vem outro ruim. No fundo, no fundo, acabou a ilusão e isso dói, mas dói muito. Aí você se culpa, porque, afinal, tem emprego, saúde, amigos, pernas e braços, um teto para morar… enquanto tantas pessoas sofrem pela falta disso tudo. Resta arrumar forças não sei de onde para continuar sei lá o que, até que alguma chama reacenda e você volte a acreditar que, desta vez, a sua vez está próxima.

Como diz Goya, “os sonhos da razão produzem monstros”. Que cara sábio! Os sonhos da razão são as ilusões que criamos em relação ao brilho da vida alheia; os monstros são os fantasmas que nos põem para baixo assoprando nos nossos ouvidos o quanto somos infelizes em reação à pseudo-felicidade do outro. Na verdade, ninguém brilha 24 horas por dia, nem transa; nem ama; nem arrasa no trabalho. Mas, pelo jeito, você anda se iludindo 24 horas e perdendo energia e tempo preciosos que poderiam estar sendo usados para fazer sua vida brilhar por si só.


Fernanda Santos







1 de novembro de 2011

O ocaso da lua cheia




Foram inúmeras as vezes que pude presenciar e me deliciar com o nascer do sol, principalmente, durante a adolescência. Quando ainda dava conta de passar a noite entre jogos de cartas, músicas dos Beatles no violão e conversa, tanta conversa e gargalhadas que, quando o grupo percebia, a noite estava acabando e rapidamente saíamos para ver a beleza de um dia raiando.

Depois, durante o decorrer dos anos, continuei vez por outra a ver aqui e ali um sol nascendo, sua magnanimidade de astro-rei. Imutável, forte, enérgico ali ao nosso dispor, à nossa espera. Nós acordamos e vamos dormir, ele permanece firme e constante - o mesmo.

Há pouco tempo estava na praia, perdi o sono, por sorte já não era tão cedo e não estava tão escuro, assim, resolvi que seria bom sair e ir caminhar pela areia. Peguei o café da madrugada na cozinha do hotel e vi que a claridade da manhã estava saindo de dentro dágua, fui pegar a máquina fotográfica e corri até a praia. Já havia saído dágua estava por detrás das montanhas em toda a sua glória nos dando de presente um espetáculo de profusão de cores, brilho e energia pura, despertando a vida para um novo dia.

Já estava muito alto para boas fotos, mesmo assim prossegui caminhando, apenas dando continuidade ao ciclo da vida no decorrer de mais um dia. Andar pela praia por si só já é uma coisa boa, nos afasta do estresse sufocante da grande cidade e seu corre-corre alucinado e barulhento de todo dia. Mas a imobilidade que o mundo parece assumir à beira-mar nos acalma a alma e silencia mente. Então, neste momento se pode sentir que existe uma fusão perfeita entre a natureza da alma humana e a alma do mundo.

Foi pensando no dia que nascia a minha frente que tive um encontro inesperado com o ocaso da lua cheia. Colossal, brilhante e majestosa. Quase passando para o lado de lá, indo adormecer no Japão, mas com muita pena de sair desta praia e deixar o Brasil. Tão inabalável e firme como o sol, sempre lá, sempre presente, aguardando nosso movimento, quem sabe nosso olhar.

Quase não acreditei, a lua ficou lá parada por alguns minutos - inerte, aguardando que eu pudesse primeiro sair do torpor - me acalmar e depois encontrar o melhor ângulo para clicar aquela foto, mesmo que por entre os fios de alta tensão. E então quando consegui, ela se pôs novamente em movimento e foi colocar o oriente todo para dormir.

Eu, maravilhada, fiquei estarrecida entre belezas e ciclos. De um lado sol ainda por trás das montanhas - do outro a lua cheia, suntuosa, amarelada e lenta a dar adeus a este lado do mundo. A noite se despedindo - fechando um ciclo, o sol nascendo despertando o dia, iniciando um novo ciclo.

Pensei que a melhor pergunta a fazer nesta hora em todas as manhãs, apreciando ou não um espetáculo destes é:- que escolhas farei hoje?
  Despertar em cada dia sabendo que posso fazer algumas escolhas durante este período é gratificante, desperta nossa atenção para que não façamos tudo automaticamente, mas com presença, com vontade de que
as intenções se realizem. 



Cássia Marina Moreira


16 de julho de 2011

A maturidade afetiva



A afetividade não está por assim dizer encerrada nos sentimentos, mas permeia toda a personalidade. Estamos continuamente sentindo aquilo que pensamos e fazemos. Por isso, qualquer distúrbio da vida afetiva acaba por impedir ou pelo menos entravar o amadurecimento da personalidade como um todo.

Observamos isto claramente no fenômeno de "fixação na adolescência" ou na "adolescência retardada". O adolescente caracteriza-se por uma afetividade egocêntrica e instável. Essa característica, quando não superada na natural evolução da personalidade, pode sofrer uma "fixação", permanecendo no adulto: este é um dos sintomas da imaturidade afetiva.

É significativo verificar como essa imaturidade parece ser uma característica da atual geração. O homem, esse desconhecido: vivemos hoje o drama de um desnível gritante entre o fabuloso progresso técnico e científico e a imaturidade quase infantil no que diz respeito aos sentimentos humanos.

Mesmo em pessoas de alto nível intelectual, ocorre um autêntico analfabetismo afetivo: são indivíduos incompletos, mal-formados, imaturos que estão preparados para trabalhar de forma eficiente, mas são absolutamente incapazes de amar. Esta desproporção tem consequências devastadoras: basta reparar na facilidade com que as pessoas se casam e se "descasam", se "juntam" e se separam.

O conceito de amor que se cultua na nossa época parece que se retrocedeu a uma espécie de adolescência da humanidade, onde o que mais conta é o prazer. Este fenômeno tem inúmeras manifestações.

- Edifica-se a vida sentimental sobre uma base pouco sólida: confunde-se amor com namoricos, atração sexual com amor profundo. Incapazes de um amor maduro, pessoas acham que é mais fácil conquistar do que manter a conquista.

- Diviniza-se o amor: a pessoa imatura idealiza a vida afetiva e exalta o amor conjugal como algo extraordinário. O amor é uma tarefa esforçada de melhora pessoal durante a qual se burilam os defeitos próprios e os que afetam o outro cônjuge.

- No imaturo, o amor fica "cristalizado” na fase de deslumbramento, e não aprofunda na "versão real" que o convívio conjugal vai desvendando. Quando o amor é profundo, as divergências que se descobrem acabam por superar-se.

- A pessoa afetivamente imatura desconhece que os sentimentos são dinâmicos. A pessoa madura sabe que o amor se constrói dia após dia, lutando por corrigir defeitos, contornar dificuldades, evitar atritos e manifestar sempre carinho.
- O imaturo quer antes receber do que dar. Amar para ele é uma forma de satisfazer uma necessidade afetiva, sexual, ou uma forma de auto-afirmação.

Os sentimentos são caminho de ida e volta, onde deve haver reciprocidade. A pessoa imatura acaba sempre queixando-se da solidão que ela mesma provocou por falta de espírito de renúncia. A nossa sociedade esqueceu quase tudo sobre o que é o amor. Não há felicidade se não há amor e não há amor sem renúncia. O imaturo pretende introduzir o outro no seu projeto pessoal de vida, em vez de tentar contribuir com o outro num projeto construído em comum. A felicidade do cônjuge, da família e dos filhos: esse é o projeto comum do verdadeiro amor. Quem não é solidário termina solitário.


Rafael Llano Cifuentes 

Minnie Riperton- Loving You (Is easy cause your beautiful)