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10 de agosto de 2012

Entendi o que é liberdade



A gente demora muito tempo para aprender a ser livre. Passamos parte da vida nos amarrando a conceitos, a medos estabelecidos, com ou sem fundamento, construindo pontes para não cair na lama, sonegando alegria, regulando os termômetros das sensações. Isso sem contar as inúmeras vezes em que deixamos de ser ou fazer por receio do julgamento alheio, nos tornando assim perversos juízes de nós mesmos. Quanto mais sufocados, mais exigentes. Quanto mais exigentes, mais implacáveis nos atos de compreensão de si e do outro. Menos consideração, menos perdão, mais raiva do mundo. Tudo por nada.

Daí que é preciso aprender (ou reaprender) a ser livre, antes que a manhã seguinte mate de vez a delicadeza que nos resta. Então é necessário ter coragem para destruir medo por medo, libertar cada ser que tomamos como refém, resgatar sonhos socados nas vísceras.

Trata-se de um processo longo e dolorido, pois não sabemos o que restará ao abrirmos mão das bases sobre as quais sobrevivemos por tanto tempo. Quem garante que não morreremos soterrados nas próprias ruínas? Fato é que, enquanto desaba uma parte do que acreditávamos ser, renasce outra que supúnhamos não existir. Junto com esta ressurgem sentimentos de profundo respeito por si e pelo outro, e se diluem inquietações, culpas, fantasmas, crenças, falsas raízes.

Somos indivíduos em busca da felicidade e ela está no que somos na essência. Redescobri-la é uma questão de tempo e há que se respeitar o tempo de cada um, já que estamos em níveis diferentes de aprendizado. Um dia desses, peguei a estrada, coloquei o som bem alto e fui dar um mergulho no mar. Voltei agradecida, em paz. Reencontrei minha leveza e delicadeza perdidas num passado remoto. Foi o fim de um longo processo.

Parafraseando a brilhante escritora Ana Jácomo, voltei desejando que nenhum gesto meu aperte o coração de alguém, intimide o sorriso, desperte medos ou machuque a espontaneidade de quem quer que seja. E assim entendi que liberdade é libertar.

Fernanda Santos
 

7 de julho de 2012

Atenção: hora de viver!



Uma frase do incomparável Guimarães Rosa conseguiu traduzir um daqueles sentimentos intraduzíveis da angústia: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Obrigada, Guimarães Rosa! Para viver, é preciso muita coragem. Você está pronta? Então chega de insegurança, desculpas, interrogações e exclamações e vá viver. Esqueça a imagem da linda mulher que corre descalça pela praia segurando um voal branco. Viver nem sempre é movimento, transparência e liberdade. Às vezes, é contemplação e imobilidade. Esqueça também as cenas idealizadas dos eternos encontros hollywoodianos. Muitas vezes, viver significa impedimento. É isso. Os amores não são espetaculares, as famílias estão cheias de problemas, a liberdade não é azul e a felicidade quase sempre atordoa mais do que a tristeza. É aí que entra a coragem. Tenha coragem para abrir os dedos, soltar o que lhe escapa e seguir adiante, com a certeza de que alguém ou alguma coisa que lhe escapa jamais pode prendê-la. Tenha ousadia para continuar diante dos nãos até encontrar um sim. E consciência de que o sim talvez nunca chegue. Tenha a audácia de amar, estômago para sofrer, cabeça para pirar e coração para doer. Os sonhos mais caros se desmancharão diante do seu nariz e isso não é privilégio seu. Você continuará tendo decepções e perdas irreparáveis e isso também não é privilégio seu. Não existe controle, nem redoma, nem razão, nem remédio, nem nada capaz de evitar o sofrimento. Não existe não sofrer. Contudo, quem vive de verdade garante que aumentam as chances de nos tornarmos a pessoa que queremos ser – e não a que somos. Só por isso (só?), os tombos, as lágrimas, as angústias e os desesperos terão valido a pena. Vou ali viver um pouco e já volto!


Fernanda Santos

22 de junho de 2012

O bom dura pouco mesmo?



Crenças e ditados populares atrasam muito a vida. A gente liga o automático e passa a acreditar, sem sequer questionar, num monte de bobagens. Exemplo? Dezenas! Mas este espaço fala de amor – ou da falta dele. Então vou me ater em um ditado que até virou música gravada, pasme, por Raul Seixas: “Tudo o que é bom dura pouco”. Não sei por que Raulzito escolheu a canção de Jerry Adriani para cantar. Imagino que ele estivesse bastante desiludido naquele momento. Sim, é uma crença baseada na desilusão, no pessimismo ou talvez num romantismo incorrigível. O que é bom pode durar. Aliás, o que é bom mesmo deve durar, porque, do contrário, não é tão bom assim. Ou alguém em sã consciência afasta o que está bom? Sim, pessoas afastam o que está bom. Nesse caso, vale questionar se a consciência está sã. Infelizmente, existe uma doença chamada ilusão, que leva à cegueira noturna (e diurna) e faz você acreditar que o que não é tão bom é o melhor que você já teve na vida. Complicado? Que nada! Simples, como o amor deve ser. Uma boa dose de realidade, mensurada por fatos e atitudes, olho no olho e ouvidos no coração respondem se aquilo que você está vivendo é verdadeiramente bom. Se for, pode ter certeza de que fica ainda melhor; se houver alguma dúvida, sinta. Se tiver convencida de que não está bom, não tente melhorar. E, por favor, não saia por aí disseminando a crença de que tudo o que é bom dura pouco. Isso definitivamente (e felizmente) não é verdade. Um pouco de fé nesse coração lhe cairá bem!


Fernanda Santos

16 de junho de 2012

Um difícil caso de amor


A pior relação de amor, a que mais dá errado, a que mais nos faz sofrer, a que deixa as cicatrizes mais profundas… é a que vivemos conosco mesmas. Não há relacionamento que resista a tanto autodesamor. Quem não se ama, sempre bate o olho num enguiço. Umas escolhem homens assustados, traumatizados, cheios de medo; outras optam por tipos esquisitos, sofredores, dependentes. Existem ainda aquelas que procuram sujeitos incapazes de um ato de generosidade, ou os que não conseguem tirar o olhar do próprio umbigo – os narcisistas (“… É que Narciso acha feio tudo o que não é espelho…”, cantou Caetano Veloso). Num outro nível, há aqueles que não sabem se comunicar, a não ser por meio de palavras carregadas de cinismo. E, nas lindas palavras de Nana Caymmi, existem os que “adormecem paixões” por pura incapacidade de entrega. Fofis, o problema é seu, entende? É uma questão de você com você mesma. O fulano, seja ele de que espécime for, é o antagonista do seu roteiro de aprendizado sobre o autoamor. É básico, é óbvio, mas é isso aí. Sofremos muito mais pelo pouco ou nenhum amor-próprio do que pelas besteiras e esquisitices do outro. Nada como relações ruins em série para descobrir o pote de outro atrás do arco-íris. Cada vez que mergulho fundo em alguém, volto à tona (não sem alguns arranhões) pensando na dificuldade daquele que ficou se debatendo na superfície por medo de se afogar. Fico orgulhosa em saber o quão fundo posso ir e mais ainda por conhecer melhor o caminho de volta. É isso. Ando completamente apaixonada por mim. Entendi que o pote de ouro sou eu.


Fernanda Santos

27 de maio de 2012

Um caminho sem volta




Nesta vida, ninguém estaciona nem regride, porque ninguém escapa da experiência do aprendizado. Simples assim. Não há imunidade capaz de nos proteger contra as lições diárias – das mais bobinhas às mais crueis. No amor, por exemplo, o máximo que se consegue é repetir padrões prejudiciais por muito tempo, não por uma vida inteira. Pois a cada repetição sempre fica alguma coisa, nem que seja o cansaço de tanto sofrer, que muitas vezes serve de mola propulsora para o renascimento de outra pessoa, com novos conceitos, mais limites ou menos ilusões, dependendo do que cada um precisa entender.

Indo mais além, será que as pessoas se ligam a outras por afinidades negativas também? Por exemplo, se uma mulher (vale para os homens) escolhe sempre um par dotado de egoísmo exagerado, será que no fundo ela esconde egoísmo proporcional? Ou seria ao contrário? O que dizer da mulher que sempre se apaixona por seres completamente indisponíveis? Alguma chance de ela estar indisponível também e nem se dar conta disso? Sem falar daquelas que buscam os mais belos, os mais ricos, os mais sarados. Gosto pessoal, inveja ou superficialidade?

Ninguém está aqui para julgar, entretanto vale uma autoanálise sobre padrões de escolha que têm se repetido em sua vida e que, claro, fazem muito mal. Como aqueles mais graves em que a mulher se relaciona com homens agressivos ou excessivamente ciumentos (outra forma de agressão). O que estaria por trás disso? Agressividade guardada? Zero de amor-próprio?

Paulo Coelho escreveu no livro 11 Minutos que, no sadomasoquismo, quem manda é o masoquista. É ele quem coloca o limite para o sádico. Isso significa que quem está sofrendo tem de dizer a hora de parar. Bobinhas ou crueis, todas as experiências amorosas são válidas para o aprendizado. E o caminho é sem volta porque, entre tropeços e corações feridos, em algum momento chegaremos mais perto do amor que emana leveza, generosidade e respeito pela individualidade. Enquanto isso, como diz Luiz Gasparetto: “A vida coloca você onde você se coloca”. Assim, seguimos aprendendo!


Fernanda Santos 







25 de maio de 2012

As prisões de cada um



Todos cometem pequenos ou grandes delitos. E no amor, como fica esse balanço? Uns nem imaginam que fizeram faltas com consequências tão graves; outros acham que estão no máximo do pecado e se julgam criminosos hediondos, quando na verdade ninguém foi prejudicado a não ser eles mesmos.

O amor tem leis próprias e uma infinidade de jurisprudências. Só que o coração é o juiz, o poder supremo – ele prende, liberta, absolve, perdoa, pune. Há que respeitá-lo, pois nele ninguém manda. No máximo, podem afrontá-lo de forma dura, ou enganá-lo por vias escusas. Quem tem essa capacidade? A razão, sem dúvida. Embora não tenha poder absoluto, é dotada de força avassaladora, já que é ela quem, de fato, descumpre as ordens do coração.

Essa conversa está muito burocrática né? Tudo isso para dizer que o coração tem razões que a própria razão desconhece; que a razão sufoca, invade, invalida e, acima de tudo, aprisiona o sentimento de um jeito implacável. Infelizmente, não dá para sair por aí fazendo tudo o que o coração quer, mas tornar-se refém da razão também não está entre as dez atitudes mais saudáveis do mundo.

Outro dia li uma frase que diz mais ou menos o seguinte: quando alguém está na sua cabeça é porque ainda não saiu do seu coração. Existem pessoas que esmagam o coração alheio sem entender que o primeiro a ser machucado é o delas.

Assim como existe gente que brinca com o coração do outro sem esperar que o seu próprio um dia lhe pregue uma peça. E finalmente ainda há aqueles que são sinceros, mas acabam engolidos pelo aprisionamento da razão. Choram em silêncio, travam uma disputa desleal entre o querer e o não poder, não arriscam, não extravasam, apenas sentem um ritmo acelerado, tão acelerado que, a qualquer momento, vencem a barreira da razão e se permitem transgredir. Resta saber se esse coração será punido ou absolvido.


Fernanda Santos 






25 de janeiro de 2012

Dá pra simplificar o amor?





Por que raios os relacionamentos não podem ser mais simples? Por que cargas d´água duas crianças conseguem se comunicar de forma tão clara e dois adultos não são capazes de se entender mesmo falando a mesma língua? Claro que não se trata aqui de casamentos estabelecidos nem de namoros sólidos e sim dos passos iniciais das relações afetivas. São tantos filtros, frescuras e censuras que amar fica inviável! Cadê a espontaneidade de que o romance tanto necessita para florescer? Cadê a sinceridade adulta de que as pessoas tanto precisam para se entender? Gente, ainda não somos capazes de nos comunicar por telepatia. Hello! Aliás, está cada vez mais difícil manter a sintonia afiada porque existem milhões de interferências, externas e internas. Por isso, é preciso falar! Usar a boca, as palavras que você aprendeu na vida – de preferência as mais simples – e pronunciá-las clara e pausadamente. “Eu gosto de você”. “Eu quero conhecer você melhor”. “Eu não estou interessada”. Simples assim. Para complicar, adquirimos esta mania infantilóide de trocar emails, MSN, torpedos, que dá o direito ao outro de captar a mensagem da forma que lhe convier. Mais ou menos isso: você escreve acreditando ter dado um passo acertado (até ousado!). O lado de lá recebe sua mensagem sabe Deus como e, nos dias subsequentes, silencia. O lado de cá acha que o silêncio é a resposta a uma ofensa, ou quem sabe o lado de lá tenha entendido que o de cá deu um chega-pra-lá. Aiiiiiiiiii. E se porventura os dois lados estavam querendo a mesma coisa? A chance acabou nessas mal traçadas linhas das cartas eletrônicas, né? Silenciar é sintoma para o bem ou para o mal e sempre dá margem para mil e uma teses quase acadêmicas. Sem querer comparar homens e mulheres e já comparando, eles são especialistas em cortar a conversa, desligar o MSN na cara, mudar o tom do email, ou nunca mais responder seus torpedos (“somos adultos”, mesmo?). E as mulheres, especialistas em querer saber tudo nos mínimos detalhes, insuportavelmente ansiosas, são incapazes de pararem quietas e esperar para ver o que acontece. Cutucam, perguntam, mandam um email seguido de outro. O cara acha que a gata é doida, se assusta e só reaparece quando o surto felino passou. Ou some de vez. É ou não é assim? Na era da comunicação, o que mais falta é comunicação. Se metade desse caminho tortuoso fosse abreviado pela clareza, vocês já estariam do mesmo lado da cama há muito tempo, acredite.



Fernanda Santos




23 de janeiro de 2012

Não se culpe pelas expectativas



Alguém já lhe disse a seguinte frase com um ar irritante de superioridade? “Você cria muita expectativa!”. Eu ouvi várias vezes – da terapeuta às piores e melhores amigas. Em relação à profissional, sinceramente não acredito que ela consiga viver sem criar expectativas; em relação às amigas, tenho certeza de que todas, sem exceção, esquecem os mantras budistas, a lucidez adquirida desde a última frustração e desabam ao primeiro sinal de luz no fim do túnel. Vale para o amor, para o trabalho… vale para tudo o que desejamos na vida. Se existisse oração, simpatia ou qualquer outra mandinga capaz de aplacar nossas expectativas estaríamos salvas. Não existe. Existe, isso sim, imaginar o que não existe, criar historinhas (que mal começaram) com final feliz. Existe fantasia e ilusão. E quer saber? Perdoe-se por isso. Você não é a única roteirista de casos de amor água com açúcar. E que ninguém se atreva a julgar seus desejos mais profundos e medir com uma trena o tamanho dos seus sonhos. Muito menos aconselhá-la com clichês do tipo “quando você desencanar, acontece”! Diga para uma mulher que está tentando engravidar que, quando ela desistir, engravida. Quem aqui consegue “desencanar” da vontade? As pessoas têm sangue nas veias, sonhos grandiosos, desejos que as mantêm vivas e ativas. Ok, somos adultas e sabemos que a desilusão – ou a frustração – é proporcional ao tamanho da expectativa. E daí? Estamos aprendendo a viver, certo? Só não podemos esquecer de um detalhe: do céu só cai chuva. Isso significa que tudo na vida é conquista, tanto o homem dos sonhos quanto o emprego dos sonhos ou o filho dos sonhos. Podemos até pular etapas por causa da ansiedade. Faz parte do aprendizado voltar algumas casas e refazer o caminho passo a passo. A expectativa está alta demais? Sem problemas. A vida saberá como dosá-la. A frustração está doendo demais? Acalme seu coração e não se culpe. Sim, inevitavelmente vamos chorar muito e desacreditar. E quando a próxima possibilidade aparecer, quem sabe não estaremos mais pé no chão para dar os passos na direção certa hein? Nada é impossível nesta vida. Na-da!




Fernanda Santos




17 de janeiro de 2012

As prisões de cada um




Todos cometem pequenos ou grandes delitos. E no amor, como fica esse balanço? Uns nem imaginam que fizeram faltas com consequências tão graves; outros acham que estão no máximo do pecado e se julgam criminosos hediondos, quando na verdade ninguém foi prejudicado a não ser eles mesmos. O amor tem leis próprias e uma infinidade de jurisprudências. Só que o coração é o juiz, o poder supremo – ele prende, liberta, absolve, perdoa, pune. Há que respeitá-lo, pois nele ninguém manda. No máximo, podem afrontá-lo de forma dura, ou enganá-lo por vias escusas. Quem tem essa capacidade? A razão, sem dúvida. Embora não tenha poder absoluto, é dotada de força avassaladora, já que é ela quem, de fato, descumpre as ordens do coração. Essa conversa está muito burocrática né? Tudo isso para dizer que o coração tem razões que a própria razão desconhece; que a razão sufoca, invade, invalida e, acima de tudo, aprisiona o sentimento de um jeito implacável. Infelizmente, não dá para sair por aí fazendo tudo o que o coração quer, mas tornar-se refém da razão também não está entre as dez atitudes mais saudáveis do mundo. Outro dia li uma frase que diz mais ou menos o seguinte: quando alguém está na sua cabeça é porque ainda não saiu do seu coração. Existem pessoas que esmagam o coração alheio sem entender que o primeiro a ser machucado é o delas. Assim como existe gente que brinca com o coração do outro sem esperar que o seu próprio um dia lhe pregue uma peça. E finalmente ainda há aqueles que são sinceros, mas acabam engolidos pelo aprisionamento da razão. Choram em silêncio, travam uma disputa desleal entre o querer e o não poder, não arriscam, não extravasam, apenas sentem um ritmo acelerado, tão acelerado que, a qualquer momento, vencem a barreira da razão e se permitem transgredir. Resta saber se esse coração será punido ou absolvido. 




Fernanda Santos




15 de dezembro de 2011

Ou muda, ou muda



“Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”. A frase é de Freud, o pai da psicanálise, e diz respeito à vida de todos nós, sem exceção.Ninguém nasce pronto. E vamos nos acomodando diante dos acontecimentos para sobreviver e nos proteger daquilo que nos feriu mortalmente em outros tempos. Assim criamos nossa rotina. Nossa vidinha. Caminhos, horários, amizades, queixas, amores, comidas, trabalho… E seguimos diminuindo nossas possibilidades na mesma proporção em que deixamos essa rotina nos comandar. Quanto mais trilhamos caminhos conhecidos, menos desenvolvemos nossas potencialidades. E, quando não as desenvolvemos, minguamos.É lícito andar por trilhas seguras, com nossas armaduras à prova de sofrimento, já que qualquer passo em falso pode nos arrebentar. E não há mal algum em passar a vida dentro da bolha confortável que moldamos à custa do nosso penar.Porém, isso é anti-vida e dificilmente alguém consegue essa façanha por muito tempo. É como flor que morre sem desabrochar – ela não exala seu perfume, não encanta, não emociona, não nutre. Ninguém engana a vida que carrega dentro de si. Disfarçamos, fingimos que dá para controlar. Bobagem. Cedo ou tarde, ela, a vida, mostra que existem dezenas de outras possibilidades bem melhores do que as opções que tatuamos no cérebro. Às vezes, de uma forma muito cruel, é verdade, e a gente se esborracha do mesmo jeito.Dentro de nós mora alguém – alma, espírito, coração, consciência… chame do que quiser – que simplesmente precisa viver, desabrochar, evoluir. Vai avisando de mansinho, mandando recadinhos. Aperta daqui, sufoca dali. Se a gente não dá bola, os recados se tornam mais explícitos e dolorosos.Daí que o sábio Freud tirou a ideia de que, quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda. Ou muda, ou morre. A flor que morreu antes de desabrochar talvez passe impune diante da lei natural da vida. Nós mortais, com certeza, seremos obrigados a prestar contas ao morrer em vida. Unicamente a nós mesmos. É por isso que dói tanto. Mas sabe de uma coisa? Não precisa esperar a dor se tivermos amor por nós mesmos.



Fernanda Santos







12 de dezembro de 2011

A gente faz cada besteira por amor!




A gente faz besteira, diz o que não deve, diz o que deve fora do contexto, cobra atitudes, ofende, fantasia a realidade, soma dois mais dois e chega a várias conclusões. A gente briga sozinha, tenta adivinhar o que o outro está pensando ou o que ele quis dizer com a frase X. A gente espera uma reação, uma surpresa agradável, acredita no que não vê e se baseia pelo que a gente acha que o outro sente (ou por aquilo que gostaríamos que o outro sentisse). A gente brinca de paranormal e de psicóloga. E ainda fica sem entender absolutamente nada. Quando a gente faz tudo isso, é sinal de que só a gente está amando. Lógico que há algum movimento da outra parte que contribui – e muito – para nos manter nesse estado abobalhado e esperançoso. Em geral, o cara, consciente ou inconscientemente, deixa sempre uma interrogação pairando no ar que quem o respira. Homens não gostam de perder – mulheres também não. É muito bom ter alguém legal sempre por perto, babando ovo, dando carinho, oferecendo apoio, dizendo que gosta de você. Ninguém em sã consciência quer perder essa mordomia emocional, essa nutrição do ego, afinal, é uma das formas que encontramos para lustrar a auto-estima. Não, não há pecado nisso. É humano. No entanto, é só isso. Quem gosta, quer estar junto e ponto. Existem zilhões de impossibilidades que afastam duas pessoas que se querem de verdade. E nenhuma delas jamais será aceita com passividade por qualquer uma das partes. Elas estarão juntas de algum jeito, tenha certeza. A gente pode continuar aceitando as desculpas que o outro dá para não estar com a gente. Mas a gente não pode cair das nuvens se, de repente, encontrar o outro vivendo com outra tudo o que ele ajudou a gente a sonhar. Ossos do amor unilateral, flor. Sempre será melhor viver a dois.
 
 
 

Fernanda Santos 





10 de dezembro de 2011

O amor nunca erra




Será que o que for pra ser, será? Seria esse o mantra sagrado do total desapego ou o preferido por aqueles que não estão muito interessados no que poderia ser? E por que meio mundo anda tão angustiado com o que nunca vem a ser? É tanta pressa, ansiedade, sentimento de urgência. Talvez por isso os afetos tragam mais dor do que prazer. Prazer, não. O prazer é mercadoria fácil hoje em dia. Acho que o mais correto seria dizer que as relações produzem mais frustração do que completude. Um desencontro generalizado, que independe de idade, sexo. Todos buscam, buscam, buscam… O que exatamente? Ser feliz, claro. A que preço? Cada um que avalie o quanto tem custado as tentativas vãs do quase amor. Parece que o universo quer mostrar algo que não estamos conseguindo ver. Certo é que a ansiedade induz à ilusão e esta, fatalmente, ao erro. Erro? Não. Errar no amor não existe, porque cada amor/paixão deixa um aprendizado sobre si mesmo. O outro sempre mostrará algo sobre você que estava oculto – suas sombras, suas luzes; seu melhor, seu pior. Não acredito que o universo em toda sua grandeza esteja nos punindo por causa da urgência. É legítimo demais querer amar. No entanto, ele, o universo, pode estar tentando nos dizer que nossos desencontros nascem de sentimentos mundanos que não combinam com o amor profundo que tanto buscamos. Medos de toda ordem, visão rasa do valor do outro e por aí vai. Amor é conquista somada à velha fórmula de respeito, admiração e desejo de ver o outro verdadeiramente feliz. Sendo assim, o que for pra ser, será, ainda que não seja com quem você quer urgentemente. O universo sempre irá conspirar a favor de quem aprende a amar com o amor.
 
 
 
 

Fernanda Santos 




3 de dezembro de 2011

Quando é preciso ir embora



Romper seja lá o que for é sempre muito difícil. Sempre dói. Parece que você está jogando a felicidade pela janela. Quantas vezes você pensa no fim e recua, porque está apegada a sentimentos, idealizações e até a armadilhas emocionais das mais cruéis. Uma verdadeira briga entre o cérebro e o coração.

Dualidade. Sim, agora vai dar certo; não, não tem jeito mesmo. Ah, mas isso foi tão especial; nossa, que desconsideração… Tem gente que vive anos assim, acreditando e desacreditando; apostando e perdendo; esperando e não tendo. Tem gente que vive isso tudo num único dia. Acho que vale pensar no que você está se apegando. Se for em nuvens, não deve estar vendo o que está por trás delas.

As dúvidas pré-rompimentos sempre existirão e sempre serão doloridas. E para ajudar na decisão é preciso mergulhar fundo em si mesma e ouvir qual é grau de felicidade que o relacionamento (o trabalho, a amizade) está lhe proporcionando. Sim, no fundo é o que você está ganhando com isso. Se seus olhos brilharem mais de alegria do que de lágrimas, está valendo. Se você estiver se sentindo mais mulher do que amiga/terapeuta, continua valendo. Se seu coração bater mais de amor do que de nervoso, vá em frente, se a outra pessoa quer você na mesma intensidade, corra para o abraço.

Do contrário, tem algo errado. Bem errado. O outro não é obrigado – aliás, nunca conseguirá – satisfazer suas carências ancestrais. Quem carece de si mesmo pode até encontrar algum conforto numa relação torta, mas precisa saber que ela tem data marcada para terminar. Uma pessoa e meia definitivamente não estabelece um relacionamento. Estabelece dependência. Infelizmente, às vezes é preciso cair das nuvens, se esborrachar no chão para assumir que precisamos de mais para ser feliz. O melhor a fazer é libertar e libertar-se. Nesse caso, sem medo de ser infeliz. Porque tudo passa. Tudo.




Fernanda Santos 




25 de novembro de 2011

O problema é você?




Por que as coisas não mudam na sua vida? Por que sempre acontecem transformações espetaculares na vida dos outros, enquanto a sua não sai do lugar, por mais movimentos que você faça? Os outros sempre são promovidos, sempre estão vivendo um momento especial, um romance de tirar o fôlego. Os casais que cruzam seu caminho parecem estar em pleno exercício do amor sublime, do sexo transcendental.

Aí você olha para sua vidinha e pensa: que bosta! Nada muda. Todo mundo está feliz, completo, amando, realizando, conquistando… e você correndo em círculos, atrás do rabo, sobrevivendo do jeito que dá. A mesma ladainha do amor não correspondido, da ralação no trabalho não reconhecido. Às vezes, aparece uma luz no fim do túnel e você pensa, agora vai! E não é que acontece alguma coisa justo na sua vez de ser feliz? Pronto, você se frustra, apaga seu brilho, chora, esperneia e, pior, não é como era antigamente, quando os seus dissabores e revezes eram amortecidos pelos pais, avós ou outras pessoas que tinham esse superpoder.

Acabou o colo. Acabou aquela crença “depois de um dia ruim vem um dia bom”, porque muitas vezes vem outro ruim. No fundo, no fundo, acabou a ilusão e isso dói, mas dói muito. Aí você se culpa, porque, afinal, tem emprego, saúde, amigos, pernas e braços, um teto para morar… enquanto tantas pessoas sofrem pela falta disso tudo. Resta arrumar forças não sei de onde para continuar sei lá o que, até que alguma chama reacenda e você volte a acreditar que, desta vez, a sua vez está próxima.

Como diz Goya, “os sonhos da razão produzem monstros”. Que cara sábio! Os sonhos da razão são as ilusões que criamos em relação ao brilho da vida alheia; os monstros são os fantasmas que nos põem para baixo assoprando nos nossos ouvidos o quanto somos infelizes em reação à pseudo-felicidade do outro. Na verdade, ninguém brilha 24 horas por dia, nem transa; nem ama; nem arrasa no trabalho. Mas, pelo jeito, você anda se iludindo 24 horas e perdendo energia e tempo preciosos que poderiam estar sendo usados para fazer sua vida brilhar por si só.


Fernanda Santos







24 de outubro de 2011

A pessoa definitiva



Apesar do título sugestivo, o assunto não é o cara com quem você ficará para o resto de sua vida e será feliz para sempre. A pessoa definitiva, nesse caso é alguém que chega ao seu coração sabe-se lá como, provoca uma verdadeira revolução e transforma sua maneira de ser, pensar e agir. Em geral, sai da sua vida pela mesma porta que entrou, porém deixa sementes que farão de você um outro ser. Triste? Claro! E dói porque ele leva embora parte de sua zona de conforto e vice-versa – é como se cada um ficasse com uma peça de roupa do outro que já não serve mais. Por isso, às vezes é tão difícil nos desconectarmos – no fundo, a desconexão é conosco mesmos. Por isso, muitas vezes o sentimento é de amor e repulsa. Não está em jogo aqui quem sofreu ou se entregou mais, mas sim o que cada um fará com o que viveu e aprendeu. Ou nos refugiamos em outra zona de conforto ou nos movimentamos. Das escolhas possíveis, apenas uma faz crescer. O lado bonito nisso tudo é que essa pessoa definitiva também ajuda a despertar o que há de melhor em nós. Acorda dons e desejos adormecidos e nos torna mais verdadeiros. Uma espécie de reencontro com a essência, com nossa matéria pura, que nos permite assumir o que queremos e a entender de uma vez por todas o que não queremos seja numa relação, seja na vida profissional. Essa pessoa definitiva só aparece quando estamos preparadas para a mudança, quando nossas crenças perderam o sentido, quando nosso jeito de lidar com o amor já não convence. Então, pode-se dizer que a pessoa definitiva é uma das mais importantes da nossa vida. É verdade que todas as relações nos transformam um pouco, mas apenas uma nos induz ao movimento profundo. E pode ter certeza de que ela chega com uma força incontrolável e nos pega de surpresa. Feliz quem teve a oportunidade de encontrá-la!




Fernanda Santos





 

25 de agosto de 2011

Todo amor que não nos demos




Apesar de este ser um espaço que fala sobre relacionamentos, o post de hoje não faz referência ao amor romântico, nem ao sexo, nem aos homens e mulheres esquisitos.Trata-se de um convite ao amor por si mesmo – lugar comum, mas é sempre bom relembrar que temos uma essência contra a qual não podemos lutar.

Fim de ano é sempre propício para reflexões profundas e promessas futuras. Mais da metade das promessas não se realiza no ano seguinte e poucos têm coragem de olhar para trás e depois para dentro na hora do balanço geral. Muitos de nós preferimos computar vitórias alheias e dar aos outros os créditos de nossas derrotas.

E o que é derrota? É sempre a fase anterior à da vitória, a menos que você tenha desistido de vez. Embora eu ache que nunca desistimos do que queremos. Fingimos, talvez para evitar frustrações e decepções, talvez por falta de coragem de lutar ou por não sabermos direito como fazer. Damos um sonoro não ao coração e ele não está nem aí. Não adianta. Desejos genuínos estão guardados em algum lugar e vale recuperar os seus para ter um pouco paz e não entrar no rol dos que tomam antidepressivos na tentativa vã de abafar o clamor interior.

Muitas e muitas vezes, precisamos refazer o caminho obstruído no momento da bordoada ou do tombo. Refazê-lo com a humildade de quem não se acha o centro do mundo e com a dignidade de quem acredita ser capaz. Ninguém disse que será fácil, mas essa é nossa chance de não nos abandonarmos no caldeirão de mentiras e auto-sabotagens que esculpimos quais bruxas desiludidas.

As decisões futuras continuarão não se realizando enquanto não houver reflexão sincera de todo amor que não nos demos. Se tudo for energia como dizem, cada sonho jogado no lixo mental gera um débito com o universo, sem falar no mal que fazemos às pessoas próximas que absorvem sem querer nossas vibrações arrevesadas.

Agora a pergunta que não quer calar: o que você está fazendo para realizar seus sonhos mais caros? Admiti-los já é alguma coisa. Sintonizá-los é um bom progresso. Realizá-los é a salvação.


Fernanda Santos





Eric Clapton - Knockin' On Heaven's Door




 

1 de agosto de 2011

Quando o amor vem, afinal?

 


Dizem alguns psicanalistas que a paixão nasce da inveja do outro. Ou seja, desejamos com urgência tudo o que o outro é e não somos. Adoramos o que projetamos. Por isso, esse sentimento surge de forma tão avassaladora e muitas vezes prejudicial aos apaixonados. Avassaladora porque é preciso devorar e se deixar devorar na tentativa de suprir tudo o que nos falta. Prejudicial porque, na maioria das vezes, essa antropofagia drena as forças, faz com nos percamos no outro e nos esqueçamos de quem somos na real.

Dizem também que, quem consegue vencer as etapas da paixão – encantamento, tesão desenfreado, cegueira noturna e diurna, sensação de embasbacamento (ok, essa palavra não existe, mas todas nós já sentimos), desapontamento, frustração e desencanto – necessariamente nessa mesma ordem –, tem alguma chance de vê-la transformada em amor.
 
O momento em que isso se dá, ainda segundo os especialistas, é quando as duas pessoas em questão tiram os óculos cor de rosa, enxergam-se como são (incluindo defeitos, esquisitices…) e ainda assim são capazes de estabelecer uma conexão baseada em segurança, individualidade e intimidade. Enquanto os estudiosos racionalizam amor e paixão, nós mortais continuamos dando cabeçada. É bom para aprender.

Quando o amor vem, afinal? Não sei. Só sei que nem sempre vem acompanhado de uma brisa suave ou uma canção delicada da bossa nova. Às vezes, ele aparece tropeçando no meio de uma tempestade, ao som de heavy metal. Se for assim tão turbulento, vale insistir? Talvez sim. E só você saberá se terá valido a pena.

Fernanda Santos 


Lulu Santos - Apenas mais uma de Amor


 

26 de julho de 2011

Não se culpe pelas expectativas





Alguém já lhe disse a seguinte frase com um ar irritante de superioridade? “Você cria muita expectativa!”. Eu ouvi várias vezes – da terapeuta às piores e melhores amigas. Em relação à profissional, sinceramente não acredito que ela consiga viver sem criar expectativas; em relação às amigas, tenho certeza de que todas, sem exceção, esquecem os mantras budistas, a lucidez adquirida desde a última frustração e desabam ao primeiro sinal de luz no fim do túnel. Vale para o amor, para o trabalho… vale para tudo o que desejamos na vida.

Se existisse oração, simpatia ou qualquer outra mandinga capaz de aplacar nossas expectativas estaríamos salvas. Não existe. Existe, isso sim, imaginar o que não existe, criar historinhas (que mal começaram) com final feliz. Existe fantasia e ilusão. E quer saber? Perdoe-se por isso. Você não é a única roteirista de casos de amor água com açúcar. E que ninguém se atreva a julgar seus desejos mais profundos e medir com uma trena o tamanho dos seus sonhos. Muito menos aconselhá-la com clichês do tipo “quando você desencanar, acontece”! Diga para uma mulher que está tentando engravidar que, quando ela desistir, engravida. Quem aqui consegue “desencanar” da vontade? As pessoas têm sangue nas veias, sonhos grandiosos, desejos que as mantêm vivas e ativas.

Ok, somos adultas e sabemos que a desilusão – ou a frustração – é proporcional ao tamanho da expectativa. E daí? Estamos aprendendo a viver, certo? Só não podemos esquecer de um detalhe: do céu só cai chuva. Isso significa que tudo na vida é conquista, tanto o homem dos sonhos quanto o emprego dos sonhos ou o filho dos sonhos. Podemos até pular etapas por causa da ansiedade. Faz parte do aprendizado voltar algumas casas e refazer o caminho passo a passo.

A expectativa está alta demais? Sem problemas. A vida saberá como dosá-la. A frustração está doendo demais? Acalme seu coração e não se culpe. Sim, inevitavelmente vamos chorar muito e desacreditar. E quando a próxima possibilidade aparecer, quem sabe não estaremos mais pé no chão para dar os passos na direção certa, heim? Nada é impossível nesta vida. Na-da!



Fernanda Santos 

Coldplay - Clocks



 

23 de julho de 2011

Perdão a si mesma




Eu me perdoo pelo querer desmedido, desajustado, e por todos os amores frustrados.

Me perdoo por tantas vezes ter fascinado, pelos julgamentos errados, por ter cedido ao desespero, pelo destempero.

Pelo sofrimento que causei a mim mesma, pelos pavores e fantasmas que alimentei, pelas friezas e franquezas que tanto me enfraqueceram.

Me perdoo por idealizar, perder a lucidez, cegar diante do óbvio.

Me perdoo pela ansiedade exagerada, pela sensibilidade amplificada, por me apegar ao nada.

Me perdoo pelos desencontros, pelas rejeições, pelos pequenos suicídios, pelas necessidades satisfeitas e pelos desejos inconfessáveis.

Me perdoo pelas vozes que ouço, pela mente em alvoroço.

E ainda me perdoo por permitir que machucassem meu coração e por todas as vezes em que meti os pés pelas mãos.

Me perdoo por aparentar segurança mesmo sem esperança.

Me perdoo por todas as ilusões e todas as decepções, pela raiva doentia que senti de mim mesma.

Me perdoo por querer controlar, pelo final infeliz e por tanta cicatriz.

Me perdoo por sofrer mais que o necessário, pelo entulho imaginário, pelo orgulho maldito e o dito pelo não dito.

Me perdoo pelas dependências, pelos vícios e suplícios, por não deixar fluir, por interferir, inibir, ferir e fugir.

Me perdoo pelos impulsos, pelas más tendências, pelas preferências, pelas tolices e rabugices.

Por errar, tropeçar, ameaçar.

E me perdoo principalmente por não ter aprendido a perdoar.




Fernanda Santos 



Phil Collins - Against All Odds (Take A Look At Me Now)




15 de julho de 2011

Corações machucados




As pessoas estão cheias de feridas ocultas, desconfianças, sobressaltos. E talvez a razão não seja o medo da felicidade, essa teoria simplista alardeada por alguns especialistas em seres humanos. Só teme a felicidade quem acredita – e sentiu na pele – que ela pode nos tornar duramente infelizes no momento seguinte. Antecipamos a dor para não sorvê-la aos poucos qual veneno corrosivo; assim como apressa o orgasmo quem não aguenta sentir prazer.

Somos colecionadores de crenças, teorias, verdades absolutas. Em algum momento de fato precisamos delas, seja para acreditar que nunca mais nos machucaremos novamente, seja para criar defesas intransponíveis e, assim, não despencarmos de vez, seja para anestesiar a sensibilidade debilitada na tentativa de manter as emoções sob controle – como se isso fosse possível. As crenças nos salvam, as verdades absolutas nos mantêm numa zona confortável e as teorias alimentam nossa preguiça. Pra quê? Em nome do quê?

Amar dá muito trabalho mesmo. É preciso ter a força e a coragem de um gladiador e a fragilidade de um cristal. Tão incompatível isso! Ainda largar as muletas da autopiedade, fazer com que o outro entenda nosso coração amedrontado e, o mais difícil, sair da superficialidade, desapegar-se do medo do ridículo e da indescritível sensação da traição em todos os níveis – até os mais sórdidos. Amar é um sonho arriscado demais. Quem garante a sinceridade alheia hoje em dia? São tantas decepções (diria o Rei Roberto neste século).

Esqueça. Não há garantias. E assim continuamos nos privando do mais caro sonho de consumo. Seguimos sobressaltados, machucados, desconfiados… E envergonhados por sermos quem somos. Já que conseguimos a proeza heróica de ceifar todo o mal, melhor mesmo é cortar o bem pela raiz.


Fernanda Santos


Sting - Fragile