Na minha sala de aula constato que 90% dos lanches dos meus alunos são compostos por: pacotes de bolachas de chocolate (inteiros, não apenas algumas bolachas), batatas fritas, refrigerantes e pouco mais. Tenho mesmo uma menina que leva todos os dia um "tupperware" (bem grandinho, por sinal!) metade com Oreos e metade com gomas. Tenho apenas um aluno que, por vezes, leva um "tupperware" com tirinhas de cenoura crua e uns 2 ou 3 que levam sandes.
Eu levo sempre um "tupperware" (mentira, os meus recipientes de plástico são de marca branca!) com fruta já descascada e cortada em bocadinhos e um saquinho com frutos secos, normalmente nozes, nozes da macadâmia e avelãs. No inicio eles ficavam a olhar para mim e a sussurrarem "Mas que professora tão estranha!!", outros diziam mesmo em alto e bom som "Mas a professora só come fruta?". Agora já não ligam, já estão habituados. Mas eu é que não me consigo habituar a vê-los comer assim. Mas que pais são estes que temos hoje? Que tipo de alimentação andamos a dar às nossas crianças?
Começámos a levar maçãs para o centro para distribuir pelos alunos na hora do lanche. Querem saber os resultados? Todos aceitam a maçã, comem com prazer e, nos dias em que não há maçã, ficam tristinhos. Curioso, não?
No seguimento deste texto, com o qual concordo na integra, reparo também que as nossas crianças estão cada vez mais mal educadas, sem respeito por nada nem ninguém, sem quaisquer tipo de valores. E não, também não acho que tenhamos cada vez mais crianças hiperactivas. Temos sim, cada vez mais, pais sem paciência para educar, conversar e transmitir valores aos filhos. E não acredito na converso "ah, cada vez os pais têm menos tempo para os filhos!!". A minha mãe educou-me sozinha, sempre teve mais que uma ocupação profissional e não é por isso que eu era hiperactia ou mal-educada. A educação começa por dar o exemplo e por estabelecer bons diálogos em casa. E, apenas com estas duas coisinhas, temos meio caminho andado para crianças mais bem integradas na sociedade que, por sua vez, irão dar origem a "bons" adultos.
A educação começa em casa e desenvolve-se na escola. Nos dias de hoje temos professores a transmitir, a partir do zero e a turmas inteiras, educação, conhecimento e valores. Como era de prever, nem sempre resulta.
Os alunos de hoje não respeitam o professor (e vão mesmo ao extremo de nos responderem mal e chamarem nomes feios), não respeitam os nossos idosos, não respeitam os colegas e, sobretudo, não se respeitam a si próprios. Os alunos de hoje chegam bêbados às aulas, fumam aos 12 anos e sentem-se uns heróis. Têm, muitos deles, carências afectivas: falta de atenção, falta de mimo, falta de diálogo.
E isto preocupa-me. Por vezes, mais do que preocupar-me, deixa-me triste. São estas as crianças de hoje. São estes os adultos de amanhã. Serão estes os futuros pais das nossas futuras crianças.