O meu pai divorciou-se da sua segunda mulher, como sabem. Eu sempre simpatizei com ela e, embora não a adorasse, tinha algum carinho por ela. Tinha, deixei de ter depois de ela revelar a sua verdadeira essência. E pergunto-me, estupefacta, como é que alguém consegue esconder tanta frieza, maldade e mau caráter durante mais de 20 anos?
Agora é vê-la num jogo de interesses sem fim, a tentar tirar tudo o que pode ao meu pai. É vê-la a exigir, a roubar, a humilhar, a representar, a jogar feio, a espezinhar.
No domingo ela disse-me que já tinha feito as mudanças, que naquela noite já ia ficar na nova casa dela e que eu podia mudar-me para casa do meu pai quando quisesse. O que é que eu pensei? Que ela tinha deixado a casa pronta para eu me mudar e que não voltaria lá, como é óbvio, visto que desde o dia 18 a casa já não é dela. Nesse próprio dia fui ver como estava a casa. O que encontrei é difícil explicar por palavras. Uma casa completamente caótica: sapatos espalhados no chão (alguns ainda dela!), objectos diversos espalhados por todo o lado, pó em todo o lado, bicharada em todo o lado, um fogão repleto de gordura, móveis de cozinha imundos, restos de comida, um frigorífico nojento, baldes de lixo por esvaziar, gavetas cheias de papelada numa desordem completa, fotografias dela e da familia dela (deve pensar que quero uma recordação), roupa interior dela, e, para mim o pior de tudo, levou uma das camas, tirou os lençóis usados e restante roupa dessa mesma cama e deixou-os ali, num monte, no meio do quarto. E o cheiro? Um cheiro intenso a mofo e falta de limpeza impregnava o ar.
Eu fiquei azul quando entrei naquela casa. E, também é na casa que ela deixou, que se vê a verdadeira essência das pessoas. O respeito que têm pelos outros. Eu até podia odiar a pessoa que viesse a viver na minha casa, mas nunca na vida deixava uma casa assim para trás, até porque tinha vergonha da imundice que deixava.
Neste momento vale-me não ter trabalho (para alguma coisa havia de servir!), porque caso contrário acho que só daqui a um ano é que conseguiria limpar e organizar aquela casa toda.
Já me dói a barriga só de pensar no trabalho que tenho ali em mãos. (E andava eu a queixar-me que me esperavam as fatídicas e chatas mudanças; ao pé do que tenho para fazer as mudanças até serão a parte mais fácil e divertida).