Varal de Cordéis Joseenses

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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

CJ 99 - PELÉ: a História em Cordel (da Vila à Eternidade)

 

Ontem, no aniversário da cidade de Santos, consegui finalizar o cordel que homenageia o (nosso) maior ídolo. Aqui vai:















segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Tartaruga e Passarinho (Paulo Barja) - primeira versão do cordel, completa

 



Uma dupla diferente
se encontrou por um caminho: 
um no chão, outro nos ares,
tartaruga e passarinho
- ela carregando a casa, 
  ele voando pro ninho.

Tartaruga era tranquila,
passarinho era apressado.
Começou a discussão:
quem seria o mais versado
nas histórias deste mundo?
Cada um via o seu lado.

Por fim, eles se acalmaram,
mas a cisma era tamanha
que marcaram um encontro
lá no alto da montanha
e fizeram uma aposta:
vamos ver quem é que ganha.

  Passarinho teve a idéia.
- Vamos guardar na memória
  tudo aquilo que encontrarmos:
  cada coisa, cada história.
  Quem juntar mais novidades
  será o dono da vitória!

  E disse: - Pra mim é fácil!
  Sou veloz, não sou incauto;
  vejo as árvores e os bichos,
  vejo tudo aqui do alto
  e não preciso de estrada
  nem de terra, nem de asfalto.

– Você quer abrir as asas?
Acha que é melhor voar?
Então voe, vá na frente, 
a estrada é o meu lugar.
Vou tranqüila, não me espere,
que eu prefiro caminhar.

Passarinho foi ligeiro:
passou por cima de tudo.
Lá embaixo, a tartaruga
só pensava: “Não me iludo;
quem tem pressa chega antes,
mas o tempo é meu escudo.”

Cada um foi pro seu lado.
Fez calor, choveu, fez frio...
Bem depois, se reencontraram;
tartaruga então sorriu
e disse pro passarinho:
- Conte-me agora o que viu.

Ao ouvir esta pergunta,
passarinho, displicente, 
já foi logo abrindo o bico,
respondeu rapidamente: 
vi tudo que é bicho e planta,
conheci tudo que é gente!

E contou mil aventuras;
falou bem mais de uma hora.
Tartaruga ouvia atenta,
nem pensava em ir embora.
Quando o pássaro acabou,
tartaruga disse: - Agora

fique aí bem pousadinho,
também tenho o que contar.
Conheci muitas histórias
da terra e até do ar,
de outros pássaros que às vezes
paravam pra conversar.

Vim sem pressa, reparando
no que havia pra se olhar;
vi abelhas passeando
sobre as flores, a bailar;
vi a cigarra cantando
e a formiga a trabalhar.

Parava onde havia água,
a fim de me refrescar
e soube, através dos peixes,
lendas do rio e do mar,
mas como isso leva tempo,
demoreeeeeeeeeei para chegar.

Devagar conheço o mundo,
vejo os detalhes de frente. 
Quem voa, passa por cima;
do lado é bem diferente:
quem não tem o casco grosso,
passe longe de serpente!

E os dois foram percebendo
que podiam ser amigos,
ajudando um ao outro,
enfrentando os inimigos;
se um não via, o outro notava
e avisava dos perigos.

Hoje é bonito de ver
quando os dois passeiam juntos,
um do alto, outro do chão:
que tanto falam, pergunto?
Podem ser bem diferentes,
mas têm sempre muito assunto!

Paulo R. Barja (2010)

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

CJ 97 - UM CORDEL A ANTONIETA (e a todos os professores)



A cada 15 de outubro,

nós precisamos lembrar

de uma grande professora

que soube nos ensinar

muito além até da sala,

pois quem sabe não se cala

- e vale a pena escutar.


Antonieta de Barros

foi formada professora

e a sua história de vida

é muito esclarecedora:

mostra a força feminina

de quem revelou ter sina

de mulher batalhadora.


Nascida em Florianópolis

em 1901, 

Antonieta teve infância

bem humilde, até comum.

Seu registro só aponta

nome da mãe, que desponta;

mas nome do pai? Nenhum.


Catarina, sua mãe,

viveu a escravidão.

Liberta, foi lavadeira

e depois abriu pensão

onde abrigava estudantes;

vivia melhor que antes,

mas luxo não tinha não.


Foi assim, nesse ambiente,

que Antonieta estudou:

com os jovens da pensão

é que se alfabetizou

e, para adquirir cultura,

no universo da leitura

Antonieta mergulhou.


Não tinha nem 20 anos

quando abriu curso: queria

alfabetizar adultos

daquela periferia,

mas deu aula até pra elite,

depois que ganhou convite

de escola da burguesia.


Em seguida, acumulou

no currículo outro ofício.

Em seus textos pro jornal,

só abordou tema díficil:

preconceito, educação,

política - por que não?

Cada texto era um míssil.


"Mulher não tem que opinar,

  pois nasceu para servir!"

"Seja rainha do lar,

  não queira nos dirigir!"

Os homens da oligarquia

reclamavam todo dia:

"Ela não vai desistir?"


"Não somos virgens de ideias",

respondia Antonieta,

que afrontava aqueles ricos:

era mulher, pobre e preta!

E com sua visão crítica,

embrenhou-se na política:

não fugia de uma treta.


Foi na década de 30

que a novidade surgiu:

uma deputada negra,

a primeira do Brasil

- era ela, Antonieta!

Brancos fizeram careta,

porém, firme, ela seguiu.


Voz da luta feminina

em meio ao patriarcado,

escreveu diversos trechos

da Constituição do Estado,

mas quando Getúlio veio,

seu destino ficou feio:

o mandato foi cassado.


Passou-se então uma década.

A ditadura acabou

e Antonieta, no voto,

para a Assembleia voltou;

Porém, simultaneamente,

sua carreira docente

ela nunca abandonou.


Neste segundo período,

ela criou o projeto

depois oficializado

numa lei plena de afeto,

cidadania e valor:

o Dia do Professor

foi aprovado sem veto.


Na década de 40,

a data era estadual;

foi no governo de Jango

que o Brasil, afinal,

aprovou sua extensão

e o 15 de outubro então

passou a ser nacional.


Mesmo depois disso tudo,

houve um historiador

que ofendeu Antonieta

com uma frase de horror:

"Essa negra quando fala

  é intriga de senzala!"

Mas por que falar da cor?


Antonieta respondeu:

- Fizemos do magistério

  a razão de nossa vida,

  o nosso ofício mais sério.

  Respondo aqui no jornal

  pois essa ofensa banal

  não levo pro cemitério.


- Sua Excelência, por sorte,

  poupa o povo da desgraça

  pois não quer ser professor.

  Há quem bem melhor o faça;

  um professor, pra existir,

  nunca deve distinguir

  nenhuma classe nem raça.


Essa professora incrível

que tanto nos ensinou

era bem jovem ainda

quando, por fim, descansou:

50 anos de idade.

Mas ganhou eternidade

pelo que realizou.


Antonieta, por certo,

sempre manteve nobreza

e dizia que, da vida,

a sua maior grandeza

estava na Educação.

Eu concordo; e vocês, não?

Seja nossa essa certeza.


P arabéns aos professores:

R espeito, afeto e coragem.

B elo é o ofício exercido:

A rte humana da mensagem

R enovada a cada dia

J unto àquele que inicia

A ulas e aprendizagem.


Paulo R. Barja,

14 de outubro de 2021.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

CJ 95 - Um Cordel pro Ano Novo

 UM CORDEL PRO ANO NOVO

(Paulo Roxo Barja)


Tudo que é muito difícil

traz também aprendizado.

Não me refiro com isso

a problemas do passado,

e sim do nosso presente:

um ano assim diferente

ninguém tinha imaginado.


Lá pro começo do ano,

um vírus bem traiçoeiro

espalhou-se insidioso,

atingindo o mundo inteiro.

Compreendemos o momento:

partimos pro isolamento.

Futuro era nevoeiro.


De repente, todo encontro

que seria presencial

foi, depressa, adaptado

ao formato virtual.

Meio aos trancos e barrancos,

tropeços e solavancos,

aprendemos: nada mal.


Antigamente, era assim:

o cavalheiro e a donzela

muitas vezes se encontravam

um na rua, um na janela...

agora, tudo acontece

- reunião, encontro, prece

  e até aula pela tela.


Por incrível que pareça,

teve poesia e canção.

Entre uma prova e uma aula,

teve sarau, como não?

Sei que o ano não foi fácil...

Atesto, neste posfácio,

que não faltou emoção.


Lavar as mãos e usar máscara

é afeto, fraternidade;

são gestos significativos

na vida em comunidade.

Cada gesto assim ressoa

dentro de cada pessoa:

pura solidariedade.


A união é importante

- aliás, fundamental -

pra exercer cidadania,

cuidar do nosso quintal.

Ninguém aqui nega o fogo;

vamos virar esse jogo

antes do apito final.


Pro ano novo, propomos

a solidária campanha:

todos por um e um por todos

- eu ganho se o MUNDO ganha.

A ciência, com certeza,

percebe, na natureza,

essa verdade tamanha:


Cada mata e cada bosque,

cada árvore ou arbusto,

cada folha, cada ramo,

é vida e exemplo justo.

Não estamos isolados;

prosseguimos, conectados

para evitar qualquer susto.


A todos, fica a mensagem:

o futuro é uma criança

imprevisível e arteira

- poesia, música e dança.

Nessa vida severina,

vamos tomar a vacina:

ela se chama ESPERANÇA.


sexta-feira, 16 de outubro de 2020

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Cordel da COVID19



Venho aqui dar um recado
ao amigo cidadão;
aprendi que ensinamento
só existe em comunhão
e falar do isolamento
hoje é a minha missão.

Nestas semanas difíceis,
nós todos muito aprendemos
sobre o vírus da COVID,
ameaça que não vemos,
mas cujos tristes efeitos
todos já compreendemos.

Muitos perderam a vida;
outros foram internados
em hospitais que, por vezes,
chegam a ficar lotados
deixando seus funcionários
seriamente preocupados.

As equipes de Saúde,
assim como professores,
tem feito jornada múltipla...
Então, pedem 2 favores:
- Fiquem em casa! Só saiam 
de máscara, meus senhores!

A curva de novos casos,
numa pandemia assim,
tem 1 formato de sino,
já estudado, vai por mim:
não é de um dia pro outro
que o problema chega ao fim.

O isolamento é importante,
nisso já demos um show.
O desafio continua:
a gente ainda não chegou
"do outro lado da montanha"
- o perigo não passou.

Um retorno consciente
ao convívio social
não pode ser confundido
com baile de carnaval
nem com a corrida às compras
na véspera do Natal.

Por isso é que nós pedimos:
- TOME CUIDADO, MOÇADA!
Não façam a festa agora;
sigam de mente focada
pra Saúde da cidade
ser logo recuperada!

Paulo Barja

sexta-feira, 15 de maio de 2020

A Rede de Proteção é Tarefa Coletiva

Reproduzo a seguir os versos de cordel criados durante a webconferência sobre violência em tempos de pandemia: informação para ação, promovida pelo NÚCLEO VIVA PAZ, em 15 de maio de 2020:


A REDE DE PROTEÇÃO
É TAREFA  COLETIVA

A violência de gênero
é triste realidade
que está presente no campo
mas também tá na cidade;
precisa ser enfrentada
em sua integralidade.

Pra melhorar convivência,
uma cultura da paz
precisa ser implantada
de modo firme e capaz
dando enfoque à prevenção
coordenada e eficaz.

Junto à mulher, a criança
precisa ser protegida,
pois ao sofrer violência,
a alma fica ferida
e carrega cicatriz
por todo o tempo de vida.

Um bom trabalho de rede
torna-se fundamental
para se trocar ideias
e também ter um canal
para união e EMPATIA,
exercício essencial.

O CONVIVA é um sistema
de proteção familiar;
sua semente é antiga
e hoje vem propiciar
propostas de melhoria
da convivência escolar.

Em tempos de pandemia,
muito encontro digital,
cyberbullying é um problema
muito sério e atual.
Trabalhar a netiqueta
parece fundamental.

São muitos temas complexos;
nossa mente segue ativa
para o afeto conjunto:
união é força viva.
A REDE DE PROTEÇÃO
É TAREFA COLETIVA.

Paulo Barja

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Testamento do Padre Cícero - um clipe sobre a canção de Augusto Boal e Gilberto Gil

Pouca gente sabe, mas Augusto Boal praticamente escreveu em cordel o texto sobre o "Testamento do Padre Cícero", que mestre Gilberto Gil musicou em seguida. Abaixo, nossa interpretação (musical e visual) para a obra:


segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

CJ 92 - Caminhos interrompidos (Sobre as bicicletas brancas)

O cordel joseense 92 fala sobre as ghost bikes, as bicicletas brancas que são colocadas em pontos do espaço público para homenagear ciclistas que morreram vitimados por acidentes nestes pontos. O maior desafio, aqui, foi criar um texto que trouxesse lirismo sem perder a contundência, que falasse sobre duras verdades sem pesar demais e mantendo a nota de esperança. Espero ter conseguido... Seguem capa, contracapa e o texto completo:





A cidade é um território
bem repleto de disputas,
com muita gente indo e vindo,
rotinas por vezes brutas
onde a questão do transporte
é uma entre muitas lutas.

Deslocar-se por aqui
é um desafio gigante;
seja no meio da rua,
na calçada... a cada instante,
a atenção deve ser plena,
pois o perigo é constante.

Vamos falar, nestes versos,
de uma questão bem urbana.
O trânsito da cidade
é coisa que nos engana,
e que, além da engenharia,
tem dimensão muito humana.

As Ghost Bikes joseenses
serão aqui nosso assunto
mas, antes de prosseguir,
para vocês eu pergunto:
já viram as bikes brancas
pintadas, com flores junto?

Elas significam muito,
pois trazem emoção franca:
exposta sobre a calçada,
cada bicicleta branca
é uma vida interrompida
que o trânsito nos arranca.

Essa exposição aberta
quer ser lírica homenagem
às famílias e aos amigos
dos que fizeram passagem
ao plano pós-existência,
nessa mais longa viagem.

Sei que o tema é doloroso,
mas a conversa é devida
e essa questão urbanística
não pode ser escondida.
Lembro que falar da morte
também é falar da vida.

Cada bicicleta branca
que é na cidade instalada
simboliza uma existência,
sendo assim posicionada
no ponto exato onde a vida
de um ciclista foi roubada.

Há, pois, caráter simbólico
nessas brancas bicicletas,
elementos paisagísticos
que, em suas curvas e retas,
são intervenção urbana,
trazendo histórias completas.

Estas bicicletas brancas
existem no mundo inteiro:
Roma, Paris, Nova Iorque...
E nosso exemplo primeiro
tem a alma joseense e
paulistano paradeiro.

Juliana foi pra Sampa
com sua bike; faleceu
atingida por um ônibus;
na Paulista é que ocorreu
essa tremenda tragédia
que a todos nós abateu.

A “ciclovia da Andrômeda”
(a primeira, em São José)
homenageia Juliana,
exemplo de vida e fé
no poder das bicicletas
- quem usa, sabe como é.

Já em terreno joseense,
a ghost bike inicial
fica no Jardim Paulista,
ali na zona central,
onde o jovem Luiz Augusto
foi a vítima fatal.

Os próprios familiares,
com ajuda fornecida
por amigos e ciclistas,
instalaram a devida
homenagem que até hoje
é bem cuidada e mantida.

Na Zona Sul, outra bike
em urbana intervenção
lembra Roberta e Melissa,
mãe e filha, judiação,
colhidas e vitimadas
por infeliz caminhão.

Na Zona Leste, um tributo
a uma nobre moradora:
Marilene usava a bike
no serviço – vendedora
de cosméticos e exemplo
de mulher trabalhadora.

Na Zona Norte, Josias,
16 anos de idade,
o viaduto atravessava
rumo ao Parque da Cidade
- vitimado, é mais um anjo
de bike. Deixou saudade...

Um outro jovem, o Robson,
também teve esse destino,
falecendo aos 19
por conta de um desatino:
rapazes fazendo racha
vitimaram o menino.

Rosival, lá de Alagoas,
veio para trabalhar
e estava feliz: de bike,
conseguiu trabalho achar,
porém foi atropelado
no dia de começar.

Ariel, de 36,
morava na Zona Leste;
trabalhava no Jardim
das Indústrias, Zona Oeste.
Hoje é outro anjo ciclista;
que nosso poema ateste.

O Marcos, de 37,
ia a Campos do Jordão;
na altura de Tremembé,
foi atropelado e não
resistiu aos ferimentos,
o que gerou comoção.

Na Estrada do Jaguari,
Zona Norte, área rural,
mais um caminhão gerou
outra vítima fatal:
morreu Nezinho, de bike,
sem ter feito nenhum mal.

E a ghost bike da Avenida
dos Astronautas? Lição:
quem instalou foi a filha
do Francisco (o “Chicão”),
atropelado por moto.
Cabe aqui observação:

Nesse caso, o motoqueiro
tratou de se aproximar
da família do Chicão
e fez questão de ajudar
a instalar a bicicleta.
Celso, assim, foi exemplar.

Muita história pra contar
tinha o “Zuzu”, Josué:
mais de 80 anos de idade
e nunca ficava a pé
- a vida inteira usou bike,
  pois nela botava fé.

Josué caiu por causa
de um buraco que não viu
na calçada e, já na pista,
um motorista o atingiu.
O SAMU foi acionado,
mas Josué não resistiu.

A calçada, por sinal,
ainda não foi nivelada,
mesmo tendo a prefeitura
sido já comunicada;
enquanto os buracos seguem,
a travessia é arriscada.

Contamos estas histórias
pra embasar questionamentos,
reflexões sobre a vida,
decisões e sentimentos:
queremos mobilidade
com afeto e sem lamentos.

Precisamos de um convívio
saudável dos motoristas
com pedestres, cadeirantes,
ciclistas, motociclistas;
com artistas dos semáforos,
ambulantes e skatistas.

O problema do transporte,
vemos, não escolhe idade
e o perigo invade todas
as regiões da cidade,
zona urbana e até rural,
em qualquer velocidade.

Na rede de amor e afeto
dos ciclistas vitimados,
seus parentes, seus amigos
não querem ficar calados.
Às vezes, duras verdades,
eles dizem, indignados:

– A prefeitura é bem rica
e pra tudo tem dinheiro,
mas “segurança no trânsito”
parece não vir primeiro.
Preferem ponte, que é cara,
mas rende bem a empreiteiro.

A infraestrutura urbana
não acolhe, é bem precária;
fazem pontes só pra carros,
sem visão humanitária...
Ciclovias mais seguras:
ISSO é obra necessária!

O uso racional dos carros
e das motos, minha gente,
mas principalmente o transporte
coletivo eficiente
ajudam toda a cidade,
pois preservam o ambiente. 

Vão os ciclistas urbanos
vivendo suas mazelas
e percorrendo a cidade
por vias feias e belas,
rumo ao trabalho e ao estudo,
sempre nas suas magrelas.

A vida, enfim, segue em frente
com acertos e deslizes.
As ghost bikes já fazem parte
da paisagem: cicatrizes
que pedem calma e afeto
para dias mais felizes.

Monumentos à memória
para sensibilizar
ao cuidado coletivo:
precisamos despertar
e nossa cidadania
devemos exercitar.

Junto às bicicletas brancas,
cada palavra que é escrita
como homenagem à vida
faz com que a gente reflita
e esse carinho sincero
deixa a cidade bonita.

Preservação da memória:
cuidado e dedicação
de alguém da comunidade
fazendo a conservação
das bikes, do espaço público...
Isso aquece o coração.

Caminhos interrompidos,
vidas não mais invisíveis:
pela intervenção urbana,
histórias inesquecíveis
são assim retransmitidas
para cidadãos sensíveis.

Em meio ao caos da cidade,
a bike branca nos convida
a olhar pra cada ciclista:
“aqui pedala uma vida;
 chega de mortes no trânsito”,
pede a alma comovida.

          P ressa é coisa perigosa,
          A prendemos e aceitamos;
          U nidos é que ensinamos
          L ição simples, poderosa.
          O nde a vida é mar de rosa?
          B om é viver consciente,
          A ceitando o diferente,
          R espeitando cada irmão,
          J untando verso e canção
          A o que dá sentido à gente.


Saiba mais sobre o tema deste cordel:
www.facebook.com/pg/ghostbikes/
ghostbikesjc.wixsite.com/fccr