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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Fiona Apple canta 21 canções de outros artistas [download do disco completo]


Download fino! É a diva Fiona Apple, uma das compositoras e cantoras mais brilhantes desta geração, cantando 21 canções de outros artistas: tem Beatles (“Across the Universe”), Jimi Hendrix (“Angel”), Bill Withers (“Use Me”), Buddy Holly (“Everyday”), McCartney (“Let Me Roll It”), além de Billie Holliday, Jimmy Cliff, Elvis Costello e muito mais. Discaço! Baixe já (116 MB) » http://bit.ly/YL705y

FIONA canta BEATLES

(Achei lá no Alt News Paper »» http://bit.ly/NED0Rx)

sábado, 23 de junho de 2012

Eddie Vedder (Pearl Jam) - DVD "Water on The Road"




"I knew all the rules, but the rules did not know me."
 E. VEDDER, "Guaranteed"


O primeiro DVD solo do líder do Pearl Jam, "Water on the Road", documenta a tour de Eddie Vedder em 2008, cerca de um ano depois do lançamento da trilha sonora original de "Into the Wild". Sozinho ao violão, à guitarra ou ao ukelele, Vedder toca covers de Bob Dylan e Beatles (dentre outros), faz releituras Unplugged de canções do Pearl Jam e até se arrisca como stand-up comedian. Showzaço! Gravado em Washington, D.C. Lançado em 2011. Baixe o DVD em altíssima qualidade lá no The Pirate Bay >>>
http://bit.ly/KSghTx. Seguem alguns aperitivos!



terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Os 3 Melhores Documentários Musicais de 2011...


por Ana Alice Vercesi


 Conhecido por transformar trechos de sua própria vida em ficções deliciosas, como “Quase Famosos” e “Singles”, Cameron Crowe foi na contramão dos outros grandes diretores que se aventuraram em documentários musicais em 2011 e decidiu registrar em vídeo a história dos próprios amigos. Esse toque pessoal, longe de comprometer o resultado, trouxe a “Pearl Jam 20” um frescor que garantiu o primeiro lugar ao filme aqui no blog.


Para quem espera uma história baseada na banda que tem em Eddie Vedder um ícone, mais do que um líder, a surpresa será grande. Primeiro porque o Pearl Jam nasceu dos restos mortais do Mother Love Bone, grupo que também era feito de um líder carismático e inesquecível: Andy Wood, que morreu de overdose em 1990. O resgate da breve trajetória e das raras imagens do MLB, cujas raízes explicam o som “grunge” que tanto caracterizou uma geração de músicos, já vale o documentário. Para se ter uma ideia, o próprio Vedder só ousou cantar uma música do Love Bone no palco na comemoração de dez anos do Pearl Jam.

A partir daí, o eixo narrativo se concentra no baixista Jeff Ament e nos guitarristas Stone Gossard e Mike McCready, que encontraram em Vedder a voz, a lírica e a intensidade que procuravam para seu som. Viram esse mesmo baixinho muito tímido, importado dos mares da Califórnia, se ambientar à cinzenta Seattle e à cena local formada por amigos de infância. Presenciaram o vocalista se agigantar nos palcos aos poucos e dominar o escopo criativo do Pearl Jam. E por fim, narra o fortalecimento da banda em meio às intempéries da linha do tempo, como as farpas trocadas com o Nirvana, a briga judicial com a Ticketmaster e a morte dos fãs no festival Roskilde.

Dos três filmes lembrados aqui, “PJ 20” é o que mais lembra uma narrativa tradicional de documentário e, ao mesmo tempo, tem aquele toque de filme caseiro, de família sentada na sala relembrando imagens que nem sabia que ainda possuía guardadas. E essa humanização só mesmo quem já passou muitas noites na sala de jantar é capaz de traduzir.


Top 3 Docs 2011, segundo lugar: “Foo Fighters: Back and Forth”, de James Moll

Espécie de flor de lótus gerada no meio do esterco que foi o fim do Nirvana, o Foo Fighters esperou álbuns e álbuns por sua redenção perante a comunidade musical. E exatamente um ano antes de sua apresentação em solo brazuca no Lollapalooza, a banda de Dave Grohl, – o até então considerado “cara mais legal do rock” – disponibilizou nos cinemas o documentário que, a reboque do aclamado recém-lançado álbum “Wasting Light”, traria o resgate de sua nada calma história.

Vamos muito, muito por partes. “Back and Forth” presta, a princípio, um serviço aos fãs mais recentes, que estão acostumados a ver as caras sorridentes do grupo e todo o sucesso atual que ele alcança, e nem imagina os sacos de sal que o povo já comeu, como as idas e vindas de Pat Smear na guitarra; a overdose do batera Taylor Hawkins; e as demissões nada amigáveis do guitarrista Franz Stahl e do baterista Willian Goldsmith. Também narra uma trajetória incrível de uma banda que surgiu de uma demo tape que Grohl gravou sozinho, ainda em meio à letargia que se seguiu ao suicídio de Cobain, e que aqueles moleques do clipe de “Big Me”, uma paródia impagável dos comerciais de Menthos, jamais imaginariam onde iria parar.

Por outro lado, é uma biografia mais que autorizada e, por isso mesmo, mantém os dentes do ex-baterista do Nirvana brilhantes na tela. Uma outra narrativa lançada em livro também em 2011, “This is a Call – The Life and Times of Dave Grohl”, do jornalista Paul Branningan, esclarece alguns desses episódios que o filme abranda um certo tanto. Apesar de fã declarado de Grohl, o autor consegue esmiuçar um pouco mais, entre outras coisas, como o baterista Willian descobriu que a banda toda estava refazendo “The Colour and The Shape” sem ele. Como Franz Stahl sacou, em 1997, o que Dave Grohl decidiu deixar em panos limpos só lá na frente, em One by One (2002): que aquela era banda dele, e ele decidiria no fim das contas como ela seria, por mais que adorasse que todos dessem ideias. E, entre todos os contratempos do mundo, os muitos e muitos “brancos” de criatividade que aplacaram o grupo em toda sua história.

Com uma discografia considerada pela crítica como bastante irregular, o Foo Fighters tem, no entanto, um mérito gigante na história da música das últimas duas décadas que “Back and Forth” ressalta com maestria: eles são pura celebração da festa que é o rock and roll, com propriedade técnica. Um moleque que cresce ouvindo a banda precisa se esforçar em um nível bem maior para tirar as músicas se comparado a outros grupos contemporâneos e, dado o seu alcance pop mundial, os integrantes indicam bandas um tanto decentes que a molecada deveria ouvir, antigas e novas. Sem contar a facilidade com que Grohl trafega pelos mais diversos gêneros, seja em colaboração com o Queens of the Stone Age, com seu projeto de heavy metal Probot ou em parcerias pelo mundo afora – sem a Roberto-Carlização que acomete Andreas Kisser, por exemplo.


Tio Martin Scorsese ganhou o terceiro lugar com sua tentativa de narrar a vida do beatle George Harrison em Living in the Material World

Em “Shine a Light”, registro ao vivo de um show dos Rolling Stones capturado por Scorsese, o diretor penou para descobrir o set list de Mick Jagger & Cia. O papel só lhe foi entregue momentos antes da apresentação começar. Uma espécie de segredo guardado longe do cineasta, um desafio para que ele rebolasse nos 30 e comandasse as câmeras sem ter muito tempo para poder preparar a equipe. E agora, nessa nova incursão do cineasta ao mundo da música, mesmo com toneladas de imagens e depoimentos, o desafio do segredo permanece.

O motivo, a princípio, é simples: uma banda de sucesso é e será sempre um segredo bem-guardado. Algo que apenas os que viveram toda a “mania” são capazes de entender e compartilhar. O próprio Ringo Starr declara isso. E Eric Clapton, uma das (tentativas de) linhas condutoras do filme, deixa bem claro que, apesar de se sentir muito amigo de George, não é capaz de dizer o quão próximos eles eram de fato.

“Living in the Material World” busca retratar os dois lados do beatle que, enquanto buscava a transcendência do corpo físico, era incapaz de resistir por muito tempo às tentações da carne. O problema é que, enquanto há centenas de imagens do rapaz na Índia, gravando mantras ou pregando a paz, pouco se revela a respeito do lado negro da força de Harrison. Paul McCartney se limita a dizer que, “como homem, ele gostava do que os homens gostavam”, e uma resignada Olivia Harrison é capaz de assumir o poder de sedução de seu falecido marido. Klaus Voorman, colega dos Beatles dos tempos de Hamburgo, assume o vício de George nas drogas e o quanto isso o consumia. Mas só.


Lágrimas de Ringo

Outro desafio enfrentado por Scorsese foi lidar com o material já existente em imagens. Nesse aspecto, o diretor mostra momentos brilhantes ao alinhar foto e vídeo em várias passagens; trabalhar com frames aparentemente banais capturados por George, seja em seu jardim, na praia ou na cozinha, e costurá-los na narrativa; e arrancar lágrimas de Ringo enquanto esse descreve seu último encontro com o guitarrista.

Apesar das inúmeras críticas em relação à falta de um narrador em off, que ajudaria a contextualizar muitos dos depoimentos (não há preocupação em saber se o espectador conhece de fato os entrevistados, e quem não tem familiaridade com a história da banda pode se perder bastante), Scorsese consegue com essa estratégia que todos tenham um peso equivalente, salvo os ex-integrantes da banda e as viúvas de Lennon e Harrison. Um peso que parece ser o mesmo que o guitarrista deu a todas essas pessoas enquanto vivia, como descreveu Clapton.

Uma das falas mais poéticas é do ex-piloto de F1 Jack Stwart, que enxergava em George a mesma capacidade de sentidos aguçados que um piloto vivencia nos momentos extremos de velocidade. Talvez a vida do autor de “Something” tenha sido isso mesmo: uma viagem supersônica com os sentidos a mil, da qual nós, sentados à beira da estrada, só tenhamos direito mesmo a ver um borrão.








DOWNLOADS (VIA THE PIRATE BAY):

sábado, 22 de outubro de 2011

Os clipes de Paul Thomas Anderson e Fiona Apple


Que P.T. Anderson seja um dos mais brilhantes cineastas americanos vivos é contestado por poucos. Na ilustre companhia de Fincher, Nolan e Aronofsky, Anderson é um daqueles raros artistas capazes de encantar as massas sem perder o respeito dos críticos, uma proeza "spielberguiana" de que poucos podem se orgulhar. Depois de cravar um par de clássicos já inscritos na história do cinema noventista em seu currículo (Boogie Nights e Magnolia), depois de atingir dimensões kubrickianas em Sangue Negro, e depois de provar que é um "maestro de atores" tão mágico que é capaz de extrair interpretações memoráveis até dum Adam Sandler (Punch-Drunk Love), Paul Thomas Anderson é decerto uma das mentes mais admiráveis hoje em ação na sétima arte.

Que Fiona Apple seja, de outro lado, uma das compositoras e intérpretes mais talentosas e adoráveis que surgiram nos anos 90 também é difícil de contestar - considerando a complexidade lírica, a autenticidade expressiva, a "aventurosidade" experimental e a ousadia confessional que fazem de Tidal, When The Pawn e Extraordinary Machine alguns dos melhores álbuns criados por uma cantora-compositora nas últimas décadas. Quando "estourou" em 1996 com o clipe-pólvora de "Criminal", carro-chefe do álbum que consagraria a menina-prodígio de 17 anos de idade como um fenômeno capaz de vender mais de 2 milhões e 700 mil cópias (segundo a RIAA), Fiona Apple já demonstrava que conhecia o potencial "visual" de sua música e que prometia dar ao mundo alguns clipes tão deslumbrantes quanto aqueles que Michel Gondry fez para Björk.

A "dobradinha" video-clíptica entre Fiona e P.T. Anderson, que chegaram a namorar por um tempo, têm quatro contribuições de encher os olhos. Mais ou menos na época em que apresentava a um público mais vasto outra cantora-e-compositora de muita expressão (Aimee Mann, catapultada para um sucesso mais amplo por sua trilha de Magnolia), Paul Thomas Anderson assumiu a direção de vários clipes do 2º álbum de Fiona Apple: a violenta e rancorosa "Limp", que contêm alguns dos versos mais inesquecíveis que ela já cometeu ("You fondle my trigger then you blame my gun..."); a galopante e audaz "Fast As You Can" e o belíssimo lamento de desconsolo e carência "Paper Bag" ("Honey I don't feel so good, don't feel justified... Come on put a little love here in my void...").

Além disso, dirigiu em classudo preto-e-branco a versão de Apple para "Across The Universe", dos Beatles, num clipe em que ela mantêm-se em estado de serenidade quase búdica, imperturbável em sua "meditação" com fones-de-ouvido, enquanto um pandemônio de destruição ruge ao seu redor.

São clipes que valem muito a pena serem assistidos e que revelam dois artistas autênticos que, na época de mais intensa colaboração e apaixonamento, além do vínculo afetivo e da cama compartilhada, uniram simbioticamente suas visões nestas pequenas pérolas do video-clipe. Um viva pra eles!



terça-feira, 11 de outubro de 2011

<<< Depredando, a Mixtape - volume IX - Messin' With The Blues >>>

O blues é mais que um gênero musical: é um estado de espírito. Não é preciso ter vivido às margens do Mississipi ou ter penado nas plantações da colônia inglesa na América para compreender o queixume dos blueseiros. A melancolia não tem dono. Somos todos, vez ou outra, suas vítimas. A idéia desta nova mixtape Messin' With The Blues é dar um passeio por artistas que não costumam ser rotulados e classificados dentro do blues, mas que compuseram flertes e tributos a ele, ou que "brincaram" com ele, ou que o re-interpretaram em outra chave, outro ritmo, outra época...

Começamos a jornada com um dos maiores trompetistas da história do jazz, o incomparável Miles Davis, que no clássico Get Up With It (1974), já esmiuçado por Eduardo Gianetti, compôs um belo "Blues da China Comunista", com harmônica chorando e tudo. Na sequência, John Lennon mostra que mesmo antes de sua carreira-solo, tão repleta de canções angustiadas e angustiantes, já tingia certas canções do Beatles com um blues quase suicida: "Yes, I'm lonely, wanna die / If I ain't dead already, you know the reason why...", canta John em "Yer Blues", do White Album.

Já Tom Waits encarna o loser de boteco que solta uivos na madrugada em "Fumblin' With the Blues": "It's hard to win when you always lose". E a diva do R&B Esther Phillips entoa na sequência o dolorido "Black-Eye Blues", uma canção que parece um curta de Spike Lee e retrata o lamento de uma mulher vítima de violência doméstica: "Preciso de uma vacinação", canta Esther, "contra o blues do olho-roxo".

Depois, é hora de uma melancolia mais noventista e grungy tomar espaço, primeiro com o Afghan Whigs ("You can fuck my body, babe, but please don't fuck my mind", canta Greg Dulli, sexy como sempre, em "Neglected") e depois com Chris Cornell (que, numa canção de amor das mais belas de sua carreira, diz à sua amada: "Só te amo quando estou down / Mas mantenha em mente: / Estou down o tempo inteiro").

Artistas mais vinculados ao folk e ao country - como Lucinda Williams, Tim Hardin, Wilco e Bob Dylan - também não deixam de flertar com o blues em vários momentos de suas respectivas carreiras, o que justifica sua presença aqui com canções que versam sobre "acordar sentindo-se velho" e trens que causam prantos. Como não poderia deixar de ser, a "fitinha" também dá espaço para artistas profundamente influenciados pelo blues, como Creedence Clearwater Revival, The Kinks e Jimi Hendrix, e aqueles que lá nos primórdios marcaram a história do gênero, como a fabulosa Bessie Smith, primeira imperatriz do Blues.


O falecido Elliott Smith, um dos maiores talentos da música americana no pós-Jeff Buckley, também demonstra quão sublime pode tornar-se um lamento musicado na linda "Junk Bond Trader". E, convenhamos, só quem manja muito de tristeza pode suicidar-se com uma facada no coração, como fez Elliott anos atrás, mutilando seus fiéis cultuadores (há boatos, porém, de que a misteriosa morte possa ter sido homicídio, como sugere a matéria no Guardian...)

 E para não dizerem que blues só tem a ver com soturna gravidade, aí estão os sempre irreverentes Mutantes para provar o contrário: "Meu Refrigerador Não Funciona", do clássico A Divina Comédia (1970), é uma espécie de blues-paródia, em que a intensidade da performance constrasta com a "mundanidade" do tema: eis um queixume altamente dramático sobre uma grande desgraça que aflige a condição humana, isto é, cerveja esquentando quando a geladeira pifa. Rita Lee nunca foi tão Janis Joplin. E o blues nunca foi tão feliz.



16 tracks in playlist, average track length: 3:58
Playlist length: 1 hour, 3 minutes, 40 seconds

[download gratuito]

01 - Miles Davis - Red China Blues (4:09)
02 - The Beatles - Yer Blues (3:57)
03 - Tom Waits - Fumblin' With the Blues (3:02)
04 - Esther Phillips - Black Eyed Blues (6:10)
05 - Afghan Whigs - Neglected (4:01)
06 - Chris Cornell - When I'm Down (4:20)
07 - Tim Hardin - How Long (2:54)
08 - Wilco - When You Wake up Feeling Old (3:55)
09 - Lucinda Williams - Can't Let Go (3:28)
10 - Bob Dylan - It Takes A Lot To Laugh, It Takes a Train to Cry (4:09)
11 - The Kinks - Little Miss Queen Of Darkness (3:16)
12 - Elliott Smith - Junk Bond Trader (3:49)
13 - Creedence Clearwater Revival - Before You Accuse Me (3:26)
14 - Jimi Hendrix - Red House (3:43)
15 - Os Mutantes - Meu Refrigerador Não Funciona (6:22)
16 - Bessie Smith - After You've Gone (2:59)

[+] mixtape número 8 (clash, stones, hendrix, ccr, karen o, black mountain...)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

<<< Tropicalia ou Panis et Circenses >>>


(Manda brasa, mestre Tatit!) >>> "Sou de uma geração em que a canção brasileira lançou olhares para todos os cantos do mundo, todas as épocas, todas as idades, todas as faixas de consumo, de maneira que, volta e meia, tenho desejo de reviver essa espécie de rito de passagem para uma outra esfera cancional, muito além da sonoridade "brasileira" constituída até a bossa-nova. Tropicália é - e sempre será, ôi-iá-iá - a liturgia dessa passagem deste "Miserere Nóbis" (Gilberto Gil e Capinan) até o "Hino do Senhor do Bonfim" (João Antonio Wanderley). Acho que Rogério Duprat estava especialmente iluminado quando pôs toda a sua perícia de maestro arranjador e compositor erudito a serviço de uma intervenção decisiva na história de nossa música. Basta verificar o cuidado com que o músico trata cada faixa tendo em vista o rito global que o disco celebra.

Os tiros de canhão que demarcam a tênue zona de fronteira entre "Miserere Nóbis" e "Coração Materno" (Vicente Celestino) estão na verdade anunciando o extraordinário esforço de interpretação que Caetano Veloso investe numa canção totalmente estigmatizada pela rigorosa triagem bossa-novista. É como se o modo de cantar equilibrado compensasse os sinais melodramáticos e recuperasse um estilo que ajudou a definir os contornos de nossa sonoridade. Ou seja, nada é apenas supérfluo.

E o rito tem continuidade com as frases melódicas ascendentes de "Panis et Circenses" (G. Gil e C. Veloso) e com a imagem da ceia na sala de jantar. O canto dos Mutantes, com The Mamas & The Papas nas veias, dizendo versos desconexos mas ecoando sentidos para todos os lados, é a encarnação do viço tropicalista que se propagaria pelas décadas de 70, 80, 90... até hoje.


No bolero "Lindonéia" (G. Gil e C. Veloso), o isolamento da personagem se concretiza plenamente na voz de Nara Leão, e as imagens são mais pictóricas do que literárias. As linguagens falando no ambiente tropicalista. A faixa seguinte, "Parque Industrial" (Tom Zé), sempre me pareceu conter uma verdadeira simbiose entre o arranjador e o compositor. O lado happening dessa canção, que pela primera vez no disco reúne os 4 principais nomes do movimento (Gil, Gal, Caetano e Tom Zé), evoca o convívio anterior de Rogério Duprat com o experimentalismo erudito; o maestro, por sua vez, sempre entusiasta das referências à sociedade industrial, deve ter visto na canção de Tom Zé o campo ideal para plantar suas figuras sonoras. Há entre esses dois um misto de taleno, afinidade e até compleição física que me faz pensar nessas simbioses fecundas que só duram uma criação.

"Geléia Geral" (G. Gil e Torquato Neto) é o manifesto ideológico do movimento com um jogo alucinante de passado e futuro. "Baby" (C. Veloso) é o próprio futuro da canção brasileira, pós-Beatles, pós-Paul Anka e pós-Celly Campello. "Três Caravelas" (Algueró e Moreu) é o passado que se espraia por toda a América hispânica. "Enquanto Seu Lobo Não Vem" (C. Veloso) é o presente imediato em que o desejo se manifesta independentemente dos limtes. "Mamãe Coragem" (C. Veloso e T. Neto) é o próprio rito de passagem com suas dores e alegrias. Depois disso, só o jogo intersemiótico de "Bat Macumba" (G. Gil e C. Veloso), que se converteu em canção única, irrepetível como composição.

Fico pensando: como pode um disco-manifesto não ser um disco datado? Mas logo me lembro de Sgt. Pepper's, da mesma época, e não penso mais nisso.
 





 Este texto aqui reproduzido,
de autoria de Luiz Tatit,
saiu na coleção "Ilha Deserta",
da Editora Publifolha, pgs. 115-117.













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(192 kps, 52 mb)