Prezados colegas que visitam este blog, recentemente escrevi uma crítica onde lamentava o fato do comodismo, da letargia, da preguiça e do auto-aprisionamento engessar a maioria dos músicos e cantores brasileiros, assim como a própria conduta crítica do público, a chamada auto-crítica que cada um de nós temos de ter ao digerir música ou qualquer outra expressão artística -- leiam-na aqui. Neste post, porém, venho com uma seleção modesta de dez excelentes álbuns de MPB que trazem em si o que falta -- ou o que devia existir -- na música brasileira: renovação e inovação, ousadia e criatividade, atualidade e contemporaneidade, fluência musical e identidade própria, arranjos bem elaborados e letras inteligentes, performance e improvisação -- enfim..., estes dez álbuns mostram que é possível, sim, se produzir canções onde o decorativo seja a arte acima do artista, acima da fama. Sim, e por ora são apenas dez, pois, vias de fato, a MPB, além de estar sendo melecada pela mídia com equivocadas versões popularescas de música popular brasileira (como é quando querem sofisticar Ivete Sangalo como uma "cantora de MPB", por exemplo), não tem apresentado um cenário ousado ou criativo de si mesma -- e quando o fez, através de uns poucos cantores em raros momentos de espasmos criativos, isso ressoou apenas nos circuitos elitistas e nas mídias independentes, não chegando à população pela grande mídia, uma vez que a grande mídia, a propósito, está mais preocupada em obter lucros comercias através de material descartável e modinhas de verão, que são mais fáceis de vender. Outro fato resultante da desvalorização da MPB em solo tupiniquim é o êxodo de grandes artistas da música brasileira para solos americanos e europeus, onde a música criativa é mais apreciada. Uma pena, pois este seria o momento de surgirem artistas mais descompromissados com a fama pela fama e aquele glamour besta de cantores de (ou para) abertura de novelas e mais compromissados em fazer arte com a canção -- já que se trata de um momento onde os circuitos underground e independentes são os únicos que ainda apoiam uma MPB contemporânea e criativa, tal como era a música popular brasileira nos tempos da Tropicália. O problema, no entanto, não é de quantidade e coerência: há uma legião de novos artistas fazendo uma MPB até medianamente audível em termos de música e poesia (como é o caso de Maria Gadú e Marcelo Jeneci), mas na maioria das vezes o que se ouve destes é algo "bonitinho" demais, simplista demais, coerente demais, "universitário" demais, elitista demais, ou algo muito na onda do "coqueluche-brega-pop" -- em alguns casos até muito assumidamente comercial, letárgico, acomodado, quando não com aquele romantismo banal que não fica longe das letras presentes em canções de grupos de pagode. O problema, então, é de qualidade, criatividade, coesão e ousadia dos projetos: falta arranjos mais criativos e mais contemporâneos, falta uma boa e criativa instrumentação, falta o risco da improvisação e da performance, falta o risco de uma poética mais inteligente nas letras (aquela capaz de instigar as pessoas a refletir), falta identidade própria (há muitas cópias de Marisa Monte rolando por aí...) e, principalmente, falta uma postura mais compromissada com as realidades (políticas, econômicas, sociais, culturais...) do mundo atual -- aliás, essa tal postura do artista engajado realmente foi algo que se perdeu na música criativa ( a pergunta é: isso seria pelo fato das pessoas estarem ascendendo à classe média e, portanto, estarem apenas ocupadas com o entretenimento proporcionado por seus carros, notebooks, tablets e smartphones ou será que já evoluímos para um mundo perfeito e sem pobreza, um país de justiça ou democracia perfeitas?). Mas nem toda música no Brasil é sertanejo universitário ou "fanqui carioca", nem todos os novos artistas da MPB aderiram às facilidades e aos padrões estilísticos para tentarem se vender mais, e nem só de MC's de "fanqui carioca", Michéis Telós, Claudias Leites e Ivetes Sangalos a música brasileira está repleta. Neste post, seleciono alguns dos álbuns contemporâneos, de cantores mais famosos ou menos famosos, que, ao meu ver, contribuíram para a década de 2000 não ser uma década perdida em termos de MPB -- e o faço com audácia, sinceridade e com a visão de música enquanto arte: com estrelinhas, entrelinhas e tudo! Apesar de listar Djavan -- um meus favoritos entre os veteranos --, ficaram de fora meus preferidíssimos Tom Zé e Marisa Monte e outros panteões já a décadas massificados como Chico Buarque e Caetano Veloso. As resenhas estão repartidas entre minhas e as retiradas de outros sites jornalísticos. A ênfase está em discos autorais, mas também há espaço para discos de intérpretes especiais. Convido cada leitor a fazer sua lista com alguns dos seus álbuns e artistas preferidos no campo para comentários!
Josh Nelson/Kevin Van Den Elzen: West Coast Echoes
-
Pianist Josh Nelson and drummer Kevin Van Den Elzen (with bassist Eric
Sittner) revisit the glory days of West Coast jazz in the 1950s and '60s on
West Co...
Há 4 horas