Uma das tretas mais intrigantes -- e às vezes até inútil -- que um pesquisador musical possa ter é tentar rotular ou categorizar determinados músicos, criadores, artistas e compositores pós-modernos: isso porque uma das características do pós-modernismo é o ecletismo, a ausência de uma dicotomia entre tradição e vanguarda e de um conflito entre popular e erudito. Frank Zappa (1940–1993), Alfred Schnittke (1934—1998) e John Zorn, dentre outros, são, cada um ao seu modo e cada um com suas características estéticas, alguns dos maiores nomes da música pós-moderna -- e se eles podem ser considerados vanguardistas e radicais, eles também podem ser considerados, de certa forma, tradicionalistas, pois já aplicaram misturas diversas entre estilos de musicas mais radicais e estilos de músicas mais tradicionais. Neste post apresento-vos cinco registros pioneiros para um dos procedimentos pós-modernistas: a colagem musical. Muitos dizem que este procedimento criativo foi precedido pelo compositor americano Charles Ives (1874-1954): considerado o primeiro grande compositor americano, ele foi um revolucionário que precedeu várias descobertas reveladas pelos grandes compositores europeus da música moderna: em suas composições, além de beirar ao atonal e ao cacofônico, ele fazia uso de recortes de trechos de hinos tradicionais, canções populares, de temáticas indígenas e de aspectos do jazz e do blues. Décadas depois, após as tantas novidades e um suposto esgotamento das várias possibilidades os quais a música moderna já havia revelado, a técnica da colagem passaria a ser explorada como uma nova possibilidade composicional: Frank Zappa com Lumpy Gravy, Luciano Berio com sua "Sinfonia" e Alfred Schnittke com sua Sinfonia No.1 e seu Concerto Grosso No.1 são exemplos pós-modernos e pioneiros do uso da colagem com recortes diretos e indiretos, ou seja, recortes esses que poderia aparecer através de citações indiretas a determinadas obras e períodos históricos ou de trechos retirados diretamente de peças compostas por outros compositores. Schnittke, aliás, foi além: ele usou, sim, recortes diretos em peças suas, mas seu trunfo foi unir procedimentos que vinham desde a música renascentista, o barroco, o clássico e o romântico até chegar na música moderna, criando uma linguagem composicional que ele chamou de "poliestilismo". Em "Sinfonia" (1969), obra revolucionária que une a voz (falada e em coral) com uma orquestração cacofônica, Luciano Bério (1925-2003) usou recortes de trechos literários de James Joyce e Samuel Beckett e de peças de Debussy, Ravel, Stravinsky, Schoenberg, Webern, Brahms e até contemporâneos como Hindemith, Boulez e Stockausen, com maior destaque para as citações da Sinfonia nº 2 de Mahler. Em Lumpy Gravy -- álbum gravado um pouco antes que a "Sinfonia de Bério", lembre-se --, Zappa levou a colagem ao extremo da criatividade, precedendo algo que John Zorn faria quase 20 anos depois no álbum The Big Gundown, onde transverteu as composições de Ennio Morricone em arranjos nada convencionais. E como vocês verão, até o grande improvisador Eric Dolphy (1928–1964) já flertava com as possibilidades colagem: as faixas reunidas no álbum Others Aspects (1960-64) precede, quase como uma premonição, alguns aspectos entre voz e cacofonia vistos na "Sinfonia" de Bério. Contudo, é preciso lembrar que, apesar dos tais exemplos advindos desde a década de 60, a técnica da colagem ainda foi pouco explorada na música contemporânea e ainda pode ser vista como um procedimento criativo inesgotável. A esperança, então, é de que apareça muitos outros artistas que sejam capazes de trabalhar com este procedimento.
Josh Nelson/Kevin Van Den Elzen: West Coast Echoes
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Pianist Josh Nelson and drummer Kevin Van Den Elzen (with bassist Eric
Sittner) revisit the glory days of West Coast jazz in the 1950s and '60s on
West Co...
Há 4 horas