Mostrar mensagens com a etiqueta estágio. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta estágio. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 24 de julho de 2012

Vou ali, já venho, PE

Hoje é o meu último dia.

Daqui a pouco vou entregar o relatório de estágio e não me apetece. E vou ter que arrumar a secretária e também não me apetece. Mandar papéis fora, devolver canetas, arrumar os saquinhos de chá que entretanto sobraram, lavar a caneca, apagar as minhas pastas deste computador.

Últimos dias são sempre merdosos. Especialmente quando se parte para umas férias indefinidamente longas.

Mas estou confiante. Consegui que a minha supervisora me desse um abraço de despedida, o que, sendo ela alemã, considero um feito e acho que era coisa que devia constar no meu CV ou assim.







S.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Networking-fobia ou "Porque é que eu nunca irei a lado nenhum"

No geral, não gosto de pessoas. Ou melhor, gosto de observar pessoas, mas desde que elas não queiram interagir e falar comigo e assim.

Pronto. Podia parar por aqui que estas duas frases resumem a minha natureza anti-social. Mas permitam-me elaborar na matéria, até porque hoje foi dia de conferência de empregos para estagiários do PE e a culpa moe-me um bocadinho por dentro. E nada melhor do que uma historieta para ilustrar a primeira afirmação deste post.

O trabalho aqui em Bruxelas mostrou-me, por experiências alheias, que desenvolver uma rede de contactos é crucial para uma pessoa ir a algum lado. Podemos ter o talento e o mérito todo do mundo, mas se ninguém nos conhecer, se não fizermos um esforço por nos promovermos, pouco vale esse talento.

Muitos estagiários levam isto muito a sério e aproveitam cada oportunidade que podem para falarem com pessoas, especialistas, etc, que trabalham nas áreas do seu interesse e ligadas a matérias nas quais gostariam de trabalhar e formar carreira. Muitos têm cartões de visita (literalmente, aqueles business cards com uma espécie de slogan e os contactos da pessoa), outros têm assinatura personalizada nos e-mails. No final das conferências não hesitam em apertar a mão aos experts, apresentam-se com um grande sorriso e sacam do tal business card com um "call me" inscrito na postura e no olhar.

Sim senhora, gente que faz pela vida e não espera que as coisas lhe caíam no colo. (Eu sei que há uma linha ténue entre o networking e a muito familiar e portuguesa cunha, mas para o caso vamos imaginar que isto é tudo legítimo, até porque eu sei que a grande maioria destas pessoas de quem falo não lhes falta mérito académico, linguístico e até profissional.)

Ora, eu vejo estas coisas todas com um misto de surpresa, descrédito e uma pontinha de inveja pela lata que é preciso e que me falta em grande dose. Porque a verdade é que eu sou das pessoas mais socially awkward que conheço. A sério. Odeio conversa de circunstância, tenha brancas com palavras, sou introvertida, ergo uma espécie de barreira invisível à minha volta sempre que conheço pessoas novas e a máxima do "se não tens nada de jeito para dizer mais vale estares calada" é uma espécie de mantra da minha vida. Odeio falar de mim (o blog não conta porque é escrito e não há interação direta). Logo se deduz que o networking seja uma espécie de inferno para uma social misfit como eu.

E no outro dia tive a prova.

Em trabalho, fui assistir a uma conferência aqui ao lado no Comité Económico e Social. Uma coisa muito bem organizada, muito mais populada do que o costume e onde a cada pessoa foi dado um cartão para por ao peito e um papel para meter na ranhura da mesa à nossa frente. Porque, como estão presentes muitas ONGs e outras organizações interessadas, estas conferências funcionam muito como plataformas de ligação para pessoas com os mesmos interesses e a trabalharem nos mesmos assuntos se encontrarem e colaborarem umas com as outras. Para networking, enfim.

Cheguei lá com a minha supervisora e, enquanto esperávamos pelo início, ela meteu conversa com as pessoas da mesa da frente. Em menos de dois minutos, e sem saber bem como, tinha eu três cartões de visita na mão e a outra vazia sem nada para devolver. "Eu sou só estagiária, senhores, parem de olhar para mim como quem espera receber um cartão pomposo de volta!", apetecia-me desabafar. Hoje um dos apresentadores na conferência de empregos ralhou connosco para nunca nos apresentarmos como estagiários, nunca. Que um funcionário também nunca se apresenta como "Estou no grau 86847 e trabalho na Comissão de Justiça". Culpa, culpinha...

À tarde, durante as pausas para café, o networking da sala desenvolvia-se a olhos vistos. Eu, que de manhã tinha apanhado uma crise de fome desgraçada, porque tinha comido às sete da manhã e esta gente acha por bem fazer conferências de cinco horas seguidas sem nenhuns cinco minutos de pausa, decidi aproveitar para sacar da mala e da bolacha e ficar sossegadinha no meu lugar a mirar a míriade de participantes na conferência.

Estava eu a apreciar a minha primeira bolacha, agarradinha à mala e a apaziguar a minha barriga que já gritava "Tu não me faças isto outra vez!... Hipoglicemia não te diz nada, minha menina? Olha que eu digo ao cérebro para se apagar e tu dás um tralho dessa cadeira que nunca mais vais esquecer...", quando um senhor se aproximou da minha mesa e exclama um simpático "Bom dia!".

Juro que tentei não saltar da cadeira e não arregalar muito os olhos de surpresa. Não tenho a certeza que tenha funcionado. Eu repliquei um "Boa tarde" ainda meio surpreso, ao que se seguiu as perguntas da praxe "O que faz aqui em Bruxelas?", "Trabalha para o quê?", etc. No fundo, este senhor viu o meu nome escrito no papel à minha frente, nome portuguezinho da silva, e ficou curioso por saber o que faria uma compatriota naquela conferência.

Ali estava eu, de mala no colo e bolacha na mão, sem saber se me levantava (mala a estorvar), se apertava a mão ao senhor (bolacha na mão, não dá) e a tentar esconder o ar de surpresa por alguém se ter dirigido a mim, ainda mais em português, enquanto respondia às perguntas de introdução a mastigar ainda a primeira dentada da bolacha. Após duas ou três perguntas introdutórias, sem grande seguimento da minha parte, o senhor lá se despediu e foi para o seu lugar. Eu pude acabar a bolacha que entretanto estava a ganhar pó na minha mão e matutar no que se tinha acabado de passar.

No fundo, sou tão má no networking que tem que ser o networking a vir a mim. E ainda assim eu enxoto-o. Sou uma espécie de cúmulo do anti-networking

O à-vontade e a "lata social" são coisas que se treinam. Eu sei disso. Já fui ainda pior e começo a acreditar firmemente que se estivesse mais uns meses aqui no Parlamento desemborrava-se-me a língua a pouco e pouco. No outro dia fiz uma pergunta numa conferência! Está bem que demorei dez minutos até decidir a por o dedo no ar e só estavam umas vinte pessoas na sala, mas o que interessa é que atraí as atenções sobre mim onde elas não foram pedidas, e isso é o mais difícil, como qualquer introvertido sabe.

Próximo passo será uma apresentação de investigação perante plateia de especialistas, quase a chegar. Mas essa será uma hiperventilação para próximo post.







 S.



P.S. Agora é só esperar que o meu futuro empregador, seja ele qual for, não dê de caras com o meu blogue, não perceba um chavelho de português e ignore a existência do Google translate...   

segunda-feira, 25 de junho de 2012

A bolha eurocrata

Sempre que as pessoas perguntam o que é que eu faço no meu estágio aqui no Parlamento tenho alguma dificuldade em explicar em apenas duas ou três frases curtas. Acabo sempre por dizer "Então... Faço pesquisa relacionada com os direitos das mulheres na Europa." Normalmente as pessoas olham com um misto de admiração, estranheza e incredulidade: "O quê, direitos das mulheres?? Na Europa??". Um ou outro mais curioso persiste e eu então vejo-me à rasca para especificar sem entrar em detalhes infinitamente aborrecidos de como o Parlamento está dividido em comissões temáticas, como para além dessas comissões existem secretariados e departamentos de diferentes políticas, e ainda as famílias políticas que englobam diferentes partidos políticos nacionais.

Felizmente, há aí um grupo qualquer de géniozinhos brilhantes e mordazes em Bruxelas que decidiu resolver o meu problema e criar uma série a satirizar este mundo eurocrata que gira em torno das instituições europeias aqui na capital belga. 

E eu já chorei a rir (e as filmagens ainda nem começaram). Porque aquela porcaria é mesmo certeira.

O nome é EUROBUBBLE e pretende entrar no mundo das instituições da UE através da pele de várias personagens-tipo: o estagiário, o policy officer, o assistente do deputado europeu, o lobbyista, etc.

Neste momento encontram-se no processo de casting para preencher estas personagens, e por isso têm no website dedicado à série satírica uma descrição de cada personagem-tipo que pretendem figurar. Assim temos o policy officer, francês, entre os 25 e os 30 anos com um estágio na Embaixada do não-sei-quê e experiência numa consultoria; o Daniel, alemão, que trabalha numa consultoria para tentar conseguir um emprego na Eurobubble, sempre muito diligente, típico germânico; a Svetlana, rapariga eslovena que frequentou todos os cursos e mais algum, trabalha que se desunha, e é assistente de um eurodeputado. 

O trailer não revela muito - as descrições das personagens e situações é que dão para antever que aquilo vai ser de uma espirituosidade brilhante - mas aqui fica:


Para culminar em beleza, estes senhores produtores deram-se ao trabalho de compilar um gráfico que exemplifica de forma assustadoramente certeira em que consiste a vida de um típico estagiário das instituições europeias:



Para a próxima, quando me perguntarem em que consiste o meu trabalho, já vou saber que:

- 40% passo a drafting stuff
- 10% em Excel stuff
- 10% em random committee meetings
- 10% em complaining not having enough work

(E claro, a parte também importante do visiting cities)

Mas foi esta frase que me conquistou:

"As pessoas na Bolha usam 'Stagiaire' e outras palavras francesas aqui e ali para agradar aos franceses e para os fazer sentir que a língua deles ainda é utilizada, para os manter calados e para dar um certo toque exótico à Bolha. Charmant, não?"

Há o sério risco de eu perder a cabeça e ir participar nas filmagens desta coisa para pura diversão, pá...



S.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O futuro é um lugar estranho

Por cada post de observações, de aleatoriedades, de constatações mais leves, há sempre um mais sério que guardo para mim. As dúvidas existenciais são mil vezes mais profundas, provavelmente mais interessantes (para amigos e família, claro), são o triplo do tamanho, mas são infinitamente mais difíceis de escrever. Afinal, não é fácil ser eloquente quando nem nós próprios sabemos o que pensar.

Há um ano estava aqui, neste preciso ponto e com estas mesmas angústias de "o que fazer agora?". As semelhanças são tantas que parece que estou a viver um dejá vu. Estava a acabar uma coisa em que me tinha metido (antes mestrado; agora estágio), enviava currículos atrás de currículos sem obter resposta, encontrava-me num país que não era o meu e as intenções de ficar eram abaladas pela não perspetiva de sustento futuro. O regresso a Portugal estava lá, como plano Z que foi subindo as letras do alfabeto, devagar mas certo, até se tornar o plano A. Terá Bruxelas o mesmo desfecho que Londres? Um mantra repetia-se na minha cabeça "E agora? E agora? E agora?" - desta vez, porque ainda (ou só?) faltam três meses é um "E a seguir? E a seguir? E a seguir?".

Mas depois esforço-me por respirar fundo, largar a preocupação de uma coisa que está fora do meu controlo, e olho para trás. Não, não saltando este último ano para onde me encontrava no início de maio de 2011, mas para o que fiz desde aí e o que me trouxe aqui. O estágio na APAV, a minha primeira verdadeira experiência de trabalho, o estágio que me fez até ansiar por regressar a Portugal, no meio do desânimo que foi desistir do sonho londrino. O que vi e aprendi e o primeiro contacto prático com a UE. As pessoas inesquecíveis que conheci. Desconfio que esta experiência foi a grande responsável pelo sucesso da minha candidatura ao Parlamento Europeu, à realização do meu sonho de trabalhar nas instituições europeias, e se não fosse também por tudo o resto, só por isto a APAV teria a minha gratidão eterna. O projeto de base de dados dos deputados britânicos. O curso sobre o Tratado de Lisboa à noite, na Clássica, que me fez agradecer a todos os anjinhos o facto de ter entrado antes na Nova. Mas que ainda assim me foi muito positivo. As aulas de Inglês aos miúdos, xii... as aulas! O respeito monstro que ganhei por professores a tempo inteiro. O artigo académico que publiquei. Os artigos semanais para a Next Europe, que continuam.

É preciso que esta enumeração substitua o mantra do "E a seguir? E a seguir? E a seguir?" para que eu me lembre do que fiz num ano e no que posso voltar a fazer em mais um. Para acalmar o espírito controlador do destino e do "Para onde? Para onde? Para onde?" e assegurar-me de que, seja onde for que tenha de ir, lá chegarei. Daqui a um ano estarei noutro sítio qualquer a fazer algo que de certeza ainda não faço ideia do que será. Mas as peças irão encaixando, porque é mesmo assim a vida.

Avisaram-me que seria assim, este par de anos a seguir ao término dos estudos. Aliás, continuam a avisar. Entre todos nós, estagiários, vindos de percursos diferentes e de nacionalidades diferentes, uma coisa nos é comum: este não é o primeiro estágio. Para muitos de nós, não será sequer o último. Alguns andam nisto há muitos anos, (demasiados), outros ainda lhe estão a tomar o gosto (muito cedinho ainda). Para alguns, o peso dos sucessivos estágios já chegou ao limite, outros estão agora a começar a experimentar o aborrecimento da vida constantemente temporária. Posto assim em perspetiva, sei que não posso ainda descartar a hipótese de novos estágios nem exigir já um emprego permanente e remunerado. Mas a mesma pessoa que avisou que estes dois anos iriam ser assim também disse algo que eu memorizei e guardei para futuro uso: "You're worth a salary". Chegará o dia em que eu terei de dizer "basta", se não for o emprego a chegar primeiro.

Estas são as agrúras normais e esperadas de quem atingiu a maioridade laboral no meio de uma crise sem precedentes nos últimos 80 anos. Mas há uma dúvida insinuosa, mais incómoda e mais existencial, que torna a incerteza de trabalho futuro mais aguda. Ela prende-se com o desencanto de um sonho, um bocadinho à imagem do desencanto pela América mas não completamente... Porque este não é o desencanto pela UE em si, é antes o desencanto por um trabalho dentro da mesma. E custa admitir, oh, se custa! Persegui este objetivo durante anos, como não há-de custar confessar que talvez não seja bem isto que eu quero fazer?

Escrever isto aqui torna-o mais definitivo. Está cá fora, foi partilhado, não pode ser ignorado. Não é o encerramento do fascínio pela UE, de todo. Mas é o encerramento das ilusões sobre um policy job dentro da UE. Entretanto, a Europa mantém-se um objeto de fascínio para o estudo. E agora, o doutoramento, relegado para o segundo plano da minha mente, começa aos pulos efusivos porque até ele já percebeu, ainda que eu tenha demorado a admitir, que fará parte da minha vida a curto-prazo.

Porque o que me faz mesmo feliz, no que eu sei que sou mesmo boa e que se tem mantido uma constante na minha vida e especialmente neste último ano, é escrever. Debitar palavra no papel, traduzir, rever, editar. Partilhar, seja histórias, seja observações, seja notícias sobre a Europa, seja argumentos para defesa da igualdade de género, seja a construção de artigos sobre estudos de caso, devidamente apoiados por investigação científica. É o único meio em que me sinto à vontade para partilhar e o consigo fazer eficazmente (má, tão má no debate em falatório, credo). As experiências do último ano vieram certificar e selar a certeza do que eu acho que desde sempre soube. Tenho muito que aprender, pois claro que tenho. E muito curso avulso que tirar para sistematizar algo que apenas faço amadoramente. Mas é um percurso no qual me vejo a gostar realmente do que faço, diariamente.

Escrever, seja em forma de artigos seja em pesquisa académica, dar-me-ía outra coisa que eu tenho vindo a valorizar cada vez mais: a gestão autónoma do meu tempo. Os múltiplos projetos do último ano habituaram-me a tal. E, mais importante, fizeram-me ver que é possível. Era voluntária em dois projetos britânicos e nunca desde então pus o pé em solo londrino (graduation não conta). O escritório é irrelevante neste tipo de trabalhos, horário das 9h-17h, idem. 

Por isso, é com o coração um pouco mais leve desde o início deste post - blog catártico, é o que isto é - que eu confesso: o meu nome é S. e o meu futuro já não está nas instituições europeias diretamente, mas na escrita, jornalística e/ou académica. Assim, no máximo que me é possível antever, acho que serei feliz profissionalmente.






S.   

P.S. - E agora meter aqui no meio disto tudo os direitos das mulheres e a igualdade de género, coisa que me toca cada vez mais e me estimula o intelecto? Argh... Fica para outro dia, que neste pedaço de escrita esgotei as confissões todas para um mês!