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segunda-feira, 11 de junho de 2018

As coisas mundanas são muitas vezes as mais significativas

Por exemplo, como hoje, quando apaguei o blog sobre assuntos europeus da LSE dos meus RSS feeds, e o substitui pelo blog sobre política britânica. Ou como há um ano, quando parei de estudar francês e alemão, sem perspetiva de voltar a essas línguas.




S.  


(O dia 24 de junho de 2016 foi o dia mais determinante da minha vida e o mais surpreendente de tudo é que isso me foi claro como água na altura. E água da nascente da Serra da Estrela, não do Tejo ou do Tamisa. Não é muito comum se poder atribuir rumos de vida a um evento específico mas no meu caso está mais do que atribuído.)

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Ocupar o cérebro

Curiosidades curiosas que uma pessoa aprende numa manhã de trabalho:

- na lista de países da UE, alfabeticamente e em inglês, a Alemanha vem logo a seguir a França;

- e logo a seguir à Alemanha vem a Grécia;

- o UK é sempre o último;

- o ministro da justiça luxemburguês é de origem portuguesa (os dois pais são portugueses);

- em três meses, 4 dos ministros da justiça dos 28 países europeus mudaram de funções;

- a portuguesa não foi um deles;

- os ministros da justiça dos três países escandinavos são ministras; 

- Malta não tem ministério da justiça;

- o prémio de nome mais aliterado de ministrx da justiça vai para Baiba Broka, da Letónia.

...

E o sol a brilhar lá fora, maldito.







S.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Cortar raízes mais uma vez

Andei durante tantos meses a lidar com o dia de hoje e o dia de ontem e o dia de anteontem e o dia de amanhã, escrevi tantas vezes 15 May, 16 May, 14 May, 17 May em tantas listas de participantes, tantos convites, tantas atualizações de programas de trabalho, tantos emails que agora estes dias parecem-me surreais. Olhar de relance o relógio e ver "16 May" lá escrito é bizarro. É isto, é agora.
 
E depois destes dias surreais começa a contagem decrescente para o mergulho no desconhecido. Já olho Bruxelas com friozinho no estômago.



S.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Edimburgo merece muito mais que a referência a um chá de whisky

"Edinburgh is a mad god's dream, fitful and dark". Era assim que começava um dos poemas gravados no muro do novo parlamento escocês. Um de muitos, uns em inglês, outros em gaélico, mas que ficou comigo porque é uma ode à atmosfera mágica, meio impenetrável e milenar desta cidade que, para mim, is the loveliest in the world

Não tem a beleza óbvia e por vezes irritante de Amesterdão, nem o rigor, limpeza e ordem germânicos de Estrasburgo; ao invés, é uma cidade escura devido à pedra uniformemente acastanhada, gasta e poluída pelos séculos, com que os seus edifícios são invariavelmente construídos. É escura, mas sem nunca ser sombria. Edimburgo é uma cidade sinuosa, de altos e baixos, de becos e ruelas muito estreitas, mas nunca é duvidosa, assustadora, suspeita. Não há um graffitti nas suas paredes, não obstante a fama estereotipada dos escoceses para a, er... selvajaria. É uma cidade segura, com uma qualidade de vida extremamente invejável não obstante o tempo que faz.

O tempo que fez a semana passada foi extraordinariamente benevolente para connosco. O sol brilhou, durante muitas horas, muito frequentemente, e a chuva manteve-se ao largo. Vi o azul do céu escocês, vi o dia nascer às quatro da manhã e fechar-se às onze da noite. Andei na rua às dez da noite não vendo vivalma, estranhando a ausência de gente e de lojas e cafés abertos, porque a luz do dia dizia-me, enganosa, que eram cinco da tarde. A frase que mais ouvi repetida das bocas dos locais foi "It's hot, isn't it?" porque claramente 18 ou 19 graus no final de maio equivale a vaga de calor na Escócia. Eu encolhia os ombros, sem dizer nada, porque claramente as perceções de calor variam muito na Europa e, francamente, deviam ver o que são 35 graus em Lisboa para conhecerem o calor!

Ganhei um respeito e sobretudo um carinho muito grande pelo povo escocês. Consigo agora entender e distinguir a sua individualidade que me tinha largamente escapado das primeiras vezes que visitei a Escócia de fugida. Os elementos que fazem a minha consciência acenar que sim, que estou no UK, estão lá - a tomada tripla, os carros em contramão, as distâncias em milhas, o volante do lado direito, o semáforo que acende laranja antes de acender verde, os Neros, as Debenhams, Primarks, Marks & Spencer, Tescos, HVMs, o omnipresente inglês, os autocarros de primeiro andar, o dinheiro esquisito, os Look Lefts no alcatrão, a chaleira no quarto de hotel, o omnipresente chá com leite, tudo grita "UK". Mas isso é para quem olha uma vez. Quem olha a segunda, a terceira, a décima, dá-se conta de um laivo muito forte, secular, cultural, subtil mas invariável, de qualquer coisa que não existe em mais lado nenhum. Primeiro são as bandeiras azuis de cruz branca. que marcam presença nas montras de pubs, em edifícios administrativos, em hotéis. Não como que a marcar uma posição desafiante, nacionalista, com cheiro artificial, mas sim a constatação de um facto. A Escócia existe de facto, os escoceses são um povo, têm uma história própria, verdadeira, distinguível dos ingleses. Mas a bandeira desfraldada no topo do Castelo de Edimburgo é a Union Jack...

Uma colega e amiga revelou-me que os escoceses têm uma mentalidade política profundamente diferente dos ingleses. Bem mais comunitária, mais socialista, mais complacente. Ela disse "We want to succeed, of course, but we want to bring everyone along with us." E isto, afirmou, é algo que os seus amigos ingleses simplesmente não entendem. Sim. Não obstante ter sido a terra natal de um pai do pensamento económico liberal (o que muitos protestariam ser um eufemismo para capitalismo selvagem), Adam Smith, a Escócia é muito mais esquerdista que o resto do UK. O partido trabalhista obtém as suas maiorias parlamentares graças aos deputados escoceses, o partido conservador é fraco da muralha de Adriano para cima e a palavra Thatcher é quase uma asneira nas Highlands. O UKIP, esse partido profundamente anti-Europa, assustadoramente anti-imigração e ridicularmente populista como só quem nunca governou pode ser, não consegue ganhar raízes na Escócia como o está alarmamente a conseguir em Inglaterra. No outro dia - e eu juro que queria ter feito um post sobre isto porque me ri tanto e bati tantas palmas sozinha como uma doida - o Nigel Farage foi a Edimburgo e foi corrido à sapatada de um pub porque o empregado atrás do balcão simplesmente se recusou a servir gente da laia dele. E depois o Farage queria vomitar mais um bocadinho de scaremongering numa conferência qualquer e não conseguiu porque os protestos foram tantos que ele teve que, literalmente, fugir a correr. Diziam os protestantes que não queriam escumalha fascista e homofóbica na cidade deles. O Farage, fulo da vida, lá tentou obrigar o Primeiro-Ministro escocês a condenar os protestos,  numa tentativa demasiado falhada de ligar protestos legítimos de quem não tem paciência para gente que gosta de espalhar o ódio e o racismo, à causa nacionalista, mas foi em vão. O Alex Salmond levantou-lhe uma sobrancelha e basicamente disse que cada um tem o que merece. E que não fosse criança e fosse aprender a argumentar, em vez de espalhar ódio sobre os nacionalistas escoceses. 

A Escócia, ao contrário de Inglaterra, tem uma ligação profunda com o Continente. Gosta dos europeus continentais, percebe a ideia de Europa, sabe o que isso é, sente-se parte. Dizem eles que os escoceses passaram a sua história toda a aliar-se ora com os franceses, ora com os espanhóis contra os vizinhos do sul, e que, uns séculos mais tarde enquanto Londres franzia o sobrolho ora à França, ora à jovem Alemanha e tentava equilibrar a balança europeia, os escoceses mantinham trocas comerciais com o Continente, negociando, trocando, vendendo, comprando, com os primos europeus. Na Europa, a Escócia vê uma oportunidade de ter uma voz, de escapar aos laços que a estreitam e regem em Westminster. Percebi, também, e claro como o dia, que a situação de meia autonomia, meia pertença em relação ao UK - a chamada devolution - não é nada mais que uma transição. Entendo que a independência seja o único passo lógico na luta por uma cada vez maior devolução de poderes. Porque é disso que se trata, devolução. A Escócia foi um país durante séculos, tem uma cultura política diferente da Inglaterra, há uma grande vontade de voltar a ser soberana. Dentro da família europeia, em parceria com a Commonwealth. É uma vontade transversal a tudo o que eu vi, senti, ouvi na Escócia, ainda que não seja unânime. O referendo de 2014 vai ser extremamente antecipado por esta outsider.  

Neste momento, Edimburgo está metade em Westminster. A justiça é gerida pela Escócia em Edimburgo, são os membros do parlamento escocês quem dita as leis do sistema penal da terra. Mas nas reuniões de ministros em Bruxelas, quem se senta à mesa é o Ministro da Justiça britânico, quem dá sugestões para a política europeia, quem decide, quem veta ou aprova legislação europeia, que será depois vinculativa em todas as partes do UK, mesmo nas que ele, nacionalmente, não decide nada. Porque é o UK que é país, estado-membro, não a Escócia. Muita especulação já houve também sobre a pertença da Escócia à UE caso se torne independente: entrada automática ou fase de adesão? Obrigada a adotar o euro eventualmente ou pode manter-se na libra? Os novos cidadãos escoceses perdem o direito a movimentar-se livremente pela Europa e só o ganham quando a Escócia voltar a pertencer à UE? Mas pode a UE retirar-lhes um direito, o de livre circulação, apenas por terem eles exercido o seu direito democrático de votar para a independência? Tanta pergunta sem resposta por não haver precedente. 

Sente-se o peso da História nas pedras da calçada das ruas de Edimburgo. E nas casas, seculares e com o mesmo traçado característico desde o centro aos subúrbios mais longínquos. Evidência de uma cidade que escapou às guerras devastadoras do Continente no século passado. Não se encontra uma capital tão medieval e sistematicamente preservada e autêntica na Europa continental. Acasos felizes que não são só acasos mas consequências de uma geografia muito periférica. Uma geografia que, para além disso, se caracteriza por ter mar à volta. Ser ilha e impossível de invadir a pé e a cavalo, basicamente. Apenas o Parlamento escocês destoa, um edifício moderno, sinuoso, e que consta que sem um único ângulo reto na sua arquitetura. Estranho mamarracho que suscita ódios e amores nos corações escoceses. (Mas eu diria mais ódios.)   

Por falar em ilha, vi novamente e por uma série de acasos muito felizes - estar sentada à janela, ter olhado na altura certa e estar um céu limpo - como a Grã-Bretanha é tão "já ali". É mesmo. Quando se vem do norte e estamos a sobrevoar a costa britânica, surge o mar e logo a seguir o Continente. Abarca-se ambas porções de terra no mesmo olhar, com uma língua de mar que parece ínfima da janela de um avião. É maravilhoso.

Quero muito lá voltar. 




S.    

domingo, 13 de janeiro de 2013

C'est la neige!

Várias coisas conspiram, até agora, para que eu ache o facto de esta semana a temperatura máxima ser de -1º de uma comicidade extraordinária:

- os gritos e risos de pessoas lá fora a brincar com a neve;

- o quarto de hora que ainda há uns minutos o carro estacionado demorou até conseguir arrancar;

- aparentemente aqui só poder estar céu limpo e sol quando estão -4º;

- ainda não ter que ter pegado na bicicleta e pedalar sob temperaturas negativas permanentes (gulp) e portanto estar aqui em casa, de roupa fininha, a aplaudir todos os pontos acima.

Hoje já saí à rua, atenção. E para ir ao ginásio (nunca na minha vida pensei vir a ser capaz de fazer isto - e não me custar). Fui em modo boneco de neve, sem um centímetro de pele destapado e sem conseguir encostar os braços ao corpo, tipo culturista, por todas as camadas de roupa que levava. Lembrei-me do que descobri há dois anos, sobre ter frio nos olhos, o que só acontece quando o termómetro desce abaixo dos zero graus. 

Não será amanhã nem terça que experimentarei o pedalanço a menos de zero, uma vez que estarei a trabalhar por outras bandas, mas o frio cá me espera na quarta-feira e passarei por cá para relatar a experiência. Veremos se é para repetir...






S.

sábado, 10 de novembro de 2012

Nas margens do rio Main

Apesar de um início de viagem atribulado (seis da manhã é demasiado cedo para ouvir berros de um alemão lunático que acha que as câmaras de gás deviam voltar a ser abertas para os ciganos - não estou a brincar, ouvi isto dito tal e qual...), a day-trip a Frankfurt correu muito bem.

A expectativa de que Frankfurt seria só escritórios e uns arranha-céus e pouco mais desvaneceu-se em pouco tempo, especialmente durante o passeio nas margens ajardinadas do rio Main.



Por entre o rio que me fez lembrar fortemente o Tamisa, com as múltiplas pontes transversáveis a pé, o núcleo de arranha-céus como a City, intervalado com praças centenárias, ruelas e lojas deliciosas, sem esquecer os grandes armazéns comerciais e as marcas multinacionais, mas nem tão-pouco um mercado de rua com coisas alimentares tradicionais (ainda não foi desta que provei o mulled wine), os inúmeros ciclistas que me fizeram ansiar por pegar também numa bicicleta e pedalar e pedalar, como em Bruxelas, e a língua tão misteriosa e estranha mas tão familiar ao mesmo tempo (um dia conquistá-la-ei até ao fim, juro aqui), fiquei muito contente por voltar a sentir-me numa cidade, numa verdadeira cidade.

Depois de provar a tradicional salsicha no pão (que não é o mesmo que o hot dog comum, percebi-o), de encontrar a maior loja de chás que já tinha visto na vida e de não ter apanhado uma gota de chuva, cheguei à conclusão que podia ser feliz na Alemanha...



O D. olhou-me com um misto de impaciência e resignação quando lhe confessei tal coisa. "Tá quieta...", diz ele. Eu limito-me a sorrir e a esfregar as mãos como quem diz "We'll see..." Mas sem gargalhada maléfica no fim. Não o quero assustar.

Acabei por trazer dois chás, que mais podia ter eu escolhido, pff. Especialmente depois de ter tropeçado na loja gigante.



O da esquerda é um chá de inverno, meio natalício, e que por cheirar a canela apaixonei-me instantaneamente. O outro é chá vermelho com caramelo, do qual também gostei do cheiro. (Amo quando as lojas tem testers para se cheirar os chás. Se não conheço o nome e não o posso provar na altura, é óbvio que vou lá pelo cheiro. É ver-me nos supermercados a agitar as caixas seladas na esperança que trespasse algum odor, por entre sobrancelhas levantas de transeuntes que questionam a minha sanidade mental. Por isso, lojas que me poupem a estes esforços infrutíferos ganham uma montanha de pontos na minha consideração). Ainda não os provei mas estou esperançosa.



S. 

terça-feira, 31 de julho de 2012

Meu interregno mês de agosto

É surpreendente o quão bem me adaptei à rotina nova que será a minha pelo menos durante o mês de agosto. 

Desconfio que o grande responsável tem sido o ginásio, que me dá um propósito para me levantar, sair de casa, e de ter metas a alcançar. Com os Jogos Olímpicos a passar nas múltiplas televisões de lá, é fácil uma pessoa ser encorajada a pedalar mais um minuto, ou a mexer-se com mais vigor na elíptica. Ainda no outro dia estava eu a caminhar na passadeira quando começa aquele desporto das cambalhotas e pinos e mortais no tapete. Eu olhava fascinada o que o corpo humano consegue fazer, a força com que os braços daqueles atletas os sustentavam de cabeça para baixo e tal só me deu mais vontade de acelerar o passo e melhorar a minha própria resistência.

Fico contente por me aperceber que a minha forma física está razoável, e que faço com menos esforço o que fazia da última vez que frequentei um ginásio (há quanto tempo foi isto, senhores!). Sei que devo isto às caminhadas diárias de quatro quilómetros entre trabalho e casa que fiz durante estes últimos cinco meses, e portanto posso dizer com convicção que funcionou a minha estratégia de poupança financeira em passes + exercício gratuito.

Mais uma vez dou graças por morar a 300 metros do ginásio, 100 de dois supermercados (o que significa que tenho baguettes frescas todas as manhãs), a um quilómetro do Lidl, a 100 metros de uma lavandaria, a 700 de uma zona de lojas e a 600 de uns correios. O que se torna bastante conveniente porque agora, sem a desculpa do emprego, tenho de tomar a minha parte do trabalho doméstico que eu tanto adoro. Se bem que, quando uma pessoa tem todo o tempo do mundo, ele até nem é tão mau.  

Continuo entretida a editar a revista online que tantas dores de cabeça quantos sentimentos de dever cumprido já me deu (Next Europe, que um bocadinho de publicidade nunca fez mal a ninguém), a entrevistar o pessoal empreendedor (idem) e a candidatar com força para vagas de emprego, enquanto penso no que quero fazer da vida a curto-prazo (ahem, doutoramento?). Nada disto é pago, mas note-se que eu pertenço à geração dos escravos bem-qualificados, portanto até aqui nada de extraordinário.

Estou a encarar o mês de agosto como um mês de férias - ao invés de desemprego, que é o que ele é na verdade (sem bem que, pode-se ser desempregado sem nunca ter tido um emprego a sério?) - e a permitir-me saboreá-lo, ainda que seja um agosto sem sol e sem temperaturas acima dos 20 graus nem migrações soalheiras à vista. Pode bem ser o último mês completo de férias que gozo em 40 anos. Por isso o melhor mesmo é aproveitá-lo.




S.

 

terça-feira, 24 de julho de 2012

Vou ali, já venho, PE

Hoje é o meu último dia.

Daqui a pouco vou entregar o relatório de estágio e não me apetece. E vou ter que arrumar a secretária e também não me apetece. Mandar papéis fora, devolver canetas, arrumar os saquinhos de chá que entretanto sobraram, lavar a caneca, apagar as minhas pastas deste computador.

Últimos dias são sempre merdosos. Especialmente quando se parte para umas férias indefinidamente longas.

Mas estou confiante. Consegui que a minha supervisora me desse um abraço de despedida, o que, sendo ela alemã, considero um feito e acho que era coisa que devia constar no meu CV ou assim.







S.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Alsácia sem a Lorena

Enquanto janto os melhores bifinhos com cogumelos que já provei na vida (França tem tendência para me brindar com muitos "o melhor *inserir prato* que já provei na vida"...) tento sintetizar as minhas primeiras impressões da Alsácia. 

Se na Normandia se respirava liberdade (historicamente imaginada), aqui respira-se união (fisicamente sentida). E acabaram de me trazer um chá com uma bolacha Speculoos, que coisa tão doce e estranhamente belga! Neste canto francês com tantos nomes acabados em "heim", a pernoitar numa terra demasiado germânica e cujo nome ainda não sei pronunciar, acabo por não conseguir descortinar se Estrasburgo é mais gálico ou germânico. No fundo, pouco importa, pois pertence áquela classe de cidades com qualidade de vida impossivelmente elevada. Dois mundos juntam-se aqui na Alsácia, dando o melhor de si para formar um resultado de louvar: a organização e eficiência germânica com o bom-viver francês.

A França tem também cheiro a casa, descubro agora. O francês palrado de fundo e os "bonjour!"s dados com alegria não fazem parecer que atravessei quatro países para cá chegar. 

Alsácia é a nacionalidade do meu cão, também (do meu ex-cão - pode-se dizer "ex-cão"? Para não confundir com o atual e não dizer "o meu cão que já morreu". Deve-se poder. E este também é o meu blog, portanto, eu é que sei). Alsácia lembra-me sempre "Lobo da Alsácia", vulgo Pastor Alemão (O pai da Merkel é um pastor alemão. Juro. Na altura tive que ler essa frase várias vezes até ela fazer sentido, mas agora faz.). Saudades que fazem sempre cócegas no fundo do estômago e que não têm a distância da Alsácia a Lisboa, mas da Alsácia ao céu.

Gosto deste centro da Europa. Aguça-me a curiosidade por esses dois países imensos que são a França e a Alemanha e ajuda-me a reparar no quanto ainda me falta da Europa para ver com os meus próprios olhos e calcorrear com os meus próprios pés.





S.


P.S. O Kobo já cá canta, sim. Estamos na fase de reconhecimento um do outro, numa relação que se quer duradora e cheia de alegrias.   

P.S.2 E esta vida de quarto de hotel single é esquisita e solitária para caraças. E eu sou a pessoa mais anti-social que conheço...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A 2ª (ou 1ª?) casa do Parlamento

Amanhã rumarei com a peregrinação parlamentar mensal para Estrasburgo. Diz que é uma cidade incrivelmente bonita e irritantemente organizada e limpa, do tipo Amesterdão, vá.



Cidadezinha medieval e céu azulinho... Até já estou a enjoar a perfeiçãozinha toda e ainda não pus lá os pés... (Isto é só inveja porque Bruxelas não é nem medieval nem tem céu azul)

Mas parlamentos, trabalhos, passeios e medievalidades à parte, estou ansiosa porque finalmente vou buscar o Kobo fónix, já não era sem tempo, mal durmo com a antecipação, agora só falta chegar lá e estar esgotado ou assim, com a sorte que eu tenho, e mais 10 km e aquela cidade era alemã e já não dava porque não havia Fnac nem Kobo para ninguém

Espero, na viagem penosa de cinco horas de comboio de volta, já ter um novo entretém.



S.

domingo, 13 de maio de 2012

Brincar às Uniões Europeias

Fiquei contente por, apesar de estudá-la à exaustão, trabalhar nela diariamente e escrever artigos todas as semanas sobre a mesma, descobrir que me consigo entusiasmar pela União Europeia como quando ainda era um sonho longínquo. Entusiasmar-nos que nem uma criança com o nosso trabalho só pode ser o prelúdio de uma relação saudável com a parte profissional da nossa vida :)

O mapa onde assinalámos, com uma moeda de 1cêntimo a nossa terra natal

Não é todos os dias que se tem a vista do outro lado... (Parlamento Europeu)

Porque 2012 é o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo


A cadeira lusitana no Conselho de Ministros


 O segundo país a receber mais fundos europeus, logo a seguir à Espanha...

A parafernália de posters para pendurar na parede ("Growing Stronger Together", indeed)




S.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ursinhos de goma

A semana passada acabei com o stock de ursinhos de gomas do Parlamento. Desde então não voltaram a repor. Digam-me agora se tenho condições para trabalhar.




S.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Parabéns a alguém

Hoje alguém fez anos no meu andar.

Não faço ideia de quem tenha sido, apenas descobri um pratinho cheio de bombons Kinder e chocolates Merci. E quando abri o frigorífico estavam lá fatias de bolo de anos.

Alguém fez anos, portanto.

Eu agradeci mentalmente os bombons, mas, como disse, não faço ideia a quem.

Fazem falta lugares para as pessoas conviverem, ali. Não há uma mesita para quem quiser trazer comida de casa e comer ali na copa. Onde as pessoas possam fazer um intervalo e beberem um café/chá sem ser na solidão do seu escritório. Claro que existem vários cafés, esplanadas e a enorme cantina - mas isso fica no edifício principal. Não se faz uma pequena pausa para café nesses sítios, quando se tem que apanhar 3 elevadores e andar pelo menos 5 minutos por intermináveis corredores. Para almoçar, sim, mas mesmo assim é simpático - e amigo da carteira, não há como disfarçar - trazer a nossa própria comida de casa e comer no conforto do nosso departamento, sem termos que nos misturar com centenas de pessoas.

Mas isto sou eu, que fiquei mal habituada com o calor humano dos portugueses e com o ambiente caloroso e mais-amigável-é-impossível da organização onde estagiei estes últimos meses. Se calhar estou mesmo mal habituada.





S.

terça-feira, 13 de março de 2012

O mundo é um lugar pequeno - e Bruxelas também

Hoje, terça-feira 13 de março de 2012, larguei o meu vício de sedentarismo entranhado há muito, abandonei o banco do autocarro e fui a pé de casa ao trabalho. É um acontecimento digno da cronologia do Facebook, note-se. Nunca na minha vida fiz commuting a pé. Nunca na minha vida vivi a 2-3 km do trabalho/escola, é certo (excetuando na Primária), mas ainda assim, caminhar 5 km por dia, para uma pessoa que foge de ginásios, desportos e tudo o que acelere a respiração no geral como da peste, é obra. Será que é para manter? Vou esperar incrédula para ver.

Entretanto, deixo-me maravilhar por uma qualidade de vida que não estava à espera. Demorar 30 min do trabalho a casa - a pé, não me canso de frisar! - fazer as compras semanais em supermercados que ficam a poucos quarteirões daqui, deslocar-me a pé para qualquer lado da cidade ou, em alternativa, pegar um dos tipos de transportes que abundam nesta cidade são tudo coisas que sempre invejei na vida de centro de cidade mas que ainda não tinha experimentado verdadeiramente.

Em Londres, apesar de ter todos os serviços e lojas necessárias a dois passos de casa, o que se pudesse considerar minimamente centro da cidade ficava a pelo menos 30 min do lar. A deslocação era algo que só não pesava mais porque feita obrigatoriamente apenas 3 vezes por semana e a horas decentes. Em Lisboa, tinha a vida de subúrbio, fácil somente nas horas de ponta quando os transportes abundam, mas carro-dependente em todas as outras.

Parece que a dimensão de Bruxelas, que ao início me fazia torcer o nariz, está afinal a revelar-se uma grande vantagem.


como gosto de me imaginar a caminhar


eu a caminhar na realidade


S.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Conferências Parte II

Hoje foi dia de nova conferência, a conferência MASTER relacionada com os direitos das mulheres (o dia escolhido não foi coincidência).



desta vez há foto!

Desta vez havia português. Aliás, havia todas as línguas, menos "malti" e "gaeilge". Foi com borboletas no estômago que ouvi uma intervenção em português, num hemiciclo do Parlamento Europeu cheio de gente, gente essa, como não podia deixar de ser, com os auscultadores postos. Eu fiz questão de tirar os meus e pousá-los com muito orgulho ao meu lado, enquanto a senhora debitava palavreado na minha língua.




Se eu ontem pensava que tinha havido muita pluralidade linguística, hoje foi o auge. Segui quase tudo em português, mas às tantas começou-me a fazer impressão uma coisa: só havia dois intérpretes portugueses. Ou seja, nas cerca de dez línguas que se falaram ali, estas duas pessoas partilharam entre si a interpretação para português. Como é possível...! Que me lembre, o homem interpretou de alemão, polaco, grego e outra qualquer. A mulher interpretou de italiano, espanhol, inglês, húngaro e sueco. Poliglota, disse eu?...

E porque é o dia que é e tem tudo a ver, aqui vai:




Com imagens atinge-se uma compreensão maior que com milhões de palavras.

S.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

"Passa-se isto assim assim, de maneiras que amanhã não posso vir trabalhar"



Sabemos que a ronha atingiu níveis indecentes quando:

- só para adiar o trabalho que se está a fazer, considera-se meter a cronologia estúpida do Facebook que se detestava com paixão até há umas horas atrás.

Há uma correlação inversa entre o momento em que eu comecei a ter uma conta de Facebook e o meu attention span, confesso.




S.