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23 novembro, 2020

o ódio propaga-se

“Um pingo de ódio na tua alma é o suficiente para descolorir tudo, como um pingo de tinta preta no leite." (*)

Alguns dicionários definem ÓDIO como um intenso sentimento de raiva, rancor, ira, desprezo, aversão,  antipatia, repulsa, horror.
Todas palavras repelentes, emoções negativas sentidas vezes sem conta nas relações sentimentais e nas relações sociais.
Nas relações sentimentais, com demasiada facilidade o amor se transforma em indiferença, e mesmo em ódio. A forma deficiente como comunicamos uns com os outros, a forma fria como transmitimos os afectos, provoca desilusão e afastamento.
Nas relações sociais, o ódio manifesta-se nos fanatismos religiosos, com consequências trágicas; nos conflitos raciais, com fronteiras marcadas por preconceitos, e intolerâncias; nos grupos organizados, onde a agressividade sobrevive pelo poder do colectivo; nas redes sociais, onde discursos incendiários, insultos e ameaças são frequentes.
Eu, orgulhosamente, não odeio ninguém, nem me desgasto com atitudes tóxicas. Simplesmente, ignoro.
Aprendi a afastar-me de pessoas perturbadas, de comportamentos destrutivos, de venenos emocionais. 
A vida é demasiado preciosa, e curta, para ser desperdiçada desejando mal a alguém. 
Não me tenho dado mal! 
(Teresa Dias)


(*)  "O progresso do amor", de Alice Munro.

(foto Pinterest)

26 maio, 2020

Não podemos beijar, mas podemos falar... de beijos!


"O beijo é uma forma de diálogo"
George Sand, romancista francesa (1804-18076)


“Um beijo é um segredo dito à boca em vez de ao ouvido.”
Jean Rostand, biólogo, filósofo, historiador francês (1894-1977)


“A conversação dos beijos. Subtil, absorvente, destemida, transformadora.”
Alice Munro, escritora norte-americana (1931-)
Prémio Nobel da Literatura, 2013


"Num único beijo saberás tudo aquilo que tenho calado."
Pablo Neruda, poeta chileno (1904-1973)
Prémio Nobel da Literatura, 1971


"Amo-te tanto. E nunca te beijei... E nesse beijo, amor, que eu não te dei, guardo os versos mais lindos que te fiz."
Florbela Espanca, poetisa portuguesa (1894-1930)


(foto da net)

26 fevereiro, 2019

À terça - imagens e palavras: "alma"

“Mesmo que vivamos atormentados por problemas, que sejamos doentes e pobres e feios, temos uma alma para carregar vida fora como um tesouro numa salva.”


 Alice Munro, escritora canadiana (1931-), in “O progresso do amor”, Ed. Relógio d’Água, 2013
Prémio Nobel de Literatura, 2013
Foto da net.

30 setembro, 2014

"O Progresso do amor" - Alice Munro

Mesmo que vivamos atormentados por problemas, que sejamos doentes e pobres e feios, temos uma alma para carregar vida fora como um tesouro numa salva. (O progresso do amor)
Pois é, voltei aos magníficos contos de Alice Munro.
Como são tantos os livros dela nas livrarias, escolhi aleatoriamente “O progresso do amor” para uma segunda deambulação pela obra da contista.
Arrebataram-me os contos desta colectânea (1986) sobre o AMOR (a natureza e os tormentos do amor), as relações familiares, a perda, a dor, o desespero, as escolhas, as memórias.
Li os onze e queria mais. Não cansa ler Alice Munro. Os seus textos são encantatórios. Tal deve-se à mestria da escrita, à sensibilidade no desnudar da natureza humana, à capacidade de conceber histórias críveis e de “montar” personagens com sentimentos. O resultado é impressionante e arrepiante.
Dos onze excelentes contos destaco dois:
- Líquen
A história começa com a chegada de David e a sua namorada Catherine (uma mulher alta e frágil, ossuda, com cabelo louro e pele delicada), à casa de Stella, uma casa onde as conversas tendem a espalhar-se… nenhuma das divisórias interiores vai até ao tecto... excepto as da casa de banho… isso favorece muito a vida familiar.
Mas Stella, (uma mulher baixa, gorda e de cabelos brancos… pele macia e bronzeada, um corte de cabelo acriançado, os olhos castanhos e grandes…. escreve para o jornal local… faz parte dum grupo de leitura teatral, de um coro da igreja, do clube de produtores de vinhos e de um grupo informal cujos membros se recebem mutuamente uma vez por mês em jantares de convívio), vive sózinha, na casa de férias construída pelo pai, junto ao lago Huron.
David e Stella foram casados vinte e um anos. Estão separados há oito. Continuam a falar de amor e a partilhar segredos.
E mais não conto…
- Miles, City, Montana
O meu pai atravessou o amplo carregando nos braços o cadáver do rapaz que se tinha afogado… O rapaz chamava-se Steve Gauley. Tinha oito anos… Levar tais notícias, tais provas, a uma família à espera, sobretudo uma mãe, bastaria para justificar o andar pesado dos membros da equipa de busca, mas naquele caso a situação ainda era pior… era o facto de não haver mãe nenhuma, mulher nenhuma – nem avó, nem tia, nem irmãs – para receber Gauley e o chorar como devia.
Bem... arrepia, ou não?
Já ando eufórica a pensar no que encontrarei no livro seguinte. Qual será? Depois se verá.
Um pingo de ódio na tua alma é o suficiente para descolorir tudo, como um pingo de tinta preta no leite. (O progresso do amor)
Leiam Alice Munro.

O progresso do amor, de Alice Munro – Prémio Nobel de Literatura, 2013
Tradução de José Miguel Silva
Ed. Relógio d’Água, 2013
305 págs.

Fartança de gralhas n' “O Progresso do amor”, de Alice Munro

- Uma vez quis pregar um susto ao papá. Parece que ela (ele) andava interessado numa rapariga que… (pág. 28)

- Collin estava a ajudar Glenna na limpeza… estava exausta, depois de ter organizado um jantar mais complexo… que ninguém senão ela saberia apreciar. Não, estava enganada. Ele apreciaria… David (Collin) apreciava… (pág. 84)

- A princípio, com as luzes e o todo o alarido… (pág. 85)

- Enquanto observava os meus pais à distância e experimentava aquele (aquela) nova e desagradável sensação… (pág. 107)

- O que acontecia é que Robert dava crédito a cada uma das essas (dessas) hipóteses… (pág. 123)

- Foi a primeira -- (vez) que eu ouvi alguém usar a palavra... (pág. 172)

Há mais. Lamentavelmente!

11 abril, 2014

"Fugas" - Alice Munro

Vê um pouco da vida real. Sai para o mundo.
Este é o meu primeiro livro da contista canadiana Alice Munro.
Comprei-o por mera curiosidade, quando soube que lhe fora atribuído o Nobel da Literatura 2013. Queria “encontrar-me” rapidamente com a velhinha linda, de cabelos prateados, de que nunca ouvira falar.
Falha minha! Descobri nas livrarias, e em português, vários livros de Alice Munro. Afinal, eu, que sou louquinha por contos, olhava, olhava e não via nada. Acontece!
Escolhi “Fugas”, porque algum teria de ser o primeiro e porque também a mim me apetece, isso mesmo, fugir. Acho que apetece a todos, não é verdade?
Bem, bem, convém dizer que por cá continuo e foi sentada no mesmíssimo sofá, que li as oito histórias que falam de mulheres - de todas as idades e de origens diferentes - em fuga, dos outros e de si próprias.
São histórias emocionantes sobre vidas reais, escritas por quem conhece bem a alma feminina, e tão convincentes que dei por mim a pensar se não seriam verdadeiras. Estranho!
Gostei de todas?
Senti alguma dificuldade em entender a fuga de Carla, em "Fugida", a primeira história, e desanimei.
Avancei para a segunda “Acaso”, depois para a terceira “Em breve”, depois para a quarta “Silêncio” e… só parei no finzinho da oitava, rendida à narrativa e clareza da escrita
Em “Acaso” conheci uma mulher admirável e foi com espanto, satisfação e prazer, que a reencontrei nas duas histórias seguintes.
As três histórias narram vinte anos de vida de Julliet:
- na primeira, ela tem o cabelo castanho claro e aspecto de uma colegial atenta. Vive numa pequena vila, e todos lhe dizem – Sai para o mundo.
- na segunda, ela volta à casa da sua infância, para os pais conhecerem Penelope, a neta de treze meses.
- na terceira, ela perdeu o vigor do seu castanho natural por causa dos anos em que o pintara de ruivo- era agora de um castanho prateado, fino e ondulado. Está sozinha. Vive entre livros e passa grande parte do tempo a ler e a esperar pela filha, que se foi embora sem dizer adeus.
Mais não conto, sobre este conto. Nem sobre os outros sete.
Leiam! Leiam!
Eu, podem crer, vou ler todos, mas mesmo todos, os contos desta extraordinária senhora.
Estranhei a atribuição do Nobel a uma contista, mas bastou o arrepio que senti ao ler “Silêncio” – uma história emocionante, triste e bela - para não calar a minha admiração e gritar:
Viva Munro!

Fugas, de Alice Munro – Prémio Nobel de Literatura, 2013
Tradução de Margarida Vale de Gato
Ed. Relógio d’Água, 2007
263 págs.