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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Outra margem de mim


É muito tempo a desejar o tempo
De mudar ventos, levantar marés
É muita vida a desejar o alento
Que faz saber ao certo quem és

É funda a toca onde te escondes tanto
Tem a distância entre o silêncio e a voz
A vida rasga bocadinhos gastos do mundo
Vai descascando até chegar a nós

E tu que sabes tanto de mim
Tu que sentes quem eu sou
Dá-me o teu corpo como ponte que me salva
Do que o medo fechou

São muitos dias a perder em vão
Sem nunca entrar dentro do labirinto
É muita vida a não ser o que tu sentes
A planar sobre o que eu sinto

É quase noite, não te escondas mais
Vai desatando até entrar o ar
Dá-me um gesto que me diga o teu fundo
Uma palavra para te tocar

Tu que sabes tanto de mim
Tu que sentes quem eu sou
Dá-me o teu corpo como ponte que me salve
Do que o medo fechou

Tu que sabes tanto do sol
És uma espécie de outra margem de mim
Olha-me dentro como chão que me agarre

Pode ser esta noite quente
A estrada aberta mesmo à nossa frente
E tu e eu a descobrir o ar
Não é preciso correr
Não é urgente chegar
O que é preciso é viver

Autor : Mafalda Veiga

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Ilha




Photo by Leszek Paradowski

Dancei no fio
de uma espada
num poço aberto
em sol vermelho
há tanto tempo
não sei de ti
toquei na chama
mas era um espelho

Soltei a dor
como um segredo
que se guardou
e não se deu
lambi a ferida
de te esperar
mas este sangue
sabia a mar

Há uma ilha
dentro do deserto
há um caminho
numa vaga
há espaço para correr
sob o sol
há um barco vazio
que me arrasta

Andei num fio
de navalha
fui acrobata
e enlouqueci
abri uma fenda
e foi-se o mar
mas este mar
não chega a ti

Há uma ilha
dentro do deserto
há um caminho
numa vaga
há espaço para correr
sob o sol
há um barco vazio
que me arrasta

És uma ilha
dentro do deserto
és um caminho
numa vaga
És espaço pra correr
sob o sol
és um barco vazio
que me arrasta

és um barco vazio
que me arrasta

Autor : Mafalda Veiga