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sábado, abril 11, 2009

Paths of Glory (1957)

de Stanley Kubrick


Stanley Kubrick foi um cineasta que se caracterizou pela enorme facilidade em exprimir o seu génio nos mais diversos géneros cinematográficos. O seu toque de Midas manifestou-se em géneros tão distantes como a ficção cinetifica (2001, A Clockwork Orange), no filme de crime(The Killing), no horror mais profundo (The Shinning) ou no psicodrama (Lollita, Eyes Wide Shut). Mas parece-me, que dos vários géneros que abordou, havia sempre um que lhe era mais querido, ou se preferirem, pessoal: o cinema de guerra. Senão, como explicar as três incursões de Kubrick a diversos cenários bélicos como foram a guerra fria (Dr. Strangelove), o Vietname (Full Metal Jackett) e as trincheiras da 1ª guerra mundial, neste Paths Of Glory. Junte-se a estes filmes, as obras não concretizadas, mas minuciosamente preparadas, sobre as conquistas de Napoleão e o Holocausto nazi, e fica-se com a ideia, de um cineasta motivado para expor e denunciar, o lado mais monstruoso do ser humano. Tal como nos exemplos referidos, Paths of Glory expõem de forma brutal, crua e visceral, toda a injustiça e loucura de qualquer guerra. Esta filme baseado num caso verídico, conta a história de um general francês, que condenou à morte três soldados do seu exército, acusado-os de cobardia, por não terem conquistado um objectivo militar, que era impossível de conquistar à partida. O olhar de Kubrick é implacável no retrato desumano e altivo destes generais, que observam à distância os resultados sangrentos das suas táticas cruéis e irrealistas. Nas mãos desses generais, as vidas de milhares de homens são apenas carne para canhão e um caminho para chegar aos ambicionados louvores e promoções. Paths of Glory, tal como Strangelove e Ful Metal Jacket, expõe ao ridículo, qualquer discurso militarista e confronta o espectador com a injustiça e insanidade dos conflitos bélicos. Saliente-se ainda a coragem de Kirk Douglas, que no seu duplo papel de protagonista/produtor entregou a um jovem Kubrick os comandos desta produção polémica e corajosa. Tecnicamente, trata-se de um filme irrepreensível. Nomeadamente nas composições que o olhar prodigioso de Kubrick elabora, ou nos travellings que nos fazem mergulhar de forma eficaz no inferno das trincheiras, ou ainda no apurado trabalho sonoro, que dispensa a utilização de partitura musical, confiando no som diagético dos tambores militares, das explosões das bombas ou na voz de uma cantora que encerra o filme com uma performance muito especial. Essa comovente cena final, é a prova, que tal como Spielberg disse, por detrás deste enorme cineasta acusado (injustamente) de frio e cerebral, havia um ser humano com uma grande empatia pelo seu semelhante, e com uma enorme capacidade artística para retratar o lado negro do Homem. Um filme marcante.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Bigger Than Life (1956)

de Nicholas Ray


Cada vez gosto mais de Nicholas Ray. Não há volta a dar. A cada filme que vejo, mais me convenço que o homem era mesmo um grandíssimo cineasta. Em fase de descoberta da sua obra, eis que revejo Bigger Than Life. Um filme que tinha visto na minha infancia, numa matiné de domingo na rtp. Na altura o filme impressionou-me pelo medo que me causou. Nunca tinha visto nada assim, pois não haviam nem monstros, nem aliens, nem nada de paranormal. O medo, provinha de dentro da familia, na figura do habitual protector, o pai (outro retrato semelhante é o de Jack Nicholson em The Shinning). Agora passado uns aninhos, já consigo perceber o que mexeu tanto comigo na altura em que vi esta obra-prima.

Sufocante e negro, nunca a revolta e a desintegração de um homem, foi tão sublime e perturbante como neste subversivo Bigger Than Life de Nicholas Ray. O realizador, famoso pelos seus "rebeldes sem causa", tem aqui mais um brilhante exercício de cinema total, em que exprime as suas ideias de rebeldia, camuflado pelo sub-género do melodrama. A inicio parece que estamos em terrenos de Douglas Sirk, com a famila feliz, com os seus bens materiais e estabilidade financeira, onde aparentemente tudo são rosas. Mas cedo nos apercebemos, que estamos em terrenos de Ray, que tem nesta obra um exercicio de explosão e crítica à conformidade e a falsa felicidade, de um certo "american way of life" da altura.

O veículo para essa explosão, é o torturado personagem de Mason, que se apresenta a inicio, completamente esmagado pela sociedade em que se insere. Dá a impressão que a revolta de Mason, não advem das drogas que toma, mas sim de uma frustrações e tensões mais ou menos óbvias. Seja a relação com a sua submissa mulher (Barbara Rush), a pressão de manter um american way of life que o obriga a manter dois empregos (com o desconhecimento da mulher) ou um filho obviamente estereotipado quase acéfalo. James Mason, num retrato insuperável de demência e não-conformidade, é inesquécivel no papel de um homem que devido à sua "habituação" a uma droga experimental (na altura), chamada cortisona, explode contra o puritanismo e o politicamente correcto da América dos anos 50.

Brilhante Ray, no uso inspirado do Scope´, na composição de planos com tanto de belo como de expressionista (a famosa e ameaçadora sombra "bigger than life" de Mason), num uso de côr deslumbrante e na encenação de cenas aparentemente mundanas, mas que transmitem uma tensão em surdina quase insuportável de tão sufocante. Nunca um copo de leite foi tão perturbante, nem mesmo em Notorious. Ou então que dizer das cenas finais em que no cumulo da sua loucura, Mason, emulando a história de Abraão pega num par de tesouras e numa bíblia, disposto a chacinar o seu filho. A sua mulher ao confrontá-lo dizendo-lhe que de acordo com a bíblia, Deus salvou o filho de Abrão, a resposta é aterradora: "god was wrong". Isto sim é terror. Um terror sublime, que funciona a vários níveis e onde estranhamente simpatizamos com a revolta do protagonista. Ou será antagonista ?

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