
Passa por este épico policial uma onda de fúria, desespero, obsessão e tragédia, na figura de um Mickey Rourke num dos grandes papéis da sua vida. O seu torturado capitão Stanley White, é um dos personagens mais politicamente incorrectos de que há memória na história do cinema. Ele é racista, misógino e obcecado na sua cruzada contra a máfia chinesa. Graças a isso, White quase destrói todos os que estão à sua volta. Ele é claramente um personagem à margem, que leva a sua obsessão por justiça longe demais, com consequências trágicas e irreparáveis. Com a assinatura do oscarizado (e ostracizado) Michael Cimino, este filme é um dos grandes momentos do cinema dos anos 80. Com um argumento implacável escrito a meias com Oliver Stone, Cimino tentou com
Year of The Dragon recuperar do desastre financeiro de
Heavens Gate. Como curiosidade, Stone e Cimino chegaram a infiltrar-se nas tríades de Chinatown, para desta forma conferir autenticidade ao guião. Apesar dos resultados comerciais mais uma vez não terem sido famosos (e com acusações de racismo pelo meio) a mão de Cimino é magistral tanto na encenação da acção como no desenvolvimento dos personagens. Rourke e John Lone, degladiam-se de forma selvagem e sanguinária num choque de leis e de culturas. Nunca o cinema policial chegou tão alto como aqui. É um dos filmes essenciais na minha vida e isso deve-se ao trio Cimino, Stone e Rourke. Em suma, é uma obra-prima que carece de reavaliação crítica o quanto antes.
