
Aqui há uns dias tive uma conversa algo sui generis com um amigo meu sobre amizade entre homens e mulheres, sobre tudo aquilo que une e/ou afasta enquanto seres vindos de Marte ou de Vénus e de como as coisas às vezes se confundem na aplicabilidade do conceito de amizade.
Lembro uma outra frase de uma grande amiga minha "não há almoços grátis". Não há não senhor.
Antes de passar a explicar o meu ponto de vista e a teoria que tenho sobre este assunto, importa saber em que circunstâncias a amizade se encontra condicionada, e importa ainda saber até que ponto qualquer ser humano que se preste a uma amizade GOSTA realmente de pessoas. Eu creio que este meu amigo, tal como eu, gosta muito de pessoas. Creio também que já gostou mais, dada a recente unilateralidade do sentimento em causa (eu sei que já gostei mais). É e será sempre de desconfiar de alguém que não goste de pessoas e queira ser nosso amigo e queira ir tomar o tal café. Imediatamente pensamos: a troco de quê?
É fundamental gostar-se de pessoas quando se quer começar uma amizade e já se está na casa dos trintas. A esta altura da vida, as amizades estão já mais que cimentadas e ninguém se sente na predisposição de se submeter à vontade alheia (fazer fretes, querer agradar). Ou seja, já todos temos os nossos grandes amigos da altura do tempo da carochinha e dos verdes anos, em que acreditávamos que realmente podíamos mudar o mundo, em que somos "iguais", mulheres e homens, éramos todos virgens, trocávamos ideias a toda a hora com as borbulhas na cara, e se calhar até era o melhor amigo do namorado, ou o namorado da melhor amiga... got the point?
Vejamos as condicionantes/circunstâncias em que apoio a minha teoria:
- pessoas adultas (com mais de 25 anos de idade - que eu ainda sou do tempo que um gajo com trinta anos já não é jovem);
- estas pessoas são heterossexuais (amigos gays não vale, toda a gente sabe que o melhor amigo duma mulher é gay, sem hipótese);
- não possuem nenhum atraso mental ou doença do foro psiquiátrico.
A minha teoria, baseada na tal frasezinha "não existem almoços grátis", desprovida de qualquer sentimento ligado à ingenuidade (já acreditei que a amizade fosse de outra forma ou pudesse ser de outra forma), ou credulidade impiedosa, nada tem a ver com alguma forma de cinismo tão em voga. Baseio-me no que vejo, no que observo, nas relações que passam pelos outros e por mim própria, ou não fosse eu uma mulher.
Esta teoria assenta num pressuposto que já a minha avó defendia, de que as mulheres "não dão ponto sem nó" e a minha avó bordava e costurava bem que se fartava. Ou seja: há SEMPRE um interesse implícito nessa suposta "amizade" e interesse da parte duma mulher para com um homem. Não vamos em conversas. A não ser que se seja uma freira, todas as mulheres tem todos os seus pecados bem à flor da pele e sabem bem o que fazem quando se aproximam dum homem, fora profissionalmente (já que são "obrigadas" a ter de se relacionar no meio profissional).
Existem três grandes interesses, três grandes grupos em que dividimos objectivos aquando da aproximação de um gajo e até lhe damos "troco".
1 - "amizade de longa data, tipo irmão": sim sim, não há interesse e tal... vejamos: desabafar a toda a hora com o pobre desgraçado, pedir-lhe guarida quando corre mal com o namorado, quando há discussões seja lá com quem for, pedir-lhe cd's, filmes, livros, etc... isto não é interesse macabro? Quem lucra? Pois, pode até ser recíproco, e esse amigo já ter chorado no nosso ombro inúmeras vezes, mas nada comparável com a brutal seca que o pobre apanha cada vez que a vida nos corre mal. Àparte isso, é a única amizade que pode correr bem se as pessoas tiverem bastantes interesses em comum, gostos culturais parecidos, ser do mesmo partido político, gostar muito de algo especificamente. AH!, e zero atracção, para sempre se poder dizer que aquele é um bom amigo. Resulta e existem alguns casos assim, mas muito poucos aqueles que não evoluíram para algo mais (pelo menos em que ambas as partes não tivessem nenhum compromisso com terceiros).
2 - "amizade colorida": não se iludam meninos; nenhuma mulher quer ser apenas vossa amiga. O que elas querem é saltar-vos pra cima. Na melhor das hipóteses, poder ter a oportunidade de constatar se serão ou não o "homem da vida dela". Sim, é sexo mesmo. ou a ver se dá algo mais. Quando elas descobrem que vocês têm namorada, podem até ser muito interessantes, inteligentes, cultos, educados, divertidos, etc, mas a coisa já não tem o mesmo sabor e há que fugir a sete pés. Redutor? Talvez seja, mas o facto é que mais curioso que o gato, só mesmo a mulher.
3 - "amizade que já pode ser amizade porque já foi algo mais": sim, é verdade que pode ficar uma amizade. A curiosidade satisfeita, muito pouco a acrescentar. Para que haja veracidade/genuicidade nesa relação, as coisas têm imperativamente de ter acabado bem. Senão... meninos, não se iludam, pois uma mulher nunca esquece, e o que ela quer não é amizade: ou é vingança e atacar-vos pelo flanco ou é ter alguém ali à mão que satisfaça o ego (e outras coisas) e aí podem bem saltar até à "casa dois" ou seja, para a cueca da já referida amizade colorida.
Caso para cada um pensar bem nas amizades que tem com o sexo oposto. Cada vez que alguém lhe perguntar "vamos tomar um café um dia destes?" a propósito da bela amizade descomprometida que têm... é capaz de ser impulse...