::diário de bordo, manual de sobrevivência, feito de teorias da conspiração, ideias parvas, conceitos, preconceitos, provocações, alucinações, livro de "receitas" pseudo-afrodisíacas, ora picantes ora agridoces, de alguém que vive num país assim a dar para o esquisito, a que alguém chamou um dia Portugal::


terça-feira, 21 de outubro de 2008

A Amizade

"O raio do tempo passa e nem sequer deixa um número para onde lhe possamos telefonar. Muda de casa, de mês, de ilha, de tempo (daquele que antes fez sol e agora é de chuva), muda de nome, de dentes, de cor de cabelo, ganha e perde barriga sem pedir autorização, esquece nomes e senhas e passwords, enfim, o Tempo é um ingrato quando tudo o que devia ser é Agradecido. Por isso, o tempo deixa angústias por não ter deixado agarrar-se a tempo.

Faz tempo que não tinha tempo para coisas importantes - porque a esmagadora maioria das parcelas que compõem a minha vida são feitas de coisa nenhuma, perdida entre filas de automóveis e anotações de conversas chatas que, ainda por cima,têm de ser correctamente reproduzidas -, mas, dizia-vos, faz tempo que Vos queria ver... E hoje fi-lo.

Fiquei com aquela lágrima emperrada ao canto do olho, porque sou dado a estas coisas que caem para o lado da cebolinha bem picadinha, e comovi-me com a casa azul e os tempos que juntam o 30 ao 31.

Não sei se me consigo redimir sobre a tal minha ausência, mas se for possível meter uma valente cunha nesse sentido, também aproveito para, juntamente com a remessa da dita cunha, Vos deixar, do fundo do meu coração, o maior beijo que vos possa dar."



J.


De psicologias da treta





Não vinha aqui há muito tempo, pois as minhas obrigações profissionais não mo permitem, para além do facto de não ter Internet em casa ou móvel ou coisa que o valha. Quando tenho tempo, não tenho os meios. Quando tenho os meios, não tenho tempo, nem sequer disposição para isso. No trabalho, e ao contrário do que se passa com a esmagadora maioria dos demais que ao invés de trabalhar, estão ligados à rede e a estas coisas dos Blogs, não posso de maneira nenhuma vir aqui, a este espaço que tanta falta me tem feito, como a tal fuga à vida real que tantas vezes necessito. Para além do facto de gostar de escrever de noite, obviamente. Mas hoje, e porque um amigo que conheci por estas andanças faz anos hoje, resolvi ler mais qualquer coisa e, dedicar um bocadinho dos intervalos e da minha humilde escrita, à amizade. A isto dos Blogs. A isto de se ser amigo de alguém e de se saber porquê. E li esta mensagem que ainda não tinha lido e que se refere também a mim, num plural "vocês" que me junta àquele que amo. E adorei ter lido o que li. Porque está bem escrito e porque é honesto. E é esta a minha queixa no "muro das lamentações" de hoje, primeira parte deste post: as pessoas deixaram algures de ser honestas. Primeiro, consigo mesmas; depois, com os outros. Porque tiveram um azar, porque iam perdendo o emprego, porque perderam alguém da família, porque só elas é que sofrem e só elas é que sabem o que passam. E queixam-se. E justificam a falta de atenção para com os outros, esquecem-se que os outros também passam por aflições no emprego, sofrem e choram por motivos profissionais, têm a mãe a morrer, estão longe de todos aqueles que mais amam e estão sinceramente fartos de tanta indiferença e apatia. Às vezes, uma merda duma mensagem ou dum telefonema de dois minutos fazia toda a diferença. A amizade não é algo que se coloca na prateleira e arruma-se porque sim. Precisamos uns dos outros. Todos. E ninguém gosta de se sentir "arrumado". Eu sei que não gosto. Mas também não é uma obrigação e sinto-me triste quando tenho de "lembrar" que há coisas que não deveriam ser assim ou assado. Ou se calhar eu é que devia estar caladinha, deixar de ser parva e aperceber-me da real importância que (não) tenho na vida dos outros. Eu até tenho uma agenda ocupada, tenho mesmo MUITO que fazer e não entendo como é que as pessoas se limpam ao "tempo". Se calhar até acaba por nem ser assim tão importante. E "caga nisso". Passa-se à frente. Como em tantas outras coisas que se adiam, também algumas pessoas ficam para trás. Ou porque estão longe, ou porque têm namorado/marido/mulher, ou porque são "solteironas"/"solteirões", ou porque ganham mais, ou porque ganham menos, ou porque não são "fixes" e não saem à noite, porque são "caretas", porque ouvem as músicas erradas e lêem os livros errados, sei lá... uma data de coisas que só valem aquilo que valem. Eu concerteza é que não vou deixar de ter tempo para a pessoa que amo, nem de trabalhar, de fazer as coisas que gosto de fazer, assumi-las até ao fim, de ter tempo para mim e de ser como sou, para apenas poder agradar a gregos e troianos.
No outro dia, discutia com uma amiga a importância do destino. Alguns dias depois, falava com outra sobre o mesmo assunto. E vamos assim parando o tempo, damos lugar a conversas que nos arrastam durante umas boas horas e ainda que não cheguemos a conclusão alguma, ao menos ficamos com uma ideia de quem são os outros, o que pensam e como agem a partir dessa linha de pensamento. Agem em conformidade, são coerentes consigo mesmos, no trabalho e na vida pessoal. Se estamos ou não destinados a encontrarmo-nos, todos, e de que forma as nossas vidas assumem importância nas vidas dos outros, é algo que ainda estou para descobrir e entender. Algumas pessoas assumem uma tal importância na minha vida que são primordiais. Gosto delas como se fossem parte do meu sangue. São pessoas que têm a capacidade de fazer os meus dias mais felizes, e de ficar triste por elas quando algo não lhes corre bem. Sei que do outro lado é a mesma coisa. E podemos nem sequer falar todas as semanas sequer. Mas se as semanas passam e passam e passam e arrastam-se indefinidamente, acabo por sempre sentir uma enorme saudade dessas pessoas, ainda mais vivendo tão longe de toda a gente. Se a árvore é regada no seu tempo devido, pode viver séculos e perde-se na memória do tempo. Se não, acaba mesmo por morrer. Pode soar pindérico, mas eu sou assim mesmo: pindérica e foleira e acredito em coisas que estão um bocadinho em desuso. E existem também todas as outras, que fazem parte de um quotidiano que, no meu caso, acaba por ser bastante mutável, oscilatório, pois é diferente todos os anos. Não faço novos Amigos, mas alguns desses, poucos, acabam ou acabaram por fazer parte da minha vida e adquirem uma importância muito maior do que aquela que esperaria de início. E surgem as boas surpresas. Não sou nem nunca fui de amores à primeira vista no que diz respeito à construção de uma relação, e do alto da minha proclamada burrice e desconfiança não "abro" a porta a qualquer pessoa, mas também não sou apologista de que a longevidade seja o critério principal para que uma amizade perdure no tempo, e não nego que uma grande amizade possa desenvolver-se num curto espaço de tempo.

Melhor: cada vez mais, acredito nas pessoas politicamente incorrectas, nas pessoas que fazem as coisas porque sim, porque acreditam nelas e não têm de provar nada a ninguém senão a elas próprias. Nas pessoas que assumem os seus problemas e complexos, que sabem aquilo que não querem mesmo, que não andam a fingir coisíssima nenhuma, que ponderam (ou não) as suas acções baseadas nas suas experiências e que assumam os erros, não descartando culpas. Acredito nas pessoas que se interessam, que são realmente diferentes e defendem as suas diferenças, ainda que sofram com elas, porque são essas que geralmente fazem toda a diferença.

What can I possibly say?...

Conteúdos temáticos de extraordinário interesse para o comum dos mortais

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