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Um terrível equívoco - por José Eduardo Agualusa

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Baltazar Almeida tinha orgulho em ser branco. Odiava com igual paixão negros e gays. Aos 20 anos tatuara no ombro direito, em letras góticas, grandes e sólidas: white pride. O problema é que não era branco – era português. Evitava apanhar sol. Usava protetor solar de grau máximo e nunca ia à praia. Mesmo assim, passeando em qualquer cidade europeia acima de Barcelona era frequentemente confundido com um árabe. O jovem sofria com o equívoco. Por vezes, ao cruzar-se com outros cabeças-rapadas (que mostravam, nos fortes braços, tatuagens semelhantes à sua), estes cuspiam-lhe insultos ferozes: “Volta para a tua terra, pastor de camelos!”, ou algo do género, e era como se lhe acertassem duas facadas certeiras no âmago da sua puríssima alma ariana. Aquele era o tipo de insultos que o próprio Baltazar gritava em Lisboa contra os pretos. Nada a ver, tentou explicar à namorada, Fátima: uma coisa eram os pretos na Europa, vindos aos magotes de África para roubar os empregos aos brancos, para c...