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domingo, 22 de julho de 2007

Papalvos & Papões

O mal das conversas na blogosfera é este e só este: há sempre a ameaça de um réprobo se meter nelas. Assim com a que versa o Iberismo. Do que gostaria que fossem as nossas relações com Espanha já falei em tempos melhores. E o respeito que me merece Quem lê não deixa que me repita. Para maçada basta uma vez.
Porquê, então retocar e retomar este tema batido? Porque ele está, de novo, na baila. Primeiro foram figuras públicas, à custa de publicitadas, quais Lino e Saramago, essa Sociedade Anómala de Irresponsabilidade Ilimitada, a defender como benéfica a integração peninsular. Para os que acreditem que daí viria algum bem à Nação, os papalvos que mergulham de cabeça na primeira atoarda televisionada, gostaria de lembrar que para um País querer anexar outro é preciso que ele tenha alguma coisa de desejável. E o estado a que a República abrilina nos conduziu faz duvidar de que em nós exista essa qualidade. O interesse económico que se denotasse, exíguo até pela diminuta dimensão do nosso mercado, cumpre-se no estado actual de coisas. A pujante economia vizinha entra onde e quando quer na imitação aleijada que é a nossa.
No entanto, o ribombar dos altissonantes bitaites ministerial e nobelizado fizeram por Gente Estimabilíssima soar o grito de alarme. O Miguel Castelo-Branco veio gritar, literalmente, Aqui d´El Rei perante o ressurgir do velho papão. Creio que o Nosso Amigo está sobre brasas no tema porque Discípulo do Embaixador Franco Nogueira, para Quem o Perigo Espanhol era uma obsessão a tempo inteiro. A essa canalização do indiscutível Patriotismo de semelhante Mestre respondeu, num jeito de desagravo, Pequito Rebelo na vertente em que o Grande Diplomata atacara o pensamento de António Sardinha. Porém, o nosso Comburente Confrade não se coíbe de retomar a acusação de "ingenuidade" que, na sua época, fez carreira contra o Doutrinador de Monforte. A mesmíssima que, neste folheto desgraçado em que lança mão de tudo o que possa apequenar o Conhecido Integralista, Alfredo Pimenta lavra, confundindo alianças com osmoses nacionais, deificando a sincronia ocasional, presumivelmente para untar Salazar, mas increpando a conjugação sistemática, por dela precisar para conjurar adesões da forma mais fácil que há, por quem doutra forma não consegue ser amado - brandir um ódio velho como inimigo comum. Hoje por hoje a tese perdeu a sua viabilidade literal porque nem Portugal tem já um Império que o faça contar, nem a Espanha tem a independência de acção que lhe permita disputar o Mediterrâneo a quem quer que seja.
Atenção, o perigo maior de nos diluirmos numa Ibéria dominada por Madrid não provém dos ocupantes dos farrapos de Poder que subsistem na Moncloa, mas na facilidade com que Bruxelas encare os dois ramos peninsulares como uma unidade a ser dirigida em comum. Aí sim, o mais proeminente do Par tomará primazia, na função de rédea, sendo o dono a Eurocracia e o animal a pobre Lusitânia desditosa. Por isso disse ser a conjunção de resistências nacionais dos dois Estados mais ocidentais deste Continente contra a padronização centro-europeia de matriz materialista a actualização possível do ideal de Sardinha.
Tenho, enfim, de responder a Outra Grande Voz, o Jansenista, que não foi a Monarquia que causou os perigos maiores de perda da nacionalidade. Esses casamentos Reais que refere contribuíram para a alternância de muitos anos de Paz, contraposta às crises conhecidas. Estas não resultaram dos matrimónios, mas da incapacidade de gerar descendência directa suficiente e desimpedida, por dois dos nossos Reis. Mas as Leis Nacionais constituíam salvaguarda jurídica bastante, com a interdição de soberanos estrangeiros e seus familiares mais chegados cingirem a Coroa Nacional. Pois bem, no momento em que a infecundidade se propaga à População em geral, não seria de pensar o regresso da Realeza, insuspeita de transigência com a fusão de fronteiras, ao contrário do risco sempre patente da eleição como Chefes de Estado e de Governo de políticos iberistas? Concordo Consigo que da parte da População Espanhola não virá perigo de maior. Mas poderá dizer o mesmo da nossa Classe Política?

domingo, 17 de junho de 2007

Cobras de Santa Engrácia

No caso de algum Leitor mais fiel estranhar o meu silêncio e a ausência da minha assinatura entre Os que, indignadamente, protestam contra a trasladação dos restos de Aquilino Ribeiro, como cúmplice do Regicídio, para o Panteão, aqui deixo uma explicação, porque não posso, não devo e não quero furtar-me a ela.
É decerto grosseria evitável juntar um matador a toda uma família que enlutou, quando não às próprias vítimas. Mas eu não esperava coisa melhor da República, logo acho-a coerente. E, ademais, o meu campo tem telhados de vidro na matéria. É que um regime do qual tinha expectativas melhores, o de Salazar, com a honrosa intenção de homenagear, meteu a pata na poça de forma similar: aquando da entrega do jazigo-monumento ao Rei D. Carlos e ao Príncipe Real D. Luís Filipe confiou a redacção e leitura do seu acto consagratório a Alfredo Pimenta. Ora, perguntar-se-ão Os que me seguem, o réprobo não tem em boa conta a obra do Homem? Porque protesta? E eu respondo que por muito grande que seja a minha vocação de admirar, ela é menor do que a minha capacidade de esquecer. O nomeado orador fora o que em tempos escrevera O imprevisto era o Buíça, que trazia nas suas mãos serenas e justiceiras, a sentença que um povo inteiro não tivera coragem de decretar e executar. Claro que a conversão ao ideal monárquico e a luta sem quartel que travou posteriormente contra os princípos e os fins republicanos resgatam. Como, igualmente, no caso de outro grande Doutrinador, António Sardinha, que ostentara gravata vermelha após o crime. Mas o bom senso e a rectidão desaconselhariam que a um ou a outro fosse confiada uma missão de que só uma fidelidade sem mancha poderia ser digna.
Da mesma forma, o caso de hoje. Não sei qual o grau de arrependimento que o escritor, grande como foi na prosa, terá vindo a sentir por haver participado nesse acto de ferocidade. Sei que os poderes actuais não dão como motivação da homenagem esse condenabilíssimo acto, mas a distinção nas Letras. Não vejo como protestar, apesar de toda a minha maioridade ter decorrido na fidelidade ao percurso histórico do Ramo Legítimo da Casa de Bragança, mas, ainda assim, não poder pactuar com a baixeza de pistoleiros, mesmo que as Vítimas pertencessem a uma linha usurpadora. Tudo o que posso é censurar a falta de maneiras do sistema e, nessa medida, assumir-me como patético, apodo dirigido aos entristecidos Monárquicos portugueses por um ocioso plumitivo o qual, todavia, terá visto bem o pathos, o sofrimento, que tantas insuficiências deixam no nosso espírito.
Sei bem que este post pode não agradar a gregos, como a troianos. Mas não sou homem de partido, nem que seja algum dos que comigo concordem. E não escrever o que penso seria cobardia.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Têmpera, Tempero, Temperamento

Dei ontem, num espantoso Alfarrabista de Lisboa, com uma raridade digna de nota: uma brochura com um discurso de Alfredo Pimenta, a três anos da data da morte, numa ocasião em que, mesmo que o Autor protestasse o contrário, o tom celebrativo da sua acção pública ia ao ponto de creditar a edição das palavras na ocasião proferidas "aos que as ouviram e aplaudiram". Mas nem foi a satisfação de ver outrem ceder infantilmente à vaidade, nem o facto de ser das obras apimentadas com que menos se topa que me impressionou mais. Foi, sim, a invulgaridade e ver um feitio pouco maleável como o do sábio polemista de Guimarães dizer bem de um opositor, Lopes de Oliveira, na circunstância. E de me chamar a atenção para o paralelo com algum desencanto em que me arrasto à beira da letargia e que urge contrariar:
Será porque as coisas não correram como eu sonhara e queria, tão depressa como eu queria e sonhara, e no sentido do interesse superior da nossa terra?
O enquadramento geral irmana-me ao grande Lutador, que, contrariando as imprecisões ou fantasias de Latinidade, Hispanidade e Lusitaneidade, faz radicar no que afinal é o nome que carregamos a única via que me aparece como consentânea com a naturalidade e certeza de rumo nacionais:
- monárquico, mas da Monarquia que fez a Nação, e não da que começou a desfazê-la; da Monarquia em que o Rei é a síntese viva do Povo; da Monarquia que ama o Povo, que se confunde com o Povo, que é o próprio Povo mas o Povo verdadeiro, e não o Povo dos Partidos, o Povo pulverizado em indivíduos que são números; a Monarquia que é o próprio Povo, o Povo trabalhador, - camponês, soldado, marinheiro, artífice, doutor, padre, letrado, sábio, artista, funcionário, e não o Povo vadio e tunante das conjuras, das alfurjas, dos apetites das facções, dos grupos e dos clubes políticos, dos demagogos e arruaceiros.

Devo dizer que sempre foi para mim surpresa incessante o facto de o nosso Autor se ter dado, de princípio a fim, por entre ventos e marés, às mil maravilhas com Salazar, quando outros, com mais pormenorizada sintonia doutrinária e egos aparentemente menos omnipresentes, dele divergiram e com o regime se zangaram. Agora que a moda torna a levar na crista da onda o Timoneiro do bem-amado País de antes do retorno ao Rectângulo e Ilhas Adjacentes, oiçamos, embevecidos, a apreciação de AP:
Entre os títeres que representam o bloco ocidental e o Neo-Czar de todas as Rússias - um Homem, com H grande, que não é americano, nem russo, nem inglês, nem escandinavo, nem francês, nem abexim; um Homem que não dispõe de exércitos nem de esquadras, de bombas atómicas ou de votos; um homem que não anda turisticamente pelas salas das conferências, nem é chamado aos conclaves dos medíocres, porque os confundiria a todos. Esse homem é português e dispõe tão só da sua Inteligência culta, da dialéctica honesta das suas razões sinceras, da profundeza e da substância das suas doutrinas sãs - e chama-se Salazar.
A partir daqui é que a porca torce o rabo, quando o conferencista se lamenta de o "ar do país" não ser o mesmo de antes da Guerra, sem anti-comunismo de massas que se visse, com cedências na permissão de listas desafectas à Situação, bem como a evaporação do estilo marcial da Mocidade e Legião Portuguesas e das campanhas doutrinárias do Rádio Clube; tal como de a situação internacional dos primórdios da Guerra Fria pretensamente lhe dar razão nos desejos repetidamente formulados da vitória do Eixo, aqui suavizados no enunciado pela necessidade de conter o Comunismo. É extraordinário e descoroçoante como o Vimaranense Investigador não vê que esses desgostos que proclama estavam em directa contradição com o trabalho político do Estadista que tanto estimava. Os desfiles uniformizados de fachada e os votos (não menos uniformizados e não menos de fachada, salvo do que de "facho" se possa querer extrair) eram amendoins atirados pelo Gigante de Santa Comba aos temperamentos excitados de Nacionalistas Revolucionários, num caso, e de Democratas, no outro, afinal ambos ofertantes à demoníaca entidade que era a Revolução, tão instintiva e racionalmente execrada pelo Presidente do Conselho. Como me parece uma completa capitulação analítica tentar ver a Cruz defendida por cruzes gamadas, onde o sentido "roubadas" muito bem calha, as quais pretendiam precisamente subverter o magistério de Roma pela atomização neo-pagã de grupos geográfica e historicamente distantes de nós. Como me surge inacreditável a renitência em não valorizar a opção salazarista do bloco com que colaborar, dentro da neutralidade que constituiria o único posicionamento capaz de servir a Portugalidade de que o Teorizador se asume.
Luzes e sombras de uma mente brilhante numa capacidade de relacionamento bem mais sombria...