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domingo, 18 de maio de 2008

A Decadência do Charme

Claro que me satisfaz ver de novo o Estoril conectado à Europa restante por férrea via, que é o que acontecerá com a ligação por Alcântara à Gare do Oriente. Mas é difícil não lamentar a subordinação, ao contrário dos Anos 30, em que o Sud Express arribava directamente à estação da terra de Exílios Reais...A diferença entre descer ao salão de chá e um room service, se me faço perceber...

O Elixir da Longa Vida

Nada morre senão quando é esquecido. No Dia dos Museus há a salientar essa verdadeira acção interposta contra o Olvodo, que tentou programaticamente honrar a Memória, simbolizada em Mnemosine, a Mãe das Nove Musas, indo a esta prole buscar o nome para as reuniões de aide-mémoires que são os objectos dignos de atenção pública.O primeiro foi criado pelo Humanista de Como Paolo Giovio, em Borgo Vico, por 1543, lá depositando os retratos de gente ilustre que biografara, como medalhas antigas a partir das quais haviam muitos sido elaborados. Como uma das salas era dedicada às Musas e a Apolo, dela retirou o nome, recuperando a palavra Museum, pela qual o meio culto em que se movia lembrava Alexandria, com ela referindo um local de intercâmbios culturais:
Pena é que aqueles que berram por tudo e por nada, a tudo se opondo,em nome do vazio conceito de Progresso, tenham objectado às primeiras exibições públicas de colecções, dadas como coágulos e desvio de recursos e energias aplicáveis na experimentação. E que em nome do Puritanismo hajam atacado a acumulação de objectos terrenos, tida como manifestação da condenada vaidade. Apetece mesmo citar a definição que Chesterton deu de puritano - aquele que aplica a indignação certa no local errado.
Por fim, uma meditação breve sobre o grau em que um blogue se oferece como presunçosamente comparável a esses redutos do saber transmitido que tornam menos oca a nossa vida. Divulgando preciosidades que contenham está muito longe do valor que só os originais encerram. Mas na medida em que acrescente, pelo que da criatividade da redacção encontre, alimentará o sonho de conseguir alguma legitimidade que esses pós de Autêntico lhe concederão, na mesma esfera.
A última imagem evoca a abertura do British Museum, em 1753, no edifício que fora um hotel seiscentista, o que vem abonar quanto ao refinamento das necessidades, passadas do primarismo à Espiritualidade.

domingo, 11 de maio de 2008

Vândalos Sem Arrojo

Lendo sobre a restauração no respectivo pedestal da estátua do Infante D. Henrique, em Cabo Verde, não posso deixar de meditar na mediocridade impotente de todos os que tentam destruir as representações plásticas do que não gostam. Toda a iconoclastia é desprezível, mas a da estatuária só apequena quem faz e engrandece quem a sofre. Sem precisar de ter em mente esta prevenção, nunca me passaria pela cabeça apear ou decepar a homenagem republicana da Rotunda a Pombal, apesar de a simples menção deste nome me causar uma platónica urticária...
É bom ver arrependimento pelo mal feito à monumentalidade contra a qual se atentou; e na benevolência para com a iniciativa reparadora se faz igualmente repousar uma exortação a igual receptividade para com queimas de efígies outrora empreendidas por influência religiosa, as quais não tinham a agravante de atentar contra a Arte.No caso do Infante houve a sorte de ter sido perpetuado em medalha de boa factura o seu contributo ao engrandecimento do País e ao conhecimento do Mundo. E sou obrigado a reparar no facto de o tamanho do instrumento celebrativo ter resistido melhor, quando a sua subtracção pareceria mais fácil. A dimensão da tiragem não explica tudo, há que levar em conta que os frustrados que atentam postumamente contra os Fautores da História tentam sugar alguma vida da espectacularidade de um acto que uma sonegação no campo da medalhística não faculta.
Foi O Navegador filho de D. João I muito bem servido na escultura portátil e circulante. A concepção coube a João da Silva, o maior talento da disciplina em Portugal e, nas anedotas da sua vida, uma encarnação lusa e tranquila da figura do Génio Distraído. Tendo falecido antes de ultimá-la, foi o acabamento confiado a Vasco da Conceição, uma digna escolha para o efeito.


Como tudo está ligado, as velas do meu pensamento dirigem-se a velocidade de cruzeiro para Outro Vulto que, como o Criador da Escola de Sagres, sacrificou a constituição de uma família, com as inerentes compensações, para assegurar o Império à Lusitaneidade. Também Ele viu a pequenez recalcada estragar as imortalizações que O honravam, como se o acto não atestasse que, se a cópia ficou sem cabeça, os autores da façanha confessaram serem dela desprovidos os seus originais.

domingo, 5 de agosto de 2007

A Paga e a Praga

O Dr. Paulo Macedo retoma o paleio do aumento salarial dos políticos, coisa que me obriga a antecipar um pouco a pensada visita a momento esquecido da nossa História: aquele 8 de Agosto de 1827 em que os Ministros do Reino se dirigiram à Regente, D. Isabel Maria, solicitando que os seus ordenados fossem reduzidos de oito contos de reis por ano a quatro contos e oitocentos mil reis. Mesmo sabendo que entre os demandantes estavam alguns dos que se haveriam de locupletar aquando da venda dos bens expropriados a Clero e Miguelistas, notava-se, ao menos, o empenho em mostrar desapego, enquanto que hoje é o contrário que é enaltecido. A ideia de que aos titulares de cargos públicos conviria receber mais do que o auferido no sector privado é uma regressão ao espírito das sociedades primitivas, prolongado ainda na actualidade em conhecidas e tentaculares seitas, segundo o qual o chefe tem de ser, por isso mesmo, o mais rico. No caso dos Parlamentares, então, o despudor é total; sendo os únicos trabalhadores (vá lá, finjamos) que decidem unilateralmente os respectivos vencimentos, exigir-se-ia, se qualquer sentido de missão restasse, que nunca votassem no sentido de os melhorar. Mas, continuando assim, acabam como Midas, aqui pintado por Tournier, castigado pela ganância: o vinho que tentava ingerir, transformado em ouro, torna-se impossível de beber. Também no Portugal de hoje o reconhecimento dos Eleitores se achará transmutado nas transferências bancárias chorudas e, tarde ou cedo, deixará de correr.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

A Minha Posição

Museu de Peter Heideck


Retirando ensinamentos do que se vem verificando nos últimos meses, tenho de me pronunciar aqui contra a criação do museu dedicado a Salazar. Então a função deles não é a de depósitos de realidades desprovidas de vida?