Nada melhor do que contar a nossa própria história quando temos história pra contar, não é? Eu evoquei a primeira coletânea feita para o meu aniversário pessoal - 28 de outubro - de volta totalmente remasterizada e completamente saída de fontes digitais: NIGHT IN MOTION. Ela só retrata a minha visão de mundo de sucessos da dance music entre 1989 e 1995 nas quais eu fui massacrado pelas rádios que eu ouvia naquele tempo. Era onde eu me inspirava para ser DJ nas festas e foi um belo primeiro boom que eu tive por aqui. Foi quase uma unanimidade para quem baixou na época.
O que vocês não sabem é que essa quase foi a minha coletânea derradeira. No dia seguinte - o do meu aniversário - eu passei muito mal em casa, vomitando a comida que fizeram pra mim na minha festinha de aniversário chegando a desmaiar no meu quarto. Meus pais me encontraram desacordado de bruços em cima da cama e o pânico foi geral. Tentaram chamar a ambulância, a SAMU, bombeiros e ninguém veio me socorrer. A solução foi: dois idosos e duas irmãs sendo uma uma menina magrela de 13 anos tendo de pegar o meu corpo desmaiado (gente, eu pesava 90 quilos!) no segundo andar da casa e me levarem para o carro que ficava no térreo, chegando no hospital onde eu fiquei na UTI internado por 30 dias sem um diagnóstico preciso.
Voltando à internação, no início foi como se eu tivesse tido um AVC. Canhoto, imagine o meu desespero ao ver que tinha perdido os movimentos do meu lado esquerdo e não conseguia nem falar direito e nem reter comida e nem líquido na boca? Já saindo do aquário onde eu estava eu fiquei internado num quarto coletivo com outros pacientes em estado grave onde eu via uma pessoa entrar em óbito do meu lado e outra também, sendo que uma senhora que estava do meu lado caiu da cama quando morreu. Eu tinha direito a fisioterapia e fonoaudiólogo, mas ninguém apareceu. Eu mesmo fui meu fisioterapeuta e fonoaudiólogo - quem lida com canto sabe técnica vocal e técnicas de relaxamento corporal incluindo noções de fisioterapia. Consegui recuperar meus movimentos e recuperei a minha fala. Cheguei a cair no chão na vez em que eu chamei a enfermeira para trazer um "compadre" porque eu estava apertado e tentei ir ao banheiro sozinho. Quando eu caí feito jaca podre e gritei por conta do tombo, vieram várias me acudir.
Trinta dias se passaram mas isso foi só a metade do rolê. Me mandaram pra casa com uma enxaqueca tamanha que eu mesmo queria decepar a minha cabeça tamanha a dor que eu sentia. Eu já não dormia mais no meu quarto: ficava num quarto extra na parte de baixo, para alguma eventualidade e e essa mesma chegou: Lá fui eu novamente para um hospital diferente e desta vez eu recebi um diagnóstico preciso: MENINGITE!
A princípio me isolaram em um quarto por medo da infecção ser viral, mas logo com um exame específico verificou-se que era FÚNGICA! Não contagiava quem estava perto, mas era o pior tipo para se pegar. A probabilidade maior foi a transmissão causada por contato com pombos e onde eu trabalhava tinha uma pombarada, não demorei para juntar lé com cré. Por isso, até hoje, eu passo longe deles. Passei por três punções liquóricas - eles enfiam uma agulha enorme na sua espinha para retirar o líquor da espinha e assim ver como anda o nível de infecção, que estava alta pra caramba -, uma tomografia, uma laringoscopia para verificar o por que de não conseguir reter comida (e enfiaram aquela bagaça até o meu estômago) e beirei a uma nefrite (falência renal) que eu consegui reverter bebendo litros d'água no leito de hospital.
Perdi 30 quilos por conta disso (desci de 90 para 60 quilos, Puro Osso!), adquiri uma anemia profunda e só não morri porque tomei duas bolsas de sangue em uma transfusão e foi quando eu consegui reagir. Eu estava desenganado quando eu comecei a melhorar a olhos vistos. A meningite cedendo, eu conseguindo me alimentar, eu dei bye bye aos espíritos camaradas que cuidaram de mim ali. Eu sumi para o mundo por três meses e todo mundo me caçando - ninguém sabia que eu estava na UTI à beira da morte. Só souberam da história toda depois que eu tive alta do hospital.
Por causa disso eu tenho dois aniversários, agora: Um de nascimento e o de renascimento. Eu saí um dia depois do aniversário da minha mãe. Não vi Natal, Ano Novo, nada
Esse foi um pedaço sombrio da minha vida que eu calhei de compartilhar com vocês. Se eu sucumbisse à meningite hoje a Sky Walker não mais existiria e tampouco estaria meses à beira de seus 15 anos de existência. O tempinho que eu doo aqui tendo como retorno o comentário de vocês me é muito gratificante. Então agradeço por não ter ido e me chutarem de volta pra Terra (risos).
Abaixo vem o texto do post original. Deliciem-se! FUI, PADAWADA!!!
"Salve, amiguinhos do site! Titio Sky está fazendo aniversário mas quem ganha o presente é você. Voltando aos bons tempos dos anos 90, apresento NIGHT IN MOTION, VOL. 1 com dance music de primeira que, graças ao nosso grande DJ Memê, vieram ao conhecimento do grande público na época. Durante seus programas na Rádio Cidade e RPC FM estas canções foram amplamente executadas e estavam bombando nas pistas do mundo inteiro.
Para você que ACHA que sabe o que tocou e como tocou na época talvez se surpreenda com as versões aqui apresentadas, independente de sua preferência. Como todos sabem, nessa época ou se dançava ou se fazia bastante rock e o inglês estava em alta. E para o público carioca a música só funcionava no remix. Quem se baseia em trilhas de novela pode se estrepar pois não apresenta a realidade fidedigna das rádios.
Começamos abrindo com o classicão "Stars", do Simply Red. Em 1992 só dava essa versão nas pistas. A versão do álbum, claro, também tocava mas mais nas rádios destinadas a adultos como Antena 1 FM ou JB FM. Para nós, adolescentes na época, considerávamos chatos os originais. Do álbum homônimo, Mick Hucknall exagerou dizendo que seu álbum seria "lembrado como o disco da década" (fonte: Revista Bizz). Não chegou a este ponto e os críticos até desdenharam um pouco, mas o tempo provou que ele figura como o melhor álbum da banda. Curiosamente "Stars" teve mais êxito no Brasil do que em outros países juntamente com "For Your Babies", enquanto "Something Got Me Started" obteve a preferência dos gringos.
Em seguida vem a cantora americana Shawn Christopher com "Don't Lose The Magic", um grande hit exaustivamente executado pelo DJ Memê e hoje em dia ainda lembrado especialmente nas boites gays com seus remixes renovados em especial os tribais. Essa canção foi número 1 nas paradas dance da Billboard. Shawn foi backing vocal de Chaka Khan e participou do projeto dance My Life With The Thrill Kill Kult e também com o grupo Sonia Dada. Ela emplacou mais três #1's nas pistas entre 1989 e 1998.
New Order, a legendária banda oriunda do Joy Division comandada por Peter Hook e Bernard Sumner (o cantor juntou-se a Neil Tennant dos Pet Shop Boys formou o duo Electronic), lançou "Republic" em 1993 e no ano seguinte após o lançamento de duas coletâneas de sucessos a banda teve seu primeiro rompimento. "Republic" foi produzido pelo grande produtor Stephen Hague e tem influências do som de Ibiza. Deste disco saiu "Regret", o maior hit da banda até então nos Estados Unidos - aqui o maior hit é, indiscutivelmente, "Bizarre Love Triangle" - que aqui nas nossas estações de rádio foi apresentada com este remix, gerando um pouco de descontentamento quando a molecada comprava o CD - eu comprei o cassete - e vinha a versão original, um rock. Em outros estados do Brasil essa versão original foi a divulgada parando na trilha sonora de "Olho no Olho" no mesmo ano. O mesmo aconteceu com "World (The Price of Love)" que para o Rio de Janeiro era divulgado em dois remixes - um para as rádios e outro para as pistas. A versão que tocava no rádio pode ser conferida na coletânea "The Rest of New Order".
Abusados, sexy e bons de tão ruim: Assim Right Said Fred foi apresentado ao mundo. Além da irreverência e ótimo humor nas canções, o trio formado pelos musculosos irmãos Richard e Fred Fairbrass mais o franzino guitarrista Rob Manzoli mostrou competência ao emplacar 6 hits em seu álbum de estreia, "Up", lançado em 1992 no Brasil pela ex-BMG Ariola atual Sony Music. No restante do mundo saiu pela Charisma Records/EMI.
"Don't Talk Just Kiss", lançado em 1991 no exterior e em 1992 no Brasil após "Up" estar nas prateleiras, foi o segundo hit deste álbum e também foi tema da novela "Despedida de Solteiro" no mesmo ano. Memê apresentou ao público primeiramente com este remix, Suck Face 12" - Remix raro hoje em dia, inclusive. E a música caiu no gosto do público em sua versão original, depois, contando com a luxuosa participação de Jocelyn Brown (cantora de "Somebody Else's Guy"). Além dessa, a banda ainda tem como hits do mesmo disco: "I'm Too Sexy", "A Love for All Seasons", "Deeply Dippy", "Swan" (na Europa, principalmente na Alemanha) e "Those Simple Things". Com o advento da popularização do CD no Brasil, na época, a vendagem foi razoavelmente boa.
Quem, em 1991, nunca chegou na pista e gritou "Dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro..."? Clubhouse, um projeto de ítalohouse comandado por Gianfranco Bortolotti, emplacou essa música nas nossas paradas graças à esperteza do DJ Memê. "Deep in My Heart", também conhecida como a 'Melô do Dinheiro', conta ainda com o sampler de "Power of Love", do Deee-Lite. Na época não se encontrava o álbum para comprar nas grandes lojas. Somente o vinil 12" em lojas especializadas para DJ's. A canção só saiu mesmo em CD em 2003 no álbum "Flash Back House 3", da Fieldzz.
Em 1993 a cantora Janet Jackson estava em um excelente fase em sua carreira com o excelente álbum "janet.", que é nonstop e estilo 'tour de force'. "If" foi o segundo single, gerando excelentes remixes e dentre eles este feito por Brothers in Rhythm. E era assim que "If" era divulgado. Nas noites da RPC FM tocava demasiadamente, embora o público hoje em dia só lembre de "That's The Way Love Goes".
"Night In Motion", a música que dá nome a esta compilação, foi composta pelo duo belga Cubic 22, vindo à tona no Brasil somente em 1992, um ano depois de seu lançamento no cenário dance londrino. A canção demonstra como é um segmento da dance chamada de Rave Music, com aqueles vocais gritados. Cubic 22 é mais um daqueles casos de banda de um único sucesso ao longo da carreira.
Celebrate The Nun é sempre confundido com Depeche Mode por causa da voz de H. P. Baxxter, muito parecida com a do vocalista do Depeche. Em 1989, para o mundo, e para nós, brazucas, em 1990, emplacam "Will You Be There", uma das mais tocadas dos tempos do Hot Mix, da Rádio Cidade.
Mudando de assunto, todos acham que o maior hit de CeCe Peniston foi "Finally", em 1992. Pode até ser hoje em dia por causa do filme "Priscila, A Rainha do Deserto" mas naqueles tempos era "We Got A Love Thang". Todo mundo se levantava na pista quando o piano tocava e ela dava o gritinho. Aliás, comecei a tocar piano por causa desta música. Além desta versão remixada Steve "Silky" Hurley, Memê também executava muito a versão 'Maurice's 12"', remixada por Maurice Johnson.
Jesse Lee Davis, mais um cantor de um único sucesso, deixou sua marca em 1993 com "Is This Love". Com sua voz parecida com a de William Naraine (Double You), essa música primeiramente saiu na coletânea 'Hitbikers RPC FM', da Sony Music. Depois saiu no álbum 'Hot Hits', da Globo Columbia / Som Livre e em uma fita cassete da gravadora Sony feita especialmente sob encomenda da Coca Cola para uma promoção - aquele lance de junte as tampinhas e mais X reais e troque por uma fita...
O projeto italiano Candice Star já veio depois do Memê, em 1995, quando a Jovem Pan era quem mandava nas orelhas juvenis. "Sing It to You" era bem executada no programa "Ritmo da Noite", parando posteriormente em um dos volumes em CD lançado na época pela Spotlight Records.
No mesmo ano o conjunto dominicano 2 In A Room emplacou "El Trago (The Drink)" até o fiofó fazer bico. A música saiu na obscura coletânea "Dance Parade" por um selo pequeno, Koalla Records. Certamente um dos grandes sucessos do ano.
Este megaclássico não poderia ter ficado de fora: "Move Your Feet to the Rhythm of the Beat" foi lançado pela Columbia / Sony Music em 1989 para o mundo e em 1990 para os mortais brazucas. O finado DJ e produtor holandês Peter Slaghuis - morto em um acidente de carro em 1991 - lançou um vídeo ao mesmo tempo tosco e muito divertido para esta música. E o nome Hithouse na verdade veio do próprio sobrenome de Peter - "Slag" significa 'Hit' e Huis, 'House'. Se ele fosse americano ou inglês, seria Peter Hithouse.
A coletânea fecha com a rara "The Theme". Loop 7 é o pseudônimo do DJ, pianista / tecladista e produtor japonês Satoshi Tomiie, um dos grandes nomes - até hoje - da dance music. E ele é fogo, mesmo, com PH: Praticamente fez as linhas de piano e teclado da época na maioria dos remixes de dance music, em especial a lendária performance de "Thank You Everyday" (Deee-Lite) e no início trabalhou com o grandioso Frankie Knuckles - um dos papas dos remixes.
"The Theme" saiu somente em vinil pelo selo Strictly Rhythm - hoje em dia distribuído pela BMG Rights Management mas na época era um selo distribuído no Brasil pela Paradoxx - em 1994 e gerou outros três remixes além deste que Memê adorava tocar em seu programa. A sua linha de mixagem lembra muito os remixes do David Morales para "A Roller-Skating Jam Named Saturdays" no qual ele participou tocando os teclados.
Espero que vocês curtam muito este lançamento e em breve o volume 2, com mais sucessos do meu tempo de moleque. Até a próxima, criançada!"