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terça-feira, 31 de março de 2015

Primeiro trimestre

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Aconteceram tantas coisas na minha vida nesses três meses que eles parecem ter durado cinco anos. Deixei um emprego sem ter outro em vista. Sofri uma grande decepção. Voltei a estudar. Chorei tanto que ainda não sei como sobrevivi. Me tornei ainda mais grata por ter uma família que me ama tanto. Me perdi, me encontrei, me perdi de novo, me encontrei de novo. Estou me procurando.

Entendi que ir embora pode ser a coisa mais corajosa a se fazer. Aprendi que perdoar às vezes é muito difícil, mas é importante fazer uma tentativa. Me convenci de que é muito cedo para abandonar os meus sonhos. Constatei que eu nunca quis tanto: escrever, me apaixonar e viajar por aí. Apesar de não me considerar boa ou preparada o suficiente para nenhuma dessas coisas. Virei noites e noites (essa, inclusive) tentando entender mil coisas sobre mim mesma. E as conclusões não param de mudar.

Amadureci muito, mas ainda me sinto aquela menina de 8 anos com várias ideias diferentes sobre o que seria quando crescesse. Enumerando possbilidades, imaginando sem parar as consequências de cada caminho. Desde pequena eu tenho essa mania de pensar muito. Principalmente no que os outros estão dizendo. Se estão rindo de mim, balançando a cabeça para as minhas escolhas, analisando cada um dos meus erros. Isso destrói minha vida em tantos aspectos. Dar uma importância enorme ao julgamento das outras pessoas. Deixar que me atinjam. Me comparar com elas.

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Theodore Roosevelt disse: “Comparison is the thief of joy”. Como discordar? Comparar nossas vidas com a dos outros é uma das coisas mais cruéis que podemos fazer com nós mesmos. A gente se sente fracassado, inútil, ficando para trás. Não consigo dizer quantas vezes eu me senti assim, perdi todas as forças e quis ir pra casa chorar.  Jon Acuff disse: “Don’t compare your beginning to someone else’s middle”. Cada um tem o direito de escolher a vida que pretende viver. São ritmos diferentes, outros objetivos, prioridades opostas. Não sei quanto ao resto do mundo, mas a minha prioridade é ser feliz.

Vira e mexe eu acho que não dá mais tempo. Que é tarde demais para reviravoltas. Que acabou. Não é nada saudável viver na minha cabeça e eu estou nela o tempo todo. Nesses momentos, as palavras socorrem. A arte liberta. O choro conforta. Às vezes, por incrível que pareça, sou salva por uma versão antiga de mim. Há dois anos, eu passei por uma mudança brusca e escrevi:O que me move é olhar para o espelho e não enxergar uma ressentida que abandona a essência como se nada fosse e joga os princípios no lixo. Vejo uma menina que não sabe ainda o que pode esperar do futuro e se sente um bocado perdida, mas vai à luta. É difícil. Leva tempo. A vida é imprevisível. Mas dizem que em algum momento eu vou ter certeza de que não foi em vão.”. É difícil dizer se ainda tenho muito em comum com a dona desse texto, mas concordo com ela. Queria um abraço dela. Bem forte.

Na sexta-feira passada, estive em uma festa sensacional. Fazia tempo que andava me sentindo muito sem vaidade, sem paciência, sem vontade de me arrumar. Naquele dia, por alguma razão, eu decidi me empenhar. Coloquei brincos dourados enormes, usei um vestido de renda romântico, arrisquei no smokey eye, passei o batom magenta mais bonito do mundo. Me senti linda e confiante pela primeira vez em muito tempo. E me diverti horrores. Não pela maquiagem, não pelo vestido, mas pela mudança de atitude. Pelo menos por uma noite eu não precisaria me preocupar com o depois. No dia seguinte, me dei conta de que a garota produzida, com uma caipirinha na mão e um sorriso no rosto, que se joga na pista de dança como se ninguém estivesse olhando, não precisa ir embora quando o fim de semana chega ao fim. Ela pode ficar. Eu quero que fique.

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Às vezes eu acho que passei um tempo precioso só me preocupando. Parece que metade de mim vira medo e a outra, uma triste coleção de dúvidas. Estou exausta. Não dá pra continuar assim. Chegou a hora de acreditar. Dar uma chance para a leveza que mora em mim, em algum lugar. Esquecer os julgamentos dos outros, enterrar fatalismos. Ver o que acontece. Ter um pouco de esperança. Colocar os holofotes no presente.

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Aconteceram tantas coisas na minha vida nesses três meses que eles parecem ter durado cinco anos. Eu me sinto grata, cansada, feliz, triste, velha, jovem, sábia, perdida, cheia de coragem e morrendo de medo. Estou me redescobrindo.

Love, Tary

quinta-feira, 14 de março de 2013

Esperança

Dizem que ela é a última que morre. Aquela que permanece viva quando todos os outros sentimentos já se acomodaram dentro da gente e permaneceram por lá, em algum cantinho escuro, acuados e sem saber para onde ir. Mas existem momentos em que falha. Porque não é feita de aço, mas de madeira. É dura, resistente, osso duro de roer. No entanto, acumula vários arranhões, solta lascas e deixa farpas que sangram nossos dedos. Por mais que tenha sido criada para curar, dói. E machuca de verdade. Porque às vezes é tudo o que a gente tem. Nos agarramos a ela com os braços e as pernas, com medo de soltar e ser jogado naquele precipício sem fundo chamado descrença.

Quando a tristeza bate, sentimos que está sumindo. Mas ela nunca vai embora. É o nosso combustível. Sabe aqueles dias em que você acordou com uma fogueira dentro do peito, querendo olhar o Mundo e dizer “seu moço, o senhor tem jeito, sim!”Foi culpa dela. Perseverante essa tal de Esperança. Briga com todos os sentimentos ruins que tentam te dominar. Uma verdadeira guerreira que batalha sem parar e nunca se cansa. No fundo, eu acho que a Esperança que está dentro de você conversa com as xarás que estão dentro das outras pessoas. E digo mais: ela não vive só no seu peito. Está por aí, correndo com o vento.

Porque aparece em um texto que você lê. No travesseiro geladinho depois de um dia quente de trabalho. Naquela brisa que vem pela janela do ônibus e te obriga a fechar os olhos só um pouquinho. Ela aparece no álbum de formatura e nos olhos da sua mãe. Não há nada nesse mundo mais cheio de esperança do que o olhar de orgulho das nossas mães. Dá pra ver o amanhã lindo que elas pintaram pra gente.

A vida inteira nós temos momentos de crise, de revolta, de medo. Daquela angústia que te faz se perguntar quando foi que você se quebrou e onde foram parar os seus pedaços. Mas a Esperança está lá. Brigando com tudo isso, gritando a plenos pulmões e velando teu sono de noite.

Estou escrevendo isso porque minha amiga aqui de dentro pediu. Ela disse que não consegue sozinha. Que eu preciso acreditar nela todo o tempo. Disse que sabe o quanto é difícil, mas que andou conversando com um tal de Futuro e ele deixou escapar algumas coisas muito boas que anda guardando. Implorei pra que me contasse, mas ela não quis. A danada me mandou ter calma, serenidade e, ao mesmo tempo, coragem. Se a Esperança é o combustível, eu preciso não ter medo de riscar o fósforo.

HOPE

Love, Tary

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Free spirit

spirit

Eu sou um pouco avoada. Não é minha melhor faceta e tampouco me orgulho dela, mas é a realidade. Felizmente ou infelizmente - vai saber - , sou viciada em pensar. Meus devaneios me levam por aí e, quando me dou conta, nem sei qual foi o primeiro pensamento que me trouxe para onde estou. São incontáveis as vezes em que vivi histórias incríveis dentro da minha própria cabeça. O que, obviamente, tende a me desprender do mundo real.

Sou dona de esquecer datas ou não ligar a mínima para aquilo que os outros dão a maior importância desse mundo. Somada à praticidade, essa característica pode ser confundida com frieza. Já pensei que fosse verdade, mas fui aprendendo a me compreender. Na minha cabeça, as coisas são mais simples. Sei bem que não faço nada de caso pensado nem de má fé e dou milhões de pontos sem nó algum. Para os outros, deve ser mais difícil entender. Normal. Eu demorei também e ainda me confronto comigo mesma.

A verdade é que sou um espírito livre. Obedeço as regras com as quais não posso lutar e até sou fã da existência de algumas delas, cumpro meus compromissos diários e pago contas com uma organização militar. Mas não gosto de ser obrigada a nada. Salvas algumas exceções, eu sinto que obrigação deixa tudo menos divertido. Menos leve. E eu busco a leveza com o empenho de quem busca o ar depois de muito tempo dentro d’água.

Vez ou outra deixo a empolgação me envolver, mas é difícil que eu não me arrependa depois. Não é à toa, por exemplo, que muitos dos livros “sugeridos” pelos professores da faculdade acabaram ficando pra depois. E, agora que não sou obrigada, tenho até mais vontade de me deliciar com eles. Tem aqueles momentos em que eu gostaria muito de cair de cabeça em alguma coisa nova, muito bacana e com regrinhas inofensivas, mas, ainda que eu teime, minha personalidade me conhece e me chama à razão.

Manter o meu espírito livre deve ter a ver com o fato de eu não acreditar muito em liberdade no sentido prático da palavra. Isso parece esquisito, eu sei. Porém, acredito que é difícil ser totalmente livre. Difícil ser totalmente livre quando as forças do poder dominam toda uma sociedade. Difícil ser totalmente livre vivendo num mundo de prisões. Já ouvi dizer que “a única liberdade que temos é a de escolher mudar de prisão”. E se parar bem pra pensar nisso, dá pra ver que faz sentido.

Só que com o meu espírito e com o mundo que vive dentro da minha mente ninguém tem nada a ver. As lavagens cerebrais acontecem todo o santo dia. Na televisão, na internet e até nos livros que eu tanto amo. Mas ainda não inventaram uma máquina de ler e controlar pensamentos. Quando eu coloco os fones nos ouvidos ou quando estou debaixo do chuveiro com o cabelo todo cheio de xampu, sempre vejo janelas. Mesmo quando não tem nenhuma à vista. E meu espírito voa, livre. Posso até estar solitária depois da viagem – e quase sempre estou –, mas eu sei, dentro de mim, que não conseguiria viver de outro jeito. As celas são inevitáveis nessa vida, mas basta fechar os olhos e imaginar. Imaginar as janelas.

diana

Love, Tary

P.S: Está rolando um projeto mensal lindo, idealizado por duas das minhas amigas mais queridas. Ser um “espírito livre” me impediu de me adaptar, mas eu convido vocês a conhecer a ideia nos blogs da Dede e da Analu.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Eu te avisei: vai à luta

Enquanto olho para o meu quarto bagunçado me pego pensando no quanto a vida é imprevisível. Num dia a gente tem total certeza de quem é, do que quer e para onde está indo. Vinte e quatro horas depois, seu destino não está mais nas suas mãos e não há nada que você possa fazer quanto a isso. Alguns de vocês podem dizer que o controle é nosso. Somos nós que apertamos os botões, avançamos, paramos, desligamos. Mas a verdade é que várias forças interferem no processo e nós nos conformamos muito facilmente. Porque o conformismo é simples, não exige tentativa e erro nem tentativa e acerto. Se o conformismo fosse gente, seria aquela vizinha carrancuda que não responde seu bom dia e ainda fala mal de você pelas costas.

Mudar é que é complicado. Desistir quando não está se divertindo mais é que é corajoso. Ficar parado olhando o mundo girar e não levantar os braços para sentir a brisa é a verdadeira covardia. Crescer não significa abdicar de tudo, se contentar com tudo e aceitar tudo. Crescer é não deixar nunca de torcer o nariz para o que te faz infeliz. Crescer é dar a cara à tapa pelo menos uma vez para não ter que contar para os netos que teve medo de todos os riscos que apareceram pela frente. E por mais contraditório que pareça, crescer é saber a hora de virar criança. Colocar os pés pra cima e adivinhar o desenho das nuvens sem medo de parecer idiota. Se a perseverança fosse gente, seria aquela priminha que agarra sua mão e pede: “Não vai embora agora, brinca mais um pouquinho!”.

Ao olhar para o meu quarto bagunçado esperando – ironicamente - que eu dê uma de adulta e arrume a confusão antes que ela me engula, me dou conta de uma coisa espantosa: ainda tenho muito a crescer. Preciso aprender um bocado, apanhar um bocado, chorar um bocado. Ainda tenho muito a viver. E eu vou. O que me move é olhar para o espelho e não enxergar uma ressentida que abandona a essência como se nada fosse e joga os princípios no lixo. Vejo uma menina que não sabe ainda o que pode esperar do futuro e se sente um bocado perdida, mas vai à luta. É difícil. Leva tempo. A vida é imprevisível. Mas dizem que em algum momento eu vou ter certeza de que não foi em vão.

yep

Love, Tary

domingo, 27 de maio de 2012

Reflexões em um domingo chuvoso

Na última quinta-feira, entreguei meu pré-projeto ao meu orientador. Isso representou uma gota no oceano se eu for levar em conta a quantidade de coisas que ainda preciso fazer até o final deste ano, eu sei disso. Porém, quando encostei a mão no papel quente recém impresso contendo meses de esforço, tudo o que eu pensei era no final de semana que me aguardava. O primeiro em que eu me permitiria não pensar nesse trabalho, não falar sobre esse trabalho e não me angustiar por causa desse trabalho. Badalação era o que eu menos queria, de verdade. Meus planos se resumiam a ver milhões de vídeos na internet, ouvir música prestando atenção nas letras e, principalmente, ler.

Na noite de ontem, depois de chegar do trabalho, coloquei meu pijama de frio, roxo com bolinhas brancas, e me joguei na cama com a intenção de não fazer absolutamente nada. Depois de assistir as minhas novelas de todos os dias – porque eu voltei a ser noveleira, com orgulho –, fui ver a entrevista do Frejat com a Marília Gabriela, morri de amor ao descobrir que o primeiro CD do Barão vai ser lançado novamente pra comemorar os 30 anos da banda, minha favorita. E aí me deparei com uma outra entrevista que eu ainda não havia visto – acompanho religiosamente todos os “De Frente com Gabi”. Era de um menino chamado Lucas Silveira. A cara eu já conhecia faz tempo, o sotaque gaúcho também. Sabia que ele era líder da Fresno, banda que nunca ouvi nenhuma música. Mas de ouvir as pessoas criticarem e chamarem de emo, no sentido mais pejorativo da palavra, eu me lembro. Descobri que além da banda, ele tem outros três projetos musicais: SIRsir, Beeshop e Visconde. Percebi que o cara é inteligente, articulado e parece ser um piá bem gente boa, sabe? O projeto que eu pude conferir até agora foi este último, o Visconde. E estou apaixonada. Tudo por causa de uma canção chamada 6h34 e da voz que diz coisas lindas como: “amanheceu e eu deveria estar dormindo, mas esses versos são palavras explodindo e no teu colo, um dia, elas vão cair”.

“Nem liga, guria…”

Hoje, eu ouvi o dia inteiro. Durante o banho, debaixo das cobertas, olhando o céu nublado com o rosto encostando nas grades da minha janela. E isso tudo me fez pensar em algo nada parecido com a música ou com meu lindo domingo preguiçoso: preconceito.

Sempre ouvi as pessoas falarem tão mal desse menino, gente. Mal mesmo. Coisas pesada e cruéis. E eu duvido que metade delas tenha parado pra ouvir alguma música. Garanto que se resumiram a olhar de cima em baixo, reparar no cabelo, nas tatuagens e dizer apenas uma palavra para rotular. Como se uma palavra pudesse definir alguém. Sabem o que é isso? Um reflexo do mundo em que vivemos. As aparências importam mais, não é mesmo? Sempre. Olhos sinceros não significam nada se a pessoa não tiver o corpo perfeito, o nariz perfeito. Músicas bonitas não significam nada se o cantor não usar o cabelo convencional, a roupa padrão, repetir o mesmo discurso. Que triste. Que mesquinho.

Cresci ouvindo as pessoas falarem mal de coisas fantásticas. A vida inteira. Já pensou se eu tivesse dado ouvido a todas elas? Teria perdido muito. E hoje, ouvindo essa música e lendo um dos livros mais incríveis que já passaram pelas minhas mãos nos últimos anos, pude concluir exatamente isso: o preconceito pode nos privar de conhecer maravilhas, de ter experiências novas. E até, vejam vocês, de sermos pessoas melhores.

Agora eu estou aqui, vestindo meu pijama com a estampa de  um gatinho que diz: “I’m cute and I know it” e meias bem quentinhas. Com os cabelos ainda molhados, fazendo da cama o meu mundo, com os pensamentos a mil e... alegre. Por ter conhecido músicas  de um cantor legal que vão me fazer sorrir enquanto ando por aí, por estar lendo um livro que os intelectuais achariam completamente dispensável e, principalmente, por ter prometido a mim mesma que jamais deixarei o preconceito – o meu e o dos outros - me impedir de fazer coisas assim.  Quem quer que estiver lendo isso: pelo amor das coisas incríveis que você pode estar perdendo: conheça primeiro. Não dói, não custa nada e você pode se surpreender.

As grades da minha janela. Achei que combinavam com a música e com o texto ;)

Love, Tary

P.S: O livro que eu estou lendo é “As Vantagens de ser Invisível”, do Stephen Chbosky. Estou na metade e meu coração se quebra um pouquinho a cada página. É muito bonito. 

P.S II: Domingo chuvoso, friozinho, livro encantador, músicas novas, fotos, post no blog e reflexões. Tomara que isso seja um presságio para o resto da semana, né?

domingo, 6 de maio de 2012

Deixe as luzes acesas agora

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Quando eu abri meus olhos na manhã de sábado tudo o que quis foi me deitar de novo e dormir, dormir, dormir. Mergulhar na escuridão de um sono sem sonhos. Daqueles tão profundos que não se sabe a hora em que foi dormir e nem se importa com o momento em que terá de acordar. Quis ficar abraçada ao meu travesseiro, despreocupada debaixo do edredom cor-de-rosa, com duas corujas velando meu sono.

Mas esse pensamento precisou durar menos de dois minutos. Fora do meu quarto, um mundo de compromissos me espera. Sair de casa e ver as luzes do dia é como nascer de novo a cada amanhecer. Porque, no começo, os olhos nem se atrevem a abrir direito, ficam assustados por causa da invasão do sol. É só depois de um tempo que o calor vai grudando na pele, as bochechas vão ficando coradas e os olhos se acostumam com a beleza.

Esses dias assisti um filme lindo em que o protagonista é cego desde que nasceu. Aprendeu a ver o mundo com o tato, com as mãos, com os cheiros, com os sonhos. Não sabe o que é a luz, o que são nuvens, sombras, tem dificuldade em entender as cores e o horizonte. Sorri quase chorando com o barulho da chuva porque escuta as gotas acariciando as janelas. E então ele se apaixona por alguém que já conhece tudo o que ele nunca pôde ver. Alguém que sabe o que são sombras e vive na explosão de uma cidade grande. Ela faz com que ele queira enxergar. Faz pesquisas, procura especialistas.

O rapaz bonito se convence e faz uma cirurgia dolorosa. No momento em que os médicos tiram os curativos de seus olhos, ele mal pode acreditar que aquilo seja enxergar. É muita luz para quem não sabe o que é isso. Ele entra em parafuso, não está habituado com aquilo. Para reconhecer tudo o que vê precisa fechar os olhos e tocar, como se ainda não pudesse ver. Com o tempo, vai descobrindo o mundo através dos olhos. Nasce de novo. Vê o horizonte, as nuvens, a mulher que ama, tudo. E o que acontece depois só assistindo pra sentir. O fato é que as luzes se acendem dentro e fora do personagem dessa história incrível e baseada em fatos reais.

Assim como cintilam em cada um de nós a cada abrir de olhos, a cada novo dia, a cada lágrima caindo nas mãos abertas pressionadas no rosto e enterradas nos cabelos. Porém, nunca se acendem sozinhas. É preciso permitir. Acordar. Sair do quarto e deixar os olhos enxergarem. Mesmo fechados. Porque as luzes estão também nos perfumes, nos toques, no barulho da chuva. Nos cabelos que brigam com o vento. No coração dançando tango dentro do peito. Nos pés que caminham lentamente. Nos outros. Em mãos entrelaçadas, em beijos inquietos, em abraços que irradiam. Em nós.

Love, Tary

P.S: O filme se chama At First Sight. E me fez chorar.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Me fiz em mil pedaços

A perdição está inserida em nós. Em cada pedaço minúsculo de nós. Com frequência, ficamos estagnados, distraídos, impacientes, divididos, apáticos, sozinhos. Sem saber qual caminho tomar, sem saber qual distância percorrer, sem saber quem amar. Sem fazer a menor ideia de para quem se entregar. E, de repente, quase sem querer, somos cobrados por todas aquelas chances desperdiçadas, destruídas, jogadas ao vento. Todas aquelas chances únicas que colocamos nas mãos e assopramos. Feito crianças enviando beijos pelos ares.

Nos quebramos em mil pedaços esperando que alguém nos junte e que desse quebra-cabeça estranho se forme uma figura tranquila, bonita, correta. Mentimos para nós mesmos de dia, de noite, de madrugada e até durante o sono. Até que nos damos conta da verdade da vida: mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira. Porque afinal, no final, somos todos anjos caídos, esperando poder voltar para o lugar de onde saímos.

Foi uma grande amiga quem me ensinou a olhar as coisas como se fosse a última vez. Como se fosse ficar cega dali dois segundos. Por isso, hoje, o céu sempre puxa os meus olhos para ele e sussurra: experimente das minhas nuvens. E é assim com todas as outras coisas e a paixão nunca me abandona. É uma pena que quase ninguém veja o mundo como eu vejo. Porque se assim fosse, mais gente saberia sobre o poder do infinito, um dos deuses mais lindos. Mas quem sabe, afogada na perdição de todos os dias, eu encontre alguém que diga, entre risos abafados: eu quero o mesmo que você.

lost

“Quantas chances desperdicei, quando o que eu mais queria, era provar pra todo o mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém. Me fiz em mil pedaços, pra você juntar. E queria sempre achar explicação pro que eu sentia, como um anjo caído, fiz questão de esquecer que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira” (Quase sem Querer, Legião Urbana)

Este post foi inspirado e composto com trechos dessa canção linda-maravilhosa ouvi no repeat sem parar durante a última semana.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Gente chata

Se tem uma coisa que me irrita horrores, a ponto de fazer com que eu contraia os dedos dos pés e revire os olhos até ficar vesga de ódio, essa coisa é o  tal do pseudo-cult. Não sei bem como a espécie nasceu, mas o fato é que ela se reproduz vorazmente por todas as redes sociais e vem se multiplicando de forma assustadora no dia-a-dia também. Ô raça, viu. Essa gente parece dominada pela bundamolice, característica daqueles que só sabem encher o saco alheio e não conhecem a diversão despretensiosa.

Porque na visão desses pentelhos, é uma decepção muito grande uma menina que gosta do Woody Allen se sentar no sofá da sala pra assistir os barracos de um reality show tosquinho. E imagine só! Essa jovem leitora de Florbela Espanca se aventurando em um festival sertanejo? Não pode, não pode! Isso só pode ser heresia, ou remake de A Fazenda. Ai, ai, ai. Deixa eu contar até 10 mil. Posso falar? Vão aprender a se divertir e depois a gente conversa um bocadinho. Simplesmente não consigo conviver com esse povo sem ter a imagem mental de uma voadora daquelas sendo desferida em seus belos narizes empinados.

Isso tudo me leva à uma conversa hilária que escutei no ônibus esses dias. Estava lá, de pé, um dos caras mais chatos que já tive o desprazer de conhecer na minha vida, discutindo Platão na maior altura – e arrogância – com um outro rapaz que usava óculos estilosinhos. Enquanto o insuportável monologava pra si mesmo, eis que o de óculos começa uma frase com: “Então, tô lendo um livro do Augusto Cury que…” Pausa. 

Risos eternos, minha gente. Eternos e vingadores. Tomou no orifício, senhor pseudo-qualquer-coisa. Por essa você não esperava, não é mesmo? Ficou até sem saber o que dizer.  Nesse momento queria muito poder descrever a cara do chatão, mas as risadas não me deixam nem lembrar direito. Certamente, ele teve vontade de morrer, ou de se jogar do ônibus em movimento. Moço dos óculos estilosos, se você fez de propósito, meus parabéns! Foi a trollada do século.

O que mais me irrita nesse tipo de pessoa é o fato de que estão pouco se lixando pra bagagem adquirida com as coisas que leem, escutam ou assistem. O importante mesmo é ir se exibir no Facebook, no Twitter, no Filmow ou no Orangotag. Ou fazer o que fazem de melhor: desmerecer os outros. Sempre com aquele ar de superior. Eles acham que estão abafando, mas na verdade, só estão sendo companhias desagradáveis. Gente chata. Apenas chata. Como lidar? Melhor não lidar. Porque Cazuza já dizia:

“Respeito quem é radical, respeito quem ama errado, respeito o cara careta e o cara exagerado, quem não gosta de criança e quer viver solitário, quem odeia rock'n'roll, mas gosta de um rebolado. Só não há perdão para o chato.”

Eu continuo ouvindo minhas músicas pop, lendo livros de mulherzinha, assistindo Legalmente Loira sempre que passa na TV e rindo de gritar com os barracos dos bons tempos de BBB. Nem por isso deixo de ler Saramago, escutar canções antigas, ver  filme europeu e documentário. E sabe por quê? Porque eu gosto de verdade, não pra ser rotulada por isso. E se eu quiser ir a um show de sertanejo com as minhas amigas logo depois de terminar um livro do Nabokov? Eu vou mesmo. Porque nada do que eu faça pra me divertir, desde que não machuque ninguém ou a mim mesma, é errado. E, afinal, realmente. Só não há perdão para o chato.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Figurante do Woody Allen

Gosto de coisas antigas. Filmes em preto e branco, livros clássicos, músicas. Meu cantor favorito já se foi há mais de 20 exageros, um ano antes de eu nascer, o que me enche de tristeza como se tivesse ido a todos os shows, conhecido pessoalmente, pegado autógrafo e tirado foto.

As canções favoritas da minha vida, meus dois hinos, meus dois mantras também são de outra época, tocaram primeiro em quartos sem internet nem televisão. Adoro sair pra dançar, mas não me importo em ficar em casa fazendo da minha cama o meu mundo, bem 90 aninhos, escrevendo cartas e desenhando corações.

Admiro mulheres de outros tempos, algumas lá da Idade Média, me inspiro em coisas que nem devia conhecer, fico nostálgica com coisas não vividas. No fundo – ou na superfície –, eu me encaixaria perfeitamente, assim como milhões de outras pessoas, naquele roteiro do Woody Allen, aquele mesmo que ganhou o Oscar e ele não foi buscar.

Porém, não sou insatisfeita com o meu tempo. Coloco todas as músicas da antiga pra tocarem lado a lado com as novas. Canto meus hinos todos os dias sem nem me importar se vão me achar louca por passar a vida cantarolando pelos cantos –mesmo quando morro de vergonha ao notar que fui surpreendida nas minhas cantarolices – , coloco as mulheres admiráveis pra estampar o meu espaço.

Eu não vivo de passado, mas gosto de olhar para trás, experimentar as histórias e depois contar o que aprendi. Pode me chamar de pós-moderna, dizer que não me aprofundo no passado, no presente ou no futuro. Pode dizer que eu quero tudo de uma vez. Quer saber? Eu quero mesmo.

Love, Tary

P.S: Dedico esse post a uma certa pessoa que ficou me atormentando no Facebook para postar. Qualquer reclamação sobre a qualidade do texto, favor trollar aqui.

terça-feira, 15 de março de 2011

Apenas o fim


Quem disse que só por que acabou não foi de verdade?

Liliane Prata é uma daquelas escritoras que consegue semear uma ideia através das palavras mais simples possíveis, te fazendo pensar sobre o que escreveu mesmo que seja uma coisinha corriqueira ou, aparentemente, insignificante. Já que minha irmã assina a Capricho, tenho total acesso aos textos dela e sempre me identifico com o que escreve. Sei que não sou mais público-alvo da revista e às vezes nem reparo direito na capa, vou direto para a última página saber o que Lili tem a dizer nesta quinzena.

E é sempre algo que vale a pena ler, assim como todos os textos do blog dela. Não lembro bem quando foi, mas uma coluna em especial me chamou muito a atenção nos últimos tempos. Falava sobre a tendência que temos em avaliar todas as nossas experiências com base em como acabaram. Como se todo o processo fosse descartado e só o final realmente importasse. E, nossa, como isso é verdade! 

Só pra citar o exemplo mais clássico: um namoro incrível, cheio de flores e juras de amor se torna um pesadelo, uma perda de tempo horrível caso tenha terminado de um jeito traumático. Se vocês repararem, fazemos isso com absolutamente tudo. Filmes e livros absurdamente bem feitos se tornam lixos atômicos quando o final não corresponde ao todo. Viagens que tiveram 15 dias perfeitos são lembradas com tristeza se no 16º chove o dia inteiro ou você tropeça e torce o pé. Exemplos não faltam. 

Aí lembrei de outra coisa que sempre me incomodou e tem tudo a ver com essa tendência: pessoas que dizem que se o amor acaba é porque não era amor. Se você é uma delas, te aconselho que assista Blue Valentine, o filme cuja foto ilustra esse post - o título em português é ridículo: "Namorados para sempre". Ao mesmo tempo que aborda um relacionamento em deterioração, o filme revela o nascimento daquele amor. Mostrando que amores verdadeiros também são passíveis de destruição e também podem morrer um dia. Mas isso não significa que não existiram, que não foram reais. 

Não tenho grandes conclusões para tudo isso que acabei de escrever - além de que adoro a Liliane Prata e recomendo Blue Valentine -, só queria partilhar esses pensamentos e talvez acreditar de uma vez por todas que não é apenas o fim o que realmente importa. 


Love, Tary