O magnetismo do olhar foi quebrado pelo empregado que cumpria a tarefa de distribuir os pedidos ordeiramente.
A conversa animada das amigas trouxe Patricia à realidade. Falava-se um pouco de tudo: compras, maquilhagem, projetos, ex-namorados e affairs, mas acima de tudo permitiam-se à diversão.
A proteção do grupo desinibia em boa disposição.
Patty, sem planos para aquela temporada de lazer, ouvia, distraidamente, as viagens de data marcada ansiadas e programadas ao pormenor.
Entre risos, diálogos cruzados e garfadas no peixe grelhado olhou o veleiro. O homem que vira anteriormente am azáfama encontrava-se em pleno duche ao ar livre. Parecia apressado. Desapareceu na cabine.
A sobremesa gelada causava-lhe calafrios saborosos. Entre olhares ao cair da noite, reparou em algo branco que se movimentava onde observara a embarcação de há pouco. Arregalando os olhos, habituou-se à luminosidade externa e reconheceu-o.
Sim!
Era o mesmo homem tisnado pelo Sol que agora envergava uma camisa por abotoar e esvoaçava na brisa marítima. O cabelo aprisionado em penteado para trás, revelavam um rosto anguloso. Apesar da distância Patricia podia apostar que as calças fluidas seriam de linho, igualmente branco.
Um contraste enorme que a deixara surpresa.
Entre a divisão da conta e idas ao WC para retocarem a maquilhagem, a saída acabou por saber muito bem.
A temperatura mais amena e o cheiro do mar ajudavam na digestão que acusava rotinas de trabalho.
Sentia-se um pouco cansada, afinal trabalhara o dia inteiro. Não tinha hábitos de notivaga. Sempre que precisara de fazer horas extras, preferia a madrugada, o amanhecer.
Como o nascer do Sol lhe era agradável!
Como a música do bar já se ouvia, apressaram o passo. Nessa noite, haveria um concurso de dança e algumas amigas treinavam há algumas semanas para o evento.
A banda tocava uma balada que se ajustava ao ritmo dos barcos próxmos e dos pares que passeavam.
Patricia sente um ligeiro toque no braço. Vira-se e o homem do veleiro sorria-lhe.
Estava certa. Os olhos não podiam ser mais azuis e como ficavam bem com a sua pele morena e vestes brancas. Um bon vivant, pensou.
'Desculpe a ousadia. Destacou-se na mesa do restaurante. Tinha de vir conhecê-la' - disse-lhe com desenvoltura. - 'Perdão . . . sou o Miguel, posso saber o seu nome?'
(continua)