Acabei o tão aguardado Jane Eyre, que me foi altamente recomendado.
Acertadamente.
Adorei. Prendeu-me às páginas como nem todos os clássicos o conseguem fazer. Ao início custou-me um bocado a entrar na personagem, a gostar dela, a percebê-la. Mas a partir das 100 páginas apanhei o bichinho vira-página, já era com grande entusiasmo que pegava no livro. A partir do meio já o lia em qualquer lugar, ele era metro, ele era paragem do autocarro, só não lia enquanto caminhava pela rua porque ainda assim prezo a minha dignidade e não me apetecia esbardalhar-me no chão.
Dou-lhe quatro estrelas e meia. Só não dou cinco porque o fim foi um bocado chocho.
SPOILER EM BAIXO
Então não é que a rapariga, toda educada e culta como se quer, sem laivos de materialismo nem de afetações parvas de feminilidade ou vaidosismos, desiste de fazer qualquer coisa de útil na vida e vai-se dedicar a tempo inteiro ao marido?! Nem uma escola de raparigas, nem um trabalhinho como enfermeira, governanta da enteada, qualquer coisa do género? Eu já nem digo ir para a Índia, como esteve quase para acontecer, já que frágil como ela era aquilo não era coisa para durar muito tempo. Agora, 24 horas com o marido, sempre a falar, sem um momento para respirar sozinha, fazer qualquer coisa parva daquelas que só fazemos quando estamos sozinhos, epá... Meteu-me impressão. Eu a pensar que aquilo era uma história com um leivo feminista implícito, impercetível, a provar às mentalidades do séc. XIX que uma mulher pode ser muito mais do que uma escrava do lar e da família, e afinal cai tudo por terra nas últimas 40 páginas. Enfim, não se pode ter tudo.
Tirando isso, livro fabuloso. Na escrita, nada a apontar, flawless, bem corrida, refinada, perfeita. A história dá cambalhotas completamente inesperadas, o que é receita ideal para prender a atenção.
Recomendado.
S.