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sábado, 10 de janeiro de 2015

Zen por acaso

Oh, tão queridos :)



Estou a ver que não é por acaso que ficaram em primeiro lugar na satisfação estudantil em 2014.
 
Mas acho que não se aplica. De Bruxelas às vezes vem-me uma saudade aguda da Av. Louise, e das corridas que lá dava, uma coisa um bocado parva, mas de resto estou bem quanto à capital belga. E da hometown não tenho grandes saudades, mas isso pode ser porque a visito mais do que o sensato. De qualquer forma, do que sinto falta são de pessoas, mas como essas pessoas estão espalhadas por vários países, o homesickness não se aplica.
 
Não é que morra de amores por Sheffield, e a sua descentralidade até me chega a aborrecer levemente (como ontem, que entrei no aeroporto de Lisboa às 16h15 e só cheguei à minha porta inglesa bem pertinho da meia-noite). Mas - como dizer isto? - estando aqui não me apetece estar em mais lado nenhum, não anseio por viver noutro lado qualquer nem estou sempre a pensar "daqui a um ou dois anos vou-me poder mudar para ali, depois é que vou estar realmente satisfeita", não, agora estou precisamente onde quero e onde sinto que devo estar. Nem tenho ânsias de viajar para outros sítios, quando em Bruxelas não parava quieta.
 
Não faço ideia do que vou fazer daqui a três anos quando acabar o doutoramento, nem quero saber, porque se significar continuar aqui (aqui, Sheffield, ou qualquer outra parte do UK), está-se bem.
 
Acho que finalmente estou  a viver mergulhada no presente, sem os olhos sempre postos no futuro. E isto é de uma serenidade incrível.




S. 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A Velocidade e a Distância entram num bar e dizem à Altimetria: ...

- "... ah, e tal, a ver se estás quieta!"

A minha mania é que 13 km aqui são iguais a 13 km em Bruxelas. Não são. Especialmente se também vou com considerações de tempo.
 
Pois o que voltou a acontecer? Voltei a ficar manca.
 
Nos primeiros meses de corrida, por esta altura há um ano, andava só feliz que conseguia aguentar cada vez mais quilómetros a correr. Era um percurso plano, planíssimo, a minha volta pela Avenue Louise e mais tarde pelo bairro de Etterbeek. Nunca me ralei com o tempo que demorava, só queria não parar de correr durante N-km. Veio a meia-maratona, veio a lesão, veio a paragem. Veio a viagem de bicicleta, manteve-se a paragem.

Há 3 meses quando recomecei novamente a correr decidi que só a distância já não metia pica, queria ser mais rápida. Como disse há 9 meses, queria voltar a correr os 21 km, mas desta vez em bom.
 
O problema foi que mudar-me para Sheffield dos Picos mudou as condições desta equação. Não só ando a aumentar a carga de quilometragem, como a carga da velocidade, como a carga da altimetria. E o meu corpo não aguenta isto tudo ao mesmo tempo. Vou repetir isto novamente para ver se me convenço a mim própria: NÃO. AGUENTA. TUDO. AO MESMO. TEMPO. 
 
"A semana passada corri 10, esta quero correr 11 ou 12", é sempre a minha lógica. Mas mantendo a velocidade, se possível melhorando. E metendo-me por caminhos desconhecidos que envolvem sempre subidas longas e íngremes como um raio, e descidas semelhantes (o que também é muito amigo das lesões). Ignorar sempre os treinos em que é suposto correr a uma velocidade e distância moderadas porque, oh, se já fiz esses km e tempo antes, o que é que vou estar a treinar, então? Boooring.
 
Nunca dou tempo nem espaço ao meu corpo para se habituar às três novas coisas, mantendo-as as três constantes uma vez ou outra. E o que acontece? A perna do costume a acender-se com as lesões do costume, tipo árvore de natal: canela, PLIM!, joelho, PLIM!, anca, PLIM!. E lá fica a corrida suspensa por uns tempos.
 
A medida não pode ser só o fôlego, a mecânica da coisa ainda é mais frágil e importante. Tenho que ser mais esperta do que isto, e aprender deu uma vez por todas que a paciência é uma virtude. E dar um bocadinho mais respeito ao meu corpo do que isto. Ele merece. E ele chega lá, eu sei.
 




S.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

terça-feira, 17 de junho de 2014

Então adeus, Bruxelas

A uma semana de deixar a Bélgica estou estranhamente calma. Metade das coisas já estão em Portugal e o único sinal de uma mudança que se avizinha está na mala aberta no meio da sala e na comida racionada no frigorífico. Mas se pensar que sempre fizemos as compras para a semana, o frigorífico continua o mesmo de sempre. 

Se há coisa que me mete cada vez mais comichão é o ter coisas, seja num roupeiro seja numa despensa repleta. Gosto de saber que posso e consigo ir embora a qualquer momento para outro sítio qualquer. É por isso que o Kobo me é tão mais caro que uma estante a abarrotar de livros.

A cada mudança que fazemos é mais uma camada de supérfulo que se descasca. Ainda não estou ao nível minimal que pretendo mas estou a caminhar para lá há quatro anos e cinco mudanças. A viagem de bicicleta que se avizinha vai ser uma experiência ideal para provar que consigo viver um mês com o que cabe numa mochila. Uma mochila que consigo carregar fisicamente, seja a puxar na traseira de uma bicicleta, seja às costas. A liberdade há-de estar muito próximo disto.

Este fim-de-semana estive a mostrar a cidade a um par de olhos frescos, e não pretendo repetir o passeio turístico ao meu par de olhos familiarizados. Tal como em Londres, não haverá cá despedidas a nada.

Não sei se a calma vem do facto de nunca ter amado esta cidade de paixão. Desdenhei-a durante tanto tempo e ela acabou por conquistar um lugar no meu coração, sim senhora, mas nunca de forma assolapada. Não a consigo recomendar a ninguém e continuo a afirmar a todas as visitas que, sim, Bruxelas é uma cidade desinteressante e feia. Mas tem coisas mesmo boas, coisas espalhadas por aí e impossíveis de vender a quem vem de visita por uns dias. São as inúmeras casas de chá que experimentei ao longo destes anos e respetivas Tartes de Françoise que dão 15 a zero aos pastéis de nata, os parques que variam entre pracetas e florestas inteiras, sempre à distância de um passeio a pé, o vento a bater na cara rosada de felicidade imbatível por estar a conduzir uma bicicleta numa avenida larga, a bandeira belga gigante a ondular debaixo do arco do cinquentenário, uns pés que me levam a qualquer sítio onde possa querer ir, a comida rápida do Exki, os mercados de velharias e roupa em segunda mão em domingos soalheiros, as ruas de casas cuidadas desta arquitetura que se parece com a inglesa mas que é distintamente única.

Bruxelas não me encantou mas mudou o que eu quero de uma cidade. Ao ponto de admitir que não quero Londres e de me fazer considerar o resto de Inglaterra como casa possível. Não quero multidões na rua, não quero transportes, não quero carro. Quero chegar a qualquer lado de pés e bicicleta. Quero espontaneidade nos meus passeios, quero a qualquer momento transformar uma caminhada de commuting num passeio. Quero chegar a qualquer lado da minha cidade em menos de meia-hora. Sheffield, espero, continuará a dar-me isto tudo. Menos as tartes, mas bom, haverá scones.





S.   

segunda-feira, 16 de junho de 2014

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Brace yourselves, summer is coming

Por falar na zona parva climatérica que torna operações militares em fracassos: quando uma pessoa recebe um e-mail do seu fornecedor de internet-tv que começa desta forma:
 
"Caro/a cliente,
 
O verão está a chegar e com ele o seu lote de tempestades. Sabia que os seus aparelhos eletrónicos podem ser danificados devido a uma tempestade?"
 
não haverá muito mais a dizer. Que eles achem que a primeira frase faça sentido - pior, que ela faça mesmo sentido - diz tudo.
 




S.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ir ao fundo e voltar

Na quarta-feira voltei aos treinos de corrida, após dois meses desde o último. Eu considero-me uma pessoa em forma - ando a pé vários quilómetros todos os dias, ando de bicicleta, de vez em quando vou ao ginásio - mas a corrida confirmou-se-me mais uma vez como sendo qualquer coisa à parte. Foram só 5 km mas o meu corpo manifestou todas as manhas como se tivessem sido 15 ou 20, manhas essas que já lhe conheço à distância. É o "ai que isto custa", dramáticozinho e cedo demais para que eu lhe dê algum crédito, é a dorzinha num tornozelo qualquer ao início que em insistindo desaparece como por magia, é o desconforto na barriga quando descobre que os pontos anteriores não funcionam, é o aborrecimento por ver que a coisa ainda não vai nem a meio. Já tinha saudades da luta constante entre corpo e mente tão típica deste meu hobby. Não consigo perceber quem desdenha das pessoas que se dedicam de corpo e alma a estes desportos, que fazem deles sua vida e profissão. Como se houvesse uma dicotomia entre intelectualidade e forçar o corpo aos seus limites, como se para este último não fosse preciso um uso incrivelmente poderoso da mente, como se superar barreiras físicas não fosse algo sublimamente humano e nobre. Amo as Rosa Motas e Carlos Lopes desta vida tanto quanto amo os Saramagos e Stephen Hawkings. O que fazem é o mesmo na sua essência: elevar a humanidade a novos picos de conquistas.
 
Voltando ao relato mais sóbrio do meu humilde regresso às corridas, pela primeira vez treinei com o relógio contador dos quilómetros. Foi uma espécie de revolução porque agora posso correr de forma espontânea pela cidade, posso virar aqui ou ali, onde quer que me dê na gana, não estou presa a percursos pré-calculados e repetidos ao infinito só porque indo por eles sei exatamente os quilómetros que corri. E é importante saber quanto se corre. Tanto para se ir aumentando como para estabelecer "hoje corro X, não vale a pena o corpo se meter com manhas". Posso descobrir novas ruas, novos bairros, gravar a cidade no coração porque a sofri com as minhas passadas e o meu suor. Aliás, duvido que tenha sido coincidência ter começado a gostar de Bruxelas ao mesmo tempo que a palmilhava nos treinos longos para a meia-maratona. Passou a ser cidade minha.
 
 
 
 
S.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Ele há coisas... #45


Isto era o banner gigante que esteve durante vários dias no edifício da Comissão Europeia. "This time it's different", diziam eles. Acho que não era bem este diferente que estavam à espera.

Se a ironia matasse...




S.

domingo, 18 de maio de 2014

Um quinto de meia maratona

E o que é que calha mesmo bem após 4 dias de trabalho intenso fora do país e mais de um mês sem correr? Ir correr os 20 km de Bruxelas, claro está.
 
O dorsal já estava descartado num lado qualquer, a cabeça já tinha aceitado que 25 euros iam mais uma vez ao ar e que eu simplesmente não estava em condições de ir correr uma meia maratona ainda lesionada e a um mês da grande viagem de bicicleta. Estava cheia de pena, não de mim mesma, mas de ir perder uma corrida tão icónica aqui do burgo e de me ir embora sem nunca participar numa corrida aqui em Bruxelas. Mas já estava decidido.
 
Até que tive a brilhante ideia de antecipar o meu retorno aos treinos, planeado para amanhã, para a corrida de hoje. Um treino de 20 km seria impensável mas o km 4 era quase à porta de minha casa... Que tal fazer só essa parte da corrida? Participaria à mesma, não haveria desperdício, e já não me sentiria tão indigna da próxima vez que vestisse a t-shirt oficial da corrida. Brilhante ideia.
 
Só havia um senão que era a possibilidade de eu não querer parar. Estou familiarizada com a felicidade barra loucura que a corrida inflige no cérebro, especialmente em corridas oficiais. E o km 4 era extamente o início da avenida plana e linda onde costumo treinar. Temia que o acordo acordado comigo mesma do "podes ir mas só até ao km 4" fosse destruído pelas endorfinas a circular por estar novamente a correr após tantas semanas e numa prova tão querida. O D. foi então recrutado para me puxar da multidão caso isso acontecesse.
 
Gostei muito quando 300 metros antes de passarmos a minha meta arranjada começo a ver os corredores a encaminharem-se para o túnel que passa por debaixo da avenida, em vez de corrermos pela estrada como pensava. Ai, ai, ai, que já fui, sei lá onde é que este túnel agora termina. Não terminou muito mais além do km designado e eu portei-me bem e encaminhei-me para o passeio para terminar por ali a minha prova. Não foi muito estranho, embora soubesse que estava a desistir e não porque estivesse quase a morrer. Mas acordos são acordos, especialmente connosco próprios, e eu tenho mil qilómetros para pedalar daqui a um mês.


Ainda assim, ter visto isto com os meus próprios olhos, numa rua tão familiar, e ter feito parte, valeria quase todos os tipos de lesões que pudesse ganhar.



S.

domingo, 20 de abril de 2014

Ele há coisas... #43

Na Place Flagey, uma das praças mais conhecidas aqui do burgo, encontra-se isto:



Fixe, hein?
 
Na foto não se nota bem mas diz "Minha Pátria é a Língua Portuguesa", com o nome dele e data de nascimento e morte.
 
Aquilo está a ser remodelado e por agora tem aquelas barreiras azuis e amarelas feias à volta da estátua. Não dá para aproximar. Mas ao que consta, a zona da estátua é uma praceta gira, costuma haver ali banquinhos e tudo.




S.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

"You're so dark but I want you hard"

Escrevo num comboio algures nas Midlands. Vou visitar a minha futura potencial casa.
 
Sinceramente ainda não sei ao certo qual foi a minha ideia em meter-me nesta viagem. Decerto que a beleza ou fealdade de uma cidade não deveriam ser critérios prioritários na escolha da universidade para se estudar. Mas a viagem foi pensada numa altura em que a angústia da escolha que brevemente terei que fazer estava a pesar especialmente e, por isso, cá estou eu. Sendo o resto igual, pode ser que a beleza seja um bom critério de desempate. E qualquer pretexto para voltar à Inglaterra é sempre bom.
 
Isto faz-me lembrar que amo comboios. Se pudesse não trabalhava a partir de casa, trabalhava a partir de comboios. Metia-me num comboio qualquer e, ala por essa Europa fora. Era capaz de sair um bocado caro, ao fim do mês, mas provavelmente nem tanto como alugar um escritório. E a vista móvel compensaria grandemente.
 
Ainda não tenho a certeza absoluta de que mudar-me para Inglaterra seja a melhor coisa a fazer. Tenho um fascínio enorme por este país, misturado com muito carinho, mas ele tem coisas que me irritam profundamente. A mania de que não é Europa é a maior. Seria extremamente irónico para uma europeia convicta vir estudar coisas europeias para um país que parece estar a descascar a sua europeanidade aos poucos. Se os Tories vencerem as eleições para o ano e no referendo de 2017 os britânicos abandonarem a UE, não sei como vou reconciliar as minhas duas paixões. Se a Escócia se for embora em setembro então seria o cúmulo. A Inglaterra a resvalar cada vez mais para a periferia, cada vez mais isolada. Burros do caraças. O “orgulhosamente sós” não vos serviria, acreditem.
 
Viver em Bruxelas tem muitas desvantagens e eu nunca me cansei de as enumerar, muitas vezez com lamúria desnecessária. Mas se há coisa que soa incrivelmente a privilégio em viver nesta cidade é a centralidade. Não só por ser o centro político europeu e tudo o que isso gera, mas por estar no centro geográfico da Europa. Ter tanta cidade a uma hora de avião, ter mais ainda a duas, e ter umas consideráveis a duas horas de comboio, incluindo Londres, Paris e Amesterdão. É uma sortuda geográfica, a cidade.
 
A geografia influencia muito do resto, claro, incluindo história, fronteiras, mentalidade e relações. As fronteiras belgas não existem fisicamente há mais de 20 anos, como no resto da Europa, mas também não existem mentalmente. É tão fácil e tão perto ir ali a França, ir ali à Alemanha, ir ali ao Luxemburgo, ir ali à Holanda. Lembro-me de na viagem que fiz para Estrasburgo, uma rota quase reta para sul de comboio, ter tido que desativar as mensagens automáticas de roaming porque o meu telemóvel parecia um alarme, sempre a apitar com info “Chegou à Alemanha! Chamadas custam X, mensagens custam Y.”, “Chegou à França! Chamadas custam X, mensagens custam Y.”, e depois as fronteiras não são retas, enquanto a rota ferroviária é, por isso o comboio estava sempre a entrar e a sair desses dois países. A geografia está-se bem marimbando para as decisões humanas políticas e por isso aqui eu aprendi a fluidez das nações e senti-me sempre na Europa, onde quer que tenha ido. E isso foi mesmo fixe.
 
Por isso voltar à ilha será voltar à periferia, tanto geográfica como mental. E isso deixa-me um bocado desconfortável.
 
Voltar à Inglaterra é também um bocado triste por razões linguísticas. Vivendo no continente tem-se sempre a língua materna, a língua franca internacional e a língua do país hospedeiro com que lidar. E ainda que eu não tenha dado a atenção e cultivado o meu francês como seria suposto, e ir embora da Bélgica com a vergonha linguística que cabe a alguém que viveu aqui dois anos e meio e não consegue ter uma conversa prolongada em francês, gostei muito de ter tido que lidar com uma língua estrangeira que não o inglês. Voltar à Inglaterra será voltar a ser preguiçosa linguisticamente. Não sei como vou gerir este regresso à zona de conforto com a minha curiosidade cultural e linguística para com o resto da Europa (a última tentativa, com o alemão, não correu assim tão bem). Talvez o futuro daqui a uns anos me lance outra vez para a mainland. De preferência, de comboio.

 
 
 
 
S.        

quinta-feira, 27 de março de 2014

Ele há coisas... #42

Matrículas de três letras são mais divertidas e dão-se mais aos jogos de palavras.
 
Este carro, por exemplo, tem a melhor matrícula de sempre:
 
 
Espero que pertença a um imigrante. 
 
 
 
S.

terça-feira, 25 de março de 2014

É tudo um grande bocejo

Obama is in town. O jornal Metro hoje dava-lhe as boas-vindas efusivas na capa com um "President Obama, welcome to Belgium!". A rua do meu trabalho tinha mais de dez carrinhas da polícia em cima dos passeios, as barreiras de arame farpado voltaram ao lugar (desta vez nem as guardaram, arrumaram só a um cantinho após as manifestações/cimeira europeia da semana passada). Ele vai dormir algures no quarteirão (nada mais nada menos do que no The Hotel, o hotel com mais moral de Bruxelas) por isso tenho um helicóptero a pairar há meia hora por cima de casa (pergunto-me se isto é coisa para durar toda a noite). Bruxelas e os seus habitantes estão estupidificadamente habituados a estas andanças de alta-segurança, fechamentos de ruas, paragens de autocarros provisórias e carros de vidros fumados escoltados com grande alarido por essas avenidas fora, mas claramente o sr. presidente dos Estados Unidos está numa outra liga no que à paranóia segurança diz respeito.
Por falar em Estados Unidos, há uns meses quase me caiu o queixo quando, numa viagem de autocarro até ao aeroporto, passo pela sede da NATO e olho para o outro lado da estrada e vejo um edifício descomunal a ser erguido do chão.


Não sei como é que só dei por ele há uns meses já que ele deve andar a ser construído já há uns anos valentes por isso está cá desde que comecei a fazer viagens de e para o aeroporto. Mas eu tenho a mania irritante de me sentar sempre do mesmo lado do autocarro e olhar sempre para o mesmo lado da estrada, é, deve ser isso.
Foi com grande surpresa que li a placa que orgulhosamente informava que ali se construía a nova sede da NATO. Hah. E eu que andava convencida que a NATO era coisa para se dissolver mais ano, menos ano, assim que os americanos se fartassem de suportar os custos da defesa da Europa às costas e os europeus aprendessem a cooperar para a sua defesa comum.





Menina ingénua, eu.
O Spiegel diz que aquilo está a dar barraca e que a construtora está à beira da falência. Parece que a megalomania militar não se demonstra só através de invasões aleatórias de países terceiros.




S.

sábado, 8 de março de 2014

Uma volta de 360º

E o prémio de mindfuck da semana vai para...:
 
Estar em Bruxelas, numa parabólica belga, a ver através da BBC4, uma série belga com falas alternadas entre o francês e o flamengo, com legendas em inglês, onde aparece frequentemente imagens icónicas aqui do sítio.
 
Só falta aparecer um ou dois atores portugueses, para a coisa ser completa.




S.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Burocracia DIY

A minha comuna, apesar de ser esquisita, é bastante funcional e no outro dia ofereceram-me um leitor de cartões, para poder aceder aos serviços públicos online (portal de finanças, gerador de comprovativos de moradas e etc).

Como os cartões de identificação belga são mesmo muito semelhantes ao nosso cartão do cidadão, tive a brilhante ideia de experimentar se também lia estes últimos. Oh, joy to the world, lê os dois!

Apanhei um susto grande porque assim que instalei o software de leitura do CC a primeira coisa que apareceu foi a minha foto acinzentada em grande plano no ecrã do computador, e as fotos de Cartão de Cidadão são as maravilhas que toda a gente sabe. A reação seguinte foi a de gargalhar sinistramente enquanto a música "I've Got the Power" ecoava na minha cabeça.

Por entre códigos de alteração disto, códigos de verificação daquilo, códigos pin do não-sei-quê, uma pessoa sente que está a navegar por entre um software muito à NSA. E os meus dados estão ali todos, lidos por aquela maravilha de aparelho. Ainda não cheguei à fase do terror de ser espiada, ainda estou na sensação do seja-espia-você-mesma (ainda que só dos meus próprios dados), da S.-almighty.

Alterei a morada em casa, com os novos códigos que entretanto me tinham chegado e de forma a poder votar para as europeias na embaixada portuguesa. Uma ida desnecessária à embaixada poupada.





S. 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Dores de crescimento

Dei-me agora conta de que faz hoje dois anos que chegámos à Bélgica.

O que são dois anos numa vida? Nada. 

Continuo a sentir-me tão criança quanto quando aqui cheguei. Continuo com a leve sensação de que não faço ideia do que estou a fazer, nem do que devo fazer, e, às vezes, nem do que gostava de fazer. Sei, tão claro como a água (mas não a que sai das torneiras bruxelenses) que daqui a quatro meses vou-me embora daqui sem saber se estou a fazer a coisa certa. E o pior: provavelmente nunca vou saber. E isto é horrível. Eu cresci convencida de que os adultos sabiam sempre o que estavam a fazer e o que deviam fazer. Esta liberdade e múltiplas opções de escolha é humanizante mas paradoxalmente claustrofóbica. Nunca vamos saber se tomámos a decisão certa e haverá sempre tantas pessoas a enveredar por caminhos diferentes que nos farão questionar o nosso. É o ter que fazer uma escolha e viver com o "e se" de todas as outras que recusámos. Suficiente para uma pessoa dar em doida.

Haverá sempre alguém a fazer o mesmo que tu, melhor do que tu.

A única frase que me regula as perspetivas e acalma as ânsias, embora eu não consiga explicar porquê. A perspetiva de que há sempre alguém melhor do que nós só deveria era potenciar essas ânsias. Estranhamente, acalma-me a necessidade de querer ser melhor, de querer mais, de saber mais e de estar agudamente consciente de que sou a única responsável nisto tudo. Do ser melhor. É capaz de ser na lógica do "perdido por cem, perdido por mil", do fuck all para isto tudo.

Espero é entretanto não ter ficado a gostar da Bélgica afinal.






S.



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O Valentim que se cuide

No One Billion Rising bruxelense deste ano estava muito menos gente do que no ano passado. A greve dos transportes e o facto de ser ao meio-dia não deve ter ajudado.
 
  
 
 
Mas, como se costuma dizer, erámos poucas mas boas :) . E fizémos muito barulho.
 
Ao princípio, como sempre, eu era a imagem perfeita da timidez. Sossegada, de chapéu de chuva na mão, a sondar o sítio e as pessoas presentes sem mexer o pé.
 
Mas depois uma senhora veio ter comigo e deu-me isto:
 
 
 
 
Um apito!
 
E a carnavaleira que há em mim - e que eu nem sabia que existia - acabou por manifestar-se em todo o seu esplendor.
 
Tirei o pé do chão, apitei muito, bati muitas palmas, sorri muito, e acabei por me divertir bastante, tal como no ano passado. Houve "I Will Survive", houve coreografia do One Billion Rising, houve comboínho daqueles extremamente divertidos que ninguém consegue deixar de participar de sorriso rasgado.
 
E pronto, foi isto. Agora estou aqui num café das redondezas, a ouvir Sara Tavares (!!! Música portuguesa em cafés bruxelenses rula muito), a trabalhar de chávena de chá na mão e com as antenas viradas para Lisboa, ansiosa para saber como vai correr o Lisbon V-Day.
 
Boas flash-mobs para logo.
 
 
 
 
S.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A grande viagem (ou, como quem diz, já não há juízo entre nós)

Há uns meses valentes, dizia-me o D. assim: "Eh, 'bora de Bruxelas a Portugal de bicicleta!" Eu acho que na altura não disse nada porque fiquei muito ocupada agarrada à barriga a rir. Mas nos tempos seguintes comecei a ponderar, a admirar a coisa de diversos ângulos e a magicar maneiras de a tornar possível. Como acontece aliás sempre que ele vomita uma ideia estrombólica deste tipo (cofvamosviverparalondrescof). Depois a coisa já era "Eu hei-de ir a Portugal de bicicleta..." E eu tornei-me condescendente: "Hmm-hum, claro que vais, se nem em Bruxelas andas, deves ir." Mas a ideia, na sua teoria, vá, até era fixe e seria uma mega conquista e uma oportunidade perfeita para palmilhar, quase literalmente, um bom pedaço da Europa, e eu até ia todos os dias para o trabalho de bicicleta e tal, comecei a dar algum crédito à coisa. Seria difícil mas não impossível e inesquecível decerto. Depois até descobri a rede EuroVelo e fiquei fascinada com a prospetiva de uma Europa toda ciclável e ganhei balanço. Chegámos a estimar dias e quilómetros, se faríamos pela costa francesa e espanhola ou cortando caminho pelo interior (eu dizia-lhe: "Há PIRINÉUS pelo meio" mas ele não queria saber), estivemos quase a comprar bicicletas para começar a visitar cidades belgas aos fins-de-semana (sempre Waterloo...), chegámos a sonhar visitar uma cidade de cada país aqui à volta só para dizer "Eu fui a [inserir país vizinho da Bélgica] de bicicleta e voltei!", eu sempre a insistir em irmos a Londres dando ao pedal e quase morrendo de desgosto por saber que o ferry de Calais-Dover ou Ostende-Southampton só transporta carros (sempre a Inglaterra...).

Entretanto a nossa partida definitiva da Bélgica chegou mais abruptamente do que o previsto e a ideia foi posta de parte. No final de junho iremos para Portugal, em setembro este blog voltará para o sítio que lhe deu o nome. A univ/cidade ainda não está escolhida mas a volta para a ilha já é uma certeza.

Mas... Mas. Há outra coisa. Surgiu a ideia (ou ressurgiu, nem sei com certeza), tão repentina mas tão avassaladora - e as melhores ideias surgem assim, já percebi - de uma volta a Portugal em bicicleta. "Se não dá a viagem maior, faça-se esta por Portugal, já que vamos ter umas férias mais alargadas do que o previsto", disse-me ele. E eu, contra todo o meu instinto dos "mas" e "se"s compulsivos disse: "'Está bem." É que, entendam, depois de termos passado meses e meses a considerar distâncias de 2000 e tal quilómetros e ver como enfiar aquilo em três semanas, olhar para o mapa do litoral português e ver que de cima a baixo são 700, a coisa parece uma brincadeira de crianças. E eu agora até corro fixe e tal, há-de dar, pensei eu. É a confiança de que o meu corpo é imparável e os seus limites serão apenas os que eu lhe impuser. Ou isto é uma revelação extremamente sábia ou a corrida queimou-me o cérebro todo, ainda não sei dizer.

Assim, e porque já sei que é certo e já temos um percurso (em rascunho), as datas alinhavadas e as linhas gerais de logística traçadas, eu posso dizer, com certeza, que o próximo julho será passado numa bicicleta (duas). Iremos de Viana do Castelo a Vila Real de Santo António, em 29 dias, sempre pela costa portuguesa (os emigrantes querem é praia e sol, of course). O entusiasmo é enorme, a antecipação também, o nervoso miudinho é que nem por isso. E isto é estranho. Tenho assim novo objetivo para lá da Meia-Maratona/Corrida dos Sinos: convencer as minhas pernas que pedalar 50 km por dia durante um mês é very nice.

Escusado será dizer que este blog em julho vai estar a abarrotar irritantemente de descrições de quilómetros feitos, dores nas pernas, escaldões no pescoço e outros pormenores que provavelmente só a nós interessarão. Escusado será também dizer que todas as dicas, experiências, conselhos e coiso serão extremamente bem acolhidos por estes dois jovens amadores que não têm nenhuma experiência com viagens de bicicleta, só uma pancada muito grande nestas duas cacholas.



Era para ser uma destas mas eu sou fraca demais para puxar pelos dois e control-freak demais para me deixar ser puxada.



S.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

E você, já mostrou a sua dose de indignação hoje?

Por falar em manifestações:


O projeto de lei do governo espanhol sobre a interrupção voluntária da gravidez está a provocar reações um pouco por toda a Europa.

Esta quarta-feira, cerca de duas mil pessoas, na maioria mulheres, vindas de toda a Europa, participaram numa marcha que começou junto à embaixada espanhola em Bruxelas e terminou junto ao Parlamento Europeu:

“Esta lei não respeita um mínimo de direitos de outras leis na Europa, porque trata as mulheres como se fossem menores”, diz uma manifestante espanhola.

Um cidadão belga explica:
“Pedimos ao governo espanhol que reveja o projeto de lei que tenciona aprovar, para garantir que o direito ao aborto não é restringido como está previsto na proposta de lei”.

Para os manifestantes, o assunto não diz respeito só a Espanha. Uma cidadã lituana fala da situação no seu país:

“Estou aqui porque temos uma situação semelhante na Lituânia, com uma lei que está no parlamento prestes a ser votada”.

No dia 1 de fevereiro está também prevista uma manifestação junto da embaixada de Espanha, em Paris.

O governo espanhol apresentou um projeto de lei que só autoriza o aborto em caso de risco fisico ou psicológico para a mulher ou violação, se tiver sido apresentada queixa."

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Segui o meu próprio argumento do "não fazes lá falta mas se todos pensarem assim ninguém vai" e fui lá marcar presença.

Algumas mulheres levaram cartazes ("Take your rosaries off of my ovaries"; "Church and state, you don't own my body"; "Free women give birth to free sons"; "Procreation is not an obligation"; "Mère quand je veux, si je le veux"; "Droits de l'homme pour les femmes aussi"), algumas levaram chapéus de bruxa (na Idade Média, quem abortava era as gentes que tinham pactos com o diabo). Vi bandeiras do Bloco de Esquerda português, vi a eurodeputada Marisa Matias e a Edite Estrela, cujo relatório sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres na Europa foi chumbado no Parlamento Europeu há umas semanas (mesmo não sendo vinculativo, certos governos europeus têm um medo que se pelam deste assunto. E a tendência, como se vê pelo exemplo da Espanha e da Lituânia, é para regredir.) 




S.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Ele há coisas... #40

Fiquei a saber hoje, através da fatura dos acertos, que 63% da eletricidade que consumo é de origem nuclear.

Não sei muito bem como me sinto em relação a isto mas descansada não é.




Mas o melhor mesmo são uns cerca de 3% que têm como origem o seguinte: "inconnu". Como assim, não sabem donde vêm esses 3% de eletricidade? Se o resto está tão bem explicadinho e contabilizado em percentagens, como é que há uma parte que não sabem de onde vem? Estranha gente, esta da eletricidade.





S.