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terça-feira, 17 de abril de 2018

O síndrome de impostor é tão real

Passei quatro anos num projeto de investigação sobre a União Europeia, estou literalmente a duas semanas (figas, muitas figas!) de concluir um doutoramento em ciência política (com a tal investigação sobre a UE), trabalho como investigadora numa organização que acabou de lançar um relatório sobre o potencial impacto do Brexit nas mulheres aqui no UK mas a minha reação quando recebo um convite para falar sobre estas coisas numa conferência é "hãã, que sei eu sobre isto?! Enganaram-se de certeza."

A sério, gostava de ter a confiança para me exprimir nos tópicos da minha especialidade que os mansplainers têm em se exprimir sobre tópicos que não conhecem.





S.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

'L'Europe est plus féministe que chacun de ses États membres'

'L'Europe est une chance pour les femmes, ce que peu comprennent. Il y a un nivellement par le haut grâce aux pays du Nord de l'Europe, la Commission européene fait passer des textes ambitieux, et la Commission des droits de la femme est fortement féministe, tous partis politiques confondus. L'Europe ne peut pas faire régresser la condition des femmes, au contraire, elle fait pression sur les gouvernements pour qu'ils ne fassent pas reculer la condition des femmes.'

Geneviève Fraisse, filósofa francesa e historiadora do pensamento feminista, numa entrevista em 2005 à autora do estudo Le Lobby Européen des Femmes: la voie institutionnelle du féminisme européen.

Não sei se ela teria a mesma opinião neste momento, visto que isto foi dito antes da crise financeira e da crise das dívidas públicas europeia, e dos consequentes cortes que foram feitos a nível nacional a muitos serviços de apoio e abrigo a mulheres vítimas de violência, a cortes de salários públicos que afetam desproporcionalmente as mulheres (há mais mulheres no serviço público do que homens), e à pioria (isto é palavra?) geral de condições de vida que afeta os mais pobres que, mais uma vez, são desproporcionalmente mulheres.

Tendo dito isto, penso que a ideia se mantém. A União Europeia é francamente mais sensível a questões feministas e aos direitos das mulheres do que a grande maioria dos seus membros, e está documentado na literatura que foi ela um dos grandes impulsionadores para a adoção de legislação para igualdade entre mulheres e homens nas décadas de 70 e 80 na Europa, numa altura em que nenhum Estado-membro exceto a França tinha salvaguardado a máxima de salário igual para trabalho igual (fica aqui um texto curtinho sobre a história da igualdade de género na UE). Acho que isto é notável para uma organização que ainda tem um pendor bem mais estritamente económico do que seria desejável e do que muitos gostaríamos. 

Aliás, lembro-me de há dois ou três anos ter havido mobilização da parte de académicas especialistas em UE e questões de género, e de oficiais das instituições europeias, para mostrarem a metade da população britânica o que esta ganha com o facto de o Reino Unido pertencer ao clube: é graças à obrigatoriedade de implementar todas as diretivas europeias que as mulheres britânicas obtiveram licença de maternidade e os pais britânicos podem gozar de licença parental, por exemplo. Portanto, quando os britânicos se queixam da red tape bruxelense, elas que pensem bem a quem uma saída do clube mais poderia prejudicar. (Os britânicos foram aliás um dos grandes opositores e portanto motivadores do bloqueio da nova diretiva sobre a licença de maternidade que visava aumentar o mínimo europeu de providências para novas mães a nível laboral.)




Isto para dar um exemplo do nivelamento por cima que Geneviève fala na citação lá de cima. Não obstante as críticas que podem ser - e são - lançadas à UE em matéria de interesses das mulheres, não há dúvida que ela tem um pendor feminista que às vezes parece um paradoxo se tomarmos em conta o racional neo-liberal que permeia o pensamento europeu. E é precisamente por isso que o tema me apaixona.




S. 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Relatório maioritário

A blogosfera anda mortiça e este blog não é exceção. Aborrece-me cada vez mais a monotonia das opiniões expressadas, o elevar de pequenas embirrações de dia-a-dia a problemas de primeiro mundo, irrita-me a impaciência dos blogueiros para com as idiossincrasias dos outros, os posts pespinetas, os posts pseudo-humorísticos, a banalidade destas partilhas. E este blog não é exceção.

Tenho cada vez menos paciência para escrever sobre feminismo, e suspeito que isto tenha pouco a ver com o facto de estar a fazer uma investigação sobre ele. Sinto que estou sempre a bater na mesma tecla, que o que tenho para dizer é óbvio, básico, que já toda a gente sabe isto, para quê repeti-lo. Que as mulheres ainda são discriminadas por serem mulheres deveria ser óbvio, a parcialidade do status quo deveria ser mais que evidente a qualquer pessoa minimamente inteligente, a objetificação e hipersexualização das mulheres deveria ser um fenómeno que é mais que óbvio (e consequências nefastas também, já agora), a necessidade de uma lei que criminalize a importunação sexual uma coisa que já cá devia estar há mais que tempo, a justeza de sistemas de quotas uma evidência, que existe violência contra mulheres por estas serem mulheres (ou seja, que deriva dos papéis atribuídos a elas e respetiva 'correção' quando estes não são respeitados) idem. Mas depois leio coisas, oiço coisas e vejo discussões que ainda estão presas ao significado de palavras, que o feminismo não se devia chamar feminismo, que igualdade é que é, que humanismo é que é, e que há homens que também são, e chego à conclusão que o que parece óbvio não é óbvio, não senhora, e o senso comum não é tão comum quanto isso. O problema é que adotei uma posição de aprendizagem exclusiva, que é como quem diz: eu educo-me, os outros que se lixem. Prefiro perder tempo a ler coisas do que a debatê-las, que não devo explicações a ninguém e quem se quiser educar há muito material à solta, é só pesquisar. E isto é um bocado triste.

O que também é um bocado triste é eu ter passado de correr 60-70 km semanais a 5-7 (com sorte). Toda eu apanhei um trauma tão grande à intensidade e sacrifício das últimas semanas de treinos para a maratona que o meu corpo agora é fisicamente avesso à ideia de programar uma corridinha que seja. A mente, essa, esgotou-se-lhe toda a força de vontade no ato de calçar os ténis nessas últimas semanas. Para a última coisa que está virada é para instigar o corpo num 'vá, vamos lá correr 10k!' Não há objetivos à vista, e assim será até voltar a ficar entusiasmada com alguma prova e ansiar preparar-me para ela. É só um bocado triste e não inteiramente porque não fazem ideia do bom que é saber que não tenho que acordar às 6h da manhã de domingo para ir rolar 3h no asfalto (se calhar até fazem, eu agora é que passei para o lado dos normais outra vez). Ou acordar e pensar 'argh, logo à noite tenho que ir correr antes de poder vestir o pijama e refastelar no sofá'. A única maneira de sair para uma corrida é agora: a) com companhia, ou b) acabar o trabalho do dia e pensar para mim mesma, como quem não quer a coisa: 'e se fosse agora correr um bocadinho?' e ir, logo, logo. A palavra tabu é PLANEAMENTO. O equilíbrio - que demorou umas boas semanas - já está restabelecido mas o bichinho não voltou a picar. E por enquanto estamos muito bem assim.

Entretanto já escrevi (leia-se: rascunhei) cerca de um terço da minha tese e ainda não perdi a vontade de viver. Pensava que era isso que os doutoramentos faziam. Gosto muito do meu projeto, mas às vezes gostava de ter escolhido alguma coisa que fosse mudar o mundo. Mas também tudo o que está abaixo de curar o cancro parecer-me-ia sempre poucochinho, por isso sei melhor do que ir por aí. Penso tantas vezes 'mas que merda fui fazer?!' quando me ocorre que me despedi para voltar a estudar, e tornei-me mais perita em evitar pensar na minha vida para lá de setembro de 2017 do que em evitar a praga. Estou mais relaxada no que toca a planear coisas a curto-prazo. A palavra tabu é PLANEAMENTO.

Num gesto de altruísmo auto-servidor, participo desde o início como cobaia numa investigação sobre o percurso de mulheres doutorandas em universidades de Sheffield e as entrevistas anuais com a investigadora são uma catarse tão poderosíssima que acho que eu lhe devia pagar. Melhor que terapia.

Foi tão difícil acostumar-me a ter uma vida diferente das pessoas normais, que trabalham em empregos normais das 9 às 17, que saem de casa para ir para o escritório e voltam para casa à noite, que estive à beira de arrancar cabelos. Nunca pensei que a normalidade fosse tão importante para mim, ou que estivesse tão enraizada cá dentro que quando não a executo se alojasse um sentimento de culpa e de inadequação que não é abalado por mais que o tente demover racionalmente: 'Estás no bom caminho, vê só a lista dos artigos todos que já reviste, vê só o que já escreveste! Se não estás convencida por ti mesma, ouve a validação externa, a publicação em vista, as call for papers garantidas com sucesso. O teu supervisor diz que está tudo a andar sobre rodas, que está contente com o teu progresso! O calendário de tarefas está a ser cumprido. Que mais precisas para te assegurares de que estás a trabalhar, que o teu esforço diário é válido?' Hardwired. Eu estou hardwired para equacionar emprego com sucesso pessoal, e isto é tão neo-liberal, tão capitalista e tão poucochinho que se me revolvem as entranhas. Mas está ao nível do subconsciente, que posso fazer.

(Re)comecei a gostar de roupas bonitas. E gosto tanto de batons. Eu nunca tive paciência/jeito/vontade para maquilhagem, mas agora gosto tanto de batons. Não sei o que me deu, mas vou com a corrente. Isto vai e vem, sei melhor do que dramatizar estas obsessões repentinas. Os seres humanos são criaturas de contradições maravilhosas.

No outro dia o meu dentista de há 15 anos - que não via há uns 5 - nas perguntas de circunstância perguntou se havia namorado. 'Sim, é o mesmo.', 'O mesmo? Que tédio.' Oh meu bom homem, com tanta mudança de vida, de casa, de país, de rede social, de a-fazeres, de hobbies, que felicidade, que alívio, que segurança, que sanidade mental, que constância é ter o mesmo homem - o meu melhor amigo - sempre ao meu lado. 



S.

     


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Cavalgando por 2015 fora

A minha lista de desejos para 2015 é muito modesta. Não quero nenhuma coisa, não quero sequer viajar, nem ganhar dinheiro. Só quero saúdinha nestas pernas para poder correr uma data de corridas que já tenho sonhadas. 
 
2015 vai ser o ano em que vou correr a minha primeira maratona. Vou gastar as minhas passas todas só nesse desejo porque quando penso no próximo ano só penso nisso.
 
Será em Lisboa, em outubro, exatamente o percurso que terei feito nessa altura há cerca de um ano atrás de bicicleta.
 
Mas como isso vai ser só quase no final do ano, antes disso já terei acumulado mais uns dorsais preciosos, espero.
 
 
 
 
Depois da São Silvestre de Lisboa deste sábado, onde quase chorei de pura alegria quando emergi do metro no Marquês de Pombal e vi tanta gente vestida de amarelo e uma das avenidas principais da cidade coberta de gente e sem carro nenhum, é altura de recomeçar os treinos para voltar a correr os 21 km, mas desta vez em bom. O objetivo são os 1h59, e, contando que este ano fiz 2h20, vou ter que comer uns bons espinafres para aguentar a pedalada necessária. Desta vez terei a companhia e o apoio moral do marido e da I., portanto conto não me aborrecer lá para o meio, como aconteceu este ano.
 
 
 
 
 
Estou há algum tempo a querer correr esta corrida, por motivos afetivos e também solidários pela causa, e desta vez calha estar cá em Portugal, por isso vai ser desta. Gostava muito de correr os 10 km e fazer um tempo fixe, mas tendo em conta que é uma semana depois da meia-maratona, temo que ainda estarei em convalescença. Em último caso, caminho os 5 km que também lá há, e junto na mesma a vontade à convalescença.
 
 
12 abril - Corrida dos Sinos (Mafra) 15 km
 
 
Por uma coincidência incrível, as férias da Páscoa do ano académico em 2015 vão de 20 de março a 13 de abril, o que significa que posso prolongar a minha estadia por terras lusas para abarcar a meia-maratona em Lisboa e a corrida da minha terra e assim ir corrê-la mais uma vez. Comer estrada às estradas da minha infância e ter claques de familiares eleva a euforia das provas ao quadrado. O objetivo são os 1h29, menos 6 minutos do que na última.
 
 
 
 
Estava muito preocupada porque entre abril e outubro não tinha nenhuma corrida para ir correr e portanto temia chegar à maratona 'destreinada' do ambiente e da adrenalina das provas. E porque estar meio ano a correr sem nenhum objetivo é desperdício. Descobri uma meia maratona bastante perto do verão e relativamente perto de casa, o mais a meio caminho possível entre a meia-maratona de março e a maratona de outubro. Será um prazer enorme voltar à Escócia, e descobrir Edimburgo através da corrida.
 
junho - descansar, ronha, preguiça, apanhar sol
 
Será o meu mês de férias da corrida, o respirar fundo antes do início da preparação para a maratona, que começará oficialmente a 29 de junho (perdoai-me o planeamento a esta distância, mas eu tiro quase tanto gozo dos planos como das corridas em si).
 
verão - preparação para os 42,129 km Cascais-Lisboa
 
Vai ser um verão duro. Mas um verão é capaz de ser mais fixe para preparar uma maratona do que um inverno. Sempre tenho dias intermináveis e o fantasma do gelo longe de mim. Isto tudo contando que o verão seja maioritariamente passado em terras da rainha, para ter os tais dias intermináveis mas sem o calor abrasador português.
 
18 outubro - MARATONA!!!
 
 
De Cascais ao Parque das Nações, sempre à beira do rio, à parte do facto de ter que se correr umas 4 horas sem parar, deve ser uma experiência do caraças.
 
Será o culminar do meu primeiro ano de planos de corrida a sério, e espero que apenas o fim do início. O meu desejo grande é corrê-la em 3h59, mas não sei ainda se isto é um desejo alcançável para já. Os resultados nas duas meias e depois na preparação para a inteira logo dirão. O meu sonho máximo nisto das corridas é correr a Maratona de Londres, mas acho que estreia na de Lisboa é mais do que apropriado. Londres só se entra por sorteio, correndo por uma organização solidária depois de angariar mais de 1800-2000 libras, ou com tempos do caraças, por isso a maratona rainha terá que esperar.
 
E pronto, o meu 2015 girará à volta destes objetivos.
 
Já agora também gostava de passar a minha confirmation review em maio para passar a ser formalmente aluna de doutoramento e de perceber um bocadinho melhor de alemão daqui a um ano do que percebo agora.




S. 

 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

... e dois atrás

Uma pessoa sabe que afinal ainda não é crescida quando aos 26 anos vai viver pela primeira vez para uma residência de estudantes. E está mesmo feliz com isso.



S.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

How the mighty fall

Há um ou dois meses comecei uma candidatura a doutoramento em Oxford. Entretanto larguei-a porque, enfim, pertencer a uma college e fazer refeições em halls à la Harry Potter era muito bonito sim senhora mas não está nas minhas prioridades académicas. Respeito e confiança no meu projeto de investigação, está. E convenhamos, seria muito improvável entrar. (Mas eu fico-me pela tese das prioridades.)

Mas a universidade agora não me larga. Há uns dias mandou-me um email a avisar que tinham lá uma candidatura semi-acabada no sistema deles e para eu não me esquecer do prazo. Agora acabam de me enviar um email a dizer que têm mais de mil bolsas para alunos caloiros em 2014. Eu já tinha lido um artigo bastante preocupante em que um professor académico alerta para a forma como as universidades britânicas estão a investir muito mais dinheiro em marketing para angariar candidatos e a descurar o investimento nas condições para quando estes se tornam alunos, porque o governo cortou impiedosamente muito do financiamento académico e as universidades precisam das propinas. Mas pensava que se havia universidade que não se precisava de promover era Oxford.





S.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Feliz Ano Novo

A silly season está mesmo, mesmo a acabar - e ainda bem porque já estou farta da expressão silly season. Porque eu ainda não consegui descolar da mentalidade de ano letivo, e setembro deixa-me um ano mais velha e por isso é mês de rito de passagem, e eu este ano estou cheia de pica e vontade de fazer coisas, aqui fica a minha lista de desejos para o Ano Letivo Novo até ao Ano Novo:

- É mesmo desta que vou recomeçar a minha aprendizagem do alemão. Vou voltar aos cartõezinhos com palavras para decorar os géneros, vou voltar às tabelas com as declinações, vou voltar aos livros com histórias Disney em alemão. Não quero saber que vivo numa cidade bilingue mas em que nenhuma das línguas oficiais é a germânica, não quero saber que ainda teria muito francês para aperfeiçoar e que ainda não consigo manter uma conversa de jeito na língua dos gauleses, nem quero saber que aqui vou ter que ir através da língua francesa para chegar à alemã. Desejos recorrentes e que duram anos ganham pontos pela persistência e merecem ser elevados à categoria de concretizados. E o francês, sinceramente, não me dá pica. Longe de dominada mas demasiado familiar. E posso sempre consolar-me com o facto de que o alemão - descobri-o há pouco - é a terceira língua oficial da Bélgica.

- Em dezembro vou correr nove quilómetros numa hora. Em termos humanos, nada de especial, mas como diz o outro, o que interessa não é ser superior aos outros, é ser superior ao que já fomos. E eu já fui uma pessoa que corria cinco minutos e ficava com o peito a rebentar (não estou a dramatizar). Conseguir a hora redondinha vai-me deixar orgulhosa porque, ao contrário de estudos e coiso, sempre foi uma coisa que eu acreditei nunca conseguir. Suspeito que me vai deixar mais orgulhosa do que o dia em que eu conseguir ler um livro em alemão pela primeira vez (mesmo que seja uma história Disney).

- Antes de 2013 acabar, terei a minha candidatura a doutoramento completa. E fora do meu controlo. Mais um passarinho que enviarei por essa janela à espera que me traga um raminho de oliveira no bico.

- Terei acabado de ler o European Feminisms 1700-1950. (Irra, que a porcaria do livro não me larga!)

- Terei acabado o meu primeiro curso da Coursera. Após três tentativas falhadas. 

- Terei aprendido a gostar de mais um legume cru. Após o básico tomate e alface. 

- Terei visitado Bruges. Após 30287 tentativas falhadas.

- Conseguirei acompanhar um episódio de uma série qualquer dobrada em francês sem fazer cara de nojo.

...

Só espero não me tornar uma ilustração da expressão "ter mais olhos que barriga".




Apareceu-me esta imagem enquanto pesquisava imagens para wishlists. A relação entre os dois está para lá da minha compreensão mas quem sou eu para negar o destino.




S.

sábado, 11 de maio de 2013

E respira fundo

Há umas duas ou três semanas, quando pus finalmente mente à obra e a sério para desenhar uma candidatura a doutoramento,  comecei a comiserar o facto de estar numa cidade francófona. Aaai, que não tenho bibliotecas como deve ser, aaai, que os livros que preciso são tão específicos e cá não há, aaai, que é só coisas em francês e eu preciso de uma cidade inglesa, aaai, que Londres fica tão perto mas tão longe, aaai, que a biblioteca da LSE é que era, aaai, coitada de mim. Escapou-se-me o facto de estar a viver no centro sobre all-things-UE, como também me escapou o facto de que aqui também há universidades, universidades que ainda por cima têm institutos europeus, e que universidades têm bibliotecas, e que sim, vivo numa cidade francófona mas literatura académica é universal e portanto anglófona. E só depois de pesquisar incessantemente como poderia reaver a minha membership das bibliotecas londrinas, é que me lembrei que se calhar devia era pesquisar como conseguir ficar membro da biblioteca da Université Libre de Bruxelles, por razões estupidamente óbvias. 

Solução tão simples para os meus problemas.

Ia cética, tenho que admitir, quando cheguei ao campus da ULB para me inscrever na biblioteca de ciências sociais e humanas. Assim que vi todo o edifício devotado à mesma (após cerca de meia-hora às voltas pelo campus, um mapa copiado à pressa para o bloco de notas, e muito desvio, como é sempre inevitável) o ceticismo deu lugar ao entusiasmo. 


Quando, cerca de duas horas depois, saí de lá com um livro emprestado por duas semanas e possibilidade de o renovar através da net, no conforto do lar, quase que vinha a chorar de alegria por ter encontrado tão honrada substituta para a minha biblioteca favorita. Com o bónus de que posso alugar livros (coisa que não podia na outra, daí as intermináveis tardes passadas naquele edifício gigante na Portugal Street) e que fica a 20 minutos de bicicleta de casa - enquanto a outra ficava a 45 de metro.

Hoje lá fui eu estrear o caminho de bicicleta até à univ para ir buscar nova leva de livros. Perto e caminho razoavelmente plano, que mais posso desejar?

Entretanto descobri que mais de metade dos livros que constam na minha to-read list não estão disponíveis naquela biblioteca, o que me frustra um bocado os planos de preparação. Tenho sempre a opção Amazon, mas por serem livros académicos e demasiado específicos raramente os encontro a preços baixos. Será um problema para solucionar mais para a frente. Entretanto descobri que os meus antigos códigos da King's ainda me dão acesso aos academic journals que vou precisar portanto a questão dos livros em falta foi posta de lado. O computador recebeu um beijo repenicado e um abracinho sentido que em boa verdade não são merecidos porque não é ele que dita o acesso aos valiosos artigos. Mas digamos que fiz o inverso do "shooting the messenger".

Isto tudo para deixar aqui registado que voltei à vida académica, ainda que seja só pré-académica por agora, e que toda a minha santa hora livre vai ser agora dedicada à preparação desta nova fase (não de verdade, senão não estava aqui, mas é mais ou menos isso). Só vou no segundo livro e já sinto o meu cérebro a esticar neurónios que não esticava há muito, como quando se vai ao ginásio após o mês de férias de verão. É quase doloroso. Intervalo com muito olhar para a parede desfocadamente, enquanto tento assimilar o que li (muitas vezes sem sucesso), e que equivale aos alongamentos após corrida intensa. 

Eu não consigo estabilizar no mesmo sítio muito tempo, seja ele geográfico, profissional, ou mental. É uma característica que já reconheci que faz mesmo parte de quem sou e tenho vindo a aprender a viver com ela. Temo que um dia me venha a dar problemas - uma pessoa precisa de uma certa estabilidade na vida para chegar a algum lado, seja para progredir na carreira, seja para criar uma rede de amigos e pessoas importantes na nossa vida num lado qualquer. Mas enquanto não me der problemas não há que lamentá-la.

Vou precisar de muita sorte para os próximos meses e de muito conforto emocional. Já re-abasteci o stock doméstico de Nutella, pelo sim pelo não.   




S.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O futuro é um lugar estranho

Por cada post de observações, de aleatoriedades, de constatações mais leves, há sempre um mais sério que guardo para mim. As dúvidas existenciais são mil vezes mais profundas, provavelmente mais interessantes (para amigos e família, claro), são o triplo do tamanho, mas são infinitamente mais difíceis de escrever. Afinal, não é fácil ser eloquente quando nem nós próprios sabemos o que pensar.

Há um ano estava aqui, neste preciso ponto e com estas mesmas angústias de "o que fazer agora?". As semelhanças são tantas que parece que estou a viver um dejá vu. Estava a acabar uma coisa em que me tinha metido (antes mestrado; agora estágio), enviava currículos atrás de currículos sem obter resposta, encontrava-me num país que não era o meu e as intenções de ficar eram abaladas pela não perspetiva de sustento futuro. O regresso a Portugal estava lá, como plano Z que foi subindo as letras do alfabeto, devagar mas certo, até se tornar o plano A. Terá Bruxelas o mesmo desfecho que Londres? Um mantra repetia-se na minha cabeça "E agora? E agora? E agora?" - desta vez, porque ainda (ou só?) faltam três meses é um "E a seguir? E a seguir? E a seguir?".

Mas depois esforço-me por respirar fundo, largar a preocupação de uma coisa que está fora do meu controlo, e olho para trás. Não, não saltando este último ano para onde me encontrava no início de maio de 2011, mas para o que fiz desde aí e o que me trouxe aqui. O estágio na APAV, a minha primeira verdadeira experiência de trabalho, o estágio que me fez até ansiar por regressar a Portugal, no meio do desânimo que foi desistir do sonho londrino. O que vi e aprendi e o primeiro contacto prático com a UE. As pessoas inesquecíveis que conheci. Desconfio que esta experiência foi a grande responsável pelo sucesso da minha candidatura ao Parlamento Europeu, à realização do meu sonho de trabalhar nas instituições europeias, e se não fosse também por tudo o resto, só por isto a APAV teria a minha gratidão eterna. O projeto de base de dados dos deputados britânicos. O curso sobre o Tratado de Lisboa à noite, na Clássica, que me fez agradecer a todos os anjinhos o facto de ter entrado antes na Nova. Mas que ainda assim me foi muito positivo. As aulas de Inglês aos miúdos, xii... as aulas! O respeito monstro que ganhei por professores a tempo inteiro. O artigo académico que publiquei. Os artigos semanais para a Next Europe, que continuam.

É preciso que esta enumeração substitua o mantra do "E a seguir? E a seguir? E a seguir?" para que eu me lembre do que fiz num ano e no que posso voltar a fazer em mais um. Para acalmar o espírito controlador do destino e do "Para onde? Para onde? Para onde?" e assegurar-me de que, seja onde for que tenha de ir, lá chegarei. Daqui a um ano estarei noutro sítio qualquer a fazer algo que de certeza ainda não faço ideia do que será. Mas as peças irão encaixando, porque é mesmo assim a vida.

Avisaram-me que seria assim, este par de anos a seguir ao término dos estudos. Aliás, continuam a avisar. Entre todos nós, estagiários, vindos de percursos diferentes e de nacionalidades diferentes, uma coisa nos é comum: este não é o primeiro estágio. Para muitos de nós, não será sequer o último. Alguns andam nisto há muitos anos, (demasiados), outros ainda lhe estão a tomar o gosto (muito cedinho ainda). Para alguns, o peso dos sucessivos estágios já chegou ao limite, outros estão agora a começar a experimentar o aborrecimento da vida constantemente temporária. Posto assim em perspetiva, sei que não posso ainda descartar a hipótese de novos estágios nem exigir já um emprego permanente e remunerado. Mas a mesma pessoa que avisou que estes dois anos iriam ser assim também disse algo que eu memorizei e guardei para futuro uso: "You're worth a salary". Chegará o dia em que eu terei de dizer "basta", se não for o emprego a chegar primeiro.

Estas são as agrúras normais e esperadas de quem atingiu a maioridade laboral no meio de uma crise sem precedentes nos últimos 80 anos. Mas há uma dúvida insinuosa, mais incómoda e mais existencial, que torna a incerteza de trabalho futuro mais aguda. Ela prende-se com o desencanto de um sonho, um bocadinho à imagem do desencanto pela América mas não completamente... Porque este não é o desencanto pela UE em si, é antes o desencanto por um trabalho dentro da mesma. E custa admitir, oh, se custa! Persegui este objetivo durante anos, como não há-de custar confessar que talvez não seja bem isto que eu quero fazer?

Escrever isto aqui torna-o mais definitivo. Está cá fora, foi partilhado, não pode ser ignorado. Não é o encerramento do fascínio pela UE, de todo. Mas é o encerramento das ilusões sobre um policy job dentro da UE. Entretanto, a Europa mantém-se um objeto de fascínio para o estudo. E agora, o doutoramento, relegado para o segundo plano da minha mente, começa aos pulos efusivos porque até ele já percebeu, ainda que eu tenha demorado a admitir, que fará parte da minha vida a curto-prazo.

Porque o que me faz mesmo feliz, no que eu sei que sou mesmo boa e que se tem mantido uma constante na minha vida e especialmente neste último ano, é escrever. Debitar palavra no papel, traduzir, rever, editar. Partilhar, seja histórias, seja observações, seja notícias sobre a Europa, seja argumentos para defesa da igualdade de género, seja a construção de artigos sobre estudos de caso, devidamente apoiados por investigação científica. É o único meio em que me sinto à vontade para partilhar e o consigo fazer eficazmente (má, tão má no debate em falatório, credo). As experiências do último ano vieram certificar e selar a certeza do que eu acho que desde sempre soube. Tenho muito que aprender, pois claro que tenho. E muito curso avulso que tirar para sistematizar algo que apenas faço amadoramente. Mas é um percurso no qual me vejo a gostar realmente do que faço, diariamente.

Escrever, seja em forma de artigos seja em pesquisa académica, dar-me-ía outra coisa que eu tenho vindo a valorizar cada vez mais: a gestão autónoma do meu tempo. Os múltiplos projetos do último ano habituaram-me a tal. E, mais importante, fizeram-me ver que é possível. Era voluntária em dois projetos britânicos e nunca desde então pus o pé em solo londrino (graduation não conta). O escritório é irrelevante neste tipo de trabalhos, horário das 9h-17h, idem. 

Por isso, é com o coração um pouco mais leve desde o início deste post - blog catártico, é o que isto é - que eu confesso: o meu nome é S. e o meu futuro já não está nas instituições europeias diretamente, mas na escrita, jornalística e/ou académica. Assim, no máximo que me é possível antever, acho que serei feliz profissionalmente.






S.   

P.S. - E agora meter aqui no meio disto tudo os direitos das mulheres e a igualdade de género, coisa que me toca cada vez mais e me estimula o intelecto? Argh... Fica para outro dia, que neste pedaço de escrita esgotei as confissões todas para um mês!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Doutoramento, espera aí

Acho que era Fernando Pessoa que dizia que para realizar um sonho temos que nos afastar dele, só assim é que ele se acaba por concretizar, quando estamos distraídos a fazer outras coisas da vida. Eu sinceramente acho que nunca consegui seguir este conselho e cada vez menos consigo.

Esta mania de querer tudo ao mesmo tempo, de ter chegado à meta dos estudos mas mal ter passado a linha de partida da carreira deixa-me inquieta, a imaginar mil e uma coisas que ainda quero experimentar e outras tantas que quero concretizar, umas cem em que me meteria de bom grado neste momento, e a profunda pena de os dias só terem 24 horas e os anos só 365 dias.

Supostamente, com o ciclo dos estudos fechado, com 3 ocupações profissionais de momento e um estágio programado até 31 de julho, eu devia estar na fase da descontração, do expirar fundo depois da enervante espera de 4 meses, e deixar-me descansada pelo menos até ao início do verão. A expectativa de ir realizar um sonho a partir de março devia ser suficiente para me impedir de entrar em sites de emprego e de universidades. As minhas palavras de pesquisa deviam ser exclusivamente 'Bruxelas', 'casas em Bruxelas', 'sítios a visitar em Bruxelas', 'TGV', e não 'LSE', 'PhD European Studies', 'Princeton', 'Yale', 'Columbia' e sei lá mais que doideiras.

A verdade é que é cada vez mais intensa a vontade de dar o salto para o doutoramento. Receio que tenha muito mais que ver com a rotina do estudo, o pânico abafado de ter passado o primeiro setembro sem eu estar inscrita em educação formal de espécie nenhuma. É um reflexo inconsciente face ao desconhecido, provavelmente.

Por outro lado uma ideia meio rescambulada persegue-me desde dezembro, quando fui assistir a um ciclo de conferências sobre a UE. Não faço a mínima ideia se funciona como tese, não é particularmente o meu campo mas meti-a num pedestal dentro da minha mente e admiro-a todos os dias um bocadinho, ora deste ângulo, ora daquele. A imaginação corre livremente porque eu mal lhe meto rédeas e o sonhar acordado, que devia ser canalizado todo para o PE e o final de fevereiro, salta para além de agosto, para o desconhecido, para o que ainda está por agendar. Uma suspeita desponta em mim de que eu seria muito feliz a fazer investigação-UE o resto da vida. Mas é impossível saber isso antes de ter um cheirinho da administração/realidade-UE antes!

Será que a atração pelo doutoramento é apenas a da novidade e do assunto inexplorado? De ter alguma coisa para gerir e organizar, meter as minhas capacidades a concurso novamente? A vontade de voltar a experimentar a emoção esfusiante que é ser aceite, conseguir?

A imaginação e o sonho devem voar livres que nem passarinhos. Mas a realidade também tem de ser vivida em pleno. O equilíbrio entre as duas está-se-me a provar difícil, numa altura em que eu não o esperava de todo.




S.