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Friday, November 21, 2025

dos Pórticos

«São numerosas as folhas dobradas, duas pilhas quadrilongas, que guardam ainda, nos seus contornos, a forma dos estreitos albergues que as recolheram durante tanto tempo. Não ignoro, porém, que dentro de alguns dias, de todas elas restarão muito poucas. Quatro ou cinco anos sobre um trabalho meu bastam para me tornar o mais impiedoso, o mais exigente e implacável crítico de mim próprio.» Os Fragmentos (1974)

«Ninguém melhor do que você, que viu, com os seus próprios olhos, algumas das cenas a que me refiro, poderá dizer se vale ou não a pena publicar os meus apontamentos. No caso afirmativo, dou-lhe inteira liberdade para suprimir o inútil, afeiçoar o aproveitável e tornar compreensível tudo aquilo que eu não consegui, talvez, exprimir nitidamente.» O Intervalo (1936/1974)

Wednesday, August 13, 2025

dos «Pórticos»

«Papéis que jaziam no fundo, submersos pelos mais recentes, estão agora à flor dos outros; a cronologia restabeleceu-se e eles falam-me dos anos em que fui obrigado a vigiar o comportamento das palavras para além das suas imposições estéticas, nesta mesma secretária de onde eles deviam erguer voo, direitos à luz exterior, e quedaram afinal na escuridão das gavetas, como na de um túmulo.» Os Fragmentos [1974] 

«Havia-a pedido a outrem, mas foi-me remetida por si, depois de encontrar a minha carta solicitante olvidada entre as folhas de velho dicionário, amarelecida pela luz a extremidade deixada à vista; por si, que já nesse tempo entregava, perdulária e amorosamente, a sua vida e a sua paixão de biólogo, de etnógrafo e de etnólogo ao estudo das expressões físicas e humanas da floresta imensa; por si, caro Nunes Pereira, que eu não conhecia ainda.» O Instinto Supremo (1968)

«O nosso interesse pelas criações artísticas da Suméria, de Babilónia, da Assíria, do Egipto, de tantos outros povos que durante milénios se sepultaram na memória das gentes e só há pouco ressuscitaram sob as enxadas dos arqueólogos, taumaturgos dos nossos dias, não provinha apenas dessas obras de arte, mas da superação humana que elas já representavam em tão longínquos tempos.» As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-63)

Monday, January 20, 2025

dos pórticos

«Volto  as gavetas sobre a minha mesa de trabalho, como se nela virasse o açafate doméstico, contendo apenas as migalhas dos dias vividos, de que se aproveitam somente as aspirações e os sonhos. Sonhos e aspirações que continuam vivos e ardentes e se realizarão inevitavelmente, mas talvez só quando eu já estiver morto.» Os Fragmentos -- Um Romance e Algumas Evocações (1974) 

«Meu amigo: / Um dia, já não sei há quantos anos desaparecido, mas certamente há mais de vinte, chegou, enfim, a mancheia de terra do longínquo seringal onde vivi; chegou numa caixita de papelão, que a viagem maltratou e eu conservo ainda, um pouco a modo de relíquia.» O Instinto Supremo (1968)

«Depois de havermos trilhado a velha Mesopotâmia, as suas estepes rechinando ao sol, que poeiras ardentes percorriam também e nos queimavam o rosto como enxames de faúlhas, depois de termos auscultado esses largos desertos de onde a nossa civilização lançou os primeiros clarões sobre um mundo espiritual ainda em trevas, voltámos a entrar nas salas de antiguidades orientais do Louvre, que tanto frequentáramos antes de partir.» As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-63)

Wednesday, November 06, 2024

outras palavras

«E o vale aumentou em extensão e profundidade. Parece que todo o mundo está aqui, na sombra imensa. Almas, desesperos, ambições, impotências -- e a trégua desta noite, em volta da lareira. Parece que não há mais nada. / Mas o vale chora, clama, geme sempre. Vu-vu-vuuu, a ventania fustiga o esqueleto das árvores, os pomares despidos de folhagem, os choupos esgrouviados,, os amieiros que debruam o Caima.» «O Natal em Ossela» (1932/1974), Os Fragmentos 

«A terra cadáver imenso de pré-histórico monstro é refocilada por legiões intermináveis de parasitas: -- todo o reino animal. Que, como os últimos brasidos deixa evolar sobre a própria lama do sugar, um clarão: -- Do Querer, do Desejar, do Possuir.» «Mas... a prisão é a coroação», Mas... (1921)

«É em 1902 que começo a povoar o museu da minha vida, a decorar a galeria das recordações. / Foi numa tarde de sol -- tarde de luz forte que eu vejo ainda -- que dei início à tarefa. Eu brincava na estrada amarela que corria ao longo da casa onde nasci.» [Memórias] (1931)



Jaime Brasil (dir.), Ferreira de Castro e a Sua Obra
(inclui as «Memórias»)
Capa de Roberto Nobre (1931)


Monday, October 28, 2024

dos romances

«Pela falaceira do "Lagarto" soubemos, porém, que a parte central de Lisboa estava ocupada por densas forças; Chiado abaixo passavam, a todo o momento, camionetas transportando guardas-republicanos e, de quando em quando, descia a Avenida da Liberdade pesado tanque com atitude de anfíbio cauteloso.» O Intervalo (1936/1974)

«O gardunho tornara-se bicho raro e também não se matava todos os dias um texugo. E que se matasse! Já se sabia que os galegos pagavam mais -- e pele esticada e seca ficava guardadinha para eles. Se nem as de raposa escapavam! Levavam tudo! Desdenhadas, só as de cabrito e de vitela, tão baratuchas que um homem fartava-se de carregar com elas para poder ganhar uns tristes vinténs...» Terra Fria (1934)

«Era vulto apardaçado nos extremos, erguendo algures, para o céu, um mamilo vulcânico e deixando que a sua encosta central se doirasse, suavemente, na luz matutina. Visto de longe, a medrar, a medrar, parecia recém-nascido no mistério oceânico, para enlevo de olhos fatigados pelo monotonia marítima.» Eternidade (1933)


capa da 1.ª edição de Os Fragmentos (inclui O Intervalo)
desenho de João Abel Manta (1968)


Monday, October 21, 2024

outras palavras

«O vale ampliou-se com a noite. Não se vê, lá ao fundo, a Felgueira, que de dia cerra o horizonte com a sua lomba enorme. Não se vêem os contrafortes de Santo António, bordados de pinheiros, nem os da Frágua, com as suas casuchas, nem os do Crasto, onde se ergue uma capelita branca. Sumiu-se tudo no negrume.» «O Natal em Ossela» (1932/1974) - Os Fragmentos

«Eu nasci a 24 de Maio de 1898. Mas, quando penso na minha idade, sinto-me sempre mais novo, sinto-me sempre beneficiado por quatro anos a menos. São quatro anos iguais a uma noite escuríssima, onde não é possível acender luz alguma. Não os viveu o meu espírito. Não estão na minha memória. Não me pertencem. Para a minha realidade espiritual eu tenho apenas 28 anos.» [Memórias] (1931)

«MAS... a prisão é a coroação  É presa a terra como um globo flutuando num copo d'água. O mundo tem limites e toda a Glória ou toda Vontade ilimitada é um sarcasmo ao próprio mundo: -- Esboroa-se como um corpo num abismo, terminando onde o mundo finda.» Mas... (1921)



Edição ilustrada por Capi (2023)


Tuesday, February 23, 2016

I de inéditos -- Para um Dicionário de Ferreira de Castro

À data da sua morte*, em 29 de Junho de 1974, Ferreira de Castro deixou inédito, pronto para publicação Os Fragmentos* -- Um Romance e Algumas Evocações, editado ainda nesse ano. O romance é O Intervalo*, escrito cerca de 1936, protagonizado por um sindicalista da extinta Confederação Geral do Trabalho (CGT), Alexandre Novais, e cuja acção decorre na Andaluzia, por ocasião da Revolta de 1931 -- narrativa que não tinha qualquer possibilidade de vir a lume durante o Estado Novo, muito menos à época em que foi escrito, no dealbar da Guerra Civil de Espanha.
As Evocações de Os Fragmentos são a evocação de Ossela, com «A Aldeia Nativa», girando os restantes em torno da Censura*: o «Historial da Velha Mina», a «Origem de "O Intervalo"»* e, em extratexto, as quatro páginas de «O Natal em Ossela», crónica censurada num número de O Século, por ocasião da quadra.
Outro inédito, redigido na mesma época, e só vindo a público em 1994, foi a peça Sim, Uma Dúvida Basta*, escrita a convite de Robles Monteiro, e censurada já em fase de montagem, que tratava de um caso de actualidade nos Estados Unidos, em torno da pena de morte.
Outros fragmentos ficaram inacabados, e nunca conheceram a tipografia: o romance O Navio (ou Classe Única), que se quedou pelos capítulos iniciais, um outro que não terá passado de esboços, A Pólvora e uma peça que Ferreira de Castro, no início da década de 1920, levou a concurso promovido pelo Teatro Nacional, intitulada O Mais Forte, classificada em "mérito absoluto" pelo júri.
Ainda da fase brasileira, há um curioso bloco de apontamentos, intitulado Impressões de Viagem Quando Eu Trabalhava num Navio (1915) -- "Cassiporé", já estudado por Bernard Emery.

Bib. a consultar: Bernard Emery e Clara Campanilho Barradas.

    (a desenvolver)

Wednesday, April 29, 2015

Ferreira de Castro nos dicionários (21) - o Dicionário da Literatura Portuguesa

Um bom dicionário, dirigido por Álvaro Manuel Machado (Lisboa, Editorial Presença, 1996). O verbete sobre Ferreira de Castro é, tal como na Biblos, da autoria de Urbano Tavares Rodrigues.Grandes encómios para a generalidade dos romances, em especial A Selva, e desvaloriza as viagens (A Volta ao Mundo) e o longo roteiro d'As Maravilhas Artísticas do Mundo. Não se refere a A Tempestade nem a Pequenos Mundos e Velhas Civilizações e aOs Fragmentos, sendo possível que a redacção do verbete tenha ocoriido antes da publicação da peça póstuma Sim, Uma Dúvida Basta)

Tuesday, January 20, 2015

Saturday, April 13, 2013

Ferreira de Castro e a II República Espanhola (2)

O jornalismo é uma actividade que Ferreira de Castro inicia ainda no Brasil, para onde emigrara muito jovem, em 1911, com doze anos e meio. Quando regressa, em 1919, retoma-a com grandes dificuldades, uma vez que era totalmente desconhecido no meio. A imprensa foi para ele a «profisão socorro» (2) que lhe permitiu dedicar-se à sua vocação literária. Até 1927. ele é um free lancer, escrevendo abundantemente para jornais do continente, ilhas e colónias, como meio de subsistência. Nesse ano -- que coincide com uma nova etapa da sua vida pessoal, o encontro copm Diana de Liz, e também com o encerramento de A Batalha,após o golpe do 28 de maio --, o jovem escritor entra para os quadros de O Século, onde permanecerá até 1934, abandonando então a vida dos jornais como profissional, saturado pelos constrangimentos impostos pela Censura do Estado novo. 

(2) Ferreira de Castro, «Origem de "O Intervalo"», Os Fragmentos, 2.ª ed., Lisboa, Guimarães & C.ª [1974}, p. 65.

in Círculo Joaquina Dorado e Liberto Sarrau -- 3.º Ciclo, Lisboa, Centro de Estudos Libertários, 2007.

Thursday, March 14, 2013

A Selva como expressão das ideias libertárias de Ferreira de Castro (3)

De que forma poderemos enquadrar essa mundividência? Claramente através de um conjunto de ideias e de sensibilidades que dotara a totalidade da obra castriana de uma mensagem coerente e consistente de emancipação do Homem. Não se trata de um simples amálgama de sentimentos piedosos, vulgo «humanistas»; está para além disso, e tem uma designação bem definida na história das ideias políticas e sociais: chama-se anarquismo, e Ferreira de Castro foi um dos expoentes literários do século XX, em Portugal, dessa forma mais livre de encarar o mundo e a vida. Ela já aparece, ainda que inconscientemente, em Criminoso por Ambição (1916), através de uma pueril atmosfera de revolta e inadaptação do protagonista Simão Rafael dos Anjos (1), e é omnipresente, quase obsidiante no seu último livro, Os Fragmentos (1974), um volume que ele deixou cuidadosamente preparado para publicação.

(1) «Posfácio» a Emigrantes, edição comemorativa ilustrada por Júlio Pomar, Lisboa, Portugália Editora.

 Congresso Internacional A Selva 75 Anos -- Actas, Ossela, Centro de Estudos Ferreira de Castro, 2007.

Friday, November 23, 2012

incidentais #10 - de como a propósito do pórtico de «A Tempestade» se fala em projectos adiados, numa bisavó, terminando com mais gravidade

(do «Pórtico» de A Tempestade, 1940)

* Já aqui se falou, e voltará a falar-se, da apresentação que Ferreira de Castro escreveu para abrir o seu romance malquisto. Essa má-vontade tem tanto de injusto para o livro, uma narrativa psicologista -- traço que esteve sempre presente na obra castriana, basta lembrar Eternidade --, como razão de ser. Só para recordar: O Intervalo, fragmento da projectada e nunca realizada «Biografia do Século XX» estava na gaveta, de onde saiu apenas em 1974, integrado precisamente n'Os Fragmentos; o seu desígnio como romancista chocava com o tempo que lhe era dado viver: Estado Novo, Guerra Civil de Espanha, II Guerra Mundial; para sobreviver, teve de dedicar-se à literatura de viagens; só no pós-guerra, com a abertura do regime, A Lã e a Neve pôde trazer à luz a arte do romance tal como ele a concebia. Para trás, este negregado A Tempestade, escrito com raiva [sic]. Adiante com as injustiças do criador para com a criação...


* Redigido sob a forma duma carta a um "amigo" médico que lhe servira de cicerone no Cairo (1935). Seguem-se, após referência à recém construída ponte de Kars-en-Nil , cinco parágrafos impressivos sobre o Egipto, território que já dera um capítulo a Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937): «Um vaporzito, com graciosidade de gaivota e calentura de forno, largou de ao pé da Kars-en-Nil, apitando aqui e ali, que o tráfego fluvial era grande em frente da cidade, começou a subir o rio sagrado.»

* As referências ao felá, recordaram-me esse mesmo capítulo dos Pequenos Mundos e de como já há décadas pensei em fazer a comparação com O Egipto de Eça de Queirós (em tempos propus-me realizar uma grande trabalho sobre este póstumo queirosiano; não passou de um estudo exíguo que prometia, e que acabei por não cumprir, generosamente publicado por Bernard Emery na sua Taíra).

*Essas referências de intenção social servem para lembrar o amigo --e também de justificação a si próprio e advertência mais ou menos velada ao leitor -- que fora prometido um livroque espelhasse os desígnios de emancipação humana que Castro adoptara para si como homem e escritor; e que uma conjuntura desfavorável impedia de concretizar (com efeito, O Intervalo será escrito em 1936, um ano depois dessa estada no país dos faraós). Promessa que não fora cumprida, interrompida pela viagem como forma de sustento e substituída (terminando com as palavras finalizadas em ida -- aliás, o nome duma bisavó brasileira que não conheci...) por ATempestade, para mágoa do autor, provavelmente comvencido de que o romance não estava à altura dos pergaminhos de quem escrevera Emigrantes, por exemplo: «Fico bastante pesaroso, creia, por saber que você, sempre tão atarefado, sempre à roda de gente que sofre, vai perder, por amizade para comigo, tempo a lê-lo-- tempo que poderia empregar melhor.» Desfecho que provocará o desagrado de Roberto Nobre, que, numa carta, lhe diz ter ele, Ferreira de Castro, inoculado o vírus da ideologia que perfilhou, e que nunca desaparecerá, mesmo que ele se decida a escrevr sobre os astros  celestes (ver Correspondência (1922-1969))

* Outro aspecto importante deste prólogo é o da concepção castriana do romance como documento de uma época, fonte para o futuro, crítico que era do género historiográfico então prevalecente, narrativa biográfica, política e institucional em que o povo (ontem, o terceiro estado) estava ausente. E com efeito, pesem as excepções, a história social só conheceria impulso decisivo após a afirmação da Escola dos Annales. Daí também um certo amor à filosofia e a ilusão (ou vontade dela) de que o conhecimento, de si, do outro, do Universo, pode modificar a essência do ser humano.

* Finalmente, alusão a um tema a que voltará dez anos mais tarde, em A Curva da Estrada: como à medida que vamos envelhecendo vamos também regredindo nas convicções: no romance, a questão política, o conservadorismo que a idade pode induzir; no pórtico de A Tempestade, o tema religioso, o escapismo do sobrenatural.

Tuesday, August 24, 2010

Três escritores em tempo de catástrofe: Castro, Zweig e Eliade (3)

Internacionalista, o autor de A Selva justificava de modo forçosamente subjectivo o apelo da terra natal, sentimento susceptível de causar algum desconforto a quem era avesso a exclusivismos e exaltações nacionalistas, mesmo quando reduzidas à expressão mais simples e primária do bairrismo.
A razão do desvelo para com a pobre aldeia que o viu nascer, onde conheceu a orfandade paterna aos oito anos, e que o obrigou a emigrar, só, aos onze, prendia-se com a recordação de uma infância mítica, de felicidade inventada. Assim o revelou, no fim da vida, num conjunto de textos que constituem uma espécie de testamento literário e político:
«O homem ama na terra natal os seus hábitos, se ali reside ou residiu muito tempo; ama a sua casa e o seu agro, se os tem; e ama, sobretudo, a sua infância, que lhe comandará a vida inteira e se amalgama com o drama biológico do envelhecimento e da morte. Ama esse período da sua existência por saber que jamais voltará a vivê-lo; e essa certeza de irrecuperabilidade embeleza-lhe o cenário e valoriza-lhe os anos infantis, mesmo se neles conheceu a miséria, os trabalhos prematuros, as opressões e as humilhações impostas pelos adultos.» (1)

(1) Ferreira de Castro, «A aldeia nativa», Os Fragmentos (Um Romance e Algumas Evocações), Lisboa, Guimarães & C.ª [Editores], 1974, p. 45.

Boca do Inferno, #3, Cascais, Câmara Municipal, 1998, p. 92.
postado também aqui

Tuesday, August 17, 2010

História e memória: uma leitura de Os Fragmentos (3)

Livro em que o escritor convoca a memória e a (sua) história, retirando da gaveta papéis que a censura do Estado Novo impediu que fossem publicados, pareceu-me aliciante, pelas ricas e variadas possibilidades de trabalho que nos dá, falar dele, ainda que parcial e resumidamente, neste colóquio em que a Sociedade da Língua Portuguesa tão justamente o quis homenagear por ocasião do primeiro centenário do seu nascimento.

Língua e Cultura, n.º 8-9, Lisboa, Sociedade da Língua Portuguesa, Janeiro / Junho de 1998, p. 137.

Saturday, July 25, 2009

História e memória: uma leitura de Os Fragmentos (2)

A desatenção que o público manifestou e continua a manifestar para com este último conjunto de textos de Ferreira de Castro -- embora compreensível porque o livro se publicou nesse ano de exaltações e outras urgências do 25 de Abril -- não deixa de ser lastimável, pois estamos perante um legado testemunhal de inequívoca importância e valor de alguém que atravessou grande parte do século XX e marcou duma forma indelével a literatura portuguesa do seu tempo.
Língua e Cultura, n.º 7 e 8, Lisboa, Sociedade da Língua Portuguesa, Janeiro / Junho de 1998, p. 137.

Wednesday, January 07, 2009

História e memória: uma leitura de Os Fragmentos (1)

Publicado em Língua e Cultura, n.º 8-9, Lisboa, Sociedade da Língua Portuguesa, 1998

«A infância, esse grande território donde todos saímos! Pois
donde sou eu? Sou da minha infância como se é de um país...»
Antoine de Saint-Exupéry
«O passado pode ser, sem história e sem memória, sem azedu-
me ou saudade, sem culpa ou inquietação, um espaço em que se
pára, menos para rgeressar a ele, que para estar nele sem regresso
algum.»
Jorge de Sena
Razões de uma escolha
A primeira obra póstuma de Ferreira de Castro, Os Fragmentos (Um Romance e Algumas Evocações), editada em 1974, ano da sua morte, não conheceu o favor do público.
Estão ainda no mercado as duas edições que então vieram a lume: a chamada «popular» e a que integrou as «Obras Completas», com ilustrações de João Abel Manta. Não obstante, Os Fragmentos fizeram jus a mais de quarenta anos de internacionalização literária do seu autor, com uma tradução norueguesa de O Intervalo, publicado em Oslo, em 1976. (1)
(1) Ferreira de Castro, Vendepunktet, tradução e prefácio de Leif Sletsjoe, Oslo, Tiden Norsk Forlag, 1976.
(continua)

Thursday, August 07, 2008

O Museu Ferreira de Castro (4)

3. O REGRESSO - Jornalismo e obras da primeira fase (1919-1928)

[Ferreira de Castro, Gualdino Gomes e Castelo de Morais, desenho de Stuart, s. d.]


«Parente muito próximo da literatura e com momentos exultantes, o jornalismo representava para mim o forno de onde me vinha o pão e assim poder realizar os meus pobres livros à sua ilharga, nas horas destinadas ao repouso, que eu utilizava vencendo todos os cansaços. Era ele que me punha a mesa sóbria, me substituía os fatos e os sapatos quando muito usados, me pagava os cigarros e os cafés. Sem ele, cuja conquista já me fora tão penosa, eu não podia entregar-me, naqueles dias, ao meu teimoso sonho de romancista, que se desdobrava imenso entre imensos escolhos.» FERREIRA DE CASTRO, «Origem de «O Intervalo», Os Fragmentos (1972)

Esta secção mostra parte da actividade jornalística de Ferreira de Castro e as obras da primeira fase, não reeditadas. Regressado em 1919, Castro, sem conhecimentos no meio, envereda de novo penosamente pelo jornalismo.
Free-lancer, até 1927, ano em que entra para O Século, colaborou em inúmeras publicações, com destaque o diário A Batalha e a revista ABC. Tendo no início da década dirigido publicações efémeras - O Luso (1920) e A Hora (1921) -, fundou e co-dirigiu em 1928 a Civilização, de colaboração ecléctica e excelente qualidade gráfica. Ao mesmo tempo ia publicando os seus primeiros livros, que hoje são raridades bibliográficas, num total de treze títulos: do Mas... (1921) a O Voo nas Trevas (1927).


(desenho de Stuart: Ferreira de Castro, Gualdino Gomes e Castelo de Morais, s.d. [década de 1920])
link

Sunday, May 20, 2007

Uma capa de João Abel Manta

Os Fragmentos
Lisboa, Guimarães & C.ª Editores [1974]

Thursday, May 25, 2006

O ano de 1898 (1)

A 24 de Maio de 1898, no lugar dos Salgueiros, freguesia de Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis e distrito de Aveiro, nasce José Maria Ferreira de Castro, primeiro filho de José Eustáquio Ferreira de Castro e Maria Rosa Soares de Castro, camponeses.
«Para mim, a aldeia em que nasci não é apenas a infância que nela me decorreu, incompreendida e triste, é também a poesia que já então lhe captava, a poesia que ela tinha, mais tarde inflamada por aquela de que eu mesmo a impregnei. Poesia que tantas vezes me tira a lembrança dos dias infantis, para recordar apenas o encanto da Natureza, que eu não consegui evocar, lá longe, nas ardentes paragens do exílio, sem fervor e sem desespero.»
«A aldeia nativa», Os Fragmentos, 2.ª ed., Lisboa, Guimarães & C.ª [1974], p. 46.