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Monday, January 30, 2017

o ponto de vista de uma geógrafa: Fernanda Cravidão

«[...]  Em casa dos meus pais havia (há) uma biblioteca pequena, mas onde encontro algumas das obras que me têm acompanhado pela vida. Foi ai que descobri, precocemente, Ferreira de Castro, Aquilino e Euclides da Cunha. O tempo se encarregaria de me fazer chegar Carlos Oliveira, Alves Redol ou Vergílio Ferreira, entre muitos outros. E o tempo se encarregaria, também, de me mostrar como essas leituras permitem outras leituras do país, perceber os territórios com olhares diferenciados e também captar, às vezes, num olhar breve, o país de ontem e o país de hoje.
Quando, há cerca de 25 anos, fui pela primeira vez a Manaus reli A  Selva de Ferreira de Castro. O percurso feito rio acima, envolvida nas redes que acolhem os passageiros, trouxe as imagens que a leitura me tinham permitido construir. Nada parecia ter mudado. Quando no início dos anos 90 orientei um seminário sobre emigração, um dos livros que referi e discuti com os alunos foi essa obra, escrita em 1929.
A Selva continuou a fazer parte do meu percurso. Como geógrafa, como viajante, como pessoa. E cruza-se também pelo cinema   através do filme Fitzcarraldo do realizador Werner Herzog, de 1982. Ambos, Ferreira de Castro e Herzog, têm como território de referência a mesma Selva Amazónica e como traço comum o Sonho. Sonhos diferentes, é certo, mas que se entrelaçam na relação quase utópica com a floresta. Enquanto na obra de F. de Castro a selva é simultaneamente lugar de produzir riqueza e miséria humana, W. Herzog traz-nos para o ecrã a utopia de um melómano que contra a corrente transporta a “Europa” de Manaus para Iquitos. Ao cortar a floresta para fazer transportar o barco Molly Aida entra numa luta balizada pelo ritmo das chuvas, de seis em seis meses, uma batalha constante, marcada pela malária, pelos autóctones e pela selva. Tal como parte das personagens de Castro.[...]» (aqui)

Tuesday, January 31, 2012

Sete Cartas de Luís Cardim a Roberto Nobre (4)

Ao contrário daquele que foi o mais celebrado crítico de cinema do seu tempo, a posição de Cardim é mais prudente. Decerto, não deixa de tecer elogios ao filme, à probidade do realizador, notando «o estudioso cuidado com que ele se preparou -- como aliás lhe cumpria -- para o alto cometimento, lendo, evidentemente, o que de melhor se tem escrito sobre o assunto [...]» (2)

Luís Cardim, Os Problemas do «Hamlet», p. 85.

(postado também aqui)

Friday, May 28, 2010

«...esta necessidade permanente de assistência afectiva...» [a correpondência entre Ferreira de Castro Roberto Nobre] (3

José Roberto Dias Nobre (São Brás de Alportel, 1903 -- Lisboa, 1969) estaria destinado a seguir a profissão do pai, não fosse o seu irrequieto temperamento artístico, que o fazia saltar da ilustração para a crítica e desta para o cinema e de novo para o desenho, etc., numa dispersão que se revelou ser fecunda. Ainda no Algarve chegou a realizar uma curta metragem, Charlotim & Clarinha, cujo Charlot escolheu para a capa do seu primeiro livro sobre a 7.ª Arte, por si desenhada -- Horizontes de Cinema, Guimarães, Lisboa, 1939.


Ferreira de Castro e Roberto Nobre, Correspondência (1922-1969}, introdução, leitura e notas de Ricardo António Alves, Lisboa, Editorial Notícias e Câmara Municipal de Sintra, 1994, p. 8.

Sunday, June 21, 2009

Sete cartas de Luís Cardim a Roberto Nobre (2)

Esta crítica foi causa próxima de um ensaio de Luís Cardim, publicado também na Seara, durante cinco números, entre 16 de Abril e 24 de Maio desse ano, sob o titulo «É o Hamlet representável?», posteriormente editado em volume, ligeiramente aumentado e com outro título: Os Problemas do «Hamlet» e as suas dificuldades cénicas. (A propósito do filme de Sir Laurence Olivier), Seara Nova, Lisboa, 1949 -- facto que a publicação anuncia em manchete (manchete ao estilo da Seara, claro está...), saudando o autor: «incontestavelmente a nossa primeira autoridade em língua e literatura inglesa, como o Dr. Paulo Quintela o é para a língua e literatura alemã.» (1)
(1) 25 de Junho de 1949.
Boca do Inferno, n.º 1, Cascais, Câmara Municipal, 1996, p. 95.
Postado também n' A Caverna de Éolo.
(continua)

Sunday, June 14, 2009

Sete cartas de Luís Cardim a Roberto Nobre (1)

Publicado na Boca do Inferno, n.º 1, Cascais, Câmara Municipal, 1996

São sete as cartas de Luís Cardim que integram o espólio epistolográfico de Roberto Nobre, que agora apresentamos na íntegra, mantendo a ortografia e respeitando escrupulosamente a pontuação. Escritas entre 22 de Maio e 20 de Setembro de 1949, tiveram origem na crítica do autor de Horizontes de Cinema ao filme «Hamlet» (1948), de Laurence Olivier, estreado em Portugal no cinema Tivoli, em 24 de Janeiro do ano seguinte.
O texto de Nobre foi publicado na Seara Nova de 26 de Fevereiro de 1949 e constituiu um rasgado elogio da adaptação, enfileirando-a o crítico com A «Fera Amansada», de Fairbanks, «Romeu e Julieta», de Cukor, «Sonho de uma Noite de Verão», de Reinhardt e «Henrique V», do mesmo Olivier. Estas versões, que ele, do ponto de vista da «estética dinâmica», acolhe jubilosamente, haviam-no já levado a observar parecer ter Shakespeare escrito «não para o teatro, mas para o cinema».
(continua)

Tuesday, March 17, 2009

outras palavras - Roberto Nobre, O FUNDO (1946)

Subitamente, foi o país surpreendido com a publicação dum projecto de decreto-lei destinado a transformar radicalmente as condições em que as actividades do Cinema se exercem entre nós, tanto na produção, como na importação e exibição. Dado o papel relevante que o Cinema de há muito tem na Arte e Cultura contemporâneas, deve depreender-se a importância duma tal medida. Lendo-o atentamente, verifica-se a gravidade do que se propõe, tanto mais que reveste outros aspectos, além dos artísticos e industriais.
Roberto Nobre, O Fundo -- Comentários ao projecto da nova Política de Cinema em Portugal, Lisboa, edição do Autor, 1946, p. 7.

Tuesday, March 03, 2009

António Campos

Barrosânia - Como é que surgiu a ideia de realizar um filme sobre uma obra de Ferreira de Castro e porquê concretamente "Terra Fria"?
António Campos - O projecto "Terra Fria" surge na sequência do meu interesse em filmar, de uma maneira geral, as raízes da sociedade portuguesa. Principalmente a sociedade fechada de pequenos aglomerados, mas com características e froça próprias à semelhança dos meus filmes anteriores.
"Terra Fria", de certo modo, é um caminho para o meu desejo de filmar o povo português nessa perspectiva. Este projecto não nasceu agora. Nasceu há alguns anos, ainda Ferreira de Castro era vivo, só que na altura não se proporcionou fazê-lo por razões financeiras. Guardei a ideia até há dois anos.
Duma entrevista de António Campos a Judite Aguiar, Barrosânia, n.º 6, Lisboa, Outubro / Dezembro de 1990, p. 46